Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 42
Epílogo




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Quatro anos depois...

As mãos ágeis de Malú ajeitam seu cabelo em uma longa e majestosa trança negra. Analisa o vestido creme de alça larga, levemente transparente, que vai até seu joelho escolhido justamente para esse momento importante. Por fim coloca seu sapato da mesma cor. Ela sorri com o resultado que recebe do espelho, então escuta duas leves batidas na porta do seu quarto que está aberta, a fazendo virar e se deparar com uma grata surpresa: Benjamin com um belo buquê de lírios e uma caixa retangular de veludo azul.

Ele se aproxima e entrega os dois presentes para sua namorada que sorri emocionada com o presente. Ela coloca os presentes em sua cama e o abraça forte, selando um leve beijo.

“Você está linda, meu amor” elogia Benjamin admirando Malú.

“Obrigada, Ben” responde Malú sentando na cama.

Primeiro, ela segura e cheira os lírios, lembrando–se de sua mãe e quanto ela deve estar feliz pela filha. Então pega a caixa de veludo sendo observada por Benjamin.

Ela abre devagar encontrando uma corrente dourada com um generoso pingente relicário em formato oval.

“Uau, é lindo” elogia Malú admirando a bela jóia.

“Abra” pede Benjamin, nervoso” Espero que goste”

Ela o abre e o que vê a faz cair em lágrimas: Uma foto de sua mãe com os dizeres Sempre Juntas.

“Assim a terá perto de você em todos os momentos... e nunca a esquecerá” explica Benjamin.

Malú o abraça mais uma vez enquanto chora com o belo presente. Ela se afasta do namorado tentando sorrir e limpar as lágrimas ao mesmo tempo.

“Você é o namorado mais incrível, sabia? Obrigada pelo presente, ele significa muito pra mim... Ajude–me a colocar?” pergunta Malú se virando de costas direção ao namorado.

Ele passa a corrente pelo pescoço de Malú , fechando o feixe delicadamente. Dá um leve beijo na nuca de sua namorada e em seu ombro. Ela sorri virando para Benjamin que retribui.

“Eu não sei nem como retribuir esse presente” Malú segurando o pingente logo em seguida.

“Eu tenho uma ideia...” Benjamin com um sorriso pretensioso. “E você sabe”

“Você tem certeza?” pergunta Malú sorrindo.

“Absoluta” diz Benjamin roubando um beijo da namorada.

“Ben , você sabe que pode pedir outras coisas se quiser” explica Malú.

“Mas eu quero isso” reforça Benjamin “É a única coisa que eu quero”

“Mas é tão simples...” alega Malú.

“Mas é único e só meu. Por favor” insiste Benjamin. Malú respira fundo, ele a convenceu. Ben sorri e pede “Diga”

— Eu te amo – declara Malú observando Benjamin fechar os olhos ao escutar aquelas palavras saírem de seus lábios mais uma vez.

“Eu também te amo”Benjamin beijando sua namorada que corresponde.

 O beijo é leve, Malú acaricia o rosto do namorado que mantém os olhos fechados enquanto passa seus braços em volta da cintura dela a trazendo para mais perto de seu corpo. Eles se afastam devagar , olhando um para o outro... Usando a melhor linguagem do amor para dizer que será para sempre.

— Está na hora – avisa Adelaide na porta.

— Meu pai e a Tia Aline já chegaram? Minha avó? – pergunta Malú para Adelaide.

—Eles mandaram avisar que encontram vocês lá – responde a governanta.

“Vamos?” pergunta Benjamin observando o olhar apreensivo de Malú.

“Vamos” responde a namorada pegando um embrulho dourado de cima da penteadeira.

Malú sorri para Benjamin que segura em sua mão, os dois levantam da cama indo em direção ao grande dia da jovem de olhos azuis.

***

Aline está analisando alguns papéis em sua mesa na sede da campanha eleitoral desse ano , quando é despertada com batidas em sua porta proferidas por Thiago.

