If I Die Young escrita por Kaya Levesque


Capítulo 7
Dust to Dust


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! Tudo bem com vocês? Comigo também! Então, eu não sei se vocês notaram, mas todos os capítulos aqui têm nomes de músicas. Aconselho que leiam esse ouvindo Dust to Dust – The Civil Wars porque essa música é linda demais. Sério, baixem e botem pra repetir. E obrigada pelos reviews no capítulo passado, amei todos!
Enfim, boa leitura!



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Jessie: Pete, stop!

(s05ep15, Try)

 

Após a conversa com Glenn, tudo o que eu queria era um banho quente. Sentia-me suja após ter passado o dia inteiro no cemitério, e descobrira que meu casaco não foi suficiente para afastar o vento frio, que fazia meu cabelo bater no rosto e o vestido levantar. Me abracei enquanto apressava o passo para chegar em casa mais rápido.

Quando entrei pela porta da frente, o lugar parecia vazio. Não havia cheiro de comida vindo da cozinha, nem o tec tec tec de Deanna digitando no computador em seu escritório, o sibilar do lápis de Reg no papel, ou o barulho das cartas sendo embaralhadas enquanto os meninos jogavam blackjack. Isso só serviu para me lembrar do que acontecera, então fiz o possível para evitar pensar, e subi as escadas cantarolando baixinho uma música boba sobre uma lagarta.

Demorei mais do que devia no banho, e, quando saí, sentei na cama, presa ao mural na parede. As fotos estavam lá, penduradas, todas com o dia e a hora em que foram tiradas escritos embaixo. Havia uma com Enid, uma com Mickey e Ron, uma deles três, uma com Deanna e Reg. Toquei a foto da festa, olhando Noah sorrindo no sofá, numa risada congelada, e, ao olhar o fundo da foto, percebi que Aiden aparecera, abraçado com uma garrafa de vinho como se estivesse dançando com ela. Aquilo me fez dar uma risada e senti as lágrimas brotarem em meus olhos novamente; eu nunca mais o veria fazendo aquele tipo de coisa, nem ouviria Noah rir.

 

 

Afastei-me do mural e decidi que precisava comer alguma coisa. Desci as escadas em silêncio, só então percebendo que ainda estava sozinha, e fui para a cozinha. Antes que pudesse pensar em algo para fazer, no entanto, o silêncio e a solidão começaram a me sufocar. Por isso, subi as escadas fazendo barulho para pegar uma jaqueta e desci novamente pulando nos degraus e correndo para a porta.

Enquanto andava por Alexandria esperando que ninguém me notasse, pensei no que estava fazendo. Afinal de contas, Jessie sempre me recebera bem em casa, mas eu imaginava sua reação quando percebesse quão mal eu realmente estava – e que só fora para comer.

Ao me aproximar da casa dos Anderson, no entanto, não fui recebida pelo sorriso com covinhas de Jessie ou por um Sam com mais desenhos para me dar. Não, assim que cheguei perto o suficiente para bater, ouvi os gritos vindo de dentro da casa.

— Pete, não! — berrava Jessie.

Afastei-me da porta num pulo, horrorizada ao ouvir o barulho de algo se quebrando e desci os degraus às pressas. Eu sabia, claro, o que Pete costumava fazer com a família, mas havia anos que ninguém tocava no assunto.

Gritei por ajuda, dando a volta pela lateral da casa, mas antes que eu pudesse ir muito longe, a janela de vidro se rompeu, e Pete saiu bolando de lá com outra pessoa. Eles quebraram parte da varanda e começaram a se engalfinhar na rua.

Não pude conter um grito de susto ao ver a briga se aproximar de mim, e tropecei nos meus próprios pés ao tentar me afastar, caindo sentada na grama. A cena estava muito confusa, mas consegui ver Jessie descendo do que sobrara da varanda e olhando a briga com as mãos na cabeça, o rosto manchado de lágrimas.

Com um estalo, percebi que a pessoa em quem Pete batia era Rick. Este estava por cima do marido de Jessie, enforcando-o, mas logo o loiro conseguiu inverter as posições, agora com as mãos ao redor do pescoço do policial. Eles estavam tentando se matar.

