Silver escrita por Isabelle


Capítulo 34
Capítulo 33 – Lorena


Notas iniciais do capítulo

"Mas nesta noite tudo está morto, acabado e já passou
Somente feche seus olhos
O sol está se pondo
Você ficará bem
Ninguém pode te machucar agora
Ao chegar a luz da manhã
Nós ficaremos sãos e salvos"
— Taylor Swift (feat. The Civil Wars)



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Segurou a faca entre os dedos e a passou lentamente pelo meio do pão que se abriu. Seus dedos foram ágeis em pegar a maionese, e passá-la lentamente por entre aquelas fatias, e depois finalizar com uma fatia de queijo. Jogou os longos cabelos para trás do ombro, e rodou a cabeça para ver Wade a encarando parado na porta da cozinha com os olhos focados em seus movimentos. Revirou os olhos, já acostumada com aquilo. Tomou um gole do refrigerante que estava em um copo a esperando bem gelado para combinar com o clima quente, e pegou os dois pães que havia feito como um pedido de trégua para Wade depois de toda aquelas brigas.

Wade não tentou desviar da porta quando ela tentou passar. Ela ficou parada em frente a ele com os olhos brilhando, e esperando que ele fizesse qualquer coisa que pudesse deixá-la passar, mas ele não deixava, ele continuava observando-a com o mesmo olhar que ele tinha mantido por um mês sobre ela desde que o havia contado que viajaria para outro país. Ela realmente já estava entediada de ter a mesma discussão todos os dias, ainda mais, quando sua viagem seria no dia seguinte. Então, naquele dia, ela apenas o ficou fitando, enquanto esperava que ele pudesse dizer alguma coisa, para ela apenas concordar e ir embora sentar em seu sofá para ver algum filme brega na TV juntos.

Wade a devorava com aqueles olhos castanhos, mas seus movimentos continuavam travados tampando a porta. Seus olhos dançaram completamente indo para cima até voltarem em sua posição inicial para ele, e ela bufou em desagrado. O prato em sua mão com o pão já começava a pesar, e mesmo que estivesse um calor extremo aquele dia, segurar aquele copo de guaraná com blocos pesados de gelo já estava fazendo os nós de seus dedos doerem.

— Eu não quero brigar. — Disse, quando ele estava para abrir a boca. — Pode brigar comigo amanhã quando eu estiver terminando de arrumar minhas bagagens até quando eu fechar a porta daquele apartamento, pode brigar comigo por telefone quando eu estiver lá, e quando estivermos transando quando eu voltar, eu não ligo, mas não hoje. Quero sentar naquela TV, quero que você me abrace, que a gente tenha um amorzinho gostoso, e vamos dormir. Não quero brigar, Wade, estou farta de tantas brigas.

Wade ficou tenso por alguns segundos, mas logo após soltou os braços ao lado do corpo, e pegou o prato na mão de Lorena. Ela abriu um sorriso caridoso para ele, que também abriu um, e ambos foram juntos para a sala. O corpo dela foi acolhido pelo braço de Wade, e não poderia dizer se havia qualquer sensação no mundo do que quando estava com os braços dele envolta dela. Parecia de alguma forma haver uma força maior dentro do seu peito quando o cheiro de Wade estava a circulando, sem ser numa necessidade estúpida de comprovar seus argumentos aumentando o som da voz, mas sim, sentados no sofá comendo pão, tomando um guaraná extremamente gelado, e assistindo a um filme idiota que passa na TV. Era nisso que seus planos consistiam. Sentar no sofá com Wade, sentir seu cheiro a dominando, junto com aquele amor.

Seus olhos se fecharam antes mesmo que o filme acabasse, e um sentimento de culpa a golpeou, mas ela não conseguia processar muito bem porque, nem mesmo ter muita percepção de nada depois daquilo, somente, que seu corpo fora levado para cama pois ela conseguiu sentir o contato com o colchão macio, e após isso, coberta por um cobertor grosso, mas não somente este, também por outro corpo que a envolveu em seus braços, e ainda depositou um beijo em sua cabeça.

