Silver escrita por Isabelle


Capítulo 14
Capítulo 13 – Charlie


Notas iniciais do capítulo

"Se alguém
Já lhe deu a mão
E não pediu mais nada em troca
Pense bem, pois é um dia especial"
— Cidadão Quem



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Um barulho estrondoso vinha da porta, mas não da porta do apartamento de Wade, da porta do meu apartamento. Dormir com ele tinha se tornado um habito tão inofensivo que eu continuei fazendo isso por toda a semana, contudo planejava parar assim que ele voltasse de viagem, não pensei que naquele sábado de manhã quando eu abrisse a porta do apartamento de Wade minha mãe estivesse parada na porta do meu apartamento com uma mala encarando a minha porta. Também não esperava que ela virasse para me olhar, me encontrasse usando uma camisola que mal conseguia cobrir a popa da minha bunda, e era um tanto transparente. Eu realmente não pensava que numa manhã de sábado qualquer meu rosto seria coberto por uma camada vermelha.

— Charlote? — minha mãe olhou para mim, meio confusa, encarando a porta do meu apartamento e depois alternando para o número no papel. — Seu apartamento é ai, e eu estava me enganando esse tempo todo? — Ela soltou uma risada. — Imagina só, estou atrapalhando o pobre ser humano desse apartamento a dormir.

Olhei para ela com o olhar totalmente envergonhado, mas não achava que ela tinha captado isso. Queria poder me embrulhar em um lençol ou então voltar no tempo e ter dormido com a camiseta de Wade que eu havia roubado, e era muito mais decente que aquele pijama. Contudo, eu não tinha feito sabias escolhas.

— Está tudo bem? — minha mãe estralou o dedo no meu rosto me acordando de um devaneio. — Você está toda corada.

— Claro, sim, está sim, e não, meu apartamento continua sendo esse aí. — Eu disse, e sorri abertamente para ela. — É só que essa noite eu…

— Charlie, quem tá na porta? — Wade saiu do quarto usando nada além do que uma calça moletom, mas do que perfeito, combinando extremamente com meu pijama, causando uma ótima impressão a minha mãe.

Passei a mão no meu rosto e fitei o olhar que ela tinha no rosto. Não pensem que minha mãe era esse tipo de mãe severa que iria agora me dar um sermão gigante sobre como era indecente eu estar no apartamento de um homem com aquelas vestes antes do meu casamento, porque ela realmente não era.

— O que é isso, Charlote? — Ali estava o olhar acusador.

Não que ela fosse extremamente puritana, como eu já disse, ela não era. O problema é que ela apenas nunca havia me flagrado numa situação daquelas, principalmente usando uma camisola como aquela, com ela me olhando daquele jeito eu tentei imaginar o quanto Wade deveria ter ficado me secando, mas isso nem me ocorreu na hora. O fato que deveria mais ser recordado era que eu simplesmente não havia feito nada com Wade, absolutamente nada. Eramos só bons amigos que tínhamos dormido juntos, porque eu ainda estava tendo pesadelos, ou bem, era o que eu continuava dizendo para mim.

— Não é nada do que a senhora está pensando. — Eu fechei a porta na cara de Wade, e abri a porta do meu apartamento, convidando ela para entrar.

— Como aquela vez que você e André ficaram na casa a noite, e quando eu cheguei vocês falaram, “não aconteceu nada”. — Ela imitou nossas vozes de um jeito péssimo. — E então no outro dia, você me contou que tinha perdido a virgindade?

— Praticamente, só que dessa vez, realmente não aconteceu nada.

— Charlote, olha o corpo daquele homem, você está me dizendo que ficou a noite inteira no apartamento dele, e você ainda me diz que não aconteceu nada? — Ela olhou pasma. — É impossível, você não pode ser tão lenta assim, deve ter puxado sua tia Ana, porque a mim, não foi.

Soltei uma risada, e a abracei, senti o cheiro doce que ela tinha, e era quase como estar em casa novamente. Meu peito se inchou com uma sensação boa

— Número um, não estou ficando com Wade, ele é meu vizinho me acolheu depois de eu quase… ser abusada por um total estranho, com o qual eu também não queria ficar. Número dois, eu estou tão feliz por você estar aqui.

