Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 39
Capítulo 38




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Aline desce com sua mala azul pelas escadas da mansão uma última vez, a casa ainda estava escura, todos os seus ocupantes ainda estão adormecidos, mas para ela era melhor assim. Depois das revelações da noite passada a última coisa que deseja é encarar os membros da família Almeida, principalmente Malú.Acredita que o melhor a fazer no momento é se afastar de todos e assim impedir que Vera cumpra sua ameaça. Abre a porta principal , mas não sem antes admirar o hall de entrada pela última vez.

— Então decidiu partir? – pergunta Maria Luísa surgindo da sala de música. — Achei que você não fosse se submeter as ameaças de Vera.

— Eu estou apenas evitando maiores estragos na vida de todos vocês. – responde Aline tentando não chorar. Ela sorri e ajeita seus cabelos— Como você sabe , se aquela notícia vazar é o fim da carreira de Thiago e da reputação dos Almeida.

— Não deveria se preocupar com minha família , já que é o meu departamento – comenta a matriarca.

— Eu sei que você cuida da sua família e corta aqueles que não encaixam em seus parâmetros – dispara Aline , irritada — Foi assim que eliminou Anna, Ícaro e agora a mim.

— Então acha que tive algo a ver com o que aconteceu ontem? – pergunta Maria ,surpresa. Ela respira fundo — Aline, você me conhece tão pouco.

— Na verdade eu não vejo necessidade em conhecer nada a seu respeito – reage Aline, irritada. Ela ajeita a mala no ombro — Agora se me der licença , tem um táxi me esperando lá fora. – finaliza se virando em direção a porta.

—Aline – chama Maria, observando Aline que fica com a mão na maçaneta sem virar em direção a dona da casa — Gostaria que soubesse que esse tempo em que ficou aqui , passei a admirar você... E na noite de ontem , ficou confirmado o quanto somos iguais...

— Iguais? – questiona Aline se virando , transtornada — Nós nunca seremos iguais! Eu nunca serei capaz de fazer o que fez...

— Mas você fez, com a sua família – alega a matriarca se aproximando — Eu sei a verdade sobre a sua história e também sei que fez aquilo para proteger sua família , mesmo que para isso tenha se tornado a vilã da história. Assim como eu me tornei a vilã da minha, mas ninguém está disposto a escutar a versão do vilão , não é mesmo?

— DO que está falando, Maria? – pergunta Aline , nervosa.

— Estou falando que Vera não foi a única que vasculhou sua vida, a diferença é que fui mais a fundo – revela Maria— Eu acho melhor você dispensar seu taxi e sentar comigo na copa,pois temos muitas coisas para conversar, quero contar a você o meu lado da história na vida de Anna e Malú. Está disposta a saber esse outro lado?

 

 

***

Curitiba, setembro de 1998.

Maria abre a porta de seu quarto, permitindo que a luz do corredor entre e revele o rosto adormecido de Alexandre que descansa com certa dificuldade. Ela torna a fechá–la se aproximando da cama e acendendo abajur, acordando seu esposo.

— Maria... – sussurra Alexandre tossindo compulsivamente no lenço branco, sendo ajudado por Maria Luísa. Ele afasta o lenço deixando que a esposa veja a mancha vermelha. O patriarca se ajeita na cama encarando a mulher, então pergunta — Fez o que combinamos? Deu fim na oportunista?

— Sim. Ela nunca mais irá perturbar o nosso filho – avisa Maria sentando na beirada enquanto ajeita os cabelos brancos de seu marido — Nesse exato momento, tenho certeza que está bem longe de Belo Horizonte...

— Ela não está morta? – questiona Alexandre, bravo, segurando o pulso de Maria com toda a força.

— Não, Alexandre, claro que não a matei – nega Maria, ofendida — Nem poderia...

— Como não poderia... Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!...?Era para essa aproveitadora está a sete palmos da terra – ruge Alexandre. — Como você pôde não fazer algo simples?

— Alexandre, ela está grávida – revela Maria, transtornada se levantando — Tenha compaixão.

— Compaixão? – questiona Alexandre, vermelho de raiva — Como você pode achar que ela terá compaixão conosco?! Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof! Essa vagabunda voltará a nos infernizar e querer dar o golpe! Eu fui bem claro, Maria! Era para dar um fim nela!

— Eu garanto que isso não irá acontecer... A conversa que eu tive com ela, foi definitiva. Ela não irá nos perturbar.

— Ah , você garante? – debocha Alexandre — Garante que essa vadia não virá até a nossa casa com um bastardo nos braços?

— Ela não é mãe do Ícaro – retruca Maria, séria tirando suas jóias na penteadeira.

— Sem dúvida. Porque essa aí nem chegará a ter essa criança – esbraveja Alexandre — Traga a minha agenda. Preciso dar um telefonema.

— O que fará, Alexandre? – pergunta Maria pegando a agenda preta do marido e se aproximando da cama.

— Oras, o que eu faço com todos os meus inimigos – responde Alexandre puxando a agenda das mãos de Maria .

— Matá–la... Igual fez com a mãe do Ícaro , não é mesmo? – pergunta Maria.

