— Bom dia senhora Almeida – cumprimenta Ricardo, surpreso diante da presença de Maria Luísa — Tudo bem?

— Sim. Então, o que está fazendo aqui? – pergunta Maria Luísa,séria se afastando da porta.

—Eu vim para a última sessão de fonoterapia da Malú – responde o doutor entrando.

— Última sessão de fonoterapia? Hoje? – questiona Maria cruzando os braços — Tem certeza?

— Sim. Ela se encontra? – pergunta Ricardo olhando para a escada.

— Não. – mente Maria, desconfiada — Ela foi para o clube com o pai, ver o discurso do Thiago.

— Tem certeza? – pergunta Ricardo com as mãos na cintura, inconformado.

— Absoluta – responde Maria, convicta —Por quê?

— Estou achando engraçado... Porque eu acabei de passar pelo carro do Thiago e não acho que tinha alguém com ele – responde Ricardo apontando para a porta.

— Talvez você não tenha enxergado direito – comenta Maria com pouco caso.

— Ou a senhora talvez não tenha notado que a sua neta não foi com o seu filho – alega Ricardo se aproximando da matriarca.

— Estamos em um impasse, doutor – conclui Maria com um leve sorriso.

— Por que a senhora não pede para um dos empregados verificar se a sua neta não está no quarto? – pergunta Ricardo estreitando os olhos — Assim a gente acaba com esse impasse.

— Os empregados estão de folga – responde Maria respirando fundo ao notar os barulhos de passos vindos do segundo andar.

— Todos? – questiona Ricardo arqueando a sobrancelha.

— Todos eles – reforça Maria, irritada — Todos foram ao discurso... Assim como eu também irei.

— Então, deixarei que a senhora se arrume – fala Ricardo — E eu irei verificar se a Malú se encontra – finaliza indo em direção a escada.

— Pode deixar que eu mesma tiro essa sua dúvida – retruca Maria parando na frente de Ricardo — Espere aqui, eu já volto.

— Tudo bem –concorda Ricardo.

Maria Luísa sobe as escadas devagar até chegar ao corredor, onde encontra Adelaide saindo do quarto de sua neta. A governanta ameaça dizer algumas palavras mas é interrompida pelo gesto da patroa colocando o dedo indicador sobre os lábios. Maria também aponta em direção à porta do quarto de Malú, onde as duas entram, assustando a jovem de cabelos pretos.

— Adelaide – sussurra Maria olhando para a porta. — Entre com a Malú dentro da biblioteca secreta e só saia de lá quando eu voltar.

— O que está acontecendo? – pergunta Adelaide, assustada — Quem chegou?

— Não tenho tempo para explicar... Mas o doutor Ricardo está lá embaixo dizendo que a Malú tem uma sessão de fonoterapia hoje... – responde Maria encarando a neta que sacode a cabeça negando sem entender a mentira do fono — Como eu suspeitava – ela aponta para a porta secreta —Entrem lá e esperem eu voltar. Por favor, em hipótese alguma saiam daqui.

— Dona Maria... – começa Adelaide, nervosa sendo conduzida pela patroa.

— Faça o que eu disse – interrompe Maria abrindo a porta para as duas entrarem. Malú ainda para alguns instantes, preocupada com a atitude de sua avó — Não se preocupe, minha neta. Voltarei em breve.

Maria fecha a porta em seguida, observando se era possível notar a diferença da porta e então sai do quarto, arrumando sua roupa e respirando fundo. Precisa continuar com o teatro e se livrar do doutor o quanto antes.

Está próxima as escadas , quando escuta uma discussão sussurrada entre o fonoaudiólogo e uma voz feminina que não lhe era estranha. Ela desce as escadas e fica surpresa ao encontrar Graziela no hall de entrada.

— Graziela? O que está fazendo aqui? – pergunta Maria descendo os últimos degraus encarando os dois que estão visivelmente agitados.

— Olá, Maria – responde Graziela, agitada — Eu vim... Eu estava... Hã...

—A Graziela veio buscar algumas roupas que esqueceu – fala Ricardo apontando para Graziela que concorda.

— E vocês estavam discutindo...? – questiona Maria, desconfiada da atitude de ambos.

— Nós não estávamos discutindo – nega Graziela, nervosa.

— Não foi o que me pareceu – comenta Maria encarando o doutor — Enfim, minha neta não está.

— A Malú não está? – pergunta Graziela, surpresa — Tem certeza?

— Sim – reforça Maria, irritada.

— Bom, eu vou subir e pegar as minhas coisas... – fala Grazi indo em direção a escada.

— Não precisa, Grazi. – intervém Maria colocando o braço na frente da ex– nora — Eu pedirei a Adelaide que embale todos os seus pertences e encaminhe para sua casa.

— Oh, não precisa ter esse trabalho todo. Eu já sou de casa – alega Grazi andando novamente, sendo contida pelo braço por Maria.