— É claro que eu estaria aqui, seu aniversário é quarta eu não perderia por nada.

— Poderia ter vindo sábado que vem, teria mais tempo de arrumar tudo.

— É, mas sábado que vem é aniversário de 50 anos da Vera, e ela vai fazer uma festa com tema de boteco e tudo mais, você não queria que eu passasse a noite de uma festa ótima no seu apartamento comendo pipoca e vendo filme com você, certo?

— Obrigada, mãe, por ser sempre tão carinhosa comigo. — Eu sorri, e ela me deu uma piscadinha.

— Mas então, o vizinho gato, quero saber tudo sobre ele. — Ela colocou a mala na sala, e sentou-se num dos bancos na frente do balcão. — Estão juntos? Já se beijaram? Com certeza vocês já se beijaram, eu sinto a química. E esse pijama, sério que vocês não fizeram…

A porta do apartamento se abriu de uma vez e Wade atravessou a sala nos encarando. Minha mãe agora pode simplesmente analisá-lo do jeito que eu temia que ela faria, e bem ela fez. Planou os olhos nos cabelos pretos bem cortados, e foi descendo analisando o rosto que ao mesmo tempo que tinha um ar jovial, também parecia ser bem mais velho principalmente com aquela barba rala espalhada pelo rosto. Ele agora usava uma camiseta verde-água, mas continuava com a calça cinza de moletom. Seus olhos castanhos passaram por cima da minha mãe e por cima de mim, e ele abriu um sorriso fraco sem realmente saber o que fazer.

— Olá. — Ele fez um aceno com a mão. — Acho que essa deve ser a sua mãe, ela tem a sua cara. — Ele disse. — Ou você tem a cara dela.. — Ele gaguejou um pouco e não me contive ao soltar uma risada leve.

— Então, vocês dois estão juntos a quanto tempo? — Ela olhou séria para ele, também usou sua voz brava, uma que eu nunca conseguia levar a sério. — Você pretende se casar com ela espero, porque depois dela passar a noite no seu apartamento, não espero menos que um casamento..

— O que? — Ele gaguejou um pouco e foi dando passos para trás. — Nós não… Eu não..

— Mãe, este é o Wade, ele é meu vizinho. — Eu peguei um pão no meu armário, e abri a geladeira pegando a margarina que havia. — Wade, está é Angelica, minha mãe, ela gosta de fazer brincar com as pessoas.

— Oh, muito prazer. — Ele estendeu a mão.

— Wade era o vizinho que eu te falei que me salvou do abusador.

— Wade é o garoto que por algum motivo que eu não consigo imaginar colocou a camiseta de volta. — Ela pegou a mão que ele estava estendendo, mas logo após soltou.

— Não se preocupe, ela é assim mesmo. — Eu dei de ombros enquanto passava margarina nos pão. — Mãe, você faz o café ou Wade faz?

— Wade, quero saber se ele é um candidato bom para casar com a minha filha. — Ela abriu um sorriso leve para ele, e ele ficou um pouco tenso, mas também soltou um sorriso tentando adentrar as brincadeiras.

Os olhos da minha mãe eram exatamente da mesma cor que o meu, o que tornava mais fácil reconhecer que eramos mãe e filha exatamente pelos olhos. O cabelo dela estava solto com suas luzes brilhantes e hidratadas. Havíamos pintado juntas, contudo o processo havia sido bem mais fácil que o meu, pois seu cabelo já era meio cor de areia, ela apenas fez umas luzes para clareá-lo. Já o meu, era preto como o do meu pai e torná-lo prata, não fora nada fácil.

— Vai lá, Wade, mostre para ela seus dotes culinários. — Eu o zoei. — Quando conheci Wade, ele tentava fazer uma sopa com batatas não descascadas na panela, mãe, mas o café dele é aceitável.

— O que? — Ele deu risada. — Você é simplesmente viciada no meu café e apenas não admite. — Ele cutucou minha cintura trazendo seu corpo para bem perto de mim, e eu apenas dei um pulo e o empurrei.

Minha mãe apenas nos observava e eu realmente queria poder fazer com que ela parasse.

