Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 41
Capítulo 40




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O público está petrificado observando os dois irmãos que se encaram em cima do palco. Malú continua tentando se soltar do segurança para ir até onde estão Thiago e Ícaro.

— O que... você... fez? – pergunta Thiago, ofegante.

— O que eu prometi a você quando nasceu – responde Ícaro segurando a nuca do irmão — Protegê–lo com a minha vida.

Ícaro desliza pelos braços de Thiago que tenta segurá–lo com todas as suas forças, mas o corpo do irmão é pesado, o limitando a deitá–lo no chão.

— Não! – grita Aline ao observar a cena.

A multidão fica entra em pânico correndo em direção as saídas do salão, sendo acompanhados por Graziela que fica frustrada. Homem tolo  pensa a loira indo em direção a saída, calmamente.

— Sua vagabunda! – xinga Aline puxando Graziela pelos cabelos.

A morena joga Grazi no chão, a prendendo com seu corpo enquanto desfere socos enfurecidos contra a mulher que atirou em Ícaro. Graziela tenta atirar em direção a Aline que joga a arma para o lado, batendo ainda mais no rosto da loira.

— Eu vou acabar com você – esbraveja Aline puxando os cabelos de Graziela, enfurecida.

            A loira consegue empurrar Aline que se cai para o lado, então Graziela vai para cima dela, revidando todos os golpes que recebera. As duas rolam pelo chão, brigando no meio da correria. Até que Graziela consegue recuperar sua arma apontando para Aline que ergue os braços.

— Pelo visto não é tão valente quando tem uma arma apontada para você – alfineta Graziela limpando o sangue dos lábios.

— Atira, mas é melhor acertar – provoca Aline de peito aberto — Porque se errar, meu rosto é a última coisa que verá em vida.

— Vale o risco – responde Graziela engatilhando sua arma—Quais serão suas últimas palavras?

— Você está presa – responde Aline sorrindo.

— O quê? – pergunta graziela sem entender.

—  Largue a arma! – ordena o policial atrás de Graziela — Você está cercada!

Graziela  continua apontando a arma em direção a Aline enquanto olha ao redor , certificando de que está encurralada pelos policiais. Ela então coloca a arma no chão e ergue as mãos.

— Você está presa – determina o policial pegando as algemas e prendendo Graziela que sorri para Aline.

— Isso ainda não acabou – avisa Graziela sendo empurrada pelo policial — Eu voltarei.

— Estarei esperando por você – retruca Aline observando Graziela ser levada para fora do salão.

Ela corre em direção ao palco onde Thiago está ajoelhado segurando na mão de Ícaro. Malú se aproxima ao lado do pai, chorando.

— O que foi que você fez, irmão? – pergunta Thiago, chorando.

—  Estou lhe devolvendo sua chance – responde Ícaro — Perdoe–me...

— Não... – recusa Thiago aos prantos— Não há o que perdoar.

— Eu falhei... falhei com você... falhei com a Malú – fala Ícaro olhando para a sobrinha — Perdoe–me, Malú.

— Não morra, tio. Por favor – pede Malú  segurando a mão de Ícaro.

— O que diabos você pensa que está fazendo? – questiona Aline se aproximando de Ícaro. Malú se afasta dando passagem a tia que se ajoelha ao lado de Ícaro, nervosa — Não se atreva a morrer... Você não pode me abandonar, está me ouvindo? Eu me recuso a viver sem você.

— Aline, me perdoe – pede Ícaro tocando no rosto de sua amada.

— Eu já te perdoei, seu bobo – retruca Aline tocando na mão de Ícaro.

—  Eu não mereço o seu amor – fala Ícaro — Ainda mais depois... de tudo.

— A gente não manda no coração – Aline.

— Você não entende... – solta Ícaro vendo os paramédicos chegarem.

— Afastem–se – ordena a paramédica.

Eles se afastam deixando a equipe cuidar de Ícaro. Malú abraça seu pai,se encolhendo em seus braços,chorando em seu peito. Aline chora acompanhando a equipe em direção a ambulância junto com Thiago e a sobrinha.

— Cuide da minha filha – pede Thiago à Aline. Ele afasta o corpo de Malú que se apavora  e lhe dá um beijo na testa dizendo — Eu voltarei para você, prometo.

Ele entra na ambulância acompanhando Ícaro que agora está inconsciente.

— Agora, eu irei cuidar de você, meu irmão – sussurra Thiago enquanto a ambulância dirige para fora do Clube.

***

Ricardo liga seu carro observando toda a movimentação do clube, dirige com cuidado em direção ao portão de saída, passando pelo carro de polícia, onde Graziela está presa. Fica agradecido por ter se livrado de mais essa... Promete a si mesmo que voltará aos pequenos golpes quando um carro para em sua frente, impedindo sua passagem. Benjamin começa a buzinar freneticamente, chamando a atenção dos policiais, para o desespero de Ricardo que pega sua arma apontando em direção ao namorado de Malú que não se apavora.

— Saia do veículo com as mãos para cima – ordena o policial militar com a arma em punho para Ricardo.

Após alguns segundos, o ator desce do veículo sendo observado por Benjamin, que sorri satisfeito ao ver Ricardo ser algemado e preso. Ele desce de seu veículo e caminha em direção à Malú e Aline que estão abraçadas sendo interrogadas por um outro policial.

—  Conte–me senhorita, como tudo aconteceu – pede o policial à Malú.

