Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 24
Capítulo 23




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O corpo de Aline se estremece com as últimas palavras de Maria, trazendo todas as lembranças de seu passado à tona, inclusive a pior parte dele. Respira fundo e estreita os olhos observando a matriarca. Não pode demonstrar o quanto aquela mulher mexeu consigo, pois também pode ser uma jogada para descobrir algo a respeito de Aline.

—Maria, se realmente sabe algo a meu respeito deve ter compreendido que minhas escolhas foram em prol de algo maior. Eu me sacrifiquei e não me arrependo.

—Sacrifício? – questiona Maria com um sorriso incrédulo — Aline, você não tem a menor idéia da complexidade dessa palavra quando feita na prática.

— O que você quer dizer com isso? – pergunta Aline, curiosa.

— O que você fez... Não foi um sacrifício, nem de perto – responde Maria, fazendo Aline franzir sua testa — Você não sabe o que é se sacrificar por alguém.

— E você sabe? – questiona Aline, petulante, cruzando os braços.

— Eu faço isso a minha vida toda, Aline. Já você, é mera cúmplice de um crime, ou melhor, revendo sua história de "sacrifício”, é tão criminosa quanto.

— Se está tentando me fazer sentir culpada, isso não irá funcionar – retruca Aline indo em direção a porta — Você não sabe o que diz, já está caducando...

—Tem certeza?- questiona Maria — Sabe, tenho quase certeza de que se o Felipe estivesse aqui, ele concordaria comigo.

Aline para no meio caminho, fazendo com que Maria solte um sorriso de satisfação. Aquele nome dá a certeza que Maria sabe sobre seu passado e mais: a Senhora Almeida a tem nas mãos.

— O que você quer? – pergunta Aline se virando — O que você quer de mim?

— Nada... – responde Maria, tranquila.

—Não seja cínica – reage Aline, nervosa — O que você quer?

— Licença – pede Adelaide entrando na sala de música. Sente- se intimidada pelo olhar fulminante das duas — O jantar já está pronto, posso servi-lo, Dona Maria?

— Obrigada, Adelaide, pode chamar à todos. E não se esqueça de colocar mais um prato à mesa – responde Maria caminhando até parar ao lado de Aline que está ofegante — Irá jantar conosco.

—Isso é um convite ou uma ordem? – pergunta Aline encarando Maria.

—Depende de quão pesada está sua consciência – responde Maria, tranquila — Cooperação.

— O quê? – pergunta Aline sem entender.

— A resposta para sua pergunta anterior – explica Maria — Cooperação, quero que coopere comigo a respeito de Malú.

—Como quiser minha senhora – responde Aline, ríspida.

—Começando por agora: vista uma roupa apropriada para o jantar. Malú a tem como exemplo, então seja um – ordena Maria.

— O que devo vestir minha senhora? – pergunta Aline.

— Tenho certeza que sua educação foi de muita qualidade a ponto de saber o que vestir em um jantar familiar. – responde Maria dando um passo para frente, então ela volta e continua — Mais uma coisa, dizer "minha senhora" não me incomoda, aliás, até prefiro que o faça. Dessa forma sempre se lembrará quem manda aqui.

Maria caminha para fora da sala acompanhada de Adelaide que não entende o que se passou entre as duas. Aline fica encarando o piano enquanto divaga em seus pensamentos: seus tempos de paz se acabaram, seu passado virá à tona e isso é apenas uma questão de tempo... E isso a afastará de Malú para sempre. A menos que ache uma solução, mesmo que seja criminosa.

***

Thiago senta à mesa conversando a respeito da campanha com Vera, enquanto Graziela analisa os desenhos de vestido de noiva que várias grifes enviaram para ela após os primeiros episódios de seu reality. Apesar de ser um resultado favorável, ainda sente que precisa convencer Thiago a participar. Malú está sentada ao lado de Grazi que lhe dá um leve sorriso, ela observa à todos enquanto busca entender quando irá realmente sentir que eles são sua família, caso isso aconteça um dia. Então sua avó se aproxima da mesa sentando na outra ponta, mas diferente das outras noites, ela não dá o sinal para servirem.

— Peço que aguardem mais alguns instantes — pede Maria sem maiores explicações.

Ela se mantém em silêncio enquanto os demais voltam a conversar. Depois de quarenta minutos, a curiosidade começa a tomar conta da mesa.

— Teremos algum convidado especial à mesa? – pergunta Graziela, curiosa, ajeitando seu terno floral.

—Ótimo sangue fresco – comenta Vera, animada. — Um investidor importante para a campanha?

— A quem estamos esperando? – pergunta Thiago, curioso.

— Desculpem-me pelo atraso – pede Aline aparecendo na sala de jantar.

Todos a encaram surpresos e não é para menos, Aline está maquiada, com seus cabelos soltos bem escovados, tocando levemente a alça larga de seu belo e único vestido roxo em detalhes pretos levemente a cima de seus joelhos e scarpin preto. Malú tinha visto sua tia se vestir assim apenas em ocasiões bem especiais, o que a deixa mais surpresa com toda aquela produção. Graziela torce a boca, demonstrando sua leve irritação ao ver o olhar admirado de Thiago para com Aline. Ele não faz a menor questão de disfarçar a surpresa ao ver Aline tão bonita. Vera encara Maria que não parece surpresa com a Aline, deixando a relações públicas, curiosa.

— Não tem problema algum – responde Thiago se levantando rapidamente e puxando a cadeira para Aline sentar, irritando mais ainda sua noiva que serve sua taça de vinho sem esperar que Maria autorize. Ele toca levemente no ombro de Aline — Seja bem vinda, novamente.