Gritei novamente quando Jessie tentou interferir e acabou no chão graças a um golpe não-tão-sem-querer de Pete. Ela cobriu o rosto, chorando enquanto tentava se levantar, e notei a pequena multidão que se formava ao redor da briga, todos assistindo se saber o que fazer. À minha esquerda, perto de onde Rosita ajudava Jessie a ficar de pé, Carl e Enid se aproximaram, olhando incrédulos para o que se desenrolava. Mais adiante, Natalie Miller cobria a boca com as mãos ao lado de seu marido, que parecia indeciso sobre tentar ajudar ou não. E, correndo diretamente para seu pai, estava Ron, aproximando-se o mais rápido que podia.

Minhas pernas agiram mais rápido do que meu cérebro e fiquei de pé num movimento brusco, evitando os dois homens no chão e correndo em direção a Ron. Ele não teve tempo de parar antes que nos chocássemos, caindo um para cada lado, como eu planejara. Certo, não era minha intenção bater a cabeça. Gritei ao sentir o impacto contra o chão frio e acabei cega por alguns instantes, sentindo minha testa latejar.

Quando recobrei os sentidos, vi que meu esforço valera à pena. Abraham estava prendendo Ron num aperto de ferro, impedindo-o de ir até seu pai, como eu queria. Sam se escondera atrás de Carol, olhando assustado para sua mãe. Carl estava no chão, aparentemente após tentar interromper o conflito, e Rick segurava Pete pelo pescoço.

Senti uma mão fria em meu braço e virei-me para ver Maggie me ajudando a levantar. Ela segurou meu rosto, examinando o corte, e passou um braço por meus ombros, amparando-me.

— Não é nada — garantiu. — Só vai precisar de um curativo. Eu posso...

— Parem! — ouvi Deanna gritar. Ela se aproximou, ofegante, assim como Reg, Spencer, Glenn e Nicholas. — Parem! Agora mesmo!

— Se você tocar neles de novo — ouvi Rick sussurrar — Vou matar você.

Aquelas palavras fizeram um calafrio descer por minha coluna e estremeci. Maggie deve ter notado, porque segurou meu ombro com mais força.

— Não é nada — repetiu ela.

— Que droga, Rick! — gritou Deanna novamente. — Eu disse pra parar!

Tobin começou a se aproximar para tirá-lo de cima de Pete, junto com Nicholas, mas o policial tirou uma arma do cós da calça e apontou para eles. Soltei um ruído agudo, como um guincho, e cobri o rosto com as mãos. Maggie me abraçou.

— Ou o quê? — perguntou Rick. — Vão me expulsar?

— Abaixe a arma, Rick — pediu Deanna. Soltei mais um ruído sufocado e percebi que não eram guinchos, e, sim, soluços. Estava chorando porque estava completamente aterrorizada.

— Você ainda não entendeu — disse o homem, soando frustrado. Ele olhou em volta. — Nenhum de vocês estendeu! Nós sabemos o que tem que ser feito e fazemos. Somos nós que sobrevivemos. Você? — ele voltou a olhar para Deanna. — Você só senta, planeja, hesita. Finge que sabe, mas não sabe. Você queria que as coisas não fossem o que são. Bom, você quer viver? Quer que esse lugar continue de pé? Seu modo de fazer as coisas não funciona. As coisas não melhoram só porque você quer que elas melhorem. A partir de agora, temos que viver no mundo real. Temos que controlar que vive aqui.

— Isso nunca esteve mais claro pra mim do que está agora — disse Deanna, friamente.

— Eu? Eu? — Rick deu uma risadinha. — Você quer dizer eu? — Ele balançou a cabeça. — Seu modo vai destruir esse lugar. Vai matar pessoas. Já matou pessoas. Eu não vou ficar parado e deixar isso acontecer. Se você não lutar, você morre. Eu não vou ficar parado...

Rick foi interrompido por um golpe na nuca que o apagou na hora. Enquanto o homem jazia deitado no chão, Michonne pegou a arma de sua mão e o olhou, parecendo frustrada. Ela, então, encarou Deanna, que a olhava de volta, incrédula, e Maggie se afastou de mim, empurrando-me na direção contrária.

— Venha — disse ela.