— Sabia que a encontraria aqui–Thiago coloca as suas mãos sobre a mesa de Aline — Já avisei lá em casa que iremos direto para lá .

—Obrigada – agradece Aline colocando os papéis na mesa — Estou revisando algumas ações para o próximo ano... Incluindo o projeto de inclusão de Libras nas escolas públicas para os alunos a partir da pré– escola.

— Ei... – chama Thiago indo em direção a Aline e segurando em seu ombro — Você conseguiu.

— Eu sei , mas não custa dar mais uma olhada – explica Aline pegando os papéis novamente — Eu posso ter deixado algo passar.

— Senadora Aline – chama Thiago, sério — Largue esses papéis agora, pois temos algo muito mais importante para fazer.

—Futura senadora, eu ainda não tomei posse – corrige Aline se levantando e aproximando de Thiago. — Mas obrigada por ter ficado ao meu lado.

— Amigo é para essas coisas.  Você não vai ficar emotiva agora , né? Isso não combina com você. – brinca Thiago caminhando em direção a porta — Agora vamos , pois não temos muito tempo e eu não quero receber sermão da Malú por falta de pontualidade. Nisso, ela puxou minha mãe.

— Odeio quando você está certo – concorda Aline caminhando ao lado dele que abre a porta para que ela possa passar— E a Malú Vó irá também?

— Ela disse que sim, inclusive saiu bem cedo – comenta Thiago fechando a porta.

***

Maria Luísa estaciona seu carro prata , fica por alguns instantes dentro do veículo criando coragem para o que está prestes a fazer.  Ela então abre a porta do seu carro e caminha em direção ao local que tem os seguintes dizeres na fachada:

Penitenciária Ahú

Ela se aproxima do portão de acesso, mas não entra, pois está ali apenas para fazer algo que deveria ter feito há muitos anos: apoiar. Olha para seu relógio de pulso verificando que talvez chegara atrasada, mas isso não importa, não naquele momento.Sente seu coração apertar e sua respiração parar todas as vezes que vê o portão se abrir. Talvez devesse ir embora, mas seu coração dizia que não. Seu lugar é ali.

Então o portão se abre mais uma vez, Maria prende a respiração, aos poucos quem ela tanto esperava,surge: Ícaro que ao vê–la ali paralisa próximo ao portão. De todas as pessoas que ele poderia pensar que viria buscá–lo em seu primeiro dia de libertação condicional, ela nem estava na lista.  Ela se aproxima devagar , contando os passos , enquanto tenta descobrir o que se passa na mente dele , o que dizer aquele homem magro, com rosto derrotado , parado em sua frente.  Os dois ficam parados por alguns instantes apenas analisando um ao outro.

— Bem vindo de volta, Ícaro–falaMaria Luísa quebrando o silêncio.

— Obrigado, Maria – agradece Ícaro tentando analisar o que aquela mulher estava fazendo ali.

Então ela segura na mão de Ícaro com uma, enquanto a outra desliza levemente fazendo um carinho. Nos olhos de Maria surgem lágrimas ,pouco vistas por Ícaro durante todos esses anos.

— Estou feliz que esteja de volta – comenta Maria ainda segurando a mão de Ícaro — Eu sei que passou por muita coisa...

—Eu não estava de férias, mas sim pagando pelos meus atos. – interrompe Ícaro,ríspido tirando a mão.

— Eu sinto muito. – pede Maria chorando enquanto encara Ícaro — Sei que nada do que eu disser irá reverter as coisas que fiz a você, Ícaro.  Eu fui má , quando deveria ter sido boa com você. Você merecia uma mãe e recebeu uma carrasca. Você merecia uma família e recebeu solidão. E mesmo assim, passando por tudo o que passou, cuidou da família de seu irmão quando ele não pode... Salvou seu irmão da morte.  Eu não soube reconhecer isso na época, mas hoje... Hoje eu sei o sacrifício que fez por todos nós. Por sua família. Não podemos voltar atrás e mudar o passado, mesmo que desejando isso todos os dias. Mas saiba Ícaro que desejo lutar para que se sinta em casa. E que essa chance que recebeu de voltar para nós, eu também possa aproveitar junto com você. Ícaro , saiba que mesmo eu recusando, lutando contra, você ... E eu odiava amar você, pois eu não merecia ter o seu amor quando lhe fazia tanto mal. Mas no fundo , você sempre foi meu filho, e sei que demorei demais para assumir isso. Posso não mudar o passado, mas estou aqui disposta a mudar o nosso futuro.