— Você ... Era de casa – retruca Maria apertando o braço de Grazi — Agora, você é apenas uma conhecida. Aliás, como foi que você passou pelo meu portão?

— Eu tenho a permissão – responde Graziela.

— O Thiago retirou a sua permissão, um dia após o término. Então volto a perguntar e espero uma resposta sincera: Como você conseguiu passar pelo meu portão?

— Ela veio comigo – responde Ricardo fazendo Maria se virar e ser surpreendida pela pistola em punho do fonoaudiólogo. — E quer saber por que nós dois estamos aqui? De verdade?

— Ricardo – repreende Graziela balançando a cabeça, nervosa.

— O que foi, amorzinho? – pergunta Ricardo, sádico — Essa velha não cairá em nossas desculpas... Na verdade, ela já sacou que há algo de errado na hora em que coloquei os pés aqui, não é verdade?

— Vocês têm cinco minutos para sair da minha casa, antes que eu chame a polícia – responde Maria encarando Ricardo.

— Ninguém vai chamar a polícia aqui –rebate Ricardo apontando a arma para Maria — O que vai acontecerébem simples: Nós vamos sequestrar a Malú.

— O quê? – pergunta Maria, surpresa — Mas eu já disse que ela não está.

— É o que veremos. Graziela, suba e verifique se a garota não está em casa... Enquanto isso eu e a Dona Maria iremos conversar lá na sala de música – fala Ricardo apontando a arma em direção a Maria.

***

Adelaide encosta a orelha próxima à porta tentando ouvir qualquer coisa que possa estar acontecendo do lado de fora. A governanta se afasta da porta e volta para a biblioteca, onde Malú está sentada e assustada.

— Eu sairei – avisa Adelaide fazendo Malú balançar a cabeça recusando a ideia. Ela se aproxima da jovem, segurando em seus braços, tentando acalmá–la — A gente precisa de um telefone para ligarmos... Para o seu Thiago, para os seguranças, para a polícia. Alguém precisa saber do que está acontecendo... Eu sairei, mas já volto.

Malú segue a governanta até a porta, por onde ela passa deixando a jovem do outro lado. Adelaide sorri antes de fechar a porta, tentando confortar a jovem. Ela começa a procurar o celular da filha de Thiago , quando escuta a porta do quarto se abrir, sendo surpreendida por Graziela que a encara, curiosa.

— Dona Graziela? – pergunta Adelaide se levantando do chão – O que está fazendo aqui?

— Olá, Adelaide – cumprimenta Grazi com seu melhor sorriso — Eu vim buscar umas roupas e acabei passando aqui para dar um oi para Malú.

Adelaide se esforça para não encarar a porta secreta, onde está Malú e sorri para a loira que a observa atentamente.

— A menina Malú não está – informa Adelaide segurando a colcha de Malú.

— Tem certeza? – questiona Graziela se aproximando.

— Absoluta – responde Adelaide se afastando e indo para o outro lado da cama, a alça da bolsa da Malú, dá um fio de esperança de que talvez o celular dela esteja lá dentro — A senhora conseguiu pegar suas roupas?

— Sim... Eu as encontrei, mas preciso da sua ajuda para embalar e levar para o carro – fala Graziela tocando no pescoço enquanto caminha pelo quarto em busca de qualquer vestígio de Malú — Será que você pode me ajudar?

— Sim, senhora. Eu irei ajudá–la assim que terminar o quarto da menina Malú. Se não a Dona Maria ficará bem irritada – responde Adelaide escondendo a alça com os pés.

— Eu estou com um pouco de pressa... Acho que a Maria não irá se importar de lhe roubar por alguns instantes – insiste Graziela olhando Adelaide da cabeça aos pés.

— Tudo bem – concorda Adelaide, nervosa jogando o travesseiro no chão e indo rapidamente em direção a Graziela — Só que precisamos ser rápidas.

— Com certeza, será bem rápido – comenta Graziela dando uma última olhada no quarto.

As duas caminham pelo corredor em direção ao quarto do Thiago em silêncio. Adelaide evita ao máximo olhar para Graziela que está mais preocupada em observar os cômodos a procura de qualquer sinal de movimentação.

— Então, como a senhora está? – pergunta a governanta puxando assunto.

— Estou bem – responde Grazi secamente parando na frente do quarto de Thiago.

— A senhora sabe se o doutor Ricardo já foi? –pergunta Adelaide abrindo a porta.

— Como você sabe que o Ricardo está aqui? – questiona Grazi, séria.

— A Dona Maria me disse – responde Adelaide entrando no quarto. Ela nota que o quarto está do jeito que arrumou, o que é estranho. Ela então se vira para Grazi — Então, onde estão as roupas?

— Estão aqui – responde Grazi atirando de sua pistola com silenciador em direção a Adelaide.

***

A porta da sala de música é aberta com violência por Ricardo que empurra Maria com a arma em direção ao sofá, onde a matriarca é forçada a se sentar, sendo observada pelo fonoaudiólogo que senta à sua frente:

— Fique aí – ordena Ricardo apontando a arma.