A mulher me guiou por trás das casas, evitando outras pessoas, e só percebi onde estávamos indo quando chegamos ao número 74: a enfermaria da comunidade. Solucei o caminho inteiro e senti meus olhos voltarem a inchar e meu nariz entupir novamente.

Maggie me sentou em uma maca e me deu um copo de água. Ela tornou a examinar o corte e esperou que eu bebesse a água toda antes de falar.

— Por que você está chorando? — perguntou. Ela usava aquele mesmo tom que minha mãe quando eu brigava com outra criança e começava a fazer birra. Não era desaprovação, mas certamente não era contentamento. Ergui uma mão trêmula para enxugar o rosto, respirando fundo. Balancei a cabeça.

— Estou assustada — falei. — Por um momento, achei que ele ia matar Pete. E depois Deanna...

— Não — interrompeu Maggie. — Rick não faria isso. — Ela puxou uma cadeira, sentando em minha frente. — Emily, eu sei que assustou você. Ele não conseguiu falar de modo que o ouvissem, mas... ele está certo. Nós sabemos o que estamos fazendo, porque nós estivemos lá fora esse tempo todo e sobrevivemos.

— Eu sei que estiveram — falei. — Mas que direito ele tem de nos ameaçar? Não estou defendendo ninguém — acrescentei antes que ela tentasse me cortar —, mas Deanna só faz o que pensa ser melhor para a comunidade.

— Só que ela não sabe o que está fazendo — disse Maggie. — Ela não sabe como é o mundo agora, nós sabemos. Rick está tentando mostrar isso pra ela.

Assenti e mantive a cabeça baixa, respirando fundo.

— Você não precisa ficar do nosso lado — acrescentou Maggie. — Estou apenas explicando o que está acontecendo.

Ela se levantou e começou a remexer nas gavetas e armários, procurando alguma coisa. Balancei a cabeça, sentindo lágrimas em meus olhos novamente ao pensar no que levara àquela confusão.

— Mas o Pete? — perguntei com a voz trêmula. — Eu nunca ia imaginar... Ron não me contou que ele estava fazendo de novo, pensei que...

— Fazendo o quê?

— Batendo neles.

Maggie parou o que estava fazendo e me encarou.

O quê?

Suspirei e engoli em seco.

— Há alguns anos, Ron apareceu em minha casa com um olho roxo. Eu perguntei o que fora aquilo, e ele me contou que o pai batia em Jessie. Eu não sabia o que fazer, então fui para Deanna... ela interferiu, claro. Deixou-o separado da família por um tempo, dois meses, mais ou menos, e aí ele pediu uma segunda chance. Disse que tinha mudado e que não faria aquilo novamente... e nunca mais ouvimos nada relacionado a isso novamente. Pensei que tivesse parado...

Dei de ombros, impotente.

— Não devíamos ter deixado que ele voltasse — soltei. — Eu imagino... imagino o que Pete fez com eles quando a poeira baixou e as pessoas pararam de prestar atenção neles. Meu Deus, coitada da Jessie.

— Isso não é culpa de vocês — disse Maggie, sentando à minha frente e passando álcool em gel nas mãos antes de pegar um tufo de algodão. — Vocês não eram obrigados a saber.

Ficamos em silêncio enquanto ela molhava o algodão numa garrafa de água.

— Vou limpar seu corte e fazer um curativo — avisou. — Foi pequeno, então não precisa de pontos, mas é melhor proteger de qualquer infecção.

— Certo — falei.

Ela encostou o algodão molhado em minha testa e fechei os olhos, sentindo a água gelada escorrer por meu rosto. Fiz uma careta e ao mesmo tempo tentei deixar a testa relaxada para que ela conseguisse limpar a ferida.

— Sabe — disse Maggie, alheia a meu sofrimento. — É sobre isso que Rick estava tentando falar.

— Como assim? — perguntei, confusa.

— Vocês deixaram ele voltar para casa quando ele pediu — explicou Maggie. — Nem mesmo consideraram que ele podia estar mentindo. Não pensaram por todos os ângulos.

— Você acha que somos burros? — perguntei, dando graças a Deus quando ela afastou o algodão gelado de mim.

— Não, burros, não — disse ela, soltando o algodão numa lixeira. — Só... inocentes.