Na outra manhã seu corpo todo estralou de uma forma fácil, e seus dedos foram de encontro com o celular que não parava de apitar. Esticou suas mãos no alto e sentiu seu corpo se abrindo para recomeçar novamente mais um dia, e não somente mais um dia, mas sim, o dia. Ela tinha que começar a se arrumar, escolher suas melhores roupas, tinha que estar intacta para quando chegasse no Canadá. Aquela era a chance de mudar toda a sua vida, ela não podia perdê-la de forma alguma. Era uma chance de dar um futuro melhor a si mesma, para Wade e para o que viesse a frente.

Sabia que Wade estava totalmente chateado com essa história de Canadá, mas em sua cabeça, em algum momento ele entenderia que era o melhor para ambos. Ela só não pensava que ele faria todo o drama que ele fizera quando ela havia chegado em casa com a notícia. É claro que sabia que ele ficaria tenso, pois significava voltar a conviver com seus pais, morar em um país que ele não tinha tanto conhecimento como ali, mas não pensava que brigariam quase todos os dias por isso.

Jogou seu corpo para o banheiro e fez tudo o que precisava, principalmente na parte de tomar um banho bem demorado. Sua cabeça se passava milhões de coisas que ela poderia fazer quando chegasse lá, mas tentou não ficar tão ansiosa. Seu peito já subia e descia rapidamente, ela precisava manter a calma para não se desesperar quando chegasse lá, e falasse coisas erradas. Precisava ter um foco claro e de uma cabeça limpa para aquilo.

Estava deslizando o sabonete por seu corpo, quando Wade surgiu no banheiro. Um sorriso abriu sobre seu rosto, e ela virou seu corpo que já tinha sido deleitado pelos olhos dele tantas vezes que nem achava que ele poderia se sentir tão surpreendido, mas todas as vezes que ele a olhava era como se fosse a primeira. Seu rosto ruborizava da mesma forma, e ele sorria ao perceber aquilo. Os dois se amavam cada dia de uma forma nova enquanto o sussurro daquele amor tinha como toque de fundo a água quente que batia em ambos.

Lorena suspirou, e abriu a porta do guarda-roupa, passando os olhos por todas suas blusas sem saber exatamente o que levar. A mala estava quase pronta, mas ela ainda precisava de alguns agasalhos para se proteger do tempo que a estivesse esperando, contudo, viver no Brasil, principalmente em Minas Gerais, não lhe dava uma base boa de roupas de frio para levar para o exterior, principalmente numa época do ano como aquela em que o inverno começaria a aflorar. Ela não precisava de blusas extremamente reforçadas para lidar com o frio canadense, ela morava em Minas, o sol era seu maior amigo, raramente ele iria para longe e deixava as camadas de ar frio brilharem entre eles.

Wade estava sentado no sofá desde que ela havia começado a arrumar as malas com sua coluna ereta e com seus olhos focados na TV. Ele não tinha falado com ela depois que ambos haviam saído do banheiro, e ela tinha pego as malas para arrumar. Ela nem ao menos se deu o trabalho de voltar a discutir com ele novamente, porque sabia que uma hora ou outra ele estouraria, e precisaria de seus argumentos para se defender.

Dobrou as roupas com uma precisão imediata e as colocou dentro da mala, selando-a totalmente. Estava apenas em um fino sutiã preto, e uma saia longa, também preta, ela não sabia qual blusa colocar, mas já tinha separado uma bagagem de mão com roupas de frio para colocar assim que estivesse mais próxima. Respirou profundamente antes de prender a chave do seu carro em sua bolsa, e deslizar para fora carregando as malas, pronta para ouvir as coisas que seu amado marido tinha a dizer.

— Estou pronta. — Ela abriu um sorriso lateral para ele que bufou. — Wade, não pode evitar isso para sempre, tenho que sair daqui a pouco, já estou atrasada, e é assim que quer se despedir de mim?

— Vai de sutiã? — Não era uma piada, ele estava muito sério.

— Não, ainda não me decidi qual blusa colocar.

Ela continuou parada o encarando, mas de sua boca não saiu nada. Ela queria que ele falasse alguma coisa, por isso, continuou intacta no mesmo lugar, trocando o peso da perna.

— Eu não sei o que você quer que eu diga. — Wade parecia ler sua mente. — Vai entrar me um avião, ficar praticamente um mês fora, e quer que eu aceite com o fato de querer que nos mudemos para o Canadá.

— Meu Deus, você vai começar tudo isso de novo.