— Sabe, eu não consigo entender... Como um médico se propõe a esse tipo de situação – comenta Maria, indignada.

— Médico? Eu? – questiona Ricardo apontando para si sorrindo. — Ah, mulher, mulher, pelo visto você não sacou nada não é?

— Você não é médico. – conclui Maria, frustrada.

— Não, eu sou ator... E pelo visto, sou um ótimo ator – fala Ricardo chacoalhando a arma —Aliás,foi durante uma peça de teatro que conheci a Graziela. Ela se encantou pelos meus dotes e eu pelo dote que achei que uma Financhielli teria, mas a Grazi é tão falida quanto eu. Então, ela me propôs que a sequestrasse, assim eu ganharia o dinheiro e ela se casaria logo com o seu filho, ainda mais depois de um momento tão traumático para ela. Então passei a enviar as ameaças para o Thiago. Estava indo tudo muito bem, até que...

— A Malú apareceu em nossas vidas – completa Grazi entrando na sala de música. Ela se aproxima do ator e lhe dá um beijo apaixonado — Com a chegada da bastarda, ficamos sem ação, pois o Thiago parou de ser devoto a mim e passou a dedicar todo o tempo e atenção a deficiente.

— Meu filho nunca foi devoto a você , Graziela. Não se esqueça de que ele apenas fez o pedido por conta do filho que disse estar esperando... E pelo o que vejo agora, foi mais uma de suas mentiras.

— Enfim, de primeiro momento pensamos em matar a Malú... O Ricardo até mesmo tentou, porém aquele maldito garoto atrapalhou os nossos planos. – continua Graziela, brava.

— Como não deu certo, pensaram em sequestrá–la – comenta Maria,séria.

— Não, a gente ia tentar novamente, depois pensamos em influenciar a Aline, mas ela não caiu no meu charme – corrige Ricardo — Essa ideia nem tinha passado pelas nossas cabeças... Mas aí três cabeças pensam melhores do que uma. Então surgiu a ideia de sequestrarmos a Malú e todos nós sairíamos ganhando. Eu iria ganhar o triplo pelo sequestro dela, a Graziela ia ser a salvadora da Malú e seu filho com certeza casaria com ela...

— E o que a outra pessoa ganharia? – questiona Maria Luísa — Se é que há uma terceira pessoa...

— Existe sim e você com certeza surpreenderia se soubesse quem é. Mas o que essa pessoa gostaria é que Malú voltasse para Belo Horizonte, apenas isso – responde Ricardo.

— E por que eu não irei descobrir? – pergunta Maria — Vocês já me contaram tudo, por que não irão me contar quem é a pessoa?

— Bom, a pessoa é... – começa Ricardo.

Maria observa atentamente Ricardo até sentir algo queimar um pouco abaixo do seu peito... ela olha para baixo e vê uma enorme mancha de sangue se formando em sua blusa branca. O falso fonoaudiólogo a encara surpreso, então se vira para Graziela que está com a arma nas mãos,  sorridente.

— O que você fez? – pergunta Ricardo que se levanta do sofá, desesperado.

— Eu fiz o que desejava há muito tempo – responde Grazi sendo observado pelo olhar furioso de Ricardo — Qual é Ricardo? Ela já sabia o nosso plano todo... claro que não poderíamos deixá–la viva.

— Nós poderíamos sequestrá–la também,sua idiota! – grita Ricardo, nervoso enquanto observa Maria deitar no sofá segurando o ferimento.

— E depois? Você acha mesmo que depois ela não iria delatar a gente para o Thiago? – questiona Graziela apontando para Maria.

— Até ela contar, nós já estaríamos longe, meu amor – explica  Ricardo tocando no rosto de Graziela — Só nós dois e a bolada de dinheiro.

— Eu não nasci para ser uma fugitiva – retruca Graziela se afastando de Ricardo e indo em direção a Maria. Ela toca nos cabelos da matriarca que encara a ex– nora — Eu gostaria de dizer que sinto muito por ter atirado em você, mas não sinto. Você sempre foi contra ao meu relacionamento com o Thiago. Mas saiba que farei uma linda homenagem a você quando me casar com ele e me tornar dona dessa casa.

— Você está louca? – questiona Ricardo — Isso nunca mais irá acontecer! Temos de fugir.

— Fugir? – questiona Grazi que se afasta do sofá encarando Ricardo. — O plano não mudou...

— Nós já temos um assassinato nas mãos , Graziela. –repreende Ricardo.

— Dois.Encontrei a Adelaide lá em cima – corrige Grazi observando o ator ficar pálido. Ela aponta a arma em direção ao Ricardo — E o número  aumentará, caso você discorde da minha proposta...