— O doutor Ricardo, meu fonoaudiólogo – começa Malú surpreendendo Aline e Benjamin — Foi até a casa da minha avó dizendo que eu tinha uma sessão de fonoterapia, o que era mentira. Minha avó, Maria Luísa Assunção de Almeida, escondeu a mim e a governanta, Adelaide e então ela voltou para falar com ele. Tudo o que sei é que em algum momento a Graziela, que é ex– noiva do meu pai entrou na casa também e pediu ajuda a Adelaide que saiu do esconderijo para pegar o meu celular. Eu fiquei mais alguns minutos, mas então decidi descobrir o que estava acontecendo e... encontrei Adelaide no chão do quarto do meu pai. Fui procurar a minha avó e  ai eu vi que os dois estavam juntos e disseram que iam me sequestrar... Eles saíram de casa e eu finalmente pude ir ver a minha avó. Pedi ajuda ao meu namorado e a minha tia. Então o Benjamin me buscou e viemos para cá... E então tudo acontece. A Graziela tentou matar o meu pai para assim despersar todos e facilitar o meu sequestro... E o resto vocês sabem.

— Tudo bem, saiba que terá de repetir tudo isso ao delegado, está bem? – informa o policial que se afasta.

— Malú, você está falando? – questiona Aline, surpresa — Quando foi isso?

— Eu não sei... Quando eu vi o tio Ícaro e o meu pai... eu falei. Não sei explicar... – responde Malú, tristonha.

— Oh, meu amor – diz Aline abraçando a jovem — Tudo finalmente acabou... Agora temos de torcer para o seu tio ficar bem. Ele foi um verdadeiro herói hoje.

— Tia... – chama Malú se afastando de Aline — O tio Ícaro... ele tambem era um dos comparsas da Graziela para me sequestrar.

— Como é? – pergunta Aline, chocada — Como você sabe disso?

— Eu escutei Graziela e Ricardo conversando... Ele não estava no palco para salvar o Thiago, mas sim para me sequestrar.

— Tem certeza? – pergunta Aline, transtornada.

— Sim, eu só não tive coragem de contar ao policial. Eu não quero que o tio vá preso – revela Malú abraçando Aline. — Não quero acabar com  a vida dele.

— Você não irá acabar com a vida de ninguém – conforta Aline tocando nos cabelos de Malú. Ela afasta a sobrinha de seu abraço — Olha, eu vou ali falar com o policial para saber como está sua avó e a Adelaide, fique aqui com o Benjamin, está bem?

— Tá bom. – concorda Malú olhando para Benjamin que ainda está com os olhos arregalados — O que foi, Ben?

“ Você voltou a falar” responde Benjamin, surpreso.

— Sim – confirma Malú envergonhada.

“ Fico feliz ” solta Benjamin se aproximando de Maria Luísa.

— Espero que nada mude entre nós – comenta Malú, tristonha — Se quiser, eu continuo a falar em Libras com você.

“ Está brincando? Não quero que fale em Libras” recusa Benjamin, sério.

— Não? – pergunta Malú, surpresa.

“ Não mesmo. Sua voz é a mais bela melodia que já escutei em toda minha vida” elogia Benjamin “ Não quero parar de escutá–la... nunca”.

— Obrigada – agradece Malú — Por tudo.

Os dois se aproximam ,tímidos... Benjamin ajeita os cabelos da namorada dando leve beijo na testa de Malú que se aconchega nos braços do  seu verdadeiro herói.

***

Alguns dias depois...

Maria Luísa desperta sendo recebida com muito carinho por Aline, Malú e Thiago que aguardavam ansiosos por sua recuperação. A matriarca esboça um sorriso para seus familiares e então se vira para outro lado encontrando Adelaide também em recuperação. As duas se dão as mãos, sorrindo, elas conseguiram.

— Bem vinda de volta, mamãe – fala Thiago colocando o buquê de rosas ao lado da cama de Maria e beijando o rosto de sua mãe — Já estávamos com saudades.

— Obrigada, meu filho –agradece Maria , emocionada. Ela estende a mão para a neta que se aproxima com lágrimas nos olhos — Olá, minha heroína.

— Olá vovó – responde Malú fazendo Maria arregalar seus olhos azuis.

— Você voltou a falar – solta Maria , surpresa.

— Sim, vovó. –  responde Malú sorrindo segurando na mão de sua avó.

—Agora a senhora já pode parar de trocar bilhetes com a menina Malú – revela Adelaide para a surpresa de Malú que encara sua avó.

— Então era a senhora quem falava comigo? – questiona a jovem, chocada.

— Sim, eu não sabia como me aproximar de você... então decidi usar algo que temo em comum: os livros – responde Maria — Agora nós duas temos muito mais coisas em comum, então não será mais necessário.

— Negativo– discorda Malú — A senhora tem uma biblioteca enorme, então vai melhorando, pois preciso de novas dicas de livros.

— Pode deixar, nós temos muito tempo para colocar aqueles livros em dia – concorda Maria olhando para Aline — Olá, Aline.

— Olá, Malú Vó – responde Aline no pé da cama.

— Será que vocês podem nos deixar a sós? – pede Maria ao Thiago e Malú. —Tenho que trocar umas palavrinhas com essa, mocinha.

Malú e Thiago saem do quarto, deixando apenas Maria Luísa, Adelaide e Aline que franziu a testa sem entender o motivo daquele pedido.

— Adelaide, conte a Aline o que mandei você fazer – ordena Maria encarando Adelaide — Com o bilhete que ela deixou

— A Dona Maria mandou eu rasgar o seu bilhete – responde Adelaide.

— Por que fez isso? – questiona Aline se aproximando.

— Aline, você só afastaria a Malú com aquele bilhete. Ela merece uma explicação, uma boa explicação a respeito do seu passado. Vocês já conversaram sobre isso? – pergunta Maria.