—A mãe do Ícaro não foi a primeira pedra no meu sapato, querida – responde Alexandre procurando um número em específico — Bem como essa vadia aqui não será a última...

— Quantas pessoas, Alexandre? – pergunta Maria, transtornada — Quantas pessoas você já mandou matar?

— Só as que cruzaram o meu caminho... Mas alguns eu mesmo matei,incluindo aquele seu professorzinho de piano – revela Alexandre recebendo um olhar chocado de Maria — Oras, você não achou mesmo que ele foi embora para Europa né? Aquele merda teve a coragem de vir até mim, pedir para que eu abrisse mão de você.

Declarou–se apaixonado por vocêCof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!... E achou mesmo que sairia da minha casa sem tomar um tiro no meio das costas. Até hoje eu me lembro dele rastejando pelo meu jardim... Engasgando com o próprio sangue... Morreu chorando igual a um covarde.

— Você é um monstro – acusa Maria que se esforça para não chorar.

— Não... Eu apenas elimino quem ousa atravessar o meu caminho. Igual a essa mulher Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!– Alexandre começa a tossir descontroladamente — E esse bebê. Não cometerei o mesmo erro que fiz com o Ícaro... Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof! Droga!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!

— Deixe–me ajeitar o seu travesseiro – pede Maria pegando um atrás da cabeça de Alexandre — Você precisa de apoio para respirar melhor... – ela afofa o travesseiro e o leva em direção ao esposo colocando sobre o rosto do marido que tenta se desvencilhar , então sussurra — Você não matará mais ninguém...

Alexandre luta com todas as forças para tirar o travesseiro de sua face,mas Maria joga toda a força de seu corpo contra o rosto do marido. Ela consegue sentir seu esposo lutando para respirar até que as mãos dele caem para o lado. Ainda fica mais um tempo sufocando seu marido , até que retira o travesseiro e encontro o rosto aterrorizado de Alexandre. Ela verifica seu pulso para ter certeza de que ele está morto.

Maria ajeita o travesseiro atrás da cabeça de seu marido morto, ajeita seus cabelos, fecha seus olhos e arruma sua cama. Levanta–se e vai em direção a porta abrindo a novamente, então olha para trás, seu marido parece estar dormindo tal como queria.

— Dona Maria ? – pergunta a enfermeira, surpresa com a matriarca na porta — Está tudo bem? O senhor Alexandre... Está bem?

— Meu marido está ótimo. Está dormindo agora e pediu para não ser perturbado – avisa Maria fazendo com que a enfermeira recuasse.

A matriarca caminha em direção ao quarto de Thiago e o encontra chorando deitado na cama. Ela senta na cama , deixando seu filho deitar a cabeça em seu colo.

— Eu sinto muito, querido – pede Maria Luísa passando a mão nos belos cabelos negros de seu filho. — Quem poderia imaginar que ela havia perdido o bebê e fugiria com medo de você descobrir? Vai saber se ela realmente estava grávida... 

— A Anna não é assim! – grita Thiago levantando da cama — Ela com certeza têm uma boa explicação para tudo isso. EU preciso ir para lá...

— Mas ela não está lá. – retruca Maria Luísa, socando o colchão — Fiz  questão de procurar e nenhum vizinho sabe do paradeiro dela. Se quiser, posso colocar um detetive atrás dela... Mas não vai mudar o fato de que ela fugiu de você. A vida sempre nos ensina algo e dessa vez lhe ensinou que nem todos são bonzinhos, de bom caráter, boa índole como gostaríamos que fossem. Eu sei que a ama, mas ela não retribuiu esse amor.

— A senhora não conhece a Anna– rebate Thiago enquanto abre o guarda roupa. Ele começa a jogar as roupas na cama deliberadamente — Eu sei que ela está precisando de mim. Ela deve estar sofrendo.

— O que está fazendo? – pergunta Maria Luísa, observando o Thiago arrumar suas roupas — Não acredita em mim?

— Acredito mãe. –responde Thiago fechando a mala — Mas eu preciso encontrar a Anna. Ela é a minha vida e está precisando de mim mais que qualquer pessoa.

— Com licença –pede a enfermeira batendo na porta — O senhor Alexandre... Acaba de falecer.

Thiago corre em direção a sua mãe que desmaia na cama.

***

Aline observa Maria que toma seu café tranquilamente. A matriarca respira fundo , então encara a tia de Malú:

— Eu gostaria de dizer que me arrependo amargamente, mas antes ele que as duas. – comenta Maria.

— E por que não contou a verdade depois que seu marido morreu? – pergunta Aline, cautelosa.

— Eu poderia ter voltado atrás e contado tudo ao meu filho. Porém, meu marido tinha muitos amigos e alguns deles seriam capazes de terminar o que o Alexandre começou. Eu não poderia arriscar... Não poderia ter o sangue delas em minhas mãos... Já não bastava o da mãe do Ícaro. Depois, a cada ano, eu sabia que se contasse, teria de falar sobre tudo... E confessar que matei o Alexandre. Então, guardei comigo e vocês tiveram uma vida plena. Por isso eu digo que lhe entendo e sei que não precisa fugir.