***

O silêncio preocupa Malú que ainda está atrás da porta secreta esperando qualquer sinal de Adelaide. A jovem tenta cumprir as ordens de sua avó, mas seu nervosismo é mais forte e então decide sair do esconderijo, fechando a porta com todo cuidado. Ela caminha pelo quarto devagar até a cama, onde está sua bolsa e pega seu celular. Então vai até sua porta, olhando para os dois lados do corredor antes de sair e caminhar em direção ao quarto de seu pai. Ao chegar à porta encontra Adelaide caída no chão.

Ela põe as mãos na boca e se joga ao lado da governanta, sacudindo seu corpo sem sucesso. Vai até o seu pescoço e não consegue sentir sua pulsação o que a deixa mais nervosa e então vai até o pulso, tentado sentir qualquer coisa... prende a respiração e deita no peito de Adelaide, tentando sentir seus batimentos... Por favor, por favor... pede Malú sem voz, chorando... então sente um fraco batimento.

Malú pega seu celular para enviar uma mensagem e então lembra de sua avó, entrando em desespero. Ela sai do quarto correndo em direção as escadas, quando escuta as vozes de Ricardo e Graziela no hall de entrada, então ela se abaixa , rapidamente:

— Qual a proposta? – pergunta Ricardo, sério.

— Nós iremos sequestrar a Malú, como planejado... – responde Graziela se virando para o amante — Mas como ela estará em um local público, nós temos de fazer algumas alterações.

— Que tipo de alteração? – pergunta Ricardo parado no meio do hall.

— Eu irei atirar no Thiago – responde Grazi surpreendendo Ricardo e Malú  — Claro, não para matar, apenas para dispersar a multidão. Então capturamos a Malú...

— E você acha que ele irá concordar com essa alteração nos planos? – questiona Ricardo, sério.

— Essa parte ficará apenas entre nós dois... Bem como o que aconteceu aqui dentro – responde Grazi olhando em direção a sala de música.

— Eu irei subir, pegar o corpo da governanta e levá–lo para a sala de música –  avisa Ricardo subindo as escadas.

— Ricardo – chama Graziela — Não temos tempo para isso – a loira aponta para o grande relógio — Sua sessão já acabou e com certeza os seguranças desconfiarão se ficarmos um minuto a mais nessa casa.Saia e me pegue na porta dos fundos.

— Você tem certeza que a mulher está morta? – pergunta Ricardo apontando para cima.

— Sim – responde Graziela, convicta. Ela revira os olhos — Mas pode deixar , eu verifico.

— E tem certeza que prefere deixar a Maria agonizando? – questiona o ator.

— É o mínimo que eu posso fazer por ela – responde Grazi, indiferente — Agora vá, antes que desconfiem e me espere lá atrás.

— Tudo bem – concorda Ricardo saindo da mansão.

Graziela olha para o topo da escada, pensando se deve ou não confirmar a morte de Adelaide. Malú a observa , rezando para que a loira não suba. Então a Financhielli sorri e caminha em direção a copa , deixando a jovem respirar aliviada.

Malú fica mais um tempo agachada, tentando escutar o barulho da porta dos fundos se fechar, o que acontece alguns minutos depois. Ela desce as escadas devagar e caminha em direção a sala de música tentando não imaginar o pior, mas assim que abre a porta, percebe que suas preces não foram atendidas. A jovem Almeida se ajoelha perto do sofá, onde está sua avó que a encara, com esforço:

— Malú... esconda–se... – pede Maria.

Malú  coloca as mãos de sua avó sobre o ferimento, tentando estancá–lo com todas as forças, em meio as suas lágrimas. Ela não pode deixar sua avó assim, precisa dar um jeito nisso. Pega seu celular e disca para a emergência, sendo atendida prontamente, mas não tem voz para repassar o que está acontecendo, mesmo se esforçando ao máximo. Ela chora desesperada , implorando... rezando... fazendo acordo com Deus para que sua voz volte por um minuto.

— Malú... vá... – pede Maria se esforçando para não fechar os olhos — Eu... ficarei... bem...

Malú pega seu celular mais uma vez, ela pode não falar, mas sabe quem poderá ajudá–la, então envia três mensagens de texto , rezando para que alguém as ajude.

***

Thiago está se preparando para a entrevista antes de seu discurso,mas por algum motivo sente que algo está errado. Então procura seu celular, para saber onde estão sua mãe e Malú que já deveriam estar ali no clube.

— Senhor Thiago, um minuto – informa a assistente.

— Elisa, você viu meu celular? – pergunta  Thiago procurando nos bolsos de seu terno.

—  Não, senhor. Talvez tenha esquecido no carro – responde Elisa.

— Faça–me um favor, vá ao meu carro e o traga para mim pede Thiago entregando as chaves.

— Mas o senhor já estará na entrevista – lembra a assistente.

—Ache–o e ligue para minha casa, por favor – pede Thiago arrumando seu terno — Avise–me se estiver tudo bem.

— Como quiser – responde Elisa acompanhando Thiago até a sala de imprensa.