— Não, os dias estão muito corridos... – responde Aline sentando na ponta da cama.

— Desistiu de ver a sua mãe? – pergunta Maria.

— Não, ainda não desisti, mas tenho que fazer uma coisa antes de partir.

— Tudo bem, mas saiba que se for embora, antes de fazê–lo, converse com a Malú, seja sincera. Ela merece isso – pede Maria se ajeitando.

— Tudo bem – concorda Aline, tristonha.

— Aline – chama Maria —Qualquer decisão que tenha que tomar, saiba que tem o meu apoio.

— Mesmo que envolva seu filho? – questiona Aline respirando fundo.

— Qualquer decisão – reforça Maria — Vá.

— Sempre mandona, Malú Vó – zomba Aline com um leve sorriso.

— Essa é a minha função nesta família – responde Maria segurando nas mãos de Aline — Em nossa família...

— Obrigada – agradece Aline abraçando Maria.

—  Abraço não... – resmunga Maria. Quando Aline finalmente a solta — Saiba que essa história de abraçar não irá durar...

— É o que veremos – retruca Aline se afastando — Até breve, Malú vó.

— Até breve, minha filha. – responde Maria olhando Aline sair do quarto.

—  Dona Maria – chama Adelaide atraindo atenção de Maria — De qual filho ela está falando?

***

Ícaro desperta, sentindo um pouco de dor, por conta do curativo em suas costas. Ele olha para janela que está com a cortina fechada e na cabeceira, fotos dele com Thiago... fotos dele com Malú e Anna e, claro, dele com Aline que agora está perto da porta está olhando para os próprios pés. Ele tosse chamando atenção dela que se aproxima da cama, sentando na beirada enquanto observa o homem à sua frente.

— Olá... – cumprimenta Ícaro tocando na mão de Aline que evita — Tudo bem?

— Sim, está tudo bem – responde Aline mordendo os lábios.

— Onde estão os outros? – pergunta Ícaro olhando ao redor procurando encontrar mais alguém.

— Thiago e Malú estão no quarto da Maria e de Adelaide – responde Aline, séria.

— O que aconteceu com elas? – questiona Ícaro, nervoso.

— Você não soube? – questiona Aline erguendo a sobrancelha — A Graziela atirou nas duas enquanto ela e o Ricardo... O Ricardo era o fonoaudiólogo da Malú, mas não era médico de verdade... Enfim, eles tramaram sequestrar a Malú,mas como sua mãe... Quer dizer, a Maria  foi mais esperta e frustrou o plano deles. Então, ela atirou nas duas...

— Meu Deus – exclama Ícaro,em choque.

— Oh, mas não termina aí. Como se não bastasse atirar nas duas, ela planejou atirar no Thiago e ainda assim sequestrar a Malú. Mas Graças a Deus, nada disso deu certo, pois você salvou teu irmão e a polícia prendeu a todos – finaliza Aline com um enorme sorriso.

— Estão todos bem? –pergunta Ícaro, preocupado.

— Na medida do possível – responde Aline,séria.

— Fico feliz que tudo terminou bem– comenta Ícaro, aliviado tentando segurar na mão de Aline mais uma vez que se levanta.

— Não deveria – retruca Aline, transtornada — Você é a última pessoa que deveria ficar feliz depois de tudo o que aconteceu!

— Aline, por favor... – pede Ícaro.

— Não... Eu tinha te perdoado, Ícaro – interrompe Aline, nervosa — Eu te perdoei por tudo o que aconteceu... Eu consegui entender o motivo pelo qual você escondeu a verdade sobre a Anna e a Malú durante todos esses anos. Apesar de tudo, eu ainda consegui amar você. Porque você, Ícaro, sofreu uma grande injustiça em sua vida.  Eu sei como é isso, sei bem como é ser a ovelha negra, o erro da família. Eu justifiquei todas as suas atitudes e perdoei cada uma delas... Porque , além de te amar, eu sei que você o fez buscando ter algo para si... Por ser querido por alguém... por ser amado por alguém. Você também queria ter sua chance de ser feliz e eu entendo perfeitamente isso... Por dezesseis anos, eu convivi com você. Nossas vidas se entrelaçaram de uma forma incrível e única, como nunca aconteceu com ninguém. Eu o conhecia como a palma da minha mão. Eu amei cada imperfeição sua que descobri nesses dezesseis anos... E continuei amando você depois disso.

—  Eu também te amo – declara Ícaro com lágrimas nos olhos.

— Mas o meu amor  por você terminou quando eu descobri que você estava envolvido no sequestro da Malú –   confessa Aline enxugando seu rosto — Como posso amar alguém que é capaz de pensar em machucar alguém a quem criou? Como você pôde pensar em fazer isso com ela? A garotinha que só dormia quando você lia para ela... Você a ensinou a ler... Ícaro, você foi o pai da Malú!

— Por favor, preciso explicar... – pede Ícaro, chorando.

— Explicar? Não há explicação sua que eu não tenha pensado. Eu sei que você fez isso pensando que depois que resgatassem a Malú , voltaríamos para BH e tudo seria como antes. – alega Aline —Você foi até a minha casa obcecado por essa ideia. Porém, eu volto a repetir o que disse há meses: Nada será como antes.

— Aline...

— Você não é o Ícaro por quem eu me apaixonei... nem o homem a quem eu amei – comenta Aline, amargamente.Ela caminha em direção a porta,abrindo e continua — Como eu disse: todos foram presos no final...

—Ícaro de Almeida, o senhor está preso – determina o oficial entrando com outros dois policiais. Eles algemam Ícaro na cama  que olha para Aline, surpreso.