— Então se conheceram quando? — Ela perguntou.

— Na noite em que eu levei um chute na bunda do meu namorado atencioso, Wade estava sentado na minha porta. — Eu sorri para Wade sem mencionar a parte que ele estava extremamente bêbado, que me retribuiu com um sorriso tímido. — Que na verdade estava dormindo com Dani, aquela amiga que eu tinha te falado.

— O que? — Ela falou para mim com os olhos cheios de fúria.

Era simplesmente maravilhosa a relação que eu tinha com minha mãe. As vezes ela poderia ser meio grudenta e superprotetora, principalmente agora que eu morava longe dela, contudo, nossa relação era a melhor possível. Eu realmente contava a maior parte das coisas para ela.

— Não acredito que André fez isso. — Ela me disse horrorizada. — Eu te avisei sobre aquele menino, não avisei? Disse para você que era impulsivo se mudar e bla bla...

— Mas se eu não tivesse me mudado não teria conhecido meu super amigo Wade.

Dei um sorrisão para ela, que me olhou como se aquilo não fosse um argumento válido.

— Eu não quero outro sermão, eu quero..

— Um sorvete de limão? — Minha mãe disse.

Senti o olhar de Wade por cima de mim no mesmo instante. Não havíamos mais falado sobre a noite que eu havia contado aquela historia para ele, nem mesmo dado

a mão como daquela vez. Nós dois simplesmente ignoramos os sentimentos que berravam a nossa volta, e fingimos que aquela noite tinha sido apenas um sonho bom.

— Isso. — Eu disse mordendo o pão. — Isso é uma ideia fantástica, nós podemos almoçar naquele restaurante chinês, que eu sei que você adorou. — Dei uma piscadinha falando da garçonete. — E podemos tomar sorvete depois.

— Por mim parece ótimo, já que vocês dois acordaram na hora do almoço, e ainda me dizem que não fizeram nada noite passada, — ela disse baixinho a ultima parte — mas Wade não tem nenhum compromisso?

— Wade não faz nada da vida dele, eu nem sei como ele mantém aquele apartamento.

— Não te importa.— Ele disse, se lembrando que fora o que eu disse quando nos conhecemos, enquanto coava o café. — Cuida da sua vida, curiosa. — Ele abriu um sorriso.

— Grosso, espera você precisar de alguma coisa. — Eu ri, e ele riu também.

— Bem, motivos me fizeram parar de trabalhar, e minha mãe me mantém, e por isso sou tratado como um adolescente, mas logo voltarei a trabalhar, e tudo ficará bem novamente. — Ele me deu uma piscadinha.

— Mas então, isso significa que vamos almoçar no restaurante ?

— Sim. — Wade disse. — E podemos chamar Alex para jantar a noite, como um jantar de aniversário. — Wade sugeriu, e eu assenti. — Eu cozinho.

— Desde quando você cozinha?

— Não me insulte assim, Charlote. — Ele disse com um sotaque um tanto sofisticado.

Eu o abracei levemente sem perceber que os olhares da minha mãe adentravam por nós como uma faca bem afiada. Após tomarmos o café, ele foi direto para seu apartamento trocar de roupa, enquanto eu tive que ficar ali, com Dona Angelica falando sobre todos os motivos pelo qual ela tinha adorado Wade, e eu ouvi bastante vezes a palavra abdômen. Coloquei uma calça azul que eu tinha ganhado no meu aniversário do ano passado, e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Minha mãe tinha uma idealização de eu querer me arrumar toda, e mesmo que ela não falasse em voz alta, eu sabia que era para causar uma boa impressão em Wade. Se ela soubesse que ele havia me visto acordar todos os dias aquela manhã, com bafo, e o cabelo totalmente desarrumado, ela realmente pararia de jogar perfume em mim.

Abri a porta do apartamento, e me deparei com Noah, Cely, e Wade prestes a bater na porta. Olhei para todos eles, e sorri fracamente, principalmente para Noah que me olhava com aquele olhar de falso interesse só para me irritar, como o idiota de sempre. Ele era ruivo, um ruivo alaranjado, com um sorriso sacana. O rosto quadrado trazia belos olhos verdes, de uma tonalidade bem diferente dos meus, o dele era bem mais verde. Um verde mais vivo. Minha mãe já trouxe um olhar interessado para mim e para Noah, e eu realmente queria gritar para que ela parasse de me shippar com qualquer coisa viva.