***

Última chamada para o embarque imediato do voo 347 para Guarulhos informa a porta voz da companhia aérea enquanto observa Aline se aproximar enxugando o rosto. Ela entrega o ticket e seu documento para a mulher que sorri, sendo amigável, devolvendo em seguida. A tia de Malú então guarda seus documentos e caminha em direção ao avião que a levará de volta para a casa de sua mãe. Sobre devagar , dando uma última olhada para o aeroporto e então entra, indo para seu lugar. Está observando a aeromoça fechar os compartimentos, quando escuta o toque de mensagem do seu celular.

— Senhora, por favor, coloque seu celular em modo avião – pede a aeromoça se aproximando — Nós já iremos decolar.

— Tudo bem – concorda.

            Aline pega o seu celular e coloca em modo avião. Então percebe o símbolo de mensagem de texto, apertando e deixando aparecer a mensagem de Malú:

AJUDE–ME. VOVÓ E ADELAIDE ESTÃO FERIDAS. GRAZIELA E RICARDO ATIRARAM NELAS E IRÃO MATAR MEU PAI! ELES QUEREM ME SEQUESTRAR!

Aline se levanta de seu lugar, chamando atenção da comissária de bordo que vem em sua direção, dizendo:

— Senhora, por gentileza, volte ao seu assento.

— Eu tenho que sair do avião – balbucia Aline caminhando em direção a saída.

— Senhora, nós já iremos partir – informa o comissário impedindo a passagem de Aline.

— Deixem–me sair! Eu preciso sair! – grita Aline empurrando o comissário — Minha sobrinha está correndo perigo! Deixe–me sair!

— Senhora, por favor, se contenha – pede o rapaz.

— Eu tenho que sair daqui! – grita Aline.

— A senhora precisa se acalmar, tenho certeza que é só nervosismo – garante a comissária atrás de Aline.

— O que eu tenho de fazer para sair daqui? – questiona Aline que sem esperar uma resposta dá um soco no comissário.

***

Benjamin dirige tranquilamente pelas ruas de Curitiba em direção ao clube de Magistrados, está empolgado com o discurso de hoje e ainda mais por tamanha visibilidade que o projeto recebeu durante todo esse tempo. Está parado no semáforo, quando escuta o seu celular vibra, chamando sua atenção. Ele encosta o veículo e então tira o celular do bolso, abrindo a mensagem que recebeu da namorada:

 AJUDE–ME. VOVÓ E ADELAIDE ESTÃO FERIDAS. GRAZIELA E RICARDO ATIRARAM NELAS E IRÃO MATAR MEU PAI! ELES QUEREM ME SEQUESTRAR!

Ele joga o celular no banco do passageiro e sai correndo com o carro, virando na primeira rua possível para fazer a conversão  e ir em direção a casa dos Almeida, torcendo para o pior não tenha acontecido.

***

Ricardo estaciona nos fundos da mansão esperando Graziela que não demora e entra no banco do carona, sorrindo para o amante. Ela toca de leve no cobertor no banco passageiro que se mexe:

— E então , por que a demora?

— Nós tivemos um imprevisto – responde Ricardo olhando pelo retrovisor.

— Que tipo de imprevisto?

— A Malú não estava na casa e tivemos de enganar a Adelaide para conseguir verificar se era verdade – responde Graziela, receosa.

— Droga! Quer dizer então que a informação estava errada?

— Calma, nós temos um novo plano – tranquiliza Ricardo. — Ela está no discurso. Nós iremos entrar no clube e fazer o que combinamos.

— Vocês tem certeza que dará certo?

— Não se preocupe. Nós temos tudo sobre controle – responde Graziela se virando.

— Tudo bem, então vamos acabar logo com isso – concorda Ícaro voltando a se esconder.

***

Malú acaricia os cabelos de Maria que murmura frases sem sentidos para a neta. A matriarca observa a sala de música que parece lotada com todas as figuras ilustres e conhecidas de seus pais e ela tocando no piano. Então seu professor aparece e vem até o sofá para lhe entregar uma rosa. Maria Luísa estende sua mão ao seu amor imaginário preocupando a neta que se levanta.

Sabe que sua avó tem pouco tempo e precisa fazer alguma coisa, então vai para o hall, tentando pensar em como fará para pedir ajuda. Escuta o carro de Ricardo indo embora, espera alguns minutos e então sai da mansão , com a parte de cima do seu pijama ensanguentado, em direção a guarita, onde os seguranças notam seu estado correndo em sua direção. Ela tenta explicar o que aconteceu, mas eles não entendem, a deixando mais desesperada.

— Onde está a senhora Almeida? – pergunta um deles observando a jovem apontar em direção a casa e então para seu pijama.

 — Ela está ferida? – questiona o segurança recebendo um sim com a cabeça de Malú  que  aponta dois dedos em direção ao rapaz. Ele se vira para o parceiro e ordena — Chame a ambulância e a polícia, agora – ele se vira para Malú e continua — Fique  aqui, eu verei o que está acontecendo.