— Eles confessaram – conclui Ícaro baixando a cabeça.

— Não. Fui eu – revela Aline — Você estava certo, não merece o meu amor. Até um dia, Ícaro.

Aline sai do quarto sem esperar uma resposta daquele que um dia foi o amor da sua vida. Ela passa chorando por Thiago que caminha em direção ao quarto do irmão, ele pensa em ir atrás da tia de Malú, mas depois do que aconteceu ao Ícaro, decidiu abrir mão de seus sentimentos e seguir em frente.

Ele entra no quarto encontrando Ícaro algemado e dois policiais de vigia, enquanto o oficial passa todos os direitos e deveres ao seu irmão, agora preso.

— O que está acontecendo aqui? – pergunta Thiago, sem entender — Por que estão prendendo o meu irmão?

— Tentativa de sequestro, formação de quadrilha, além de participação na tentativa de homicídio por motivo torpe – responde o oficial.

— Não, isso não é possível – recusa Thiago se aproximando de seu irmão — Ícaro?

— Perdoe–me, Thiago – pede Ícaro, culpado.

— Você estava envolvido? – questiona Thiago, incrédulo— Isso é impossível... Você jamais faria isso... Você é meu irmão. Ícaro, diga alguma coisa.

—  Eu sou culpado , Thiago – confessa Ícaro encarando o irmão — Eu sinto muito...

— Você esteve envolvido em tudo? – questiona Thiago, sério.

— Não! EU jamais mataria alguém! – responde Ícaro, arrependido — Eu não sabia que a Adelaide... que a Maria... Por Deus, eu jamais imaginaria que a Graziela iria atirar nelas e muito menos em você.

— Tudo bem, Ícaro. Eu acredito em você – afirma Thiago se aproximando do irmão — Eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para lhe ajudar.

— Mas fui eu quem deu a ideia do sequestro – revela Ícaro — Perdoe–me , Thiago.

— Antigamente, eu jamais seria capaz de perdoá–lo, mas assim como você , também fiz uma promessa e irei cumprí–la. Eu cuidarei de você, meu irmão.

***

Uma semana depois...

Aline caminha em direção ao coreto, onde estão Maria Luísa e sua neta entretidas em suas leituras. Depois da prisão de Ícaro, o Thiago ter pedido as eleições e o regresso de Maria e Adelaide, a morena sente que é sua hora de regressar ao seu antigo lar e acertar as coisas. Mas, como prometeu a matriarca, antes conversaria com a sobrinha e é o que veio fazer quando sentou junto com elas naquela bela tarde de sábado.

—  Aqui estão vocês – comenta Aline admirando a capa dura do livro de Malú que sorri para ela. Maria olha por cima de seu livro adivinhando que o momento de Aline falar com a neta chegara. Ela se levanta , dá um beijo na testa de Malú e sai do coreto deixando apenas tia e sobrinha —Nós precisamos conversar.

— Tudo bem – concorda Malú colocando o livro em cima da mesa. Ela estreita os olhos encarando sua tia — Mas ainda acho o Hugh Jackman mais bonito que Robert Downey Jr.

— Não comece uma batalha  que não será capaz de vencer, mocinha – alega Aline levando a provocação da sobrinha na esportiva. As duas riem e então a morena continua — Mas não é sobre isso que vim conversar com você, Maria Luísa.

— Nome todo? O que foi que eu fiz? – questiona Malú se arrumando na cadeira.

— Você não fez nada. Mas acho que está na hora de eu explicar a verdade sobre o meu passado – revela Aline, séria contando tudo o que realmente aconteceu até a morte do seu irmão,recebendo total atenção de Malú — Eu errei... Achei que não merecia uma  chance, mas então sua mãe apareceu e me deu essa oportunidade de conviver com vocês. Eu quis contar pra ela, mas tive medo de estragar tudo. Mas eu agi errado e reconheço. Eu não posso mais contar a verdade para ela, mas você merecia saber.Espero que me perdoe por ter omitido o meu passado.

— Tia, eu já te perdoei – responde Malú tocando no rosto de Aline — Não precisa agir assim.

— Mas não é só isso. – continua Aline — Eu estou de partida, Malú. Amanhã embarcarei para São José, preciso acertar as contas com a minha mãe... Ela também precisa saber a verdade.

— Então... isso é um adeus? Você está me deixando? – pergunta Malú, confusa.

— Isso não é um adeus. Mas chegou a hora de eu seguir em frente e lidar com o meu passado – responde Aline.

— Então você irá retornar né? – pergunta Malú, esperançosa.

—  Não sei, Malú – responde Aline, sincera — Sua vida é aqui, com a sua família, mas a minha...

— A senhora também é a minha família – retruca Malú chorosa.

— Mas a minha vida não é aqui... – continua Aline — Eu preciso me encontrar, e talvez essa viagem me dê essa oportunidade. Você entende, né?

— EU estarei mentindo se disser que entendo, tia – responde Malú, entristecida —Mas a senhora sempre foi um espírito livre, como dizia mamãe.

— Ei, mocinha – chama Aline tocando no rosto de Malú — Eu sempre visitarei você. Isso não é um adeus... Quero que saiba uma coisa...

— O quê? – pergunta Malú, curiosa.

—   O Robert Downey Jr. é  mais bonito que Hugh Jackman – zomba Aline.

— Ah, mas não é mesmo – retruca a sobrinha sorrindo — Eu sentirei sua falta – confessa Malú abraçando sua tia.

— Eu mais ainda, meu amor – fala Aline — Mas sempre chega o momento de seguirmos em frente e o meu é agora.

As duas se levantam e caminha em direção a mansão, abraçadas.