— Bom... Prazer, meu nome é Ícaro, filho do seu marido – apresenta Ícaro estendendo a mão para Maria Luísa.

—Prazer, Ícaro – responde Maria apertando a mão de seu enteado — Sou Maria Luísa, sua futura mãe.

—Isso é o que veremos , Dona Maria – comenta Ícaro olhando em direção aos carro que se aproximam com um leve sorriso nos lábios.

— Eles chegaram – informa Maria junto com Ícaro em direção ao restante dos membros da família Almeida que acabara de chegar. Seu filho prende a respiração ao chegar perto deles. A matriarca segura na mão de Ícaro, o surpreendendo— Estou aqui para o que for.

—Obrigado – agradece Ícaro observando

— Olá, irmão – cumprimenta Thiago abraçando seu irmão. Ele dá leves tapas nas costas de Ícaro — Bem vindo de volta.

— Obrigado irmão – agradece Ícaro enquanto observa Aline se aproximar parando ao lado de Thiago — Oi, Aline.

— Oi, Ícaro – responde Aline, receosa —Bem vindo.

— Obrigado – agradece Ícaro estendendo a mão para Aline —Estamos bem?

— Estamos bem – responde Aline apertando a mão de Ícaro.

Malú caminha devagar ao lado de seu namorado, segurando a mão de Benjamin bem forte. Depois de tudo o que aconteceu, evitou ao máximo falar com seu tio, o deixando na dúvida se ela realmente um dia seria capaz de perdoá–lo. A jovem se aproxima de Ícaro e então entrega o embrulho dourado a ele que o rasga em instantes, deixando a capa desgastada de O pequeno Príncipe aparecer, abrindo o livro:

—Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas... – lê Ícaro a dedicatória escrita por Malú. Para alguns instantes, segurando as lágrimas e então continua —me cativastes e agora és responsável por mim... Pois o tempo e o carinho que dedicas a mim é o que mostra o quanto sou importante para você.

— Bem vindo de volta, tio – fala Malú com um leve sorriso . Ela se vira para o namorado —Benjamin, esse é o meu tio... E segundo pai, Ícaro de Almeida. Pai, esse é o meu namorado Benjamin.

— Prazer em conhecê–lo, meu rapaz – responde Ícaro estendendo a mão em direção a Benjamin que aperta. Ele se vira a todos os presentes — Obrigado a todos pelo carinho com a minha volta. Quero que saibam que farei de tudo para me redimir pelos meus atos e fazer valer a pena essa segunda chance.

Todos sorriem abraçando Ícaro e então caminham de volta aos carros, deixando com que Maria leve Ícaro no seu. Ele senta no banco do carona, fechando os olhos:

— Tudo o que eu desejo é um bom banho – comenta Ícaro

— Isso não será possível – recusa Maria Luísa entrando em seu carro e o ligando,enquanto Ícaro a encara surpreso — Antes temos de ir a um evento que só aconteceu graças a você.

***

Malú finalmente chega ao Teatro Fernanda Montenegro acompanhada de Benjamin. Os dois caminham para a coxia do teatro, onde se encontram com o resto do grupo que fará parte da apresentação. Depois de meses de ensaio, finalmente o dia deles chegou.

“Estou tão nervosa” diz Beatriz que usa o mesmo vestido que Malú. “E se eu errar a letra”

“Eu to preocupado com os passos” alega Pedro recebendo incentivo por parte dos amigos.

“Relaxa, pessoal. Não importa o resultado, o importante é que viemos representar a importância da nossa causa: a inclusão de libras para toda a população” Benjamin tranqüilizando a todos.