— De qualquer forma, Maria – comenta Aline mordendo os lábios, segurando o choro — Eu preciso ir embora... Estou cansada de fugir do meu passado. Preciso confrontá–lo... E só posso fazê–lo...

— Encontrando–se com sua mãe – completa Maria segurando na mão de Aline — Você precisa contar a verdade para ela.

— Sim, é o que pretendo fazer – concorda Aline enxugando as lágrimas — Não sei o que irá acontecer depois ,mas quero que cuide da Malú, até eu voltar.

— Não se preocupe, Aline – garante Maria — A minha casa está de portas abertas para quando quiser voltar...

— Obrigada pela hospitalidade – fala Aline se levantando — Agora terei de pedir outro táxi.

— Não. Peça ao Reginaldo para levá–la ao aeroporto – sugere Maria caminhando com Aline até o hall de entrada, onde se despede — Vá, faça o que tem que fazer e volte para nós. Eu garanto que estaremos esperando por você.

— Obrigada – agradece Aline parando de frente para Maria. Então ela a abraça — Obrigada, Malú Vó.

— De nada – responde Maria dando um tapa de leve nas costas de Aline — Acho melhor você me soltar ou então começarei a achar que você gosta de mim.

— Não mesmo – comenta Aline se afastando. Ela abre a porta e se despede —Até breve.

— Até breve – retribui Maria vendo a porta se fechar.

***

Thiago desperta no divã e observa que sua cama está vazia e seu quarto sem qualquer vestígio de Aline. Ele fecha os olhos se lembrando do desabafo de Aline deitada em sua cama, enquanto ambos conversavam. Ela falou a respeito de tudo e ele apenas a escutou, até que Aline finalmente adormecera e ele foi para o divã, onde dormiu.

Ele vai até o banheiro , toma uma ducha e em poucos minutos, se arruma e vai em direção ao quarto da filha, onde tem certeza que Aline está. Mas ao abrir a porta encontra apenas Malú dormindo e um bilhete no criado mudo com a letra de Aline. Thiago o abre com cuidado e então lê o que está escrito:

Malú...

Sei que não entenderá o motivo da minha partida, mas quero que saiba que a amo e em breve voltarei a revê–la.

Com muito amor,

Aline.

Thiago coloca o bilhete de volta no lugar e sai do quarto de sua filha, sem acreditar que Aline foi embora. Desce as escadas correndo encontrando apenas sua mãe que sorri para ele.

— Ela já foi? – pergunta Thiago.

— Sim – responde Maria estendendo a mão para o seu filho — Venha, vamos tomar café. Você tem um dia importante hoje e tenho certeza que ela gostaria que fosse impecável.

— Eu estou apaixonado por ela, mamãe – confessa Thiago caminhando ao lado de Maria — Mas eu não posso ficar com ela.

— Eu sei, meu filho – admite Maria segurando no braço do candidato — Você também ama o seu irmão e não quer perdê–lo. Mas não há nada que possa fazer porque tudo depende de quem a Aline escolherá no final e você terá de aceitar independente de quem for.

Os dois terminam de tomar o café da manhã e então Thiago se arruma para seu último discurso, que será realizado em Curitiba no Clube dos Magistrados. Sua mãe ajeita sua gravata e então sorri para ele dizendo:

— Boa sorte, meu filho – deseja Maria — Daqui a pouco, pedirei a Adelaide para acordar a Malú e nós iremos para o clube apoiá–lo.

— Obrigado, mamãe – agradece Thiago — Por favor, se a Malú não quiser ir, não a force. Entendo quanto será difícil para ela depois de ler o bilhete.

— Tudo bem. Os empregados foram dispensados hoje para ir ao seu discurso, mas pedi para Adelaide e o Reginaldo acompanharem a mim e a Malú, tudo bem?

— Tudo bem, eu já tinha autorizado a entrada deles – responde Thiago — Bom, eu já estou indo, ainda tenho que garantir que a Vera fique na linha.

— Vá com Deus – despede–se Maria abençoando seu filho.

— Até daqui a pouco, mamãe – fala Thiago saindo da mansão.

Maria ainda acompanha o filho entrar no carro, tem um pressentimento ruim ao ver Thiago dirigindo para fora da casa.

***

— Adelaide – chama Maria entrando na casa, sendo recebida pela governanta — Vá e acorde, Malú, por gentileza.

— Sim, senhora – concorda Adelaide se virando para subir as escadas.

— Porém – continua Maria fazendo a governanta parar no meio do caminho — Antes de acordá–la, dê um fim no bilhete que está no criado mudo.

— Mas, senhora... Foi a Dona Aline – argumenta Adelaide, surpresa.

— Isso é uma ordem – interrompe Maria, séria.

— Sim , senhora –aceita Adelaide, a contra gosto.

Maria observa a governanta subir,então o interfone da guarita toca e ela atende, sendo surpreendida pelo nome que o porteiro anuncia. Porém, aceita a entrada. Em poucos minutos, escuta o carro estacionar e a silhueta da pessoa se aproximar da porta que ela mesma abre dizendo:

— O que você está fazendo aqui?


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