— Sabe quem mais sentirá sua falta? – pergunta Malú, misteriosa entrando no hall.

— Quem? – pergunta Aline, curiosa. A primeira pessoa que vem em sua mente é Thiago,mas depois de tudo o que aconteceu, dificilmente ele sentirá falta dela.

— A Malú Vó – responde Malú apertando o livro contra o peito — Ela tem aquela pose de durona, mas vai morrer de saudades de você.

— Não conte pra ela, mas eu também sentirei muita falta – comenta Aline sorrindente. — Na verdade, de todos.

— Por que sentirá falta de todos? – pergunta Thiago saindo do escritório — Você está indo embora, Aline?

— Oi, Thiago – cumprimenta Aline, sem graça.

— Eu vou guardar o meu livro – comenta Malú entre os dois que se encaram intensamente — Como se vocês se importassem... – resmunga a jovem subindo as escadas.

— Oi, Aline – retribui Thiago admirando a tia de Malú,apesar de todo seu esforço para não fazê–lo — Então você está indo embora? Por quê? Para onde vai?

—  Uau, quantas perguntas – exclama Aline quebrando o gelo entre eles — Eu vou à São José ... preciso acertar as contas com a minha mãe. E depois... Só Deus sabe.

— Entendi... – comenta Thiago com leve tristeza. Ele estende a mão em direção a Aline — Então, boa viagem.

— Obrigada – agradece Aline apertando a mão de Thiago, ficando vermelha. Aquele aperto foi o mais próximo que os dois já chegaram um do outro em muito tempo.

— Essa casa não será a mesma sem você – comenta Thiago com um sorriso triste.

— Assim, espero – responde Aline segurando a emoção. Ela solta a mão de Thiago e aponta para o ar, animada — Ou então serei obrigada a voltar e colocar tudo nos trilhos...

— Espero que volte... sempre – solta Thiago —Quero dizer, essa casa estará sempre de portas abertas para você.

— Obrigada – agradece Aline mais uma vez.

— Eu quem agradeço, Aline. Você foi fantástica, com todos nós... Eu serei eternamente grato por ... tudo – elogia Thiago, sincero.

— Não precisa agradecer – responde Aline.

— Meu irmão é um sortudo por ter você ao lado dele – desabafa Thiago.

— Eu e o Ícaro não estamos juntos, Thiago. Ele deve ter lhe contado... – revela Aline.

— Não, ele não me contou – retruca Thiago, surpreso. —Desculpe–me pelo constrangimento.

— Não, está tudo bem – fala Aline sorrindo — Eu estou superando aos poucos isso... E tenho certeza que ir embora ajudará bastante... a por a cabeça no lugar.

— Se precisar de um amigo, estarei aqui – dispõe Thiago.

— Pode deixar – fala Aline encarando Thiago. O silêncio toma conta dos dois , então ela sorri e aponta para a escada — É melhor eu subir e começar a arrumar minhas coisas.

— Quer que eu te leve ao aeroporto amanhã? – pergunta Thiago, nervoso.

— Não precisa... Eu detesto despedidas – recusa Aline com um leve sorriso. Sobe alguns degraus sendo observada por Thiago que está demonstrando toda sua tristeza com a recusa , então se vira — A gente se vê por aí.

Aline sobe as escadas com o coração acelerado, choro preso na garganta e uma vontade quase incontrolável de voltar... E depois? O que acontecerá depois? Pensa a morena chegando ao topo da escada. Bom, seja o que Deus quiser, conclui se virando... Encontra apenas o hall vazio. Ela fica um tempo, parada e então volta a caminhar em direção ao seu quarto repetindo para si mesma que é o melhor a ser feito.

***

A despedida de Aline em frente a mansão foi curta, mas muito emocionante para todos os presentes, desde os empregados até a Maria Luísa que não conseguiu conter as lágrimas e até mesmo abraçou a herdeira dos Buarque de Melo. Malú também se agarrou a tia que chorou muito ao se despedir da jovem. Ela então para em frente de Thiago que mantém o semblante sério estendendo a mão para Aline que aperta rapidamente, evitando o contato visual. 

Entra no veículo da família, sendo recepcionada por Reginaldo que em poucos minutos já dirige para fora da mansão, deixando todos para trás. Um a um , todos voltam ao seus afazeres, menos Thiago que ainda fica algum tempo olhando para os portões que se fecham lentamente.

 — Ela irá voltar, pai – consola Malú tocando na mão de Thiago que se vira.

Apesar de seu filha ter usado a palavra que mais ama no mundo, nem isso o anima. Ele abraça Malú e beija o topo de sua cabeça enquanto olha para o portão na esperança de que Aline regresse a qualquer momento, mas isso não irá acontecer.

— E agora? – pergunta Malú para o pai.

— Bom, agora eu preciso conversar com você – responde Thiago, sério.

— Ah, não. Não me diga que você também irá embora – resmunga Malú, contrariada.

— Não mocinha, eu não irei. Fiquei dezesseis anos longe de você... Se tem algo que eu não quero é me afastar – responde Thiago rindo — Só que essa conversa também envolve o seu namorado.

— Benjamin?

— A menos que você tenha outro namorado –  ironiza Thiago recebeno um soco nas costelas — Hey, jovem, me respeite, sou o seu pai.

— O que você quer conversar com ele? – questiona Malú, curiosa.

— Chame–o para vir aqui em casa e descobrirá. Ou melhor, chame todo o grupo, incluindo a Ariadne – responde Thiago, enigmático entrando na mansão.

— Sério? Vai me deixar na curiosidade? – questiona Malú andando atrás de seu pai.

— Deixe–me pensar... sim – responde Thiago sorrindo.