— Sim, eu vou, porque você ainda está fazendo questão de ir.

— Porque é a minha vida, é um grande sonho se tornando realidade, é isso o que é.

— Mas, eu não tenho que fazer parte dele também? — O maxilar de Wade era firme.

— Você não acha isso injusto? — Sua voz tinha um certo tom ácido, estava perdendo a paciência de vez com ele.

Os olhos de Wade se reviraram, trazendo ainda mais impaciência para o coração de Lorena que queria poder gritar com ele, se não odiasse tanto casais que gritavam um com o outro. Isso a lembrava de seus pais. Nunca em toda a sua vida queria ser igual a seus pais.

— Isso é uma grande chance, Wade, não só para mim, para nós dois. Eu estou cansada de desenvolver esses projetos de casas chiques que eles nem mesmo ligam porque querem casas caixotes feitas de uma maneira… É a minha chance de poder desenvolver um daqueles prédios que as pessoas passam perto e ficam encantada, tipo o Empire State.

Wade continuou com os olhos presos a TV, as veias de Lorena eram fogo vivido e puro. Ela estava com tanto ódio que poderia agarrar todas suas bagagens naquele momento, sair por aquela porta, e nunca mais voltar. Isso é claro se não amasse aquele homem com todo o seu coração. Ela não podia fazer aquilo com ele, sabia disso, mesmo que ele fosse teimoso, uma hora ou outra ele perceberia que aquilo era para o bem, e não só dela, mas sim dos dois. Ele tinha desistido de trabalhar em uma editora porque aquilo não era sua cara, ela sabia que no Canadá junto a ela, ambos poderiam encontrar suas vocações, mas ela precisava que ele colaborasse, e parasse de ser tão teimoso.

— Não pode construir um Empire State no Brasil? — Sua voz era sarcastica.

— Estou cansada de brigar por causa disso, Wade.

Ela andou com passos firmes até a TV, só que Wade apenas revirou os olhos em um habito melodramático que me fez sentir uma fúria tão grande que poderia sair de dentro de mim, criar vida, e pular em cima dele, e só parar de espancá-lo quando seu corpo estivesse ensaguentado naquele chão. Tentei não olhá-lo com ódio, mas o descontentamento já brilhava claro em meus olhos, quase tão vivos quanto a cor deles.

— Lorena, essa não é uma decisão que eu quero fazer com você sempre estando atrasada para ir para algum lugar. Você mal fica em casa por causa dessas suas reuniões. — O coração dela doeu quando ele disse. — Quero me sentar naquela mesa, e debater os prós e os contras, mas lá vai você de novo, correndo para a cidade vizinha, para viajar pro outro lado do país para resolver questões que a gente mesmo não parou para resolver.

Seu rosto saiu de uma expressão brava para encontrar uma expressão de tristeza. Não queria escutar aquelas palavras. Sabia que ultimamente estava sendo extremamente ausente, mas não poderia fazer nada, queria aquele emprego mais do que tudo, e precisava lutar para tê-lo, ela não entendia como Wade ainda não havia visto o quão aquilo era importante para ela.

— Está sendo extremamente injusto comigo.

— O que? — Sua voz soou tão dura, que quando ele se levantou do sofá, ela deu um passo traz apreensiva. — Lorena desde que nos casamos você só faz isso, joga decisões em cima de mim, e sai, me deixando para lidar com elas sozinhas. Mudar para outro país é uma decisão grande, a gente precisa sentar e debater ela, como duas pessoas casadas, a não ser que você queira o divorcio.

— O que? — Tentou manter a voz impassiva, mas ela já estava mais alta do que o comum. — É isso que você acha?

Passou a mão no cabelo e deu passos pesados para longe. Ela não queria escutar mais nada. Queria poder fugir para longe dele. As palavras que diria agora poderiam ser tanto quanto reconfortantes, quanto assustadoras, e estava com um grande receio de dizê-las, mas precisava. Estava cansada daquelas brigas, e precisava tentar fazer Wade entender o que se passava dentro dela.

— Eu amo você mais do que tudo, se não consegue perceber que esse emprego é tudo que eu sempre quis, eu não posso fazer nada, mas quero que você leve em consideração que você também é tudo o que eu sempre quis, Wade. Não vou conseguir lidar em ir morar em outro lugar se você não estiver comigo, e é por isso que quero que reconsidere. Eu te amo mais do que tudo, e preciso que entenda isso. Preciso que decida vir comigo.