“Já vai começar” avisa a organizadora em libras“Posicionem–se em seus lugares.”

Benjamin abraça Malú, sente o corpo de sua namorada tremer de nervoso, então se afasta devagar , toca em seu rosto e lhe dá um beijo na testa ,a fazendo fechar os olhos.

“Boa sorte” deseja Benjamin se afastando devagar.

Um a um o pessoal vai se afastando e indo em direção ao palco, deixando Malú completamente sozinha na penumbra dos bastidores atrás da cortina. Ela fecha os olhos segurando no pingente, rezando que onde fosse que sua mãe estiver agora, torça por ela.  Sua mão então é segurada por outra, fazendo com que abra seus olhos e vire sua cabeça para o lado encontrando sua mãe com um belo sorriso no rosto.

—Eu estou aqui com você.–Anna — Até o final.

— Recebam, Maria Luísa Braga de Almeida – anuncia o cerimonialista sendo seguido pelas palmas da platéia. — Interpretando no piano a música “Nuvole Bianche” de Ludovico Einaudi. No vocal, Ariadne Lacerda e o grupo “As mãos que cantam” que também fazem parte do projeto social Anna Braga cantam a música traduzida. Uma salva de palmas à todos – finaliza.

—Thiago – chama Ícaro se aproximando do irmão.

—Sim – responde Thiago parando no meio do caminho. — O que foi?

— Eu sei que você gosta da Aline – revela Ícaro, surpreendendo do irmão.

—Eu sinto muito , Ícaro – pede Thiago,confirmando— Mas quero que saiba que não serei um problema para vocês...

— Thiago – interrompe Ícaro — Aline não me ama mais.

— Isso não é verdade – nega Thiago , observando Aline sentada em uma das fileiras. Ela se vira sorrindo em sua direção.

— Eu vi isso nos olhos dela, hoje – confirma Ícaro — E eu entendo perfeitamente.  Por isso, quero que saiba que se ainda sente algo por ela, tem o meu apoio para tentar. Você é um homem digno e sei que vocês se merecem.

— Obrigado, irmão – agradece Thiago abraçando Ícaro — Muito obrigado.

— Agora vá, seja feliz – responde Ícaro.

Thiago desce o corredor, empolgado em direção ao lugar próximo a Aline, enquanto Ícaro os observa.

— Oi, já me anunciaram ?

— Olá – responde Ícaro se virando em direção a mulher de cabelos cacheados, um pouco surpreso com sua beleza — Ahn... E qual é o seu nome?

—Desculpe–me – pede a mulher , sem graça estendendo sua mão em direção a Ícaro — Eu me chamo Ariadne Lacerda.

— Prazer – responde Ícaro, admirado apertando a mão de Ariadne — Meu nome é Ícaro... Ícaro de Almeida.

— Oh, você é o tio da Maria Luísa, certo? – reconhece Ariadne — Eu sou a psicóloga dela e também irei cantar hoje.

— Muito prazer então – reforça Ícaro encarnado a psicóloga intensamente. Ele pigarreia e então se vira — Ahn... Acho que já te anunciaram, sim... Ariadne.

— Oh, meu Deus. – exclama Ariadne caminhando apressando em direção aos bastidores. Ela se vira por alguns instantes — Obrigada, espero poder ter a oportunidade de conversar com você ao final do espetáculo. A Malú falou tanto a seu respeito nos últimos anos.

— Fico esperando – afirma Ícaro recebendo um sorriso em troca.

***

As cortinas do teatro se abrem e Maria Luísa é tomada pela forte luz do holofote. Ela sorri e caminha em direção ao seu mais estimado companheiro: Essenfelder , o piano de sua família ,enquanto o grupo se divide pelo palco atraindo a atenção e o silêncio da platéia.

Malú ajeita a partitura da música em seu devido lugar, respira fundo e então posiciona suas mãos delicadamente sobre as tecladas iniciando a melodia que se esvai pelo ar, preenchendo todos os espaços do lugar.