Maggie pegou uma toalha e passou em meu corte, secando-o, antes de pegar uma pomada e espalhar com o dedo em cima da ferida. Afastei o rosto ao sentir a ardência, mas essa logo se tornou em um formigar leve.

— Vocês teriam deixado que ele voltasse? — perguntei enquanto ela fazia o curativo pequeno em minha testa.

— Não.

— O que teriam feito?

Maggie suspirou, levantando e começando a guardar as coisas no armário.

— Vocês teriam matado Pete? — perguntei, sem saber se queria uma resposta.

— Não — disse ela, imediatamente, fazendo uma sensação de alívio me invadir. — Não por bater em sua esposa. Mas se ele causasse problemas...

Meu sangue gelou com a facilidade com a qual ela tocava no assunto.

— Que tipo de problemas? — perguntei, desconfiada. Maggie se virou para mim, colocando uma mão na cintura.

— Se ele matasse Jessie — respondeu ela. — Se voltasse a bater, coagir ou ameaçar sua família. Se machucasse mais alguém. Alexandria é um lugar bom demais para perdermos tempo com esse tipo de comportamento.

Olhei para meus sapatos, pensando no que ela dissera, e balancei a cabeça.

— Por que matar? — perguntei. — Por que não podemos apenas mandá-lo embora como fazemos com quem se torna um problema?

— Porque não sabemos quando ele voltaria — disse Maggie. — Existem pessoas lá fora que fariam tudo por este lugar, Emily. Pessoas sem escrúpulos ou compaixão. Se Pete esbarrasse com um grupo como estes e apenas mencionasse Alexandria... o resultado seria um desastre que provavelmente mataria todos nós.

— Não todos nós — murmurei. — Vocês sabem se defender. Eu não consigo olhar para uma arma, nem sei usar facas que não sejam de cozinha.

— Você ficaria surpresa com o estrago que uma faca de cozinha pode fazer — disse ela. — Mas se você quiser aprender, devia falar com Glenn.

Sorri fracamente.

— Acha que eu consigo?

— Claro que consegue — disse ela, como se fosse óbvio. — Você aprendeu a andar de bicicleta e desenhar, por que não aprenderia a se defender?

Dei de ombros.

— Tenho medo de armas — expliquei. — Desde pequena. Me sinto desconfortável vendo uma, que dirá usando.

— Minha irmã também era assim, sabe — disse ela. Olhei-a, incrédula.

— Você tinha uma irmã?

— Tinha — respondeu. — Beth. Ela não parecia nada comigo, tinha medo até da própria sombra.

— E o que aconteceu com ela? — perguntei. Maggie me olhou com as sobrancelhas erguidas e balancei a cabeça. — Eu entendi, percebi que ela não está aqui. Mas... ela perdeu o medo?

— Perdeu — disse a mulher. — Ela se tornou outra pessoa. Mais segura. Mais corajosa. Segundo Daryl, claro.

— Ele gostava dela?

— Gostava. Eles passaram um tempo fugindo juntos. Por que você acha que ele te evita tanto?

Coloquei uma mão no peito, fingindo-me de ofendida.

— Eu não sabia que ele me evitava — falei, rindo um pouco.

Maggie me acompanhou.

— É porque você, de certa forma, parece com ela. Esse mesmo ar de menina inocente.

Ela desviou os olhos, parecendo distante.

— Você sente falta dela? — perguntei.

— Todo dia.

— Sinto muito — falei. — Mas sabe, é bom que você fale dela. Quero dizer, quando sentir vontade. Assim, mantém a memória viva.

— É — disse ela. Passaram-se minutos antes que ela falasse novamente, tantos que achei que o assunto estivesse acabado. — Ei, você chegou a entregar aquilo para o Carl?

Fiz que não com a cabeça.

— Não estive exatamente no humor pra isso — expliquei.

Ela deu de ombros.

— Talvez essa seja uma boa hora — disse. — Ele está abalado por causa do que aconteceu, faria bem ganhar um presente. Tenho a impressão que o Natal lá em casa não vai ser exatamente uma Noite Feliz.

Ela riu do próprio trocadilho e eu a imitei, sem graça.

— Vou falar com ele — prometi. — Mas preciso achar com Deanna, mal a vi depois do enterro.

Maggie assentiu.

— E eu vou para casa. Tenho que conversar com Glenn.