— Conte–me, pai... Papai? Paizinho? – implora Malú parando em frente de Thiago.

— Sem chantagens, Maria Luísa – responde Thiago tocando na ponta do nariz de sua filha que cruza os braços. Ele a imita e comenta — Sabia que quando você age assim, lembra muito a sua mãe?

— Sério? – pergunta Malú, surpresa.

— Sim – responde Thiago caminhando — Inclusive isso me lembra uma vez em que levei a sua mãe para assistir um show de opera rock.

— Você e a mamãe em um show de opera rock? – questiona Malú, desconfiada andando ao lado do pai.

— Sim, aliás nessa época ela dizia que odiava opera rock – responde Thiago.

— Sei... – comenta Malú, incrédula.

— Quer escutar essa história ou não? – pergunta Thiago encarando a filha.

— Você sabe que sim – responde Malú abraçando o pai.

— Era uma vez, uma linda princesa roqueira chamada Anna... – começa Thiago subindo as escadas com sua filha.

***

O grupo de aprendizagem e Ariadne se reúnem no salão de festas da família Almeida, admirados com a beleza do lugar, quando Malú entra com seu pai e Maria Luísa, sentando junto com eles. Thiago sorri para todos e então diz sendo interpretado pela filha :

— Eu decidi reunir todos aqui, pois como sabem , não venci as eleições para senador e com isso , o projeto ficou sem rumo. Porém , como eu disse... independente das eleições, eu faria o Instituto acontecer é sobre isso que gostaria de falar com todos vocês. – ele olha para sua mãe que sorri e continua–  Eu andei conversando com a minha mãe, Maria Luísa e ela irá ceder o pequeno edifício, onde a empresa de advocacia dos Assunção começou, para tirar o Instituto do papel. Já entramos com a papelada para autorização do espaço para criação do Instituto educacional que contará com oito salas,uma pequena área de lazer, espaço para o administrativo... não é muita coisa, mas já é algo para iniciar.

— Thiago, isso é ótimo – exclama Ariadne , emocionada tanto quanto todos do grupo.

— Agradeça a minha mãe que teve a idéia de usarmos o espaço para tal finalidade – comenta Thiago sorrindo para Maria.

— Não precisam me agradecer. Eu é que sou grata por tudo o que fizeram e fazem pela minha neta. – responde Maria, satisfeita — Só tem um porém...

— Bom, o prédio passará por uma avaliação antes de receber um alvará de funcionamento. Nós já contratamos uma equipe para fazer a manutenção mais pesada. Para fazer com quem o prédio fique pronto dentro do prazo, eu já me disponibilizei a colocar a mão na massa, mas...

— Vocês precisam de mãos para ajudar a acelerar a reforma do prédio, certo? – pergunta Ariadne, empolgada — Se for isso, pode contar comigo.

— E comigo – Maria, arregaçando as mangas.

— E comigo também –  fala Malú se levantando.

“ Comigo”  Benjamin sendo acompanhado por cada um dos alunos presentes para alegria de Thiago.

— Quer dizer que vocês também estão dispostos a fazer o Instituto acontecer o mais rápido possível? – pergunta Thiago, surpreso.

            Os jovens ali presentes sorriem entre eles e então quase ao mesmo tempo encolhem o polegar e o mindinho posicionando os três dedos que restaram para baixo, bem como Malú , Ariadne e Maria Luísa.

—  Mãos à obra –Thiago, sorridente.

***

A estrutura do prédio estava em boas condições,apesar de não existir qualquer rastro de tinta,apenas as pichações.O telhado não existe mais, bem como o letreiro que antes tinha o enorme nome Assunção & Associados. A parte interna  também está um verdadeiro caos, começando pela escada que leva para o segundo , com muitos degraus faltando.  Todas as janelas foram quebradas , portas arrombadas, algumas no chão que de nada lembra o piso de madeira magnífico que Maria Luísa se recodava tão bem.  As paredes internas também estão pichadas e muito lixo.  O ambiente lhes dizia que seria impossível o prédio voltar a ser utilizável, mas isso não assustou  Thiago, Malú , Ariadne, Maria Luísa, Benjamin e muito menos o Grupo de Libras que arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar no local bem como a equipe de manutenção.

Dias, se tornaram semanas, que passaram para meses, mas todos estavam tão envolvidos com a reforma que não notaram o tempo passar. Aos poucos, o prédio começa a ganhar vida. Suas paredes descascadas , agora estão pintadas de branco e com grafites feitos por alguns alunos. O telhado inteiramente novo, a porta de madeira que dá acesso ao prédio foi restaurada. As paredes internas foram repintadas com desenhos e murais colocados por eles mesmos. A escada foi trocada por uma de ferro e ao fundo, após muita análise, conseguiram inserir um elevador para acesso aos cadeirantes. O chão recebeu piso tátil para alunos com deficiência visual que também terão a oportunidade de aprender no Instituto,tudo graças as parcerias que Thiago e Ariadne conseguiram nesse período, desde professores da pré escola até para capacitação profissional e pré–vestibular.

Os futuros alunos estão finalizando a arrumação das salas, inclusive Malú e Benjamin que estão colocando cartazes, preenchendo as prateleiras com os livros, organizando as carteiras novas compradas por Thiago em uma delas. O casal está empolgado ao ver finalmente aquele sonho se tornar realidade, pelo menos é o que esperam  já que Thiago e Ariadne foram saber se receberam o aval ou não para o funcionamento.

“Você acha que nós conseguimos a aprovação?” pergunta Benjamin terminando de ajeitar as cadeiras.