Os olhos de Malú estão fechados enquanto seus dedos ágeis percorrem por todo piano, toca por instinto. Sua mente voa para um lugar distante dali... Em um tempo onde se viu frágil , uma jovem que havia perdido tudo e não tinha mais voz para expressar seus sentimentos... Aquela jovem estava no fundo do poço e acreditava que ninguém poderia ajudá–la... Estava só... E nada mais importava... Tinha perdido... E nada poderia tirar aquela dor...

As mãos de Malú se mantém firmes sobre o piano fazendo a platéia suspirar. Nesse momento ela se lembra das batalhas que enfrentou contra si mesmo para se reerguer e das pessoas que conheceu... Adelaide... Sua avó... Graziela... Vera... Ariadne... Ricardo... Thiago... Benjamin... O grupo de libras mais animado que já conheceu na vida.

Resistiu, não queria aquelas novas pessoas , nem sua nova... Queria o seu mundo, aquele em que vivia despreocupada com sua mãe e que lhe foi tirado. Aquele mundo em podia cantar e falar sobre coisas banais... Mas aquele lugar não existia mais e ela não queria desapegar. Não queria se mexer para não ter outra mudança em sua vida.

A postura perfeita de Malú e a música , impressionam sua avó que acabara de chegar perto de Ícaro. Eles sentam nas últimas cadeiras do teatro. O tio de Malú observa aquela jovem tocando divinamente, bem diferente da adolescente que ele tinha deixado para trás.  Ele sente cada sentimento que sai do piano e a entrega de sua sobrinha.

— Graças a você – sussurra Maria apontando para o palco.

—Não , isso é coisa sua – alega Ícaro — Eu sempre achei que ela tinha sido amaldiçoada por ter o seu gênio. Mas hoje eu vejo que foi uma benção e ela se tornou uma mulher forte. Nunca pensei que ela fosse capaz de me perdoar.

— Bom , se tem uma coisa que essa jovem herdou de sua mãe é a compaixão.

Thiago está sentado junto com Aline observando sua filha se entregar totalmente a apresentação. Ele passa a mão várias vezes pelo rosto tentando esconder as lágrimas de orgulho.

— Você conseguiu – celebra Aline sorrindo.

—Nós conseguimos. Eu devo isso tudo a você – agradece Thiago, emocionado.

— Você pode pagar tudo isso me chamando para tomar um café. – propõe Aline sorrindo.

— Isso quer dizer que você finalmente irá aceitar sair em um encontro comigo?– pergunta Thiago, surpreso.

—Sim – confirma Aline segurando na mão de Thiago que retribui.

Malú sorri lembrando quando conheceu esse piano e com ele aprendeu uma nova forma de se expressar: com a música. A cada tecla , um sentimento surgia, um misto de sensações e como voltou a se sentir viva.

O piano se tornou seu amigo de todas as horas, dando muito mais do que esperava receber. Então ela abre os olhos procurando Benjamin no meio do grupo , o encontra no meio do grupo , se expressando de corpo e alma. Foi com eles que descobriu que é possível expressar o que deseja sem palavras, sem voz e ser feliz assim porque nada te limita a não ser você mesmo. Descobriu uma nova forma de se expressar através de Libras e como aquela língua era tão especial. Ganhou novos amigos, uma nova família, um pai e um amor no meio de tudo isso...

O corpo fala todo tempo , é só uma questão de tempo até que aprenda a fazê–lo falar.  As mãos de Benjamins flutuam pelo ar , assim como as dela pelo piano ... Suas expressões faciais... Eles embalam uma dança só deles... No mesmo ritmo, sintonia... Assim como na vida.

Malú toca as teclas finais e então deixa o silêncio retomar seu posto. Ela respira ofegante, deu tudo de si. Ela fecha o piano e então vira a cabeça encontrando sua mãe com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, mas ainda assim com seu belo sorriso. Malú sente em seu íntimo que é a última vez que verá sua mãe, mas isso não a abala , pois agora entende que mesmo que nunca mais veja sua mãe , ela sempre estará presente em seu coração e em todas as suas lembranças.