Wade endureceu o maxilar e olhou para o teto. Lorena já sabia qual seria a pergunta que sairia de sua boca naquele momento, mas ela queria que ele não ousasse dizê-la. Preferia que ele ficasse em silencio do que ousar dizer as palavras, porque dentro dela ela sabia que por mais que doesse nele e nela, ela teria que ser completamente sincera, e em momento algum exitaria. Deixaria a ferida doer.

— Você iria sem mim?

Seu corpo todo estremeceu, e sua espinha travou. Ela mordeu os lábios lentamente antes de ousar fechar a mão em um punho e abri-la novamente, como se tivesse liberando uma descarga elétrica pesada demais para o seu corpo. Suas pernas pareciam pesar três vezes mais, e o tempo estava parado. Ela conseguia ver Wade parado intacto esperando uma resposta que fosse gratificante aos seus ouvidos, infelizmente, ela não poderia dar aquilo para ele. Por mais que ela o amasse, ela também amava sua carreira, e não deixaria que fizesse com que ela desistisse de seu sonho ao se tornar arquiteta dessa nova companhia que já era uma marca velha, mas que agora estava se expandindo, ela não desistiria por causa dele. Infelizmente, era uma realidade que ele teria que enfrentar por mais que doesse.

— Se eu precisasse.

Wade focou os olhos no chão, e Lorena não conseguiu conter toda a dor que sentiu ao deixar as palavras saírem dos seus lábios. Sua boca tremeu e ela deu alguns passos a frente, prendendo os braços envolta de Wade. Seu coração batia tão rápido que queria poder encontrar sua cabeça em seu peito para que aquele órgão escutasse seus pensamentos dizendo que ela ainda o amava mais do que tudo, mas precisava entender que aquilo era muito maior do que apenas os dois.

— Wade, tem que entender que é a chance da minha vida.

— Vivemos tão bem assim, Lô, não sei porque precisamos ir para outro país…

— É uma grande chance, e eu sei que você sabe disso, para nós dois.

Um beijo encontrou o topo de sua cabeça, e mesmo que seu coração doesse naquele momento, um sorriso se espalhou por seus lábios sem o menor pudor. Estava com medo de começar a soltar lágrimas em frente a ele, então apenas se afastou lentamente, colocando a mão na cintura, e traçando o caminho para o quarto a fim de finalmente colocar uma blusa, e finalizar pegando seu passaporte e tudo mais, porque em alguns minutos o carro da companhia provavelmente já estaria lá embaixo a esperando.

— Me promete que vai pelo menos pensar no caso, pensar de verdade.

Ele assentiu, com derrota nos olhos.

— Eu amo você demais.

Deu um passo para trás, contudo, pensou melhor, e correu até seus lábios deixando que encontrassem os de Wade com uma veracidade que não fora correspondida. Seus lábios estavam duros, e ressentidos, havia um peso em seu coração que não tinha como ela afastar, pois já tinha feito sua decisão, e sabia que tinha mudado muitas coisas entre eles ao admitir que iria sem ele, mas não poderia mentir numa decisão como aquela, tinha que apenas deixar a verdade ser jogada no ar para que ambos pudessem aprender com ela. Infelizmente, Wade não estava lidando tão quanto ela achava que ele lidaria.

— Eu volto antes mesmo de você ter tempo de notar. — Descolei seus lábios dos meus.

— Eu duvido muito disso.

Sua voz soou tão magoada quanto o olhar que preencheu meu rosto.

— Wade…

Meu caminho que antes fora traçado para quarto tinha sido agora traçado para Wade que continuou a caminha para trás, por mais que eu tentasse chegar perto. Parei, e tentei não suspirar e trocar um olhar com o teto, mas foi impossível me conter, antes mesmo que eu pudesse evitar meus olhos já tinha encontrado o teto, e depois Wade. O sorriso no rosto dele passou despercebido por conta de uma linha reta que domava seus lábios, contudo, eu sabia que por dentro ele estava sorrindo de uma forma tão viva que me reconfortava o coração, tomando um pouco daquela dor.