 O segurança corre para dentro da mansão sendo observado por Malú que caminha em direção a guarita. Então olha para o portão e vê um carro estacionando em frente,a deixando em estado de choque.Até que Benjamin desce e vai em direção ao portão, onde é parado pelo outro segurança.

Malú corre para o portão e tenta explicar para o segurança que foi ela quem o chamou. Com certa dificuldade, o outro homem permite a entrada de Benjamin que abraça a namorada. Ele se afasta e nota que tem sangue na roupa da jovem e então procura o ferimento inexistente.

“ Eu estou bem”  Malú , nervosa.

“ Cadê a sua avó e a Adelaide?” pergunta Benjamin.

“ Estão lá dentro... Eles atiraram nelas” responde Malú chorando.

“ Graziela e o Doutor Ricardo?” pergunta Benjamin, preocupado.

“ Sim... e farão a mesma coisa com o Thiago” fala Malú que entra em desespero. “Precisamos ir para o Clube, agora. O Thiago está correndo perigo”

“ Vamos acionar a polícia” sugere Benjamin se virando, então a namorada segura seu braço, chamando sua atenção.

“  Eles não irão chegar a tempo” Malú puxando o Benjamin pelo braço em direção ao carro do rapaz.

Os dois entram no carro, rapidamente , tentando ser impedidos pelos seguranças , em vão. Malú ainda olha para trás rezando por Maria e Adelaide. Agora precisa salvar  o Thiago, antes que seja tarde demais.

***

Aline salta do táxi ainda em movimento, indo em direção a entrada da mansão dos Almeida que agora está com carros da polícia ,ambulâncias e os vizinhos que tentam entender o que está acontecendo. A tia de Malú se aproxima procurando pela jovem, até ser barrada pelos policiais.

— Senhora, a passagem está proibida – informa a policial feminina.

— Eu moro aqui – explica Aline passando pela policial, nervosa.

Ela caminha pelo pátio observando toda movimentação da perícia e dos paramédicos que saem com uma maca em direção a ambulância, fazendo Aline correr em desespero até lá e encontrar o rosto pálido de Adelaide.

— Ela está...? – pergunta Aline colocando as mãos na boca.

— Inconsciente – responde um dos paramédicos colocando Adelaide dentro da ambulância. —Ei, a senhora não pode entrar aí!

Aline corre para dentro da casa, desesperada. Sobe as escadas e vai até o quarto de Malú que está vazio, abre a porta secreta e vai até a biblioteca que não tem qualquer rastro da sobrinha. Procura pela jovem em cada cômodo do andar de cima e então volta a descer , se deparando com Maria em cima de uma maca:

 —  Onde está a Malú? – pergunta Aline se aproximando de Maria.

— Senhora, se afaste – ordena o outro paramédico, irritado.

— Encontraram mais alguém? – pergunta Aline ao homem que a ignora.

Ela coloca as mãos na cabeça girando enquanto tenta pensar onde estaria Malú,ou o pior, sua sobrinha já tinha sido sequestrada. Aline volta para o pátio a procura dos seguranças que estão conversando com alguns policiais.

— Onde está a Malú? – pergunta Aline se aproximando dos seguranças. Ela segura um deles pelo terno — Onde está minha sobrinha?

— Ela fugiu com aquele rapaz... o namorado dela – responde o segurança.

— Benjamin... Para onde eles foram? – pergunta Aline.

— Não sei, quando vimos, eles já estavam saindo com o carro.

Aline se afasta tentando pensar o que faria Malú fugir com Benjamin, ainda mais em um momento como aquele. Pega seu telefone e lê a mensagem mais uma vez. Eles foram ao clube, conclui a tia da jovem.

— Mandem reforços para o Clube de Magistrados – grita  Aline aos policiais.

— Espera, senhora – pede o policial parando na frente da mulher — Nós precisamos fazer algumas perguntas.

—  Não temos tempo pra isso – recusa Aline, nervosa — Se vocês querem evitar que essa tragédia aumente, façam o que estou dizendo.

Aline corre em direção a rua, entrando novamente no táxi . Ela pega seu telefone e disca para Thiago que não entende. Tenta mais uma vez, mas cai direto na caixa postal.

— Para onde senhora? – pergunta o taxista.

— Clube dos Magistrados... O mais rápido que você conseguir.

***

Os imensos portões do Clube dos Magistrados estão abertos para o acesso de todos para o discurso de Thiago, facilitando assim a entrada de Graziela, Ícaro e Ricardo que estacionam no fundo do clube. A loira se vira para os dois homens e então diz:

— Eu vou para o meio da multidão , enquanto vocês conferem a entrada e os fundos. Encontrem a Malú e ao meu sinal , tragam–na para o carro.

— Que tipo de sinal? – pergunta Ícaro, sério.