— Com certeza – responde Malú, animada. Ela sorri para o namorado e caminha pela sala ajeitando um dos cartazes — Sabe... Eu estava pensando aqui... Teve uma expressão que você não me ensinou em Libras...

“Como assim? Malú, eu lhe ensinei as que são essenciais para você” responde Benjamin, tentando lembrar a que faltou.

— Tudo bem – concorda Malú se aproximando do namorado — De qualquer forma eu já aprendi sozinha...

“Tá bom, me desculpe, mas não consigo me lembrar de nenhuma expressão que seja tão importante e eu tenha esquecido... Bom, então me diz qual foi a expressão...” pede Benjamin.

Malú segura a mão de Benjamin entre as suas, então devagar fecha o dedo anelar e o dedo médio dele, enquanto endireita o polegar , o indicador e o mindinho, surpreendendo o rapaz.

— Você não acha essa expressão importante... Para nós? – questiona Malú — Eu sinto que chegou o momento de dizer... Que eu te amo, Benjamin.

Benjamin sorri para a jovem e então levanta a mão com o gesto que Malú colocou.

— Eles chegaram – avisa Maria entrando na sala.

Os dois jovens se olham empolgados, o grande momento chegou.

***

Thiago desce do veículo, abrindo a porta para Ariadne que agradece, os dois são rodeados pelos jovens que estão curiosos para saber a resposta. Ambos caminham ao pequeno pátio do prédio, observando os rostos cheios de esperança.  Eles se entreolham e então se viram para os jovens com a expressão misteriosa. Ariadne se levanta com um papel nas mãos então anuncia:

“Nós conseguimos” ela abre o papel com o alvará de funcionamento do prédio.

Os alunos vão a loucura, celebrando a conquista tão aguardada por todos os presentes. Ariadne acena, chamando atenção para continuar falando:

“Bom, vai demorar mais algum tempo para que de fato nós possamos trabalhar igual a uma escola, mas estamos cada vez mais perto”

Todos compreendem que esse é o primeiro passo rumo a escola que todos desejam. Maria Luísa se aproxima do filho que a abraça:

— Tenho certeza de que em breve conseguirão superar mais essa – comenta Maria.

— Pois é. Eles disseram que ter um padrinho político com certeza ajudaria no processo –alega Ariadne.

— Bom, você pode tentar novamente – propõe a matriarca ao seu filho.

— Não, política não é pra mim, mamãe – recusa Thiago olhando para Malú — Agora eu só quero aproveitar os momentos que a vida me oferece.

— Mas precisamos de alguém que possa levar o nosso projeto a esfera política – explica Ariadne.

— Eu tenho alguém em mente – admite Thiago — Agora, só preciso convencê–la... Mas antes, preciso descobrir, onde ela está.

— Está falando da Aline, não é mesmo? – pergunta Maria,séria.

— Sim – responde Thiago, cabisbaixo.

— Talvez você a encontre amanhã – comenta Maria olhando para a neta — Já contou para ela?

— Ainda não – responde Thiago admirando sua filha— Quero fazer uma surpresa.

***

Malú desperta, se espreguiçando até sentar na cama. Ela olha para o criado mudo pegando o retrato dela com sua mãe. Um ano... Pensa a jovem de cabelos pretos, com melancolia, tocando na fotografia. Levanta–se e vai até o banheiro se arrumar, quando volta, encontra Adelaide ajeitando um belo vestido azul claro para a jovem usar.

— Bom dia, menina Malú – cumprimenta a governanta sorrindo — Seu pai a aguarda no saguão.

— Bom dia, Adelaide – retribui Malú tocando no vestido —A gente vai a algum lugar?

— Não estou sabendo de nada – responde Adelaide,evasiva — Precisa de ajuda?

— Não, pode deixar, eu irei me arrumar sozinha – responde Malú observando a governanta sair de seu quarto.

A jovem se arruma e então desce em direção ao saguão, onde encontra Thiago a esperando com lírios nas mãos. Ele entrega a sua filha, que o encara surpresa:

— Obrigada – agradece Malú segurando o pequeno buquê.

— De nada – responde Thiago — Porém elas não são para você.

— Não? –questiona Malú sem entender.

— Não , mas você irá me ajudar a entregá–las em um lugar muito especial – responde Thiago.

— Onde? – pergunta Malú, curiosa.

— Você verá – responde Thiago abrindo a porta — Confia em mim?

— Sim – responde Malú acompanhando seu pai.

***

O céu azul é o detalhe que completa aquele cenário nostálgico daquela tarde em Belo Horizonte. O sol está seguindo o seu caminho para se por, fazendo alguns estavam no cemitério fossem embora. Mas Maria Luísa Braga de Almeida não se importa com aquelas pessoas , nem com o fato do pai dela estar segurando em seu ombro ,agora uma pessoa presente em sua vida. Ela se aproxima da lápide de sua mãe, com Lírios em suas mãos, flores que sua mãe cultivava. Seus cabelos pretos tocam seus ombros e o rosto dela que se abaixa ao colocar as flores próximas a lápide, passando a mão pelos dizeres, até chegar onde na fotografia daquela a quem ama: Anna Braga, sua mãe.

Lágrimas escorrem pelo rosto da jovem que há um ano não conseguia pensar em como seria sua vida, após aquele fatídico dia.