Maria Luísa Braga de Almeida se levanta e caminha para o centro do palco, acompanhada por Ariadne e o Grupo Mãos que Cantam. Ela observa a platéia se levantar, erguer as mãos e balançá–las, as melhores palmas que já recebeu em sua vida.

Fim

 Penitenciária Feminina do Paraná

 Graziela caminha pelo corredor da penitenciaria enquanto escuta gritos , assobios e os mais diversos tipos de palavrões e assédios a sua pessoa , um dia normal dentro desses quatro anos em que está presa.  A agente penitenciária abre a porta que dá acesso a ala das visitas e empurra Grazi para que entre naquela parte da cadeia. Ali se reúnem as famílias das presidiárias.

Grazi fica parada procurando Vera que não demora muito a aparecer, se destacando com seu belo conjunto de terno e saia brancos e seu batom vermelho bem vivo. Ela acena para a irmã prisioneira que caminha bem devagar como se não quisesse nunca chegar e senta.

— Nossa, como você está acabada – exclama Vera observando a irmã. Ela toca no cabelo da irmã e então limpa a mão,enojada — Aqui não tem xampu , não?

— O que você quer?–pergunta Grazi cortando a irmã — Eu disse que era para você vir aqui só quando tivesse alguma solução para me tirar daqui... Ou que tivesse terminado o que eu comecei.

—Eu sei, mas vim mesmo não cumprindo nenhuma dessas coisas – diz Vera encarando a irmã — Grazi, você precisa esquecê–los, foi graças essa sua loucura que você pôs tudo a perder. Esqueça– os, pois eles já esqueceram você. – alega Vera que mexe no bolso interno do terno e retira um recorte de jornal com a data de ontem — Leia.

Grazi pega o recorte e vê a principal notícia estampada em letras garrafais:

Inauguração da escola “Anna Braga”

O EVENTO É MARCADO COM A APRESENTAÇÃO DA FILHA DA HOMENAGEADA, MARIA LUÍSA BRAGA DE ALMEIDA , FAZENDO UM CONCERTO ESPECIAL.

— Esqueça–os – pede Vera mais uma vez — Acabou , Grazi, agora você precisa se reerguer e sair daqui.

—Não acabou – nega Grazi sorrindo, nervosa . Ela aponta para o jornal — Isso ainda não acabou. Eles não podem... Não podem seguir em frente. Não, sem mim. O Thiago precisa de mim , essa família precisa de mim! E se eles não estão comigo, estão contra mim. E pode ter certeza que eu farei de tudo para destruí–los.

—Você tentou, lembra? Você quase me colocou em uma enrascada quando me pediu que lhe informasse a agenda do Thiago para aquele dia, esqueceu? – questiona Vera — E foi assim que veio parar aqui. Olha, eu não quero ficar repetindo a mesma coisa sempre...

—Então o que veio fazer aqui? Hein, veio me ver na pior? Veio alimentar seu ego de filha perfeita? – provoca Grazi.

—Eu estou indo embora – avisa Vera encarando a irmã.

— Mas já? A gente ainda nem começou a nos alfinetar sobre o passado – alega Grazi, sarcasticamente.

—Eu estou me mudando para Brasília – revela Vera — Estou indo para lá hoje.

— Você... Você não pode ir. – nega Grazi, nervosa mordendo suas unhas da mão , ou o pouco que resta— Você não pode me deixar.

—Eu sei que é duro, mas – começa Vera se levantando — Você sabe que eu só fico do lado de quem vence. E nesse caso , não é você. Sinto muito , mas eu preciso seguir minha vida e alcançar meus objetivos. E para isso , terei que me afastar de você. Cuide–se Grazi, adeus.

Vera caminha em direção à saída daquele lugar pela última vez, sendo observada por Graziela que ainda tenta processar tudo o que aconteceu. Ela se levanta de seu lugar e caminha de volta para sua cela com o recorte de jornal nas mãos.

— Ainda não acabou – sussurra observando a notícia — Isso está só começando...


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