— Não quero brigar de novo, Lorena.

— Nem eu.

— Ótimo. — Um sorriso fraco passou por seu rosto.

— Agora, tenho que colocar uma blusa.

— Pra mim parece ótima desse jeito. — Soltou seu típico sorriso de canto de lábio, e ela quis beijá-lo novamente, isso é claro se não estivesse atrasada.

Em minutos ela já estava pronta para sair com um carro da companhia que a esperava, Wade prendeu seus braços e a encheu de beijo antes que permitisse que ela entrasse. Seu rosto fora infestado por beijos que ele estralou em seu rosto, e ela não conseguia parar de sorrir ao pensar nisso. Mariana, que era uma amiga sua de trabalho e de faculdade, não conseguia parar de comentar sobre o quanto eles eram fofos juntos, ela tentara manter-se impassiva e não revirar os olhos enquanto o carro cruzava a estrada, mas era praticamente impossível ao se lembrar de Wade.

Eles estavam em quatro pessoas, Matheus, que estava dirigindo, com sua sócia, Liz ao lado, e Mariana que estava no banco de trás com ela. Ainda precisavam pegar Henrique que morava na cidade onde pegariam o avião, mas seria tão rápido que nem faria diferença.

Lorena não conseguia se conter de emoção dentro daquele carro, mal conseguia encostar a cabeça e dormir como os outros. Suas mãos tremiam de tanta ansiedade e ela não queria que ninguém soubesse que ela se importava tanto com aquilo. É claro que ela já havia ido para o Canadá muitas vezes com Wade, mas daquela vez era uma emoção nova de estar indo sozinha, principalmente por uma chance como aquela. Precisava lembrar de no avião olhar as notas em seu celular onde haviam algumas melhorias para sua apresentação que havia feito junto com Wade (relutante) noites antes.

Colocou o fone de ouvido, e viu a estrada passando por ela como um borrão, porque fora isso que ela se tornaram em menos de segundos. Um belo borrão que se passara pelos seus olhos, enquanto todo seu corpo retesava com o peso que adentrou seu coração.

O carro rodou para o lado múltiplas vezes, inebriando sua visão e fazendo com que sua cabeça fora de encontro ao vidro que quase estilhaçou com a força que atingiu, mas que não fizera tanto dano, já que ela tivera tempo o suficiente para tentar cobrir uma parte com as mãos. Sentiu o sangue jorrar em sua cabeça e em suas mãos, e um soluço se prendeu em sua garganta antes que pudesse ver qualquer coisa. O carro rodava tantas vezes ao longo que iria desabando por entre aquela pista coberta por árvores longas o bastantes para amortecer a queda, e ao mesmo tempo piorá-la. Em sua cabeça, ela jpa pensava que nunca teria fim, aquela dor seria eterna. Ainda estava consciente, mas não entendia como podia estar viva depois de todo aquilo que estava passando. Não compreendia como poderia ainda estar ali.

Tentou soltar a respiração, mas o máximo que conseguiu foi um soluço que veio junto as lágrimas que sempre teve dificuldade de deixar vazar. Tateou suas mãos cobertas por uma fina camada de medo e sangue, e as colocou em sua a cabeça que pingava uma cor vermelha espessa que inundou seus dedos em menos de segundos manchando a sua aliança tão brilhante.

As lágrimas descerem com mais precisão desta vez, e tentou desviar os olhos de suas mãos que estavam vermelhas e mortais. Olhou para o lado e viu que Mariana não deveria mais pertencer aquele mundo. Sua cabeça tinha se estilhaçado contra o vidro com uma força tão grande que não havia como não ter sido imediato. Aquela era a garota que havia feito faculdade com ela, que tinham gritado por horas ao conseguir um emprego juntas. Aquela era sua melhor amiga, e bem ali, com a cabeça pendendo sobre o vidro, com sangue pingando nas suas vestes, ela estava morta, e não havia nada que Lorena pudesse fazer para tentar salvá-la.

Olhou para frente, e viu que Matheus se debatia como ela em uma tentativa falha de se livrar de um galho de árvore preso em seu corpo sem a menor misericórdia. Ele chorava, e soluçava, enquanto a dor parecia ser tão maior quanto a sua, mas ela não conseguia fazer nada. Estava presa no mesmo lugar, com as pernas sendo massacradas pelo banco de Liz, a mesma que não dava o menor sinal, contudo, Lorena não sabia se ela estava desmaiada, ou se tinha sido cortada ao meio pelos galhos que haviam penetrado o carro, e em Matheus.