Assenti e andamos juntas para a porta, tomando caminhos diferentes após nos despedirmos. O sol estava se pondo e sugando todo o calor que restava do dia, fazendo a temperatura cair. Enquanto andava mais rápido, fechando o casaco e colocando as mãos nos bolsos, pensei se Deanna estaria muito aborrecida comigo por sumir durante a tarde. Percebi também que não comera nada o dia inteiro, e talvez frio não fosse a única razão pela qual minhas mãos tremiam.

A casa estava iluminada quando cheguei. Girei a maçaneta devagar, tentando evitar um encontro desagradável com Deanna, mas a sala estava vazia. Porém, enquanto eu adentrava na casa, podia ouvir o zumbido de uma conversa no escritório.

— Ei — chamou uma voz à minha direita, me assustando. Spencer estava parado na porta da cozinha encostado na parede com o olhar triste. — Fiz hambúrgueres — disse, sem um pingo de entusiasmo.

— Parece ótimo — falei, pendurando o casaco no gancho do corredor.

— O que aconteceu na sua cara? — perguntou ele enquanto sentávamos à mesa, referindo-se ao curativo.

— Foi na hora da briga — expliquei, dando uma mordida generosa no sanduíche. Por vários minutos, apenas comemos em silêncio, e percebi o quão faminta realmente estava. — Ron estava chegando perto pra interferir e eu me joguei no meio. Bati a cabeça no chão.

— Intenso — disse Spencer, assentindo. — Quem fez o curativo pra você? Denise?

— Maggie — respondi. — Ela ficou comigo o tempo todo.

— Aquilo foi bem assustador — comentou ele.

— Foi — falei. Olhei-o novamente, pensando se devia dizer o que realmente pensava. Se fosse Deanna, realmente iria magoá-la, mas aquele era Spencer. — Olhe...

Fui interrompida por sua mãe, que desceu as escadas como um furacão. Ela me viu na cozinha e seus olhos se estreitaram ao ver o curativo em minha testa.

— Onde você estava? — exigiu, aproximando-se. Atrás dela, notei Reg abrindo a porta para um pequeno grupo de pessoas, desejando boa noite a todos.

— Na enfermaria — respondi.

— Você se machucou? — perguntou ela novamente.

— Ela caiu, mãe — disse Spencer. — Não foi nada, tá?

A mulher suspirou, assentindo.

— Certo — disse. — Desculpe, querida. Tive um dia estressante demais.

— Tudo bem — falei. — Hambúrguer?

Deanna balançou a cabeça.

— Eu vou voltar para o trabalho. Há tanto a ser feito... se precisar, vou estar no escritório.

— Vou estar aqui — falei.

Deanna subiu as escadas junto com Reg, deixando-me só com Spencer novamente e apertei os lábios. Olhei para o rapaz à minha frente, que comia seu sanduíche, distraído, e tive uma ideia.

— Spencer — chamei. Ele ergueu os olhos, a boca cheia de pão. — Vou precisar sair hoje, mas Deanna não pode saber — falei. — Pode me dar cobertura?

Ele engoliu e me olhou, desconfiado.

— Onde você vai?

Balancei a cabeça.

— Não — falei. — Sem perguntas. Você me deve uma, lembra quem derrubou vinho naqueles papéis de Deanna?

Spencer suspirou.

— Eu.

— E quem assumiu a culpa?

— Você.

Encarei-o, vitoriosa, e ele deu de ombros.

— Se você chegar antes das nove, tudo bem.

Sorri, agradecida, e terminei de comer rapidamente. Levantei-me devagar e segui para o quarto em silêncio, afim de pegar o embrulho vermelho em minha gaveta, descendo novamente e parando no corredor para pegar o casaco.

— Se perguntarem, diga que eu fui falar com Denise sobre minha cabeça — sussurrei para Spencer. Ele assentiu, fazendo um sinal de ok, e saí da casa, fechando a porta lentamente atrás de mim.

Andei rapidamente pelas ruas, tentando não tropeçar no escuro e escondendo o embrulho dentro do casaco. Eu realmente não queria que Deanna soubesse onde estava indo, porque aí teria de explicar que não tinha nada a ver com o que acontecera à tarde e ela não acreditaria.