— Oi mãezinha – começa Malú com um sorriso triste — Tudo bem? Pois é... Um ano sem você... Aconteceram tantas coisas que nem sei por onde começar, mas eu acho que a senhora já está a par de tudo aí de cima. Eu sei que da última vez em que estive aqui falei muitas coisas para a senhora,mas quero que saiba que eu só estava com raiva. Mãezinha, eu agradeço por tudo o que fez... Eu sei que disse que odiava o Thiago e me recusei a prometer que o amaria um dia. Mas a verdade é que a senhora estava certa, ele é um bom pai... Ainda está aprendendo, mas ainda assim é um bom pai. Ele gosta das mesmas músicas que a senhora, até voltou a escutá–las no carro ... E tem muitas histórias sobre vocês. O pai diz que a minha voz é igual a sua, então eu falo bastante, assim nunca me esquecerei de como era a sua voz. Ele até que é divertido,mas é péssimo em contar piadas.Por favor, se possível dê um jeito de falar com ele a respeito. Ah, ele também meio destrambelhado, mas ele é um cara muito legal e bondoso e merece alguém que o ame igual a senhora o fez.  Graças a ele , agora temos o projeto que ficou lindo. Ele e a tia Aline, né? Bom, e falando da tia... Ela falou com a mãe dela, mas não foi bem como ela esperou. Mas a tia lidou aceitou que só o tempo irá ajudar a mãe dela entender, enquanto isso não acontece, ela decidiu fazer um mochilão pela America do Sul. Falamo–nos todos os dias, mas sabe, eu sinto falta dela. Muita falta... Então, se a senhora puder também falar com ela, eu agradeço. Ah, tem a vovó também... Ela não é má. É bem legal levá–la aos lugares que a gente ia.Apesar de negar, ela ama Milk Shake, até andou tomando escondida esses dias. E tem o Benjamin, também. Eu falo tanto da senhora pra ele que as vezes parece até que vocês já se conhecem...A senhora iria adorar conhecê–lo, pessoalmente.  Bom, eu só quero que a senhora saiba que não precisa mais se preocupar tanto comigo, pois não estou sozinha contra o mundo. Que agora eu sei que a senhora deixou pessoas maravilhosas para cuidar de mim... E que não tenho medo de seguir em frente, pois sei que a está ao meu lado. Eu te amo, mamãe... E sinto sua falta.

Malu toca levemente na lápide enquanto chora. Thiago se ajoelha ao lado da filha sorrindo para a foto de Anna. O vento sopra, beijando o rosto deles que fecham os olhos, sentindo o toque e o calor do sol que já está pondo. Quando abrem seus olhos, notam uma silhueta surgindo em meio aos últimos raios de sol.

Malú se levanta colocando a mão levemente sobre os olhos tentando enxergar quem está chegando, então sorri correndo em sua direção. Thiago se levanta, com o coração acelerado observando a filha abraçar Aline, emocionada. As duas caminham de volta para a lápide sendo admiradas por Thiago que não esconde a felicidade em revê–la.

— Olá – cumprimenta Aline com um sorriso no rosto.

— Oi... – responde Thiago, admirado. —Como... Como você está?

— Estou bem – responde Aline sem jeito. Ela aponta para o terno de Thiago — Você e seus ternos...

— Você e as suas camisetas – retruca Thiago apontando para a camiseta rasgada de Aline.

— Como você está? – perguntam os dois que sorriem, sem graça.

— Primeiro as damas – cede Thiago a vez para Aline.

— Eu estou bem – responde Aline apontando para o Thiago — E você?

— Estou bem também... E como foi com a sua mãe? — pergunta Thiago,curioso.

— Não foi como planejei. Ela não acreditou no que eu disse – responde Aline respirando fundo — Ela só disse que o melhor que eu faço da minha vida é sumir da dela.

— Eu sinto muito – pede Thiago, sincero.

— Tudo bem, fui eu quem demorou demais para contar a verdade. – explica Aline — Mas de qualquer forma, eu viajei por aí e foi bom pra mim. E eu soube que o projeto está de vento em polpa.

— Pois é, não foi bem da forma como planejamos, mas estamos torcendo para dar certo – responde Thiago sorrindo.

— Estou torcendo por vocês – comenta Aline.

— Você tem planos? – pergunta Thiago, nervoso — Quero dizer, o que pretende fazer de agora em diante?

— Não sei... Até o momento estou com a agenda vazia – responde Aline estreitando os olhos —Por que a pergunta?

— Bom, nós precisamos de um representante político – começa Thiago — E eu acho que você é ideal para as próximas eleições.

— Eu? – questiona Aline, surpresa — Eu na política? Por que pensou isso?

— Você mesma, Aline. Foi graças a sua atuação em minha campanha que chegamos tão perto de vencer. As pessoas prestam atenção e confiam em você.

— Eu não sei – responde Aline — É muito responsabilidade.

— Por favor, Aline. Nós precisamos de você – pede Thiago.

 — Não sei se darei conta de uma eleição – alega Aline, receosa.

— Você não estará sozinha – garante Thiago— Estarei ao seu lado... Eu posso ser o seu chefe de campanha

— Tudo bem –aceita Aline mordendo os lábios — Mas com uma condição.

— Qualquer coisa– fala Thiago, animado.

— Se for mesmo o meu chefe de campanha, terá de abrir mão do terno –determina Aline.

— Tudo bem – aceita Thiago estendendo a mão à Aline – Bem vinda de volta, Aline.

— Obrigada – agradece Aline apertando a mão de Thiago.

— Vamos para casa? – pergunta Malú aos dois.

— Vamos – responde Thiago olhando para Aline.

— Vamos – responde Aline sorrindo para os dois.

            Os três caminham em direção à saída do cemitério conversando animados. Malú reduz o passo admirando os dois, então se vira olhando uma última vez para trás, encontrando sua mãe sorrindo pra ela.

— Até breve, mamãe – sussurra Malú voltando a caminhar em direção ao que o futuro lhe reserva, sem medo de ser feliz.


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