— Você saberá – responde Grazi antes de sair do veículo.

Ricardo e Ícaro se arrumam colocando as luvas pretas e pegando as máscaras que irão utilizar para não serem identificados por Malú.  O tio de Malú está terminando de ajeitar sua jaqueta, quando nota que Ricardo está carregando sua arma.

— O que você está fazendo? – questiona Ícaro , irritado — Para que essa arma?

— Nunca se sabe... Vai que a garota reage – responde Ricardo.

— Se você ousar apontar essa arma para a Malú, eu te mato – ameaça Ícaro segurando Ricardo pelo colarinho da camisa.

— Ei, relaxa – pede Ricardo — Você deveria se preocupar com a Grazi, afinal ela irá atirar no seu irmão.

— Como é? – questiona Ícaro, surpreso.

— Isso mesmo. Que tipo de sinal você acha que aquela maluca daria? – questiona Ricardo observando o choque de Ícaro — Qual é? Está pensando em desistir?

—Não.  – responde Ícaro, pensativo. Ele mantém a expressão séria e continua — Vigie a frente, enquanto irei pelos fundos. Conheço minha sobrinha e sei que ela pode estar nos bastidores.

— Você quem sabe. Mas se eu a encontrar e ela tentar reagir, terei que dar um susto nela – avisa Ricardo saindo do carro.

Isso é o que veremos pensa Ícaro fechando suas mãos com toda sua força.

***

—Obrigada pela entrevista, Thiago – agradece a jornalista apertando a mão do candidato, satisfeita. 

— Eu quem agradeço a oportunidade, Letícia – retribui Thiago, sorrindo.

— Então, será que nós poderíamos tirar uma foto com você e a sua família? – pergunta Letícia, curiosa — Será que já chegaram?

— Acredito que  sim – responde Thiago olhando para o relógio e depois para Elisa que responde com um não com a cabeça — Com licença, eu já volto.

Thiago se levanta e vai em direção a sua assistente que está com o seu celular nas mãos, entregando para o candidato.

— Está descarregado – avisa Elisa, sem graça.

— Droga. Conseguiu falar com a minha mãe? – pergunta Thiago, nervoso.

— Ninguém atende na sua casa e o celular dela está desligado também – responde a assistente.

—Alguma coisa está acontecendo, posso sentir – comenta Thiago, preocupado — Eu irei pra casa.

—  Negativo – recusa Vera se aproximando — O Clube está  lotado de seus eleitores que vieram escutar seu candidato. Você não pode deixá–los na mão. Não agora.

— Tem algo de errado, Vera – alega Thiago, irritado.

— Mande alguém até a casa do Thiago, imediatamente – ordena Vera à Elisa que sai prontamente. Ela se vira para o ex – cunhado e continua — Eu sei que temos as nossas desavenças, mas você precisa ser racional nesse momento. Não pode largar tudo por um achismo bobo.

— E se não for apenas um achismo? – questiona Thiago.

— Notícia ruim sempre chega primeiro, meu caro – responde Vera entregando um papel ao Thiago  — Agora vá repassar o seu discurso.

— Você  já fez o seu? – pergunta Thiago,sério.

— Sim. Após o seu discurso, eu irei renunciar – responde Vera a contragosto. Esperava que Thiago tivesse desistido da ideia — Apesar de tudo, gostei de trabalhar com você, Thiago – finaliza estendendo a mão para o candidato.

—  Eu não posso dizer o mesmo – retruca Thiago se afastando de sua ex – chefe de campanha.

            O pai de Malú vai para trás do palco, repassar todos os pontos cruciais de seu discurso, mas sua mente o trai, e volta a pensar no que pode estar acontecendo. Tem algo de errado, posso sentir... pensa o candidato.

— Thiago – chama Elisa trazendo Thiago de volta a realidade — Está na hora.

Thiago sorri para a assistente e então acompanha a jovem até o palco, onde faz o sinal da cruz e sobe atraindo toda atenção do grande público a sua frente.  Ele se posiciona diante do microfone olhando a multidão que o aplaude.

— Bom dia a todos... – começa Thiago o seu discurso final.

***

É com grande alegria que me coloco , humildemente, diante de vocês...

Escutam Benjamin e Malú entrando no clube dos Magistrados, ficando preocupados. Thiago já está exposto e a qualquer momento Graziela irá cumprir o que disse na mansão.

Eu, filho dessa terra, cresci dentro deste clube e brinquei muito durante todos os eventos que meus pais me traziam, junto com meu irmão...

“ Tome”  Benjamin que entrega seu casaco para Malú que coloca por cima do pijama manchado “ Corra o mais rápido que conseguir, irei estacionar o carro”

A jovem desce correndo do carro em direção a entrada do salão principal do clube, quando vê a figura de Ricardo a postos e que , por sorte não a enxerga no meio das pessoas que estão chegando ao clube também.

Então, nada mais justo que eu encerrar minha campanha entre vocês...