Ao chegar na casa de Rick, dei a volta pela lateral e olhei para a janela acima de mim. As luzes estavam apagadas e não havia nenhum movimento dentro. Olhei para o chão, onde achei algumas pedrinhas e joguei uma na janela o mais forte que podia. Ela fez um plec agudo antes de quicar de volta. Como não houve resposta, decidi jogar outra, que fez o mesmo barulhinho irritante e voltou. Estava me preparando para jogar a terceira quando a janela abriu e senti minhas bochechas esquentarem.

— Emily? — perguntou Michonne, olhando-me confusa. — O que você está fazendo?

— Ah, me desculpe! — sussurrei. — Desculpe mesmo, eu queria falar com Carl. Pode chamá-lo para mim?

Ela me olhou, a expressão desconfiada e divertida ao mesmo tempo.

— Posso — disse. — Mas você sabe que temos uma porta, certo?

— Sei — respondi, me sentindo mais envergonhada ainda. — Mas eu realmente não queria que Deanna soubesse que eu vim.

Michonne assentiu, compreensiva.

— Vou pedir pra ele descer — disse.

Assenti e encostei-me na lateral da casa, sentindo meu rosto arder. Claro que eu não pensara na possibilidade de ser a janela errada, mas não era minha culpa. Afinal de contas, sempre que faziam isso nos filmes, era a janela certa. Tirei o embrulho de dentro do casaco e o segurei junto ao corpo, sentindo o vento bater novamente. Abracei a moldura como se fosse afastar o frio e ouvi a porta da frente se abrir.

— Emily? — sussurrou Carl da varanda.

— Aqui — respondi.

Ele desceu as escadas e caminhou em minha direção.

— Michonne disse que você estava tentando quebrar a janela dela — disse ele, sorrindo. Senti minhas bochechas arderem novamente.

— Eu não — defendi-me. — Eu estava te procurando.

— Me achou.

— É — falei, olhando para cima, onde o vidro continuava aberto. — Escute, podemos caminhar um pouco?

— Claro — disse ele.

Virei e comecei a ir na direção do único lugar onde tinha certeza que não seríamos vistos: o lago. O lugar não era ignorado durante o dia, mas à noite as sombras o encobriam quase completamente. Carl me seguiu sem dizer uma palavra, ficando de pé a meu lado quando parei, perto da água.

— Ei, ah, eu queria pedir desculpas — falou. — Vi como você ficou hoje depois do que meu pai...

— Não vim falar sobre seu pai — eu o interrompi. — E, sim, ele me assustou pra caralho... mas não quero tocar nesse assunto agora.

— Certo — disse o garoto, desconfiado. — Então você quer falar sobre o quê?

— Você lembra de quando conversamos sobre sua mãe? — perguntei. Ele assentiu, mais desconfiado ainda, o que não me ajudou. — Bom, eu falei com Maggie — olhei-o e vi sua expressão endurecer à menção da mulher, mas não vacilei — e ela me ajudou a fazer isso.

Estendi o embrulho. Carl me olhou como se eu houvesse acabado de emergir de um poço de lama, mas pegou mesmo assim e começou a abrir. Quando ele havia se livrado do papel, olhou para a moldura e para mim, então para a moldura de novo e balançou a cabeça, incrédulo.

— Você fez isso? — perguntou.

— Você gostou? — devolvi a pergunta, ansiosa. — Porque eu posso fazer de novo se não estiver tão parecida assim, tive alguns problemas com os olhos dela, mas Maggie disse que estavam cert... oh! — exclamei, surpresa, quando ele me abraçou.

— Obrigado — murmurou.

E eu sorri, finalmente feliz depois de tudo que acontecera. Retribuí o abraço, sentindo o frio ir embora por alguns instantes.

— Feliz Natal, Carl.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Eu adorei o gif, serião. Pra quem ficou curioso, aqui está a lista das músicas:
Paradise – Coldplay
Wild Ones – Flo Rida feat. Sia
Cake – Melanie Martinez
Video Games – Lana Del Rey
Cruel World – Lana Del Rey
Sim gente, eu sou fã da Lana, Sad Girl e Queria Star Morta mesmo. A partir de agora, vou começar a botar a música do capítulo – se eu lembrar, claro. Enfim, beijinhos e até o próximo!