Tentou pressionar a porta para sair, mas ela estava presa ali dentro, com o banco prendendo suas pernas, as quais ela conseguia sentir o sangue escorrer. A dor era imensa, ela mal conseguia pensar, mas sabia que para sair daquela viva, a única maneira era tentar contatar alguém. Tentou conter as lágrimas, mas era uma tarefa que ela nunca teria ênfase. Soltou um suspiro, e esticou os braços para pegar o celular que tinha ido parar nos pés da falecida Mariana. Seu corpo todo gritava de dor enquanto ela desprendia suas pernas em carne viva, e ela finalmente conseguiu segurar o celular, inundando-o de sangue assim que o colocou entre suas mãos submersas. Os dedos tremiam, mas ela conseguiu fazer um bom trabalho ao discar o número da emergência, que a atendeu quase de prontidão, e assegurou que em breve eles estariam ali. Ela não sabia se tinha todo aquele tempo.

Um barulho correu por fora do carro, e seu coração parou. Ela não sabia qual tinha sido a causa do acidente, mas provavelmente deveria ter sido algum animal que agora estava fazendo barulho la fora, era a única coisa que fazia com que seu coração não se enchesse com mais medo do que ele estava agora. Ela tinha que manter o foco de que não havia mais nada para temer, e que em breve ela estaria fora de toda aquela situação nos braços de Wade, do qual ela nunca mais sairia. Não queria mais saber de empresa com filial no Canadá, não queria saber de mais nada, a não ser ficar segura novamente.

Discou o número de Wade, e em meio aquele silencio todo, conseguiu ouvir o barulho que indicava que a ligação estava sendo efetuada. A voz de Wade surgiu do outro lado da linha, mas ela não conseguiu dizer nada, seus olhos estavam cobertos por camadas e mais camadas de lágrimas ao ainda conseguir escutar sua voz. Escutou o som de galhos sendo cortados lá fora, com vozes trocando palavras, e soltou um soluço tão alto que neste instante a voz de Wade se tornou menos desleixada.

— Lô? — Tinha suplica. — Fale comigo, pelo amor de Deus. O que está acontecendo? Onde você está? Por que está chorando? Lorena, fale comigo, pelo amor de Deus, eu estou te implorando, fale comigo.

— Ela está viva. — Conseguiu ver um rosto borrado por entre as folhas da árvore que havia perfurado seu carro.

— Amo você. — Soluçou para Wade do outro lado, que gritava, e pedia para ela parar com aquilo.

— Não, Lorena, não fale isso como se nunca mais fosse dizer, por favor, fale comigo, onde você tá? — Os gritos de Wade só pesavam seu coração.

— Amo você mais do que tudo, mais do que qualquer coisa na minha vida, amo você, amo você, eu amo você Wade, amo muito muito você…

— Lorena, Lorena, Lorena, pelo amor de Deus, Lorena…

— Amo você, Wade, amo, amo, amo, amo você, amo você demais, amo você.

Wade suplicava e gritava do outro lado da linha para que falasse qualquer coisa, mas ela não conseguia. Aquelas palavras eram reconfortantes para ela, aqueciam seu coração mais do que tudo. Seu corpo fora desligado instantes depois. O pânico entrou em ação e conseguiu fazer com que todo seu cérebro fosse desligado para que ela não compreendesse o que viria a acontecer com ela, sabia que estaria morta em alguns minutos. O sangue saia aos montes de seu corpo, era simplesmente impossível sair dali viva, era impossível sair dali com alguma esperança. Deixou seu coração fazer seu ultimo trabalho, ao mesmo tempo que sentiu no topo de sua cabeça um beijo fraco rodeado de amor. Um cheio confortável de menta, e algo cítrico rodeou sua respiração, e ela sorriu quando os braços fortes a envolveu e a puxou para mais perto. Tudo isso ia acontecendo lentamente, enquanto no mundo real, ela simplesmente não existia mais.


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Notas finais do capítulo

vejo vocês no próx cap, essidoixx ♥