 Ela se esconde atrás de uma árvore, observando a primeira oportunidade para passar pelo fonoaudiólogo.Então, por alguns segundos, Ricardo se vira para admirar uma bela mulher que passa por ele e Malú aproveita para caminhar por entre as pessoas e ir por fora do clube.

Hoje eu não estou aqui para discursar a respeito das minhas propostas, ou sobre o que irei ou não fazer se vencer...

Benjamin finalmente consegue estacionar e vai em direção a alguns dos seguranças que não entendem nada do que o rapaz tenta dizer.

Hoje estou aqui para agradecer...

Malú  corre agachada para os fundos até chegar em uma porta que dá acesso aos fundos do palco.

Primeiro a Deus, sem ele não estaria aqui hoje...

O táxi para em frente ao Clube de Magistrados sendo escoltado por um carro de polícia, chamando atenção de Ricardo que caminha tentando esconder o rosto até onde estacionou seu carro. Aline desce e corre em direção ao salão torcendo para que nada de ruim tenha acontecido.

Primeiro a Deus, sem ele não estaria aqui hoje.A minha família por todo apoio para fazer essa linda campanha para vocês...

Graziela caminha entre a multidão atenta a fala de Thiago, ela sorri observando os rostos entusiasmados com seu ex– noivo. A loira para no meio das pessoas prestando atenção  ao discurso.

            A minha equipe que me acompanhou em cada cidade do nosso maravilhoso estado, principalmente a uma pessoa, em especial...

Vera sorri satisfeita, até que enfim um pouco de reconhecimento por seu trabalho durante todo esse tempo.

Aline Buarque de Melo,que nos trouxe uma nova visão do que é ser político e dando a oportunidade de aumentar nossas ações a todos os nossos eleitores. E claro, Ariadne, que nos presenteou com o seu lindo projeto. Saibam que independente do resultado,esse projeto sairá do papel...

O público aplaude efusivamente as palavras de Thiago que são menosprezadas por Vera e surpreendem Aline que acabara de entrar no salão.

E quero agradecer também ao povo paranaense que me acolheu em sua casa, me deu a oportunidade de mostrar o meu trabalho...

            Malú caminha pelos bastidores tentando encontrar a escada de acesso para o palco, quando percebe que Ícaro está conversando com um segurança. Ela se aproxima devagar, sem entender o que seu tio está fazendo ali, até notar que ele está de luvas pretas, as mesmas que Ricardo usa.  Era dele de quem estavam falando, conclui Malú se escondendo em um dos pilares sem deixar de observar Ícaro que agora sobe as escadas. Ela tenta segurar o choro, era horrível saber que o homem com quem conviveu a vida toda, agora está ali fazendo tudo o que a ensinou abominar.

E que agora defendem comigo todas as ações que pretendo realizar por vocês e para vocês...

Aline caminha entre as pessoas procurando Malú, mas acaba encontrando Graziela no meio da multidão. Ela se aproxima devagar observando a loira tirar uma arma de dentro da sua bolsa. A ex noiva de Thiago tira o silenciador para que a pistola faça barulho.

Sou eternamente grato a todos vocês. E saibam que irei lutar por vocês até o dia em que eu morrer...

Graziela aponta sua pistola em direção ao palco, mirando na cabeça de Thiago como realmente deseja, mas seria rápido demais. Desce a mira para a perna do candidato, mas essa ideia não lhe agrada. Por fim, decide mirar no peito do homem que agora acena para os seus eleitores.

Malú caminha apressada em direção as escadas por onde seu tio passou, se ele for realmente cúmplice dos outros dois, seu papel será por fim na vida de Thiago, e isso a jovem não irá permitir.

 Assim que coloca os pés na escada, tenta ser impedida pelo segurança , mas ela consegue se desvencilhar e dar mais alguns passos até chegar ao topo, e vê seu pai sorridente enquanto Ícaro se aproxima.

— Garota, volte aqui – ordena o segurança.

 A jovem tenta dar mais alguns passos, mas o segurança a segura pela cintura, a puxando para fora do palco. Ela tenta resistir, precisa alertar o Thiago...

O candidato termina de cumprimentar seus eleitores e se vira para o palco, sendo surpreendido pela presença de Ícaro que vem em sua direção.

— O que está fazendo aqui? – pergunta Thiago, sério.

Ícaro se aproxima rapidamente e abraça seu irmão com todas as forças, enquanto sussurra:

— Perdoe–me, meu irmão.

            Malú observa seu tio e seu pai juntos, aquilo não pode estar acontecendo... Precisa fazer alguma coisa...Qualquer coisa... Ela tenta se soltar, mas os braços do segurança  parecem rochas de tão fortes. Por favor, Deus... Por favor. pede a jovem chorando enquanto observa os irmãos.

Então o barulho do tiro toma conta do salão do Clube de Magistrados, assustando a todos.

— PAAAAAAAAAAAAAAAAIIII!