— Uau, Aline, eu quase acreditei que você iria sempre comer com a criadagem – dispara Graziela, irritada. — O que foi que aconteceu para mudar de ideia?

— Eu e Aline tivemos uma ótima conversa mais cedo – responde Maria no lugar de Aline fazendo com que todos a encarassem, menos a jovem que mantém a cabeça abaixada — E decidimos... Como se diz...

—Cooperar – interrompe Aline encarando Maria — Essa é a palavra que procura minha senhora.

—Exato, ela decidiu cooperar conosco e fazer com que todos nós sejamos parceiros nessa fase da vida de Malú – completa Maria estendendo o sua taça — E foi pensando nisso que a partir de hoje, Aline sentará conosco em todas as refeições e será uma pessoa mais atuante em nossas vidas. Um brinde a cooperação.

Todos brindam uns com os outros, porém Vera observa as duas mulheres, tentando descobrir o que poderia estar acontecendo entre elas.

—Já que estamos falando em cooperação – comenta Vera chamando a atenção de todos — Aline, preciso de seus documentos.

— O quê? Por qual motivo? – pergunta Aline, atônita.

— O pessoal do RH entrou em contato conosco e disse que você ainda não entregou sua documentação para eles colocarem você na folha de pagamento. Mesmo você comendo conosco, não deixou de ser uma assalariada.

—Vera – repreende Thiago.

— Obrigada por avisar, Vera. Eu mesma irei entregar — informa Aline.

—Bom, é o que você sempre diz, mas acaba não fazendo. Como tenho contato direto, posso lhe ajudar. Entregue depois do jantar.

— Não preciso da sua ajuda – retruca Aline, irritada — Não confio em você.

—Querida, o que acha que irei fazer com os documentos de babá temporária? Poupe-me da sua desconfiança, eu só quero ajudar você a receber o seu salário e comprar roupas... Decentes. Afinal de contas, irá sentar conosco em todas as refeições e pelo estado de conservação desse vestido, essa é a única vestimenta apropriada que deve ter.

— Vera, basta – intervém Maria — Após o jantar, Aline lhe entregará a documentação necessária, faça tudo o mais rápido possível e devolva a ela. Agora vamos jantar em paz.

— Como quiser minha senhora – responde Vera bebendo um gole de seu vinho. A proteção de Maria começa a ser suspeita aos olhos da loira.

***

Depois do jantar silencioso, Aline sobe as escadas em direção ao quarto, enquanto Vera Lúcia e Graziela se despedem da família Almeida.

— Obrigada pelo maravilhoso jantar, Maria – agradece Vera com um sorriso.

—Tem certeza que não quer que eu fique aqui esta noite? – pergunta Grazi a Thiago.

—Não, eu tenho muito trabalho para adiantar, ainda mais agora que falta pouco para a caravana. É melhor você ir para casa, depois nos falamos — responde Thiago dando um beijo na testa de sua noiva que fica contrariada.

— Até mais, Malú – despede Vera oferecendo sua mão para a jovem que aperta firmemente, machucando a loira— Nossa, que forte você, não?

— Até amanhã,Malú – diz Grazi abraçando Malú quase que a força.

—Vera – chama Aline descendo as escadas com cara de poucos amigos. Ela entrega uma pequena pasta preta — Aqui está tudo o que precisa entregue diretamente ao RH.

— Não se preocupe, sou bastante profissional – alega Vera puxando a pasta. — Em breve a terá nas mãos.

Aline acena com a cabeça, enquanto sente um pressentimento ruim ao ver Vera saindo da mansão com sua pasta. Se ela for curiosa, em breve ela também saberá toda a verdade e a tia de Malú não tem certeza se conseguirá suportar que mais uma pessoa saiba do que fez.

***

Graziela abre os olhos encarando seu relógio que mostra ser ainda três horas da manhã. Ela caminha pelo seu apartamento em plena escuridão, passou a metade da noite revirando na cama imaginando a possibilidade de Thiago estar se afastando dela... E o pior, estar gostando de Aline. Chega à sala e observa que Vera também está acordada mexendo em seu computador.

—Também está com dificuldades para dormir? – pergunta ligando a luz do ambiente.

— Antes fosse – resmunga Vera colocando um sorriso de satisfação no rosto.

— O que está fazendo? – pergunta Grazi, curiosa.

— Eu apresento a você Aline Buarque de Melo - diz Vera apontando para a tela do seu computador a foto onde Aline aparece em um retrato de família com um belo vestido vermelho, parece ser bem antiga, mas o rosto é o mesmo. Grazi a encara sem entender. —Herdeira dos Buarque de Melo... Filha do grande desembargador Alceu Buarque de Melo.

—Espera um pouco, Aline é filha de um desembargador? – pergunta Graziela, incrédula.

—Não um desembargador, mas sim o desembargador mais influente de toda São Paulo.

—Uau, quer dizer então que a defensora dos pobres e oprimidos é mais rica que todos nós?

— Muito mais – reforça Vera.

— Precisamos contar isso para o Thiago, com certeza ele irá ficar desapontado com ela. – comentaGrazi, empolgada.

—Não quero que ele fique apenas desapontado, maninha. Quero-a fora do nosso caminho – alega Vera — Tenho certeza que ela não abandonou tudo para trás apenas para ser uma errante... Ela queria seguir os passos do pai, mas algo aconteceu e eu preciso saber o que é.

—Como tem tanta certeza que ela tem um passado sujo?

— Maria, ela não dá ponto sem nó. Se ela fez Aline se sujeitar a seu bel prazer é por que essa mulher fez uma merda muito grande e eu irei descobrir.


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