— A que devo a honra?

— E ai, doce? — Noah disse, e eu quase soltei uma risada.

Minha mãe e eu saímos do apartamento, e eu o tranquei, voltando a olhar para todos eles.

— Will e eu ainda podemos contar com você hoje, não é, Charlie? — Cely sorriu docemente. — Noah afirma que não tem nenhum problema em cuidar de Mandy, mas não me sinto segura com ele cuidando dela.

— Ei. — Noah debateu. — Muito obrigada pelo voto de confiança. — Ele disse bravo.

Eu tinha simplesmente me esquecido totalmente, realmente queria sair aquela noite, com Alex, Wade, e minha mãe para jantar, mas simplesmente tinha me esquecido totalmente da pequena Mandy.

— Claro. — Eu sorri para ela. — Claro que pode.

Minha mãe tentou intervir, mas Wade fez isso para ela.

— Mas e o nosso jantar de aniversário? — Wade disse.

— Espere, você estão namorando? — Noah pareceu confuso. — Pensei que seu namorado era outro, ou vocês terminaram? — Ele parecia estar se perdendo nas suas palavras. — Espera, você já arrumou outro? E vocês já estão fazendo aniversário?

Fiz um sinal de silencio para Noah.

— Podemos jantar amanhã, não é mesmo? — Eu sugeri, tentando não demonstrar minha decepção.

— Olha ai, Cely, vai estragar o jantar de aniversário de 2 dias com o namorado novo. — Noah bufou, fazendo uma cara irônica de desapontamento.

— É meu aniversário, seu estupido. — Eu disse, e ele se jogou em cima de mim, me abraçando.

— Oh meu Deus, parabéns, muita paz, saúde, amor, eu, dinheiro, harmonia…

— O que você disse? — Eu questionei ele, pensando não ter ouvido direito.

— Harmonia?

— Não, Noah, antes disso.

— Dinheiro? — Ele me olhou meio duvidoso.

— Não, Noah, antes disso… — Eu olhei para ele, e via que todos nos observava.

— Amor? — Ele disse. — Que equivale a mim?

— Noah, se você não parar vou pedir para polícia um mandato para você não poder chegar mais perto de mim.

— Gata, eu sou a polícia. — Ele revirou os olhos.

— E meu aniversário não é hoje, é quarta, minha mãe veio porque ela trabalha e ai..

— Oh meu, Deus, Charlie, nunca pediria para você abrir mão de um jantar com sua mãe que veio de longe te ver. — Ela sorriu. — Parabéns, Noah, o trabalho é seu, se fizer qualquer coisa contra minha filha, você vai se ver comigo. — Ela disse saindo, levando Noah, com ela.

— Podemos ir? — Minha mãe disse, e Wade assentiu.

Almoçamos no restaurante, e infelizmente para Wade a garçonete não estava lá, não que ele realmente parecesse notar. Minha mãe e Wade conversavam super bem, até ela precisar sair por um instante para atender um telefonema, após isso, ela voltou e trocou algumas palavras com Wade que não foi tomar sorvete conosco, mas sim voltou para o apartamento. Fiquei assustada pensando no que ela poderia ter dito para ele, mas apenas tomei meu sorvete quieta.

Voltamos para o apartamento onde eu e minha mãe ficamos debatendo sobre minha vida na cidade. Ela realmente vira que eu estava bem e se sentiu orgulhosa por ver que André já era totalmente outra página para mim, eu esperava do fundo do meu coração que isso não era totalmente verdade, e que André só estava realmente saindo porque eu sem querer estava deixando Wade tomar seu lugar.

Deixamos a noite cair e nos arrumamos para encontrar Wade. O cheiro que vinha do seu apartamento parecia realmente bom, e eu estava impressionada por isso, ainda mais depois do episódio das batatas não descascadas na panela.

Atravessamos o corredor, e batemos na porta com grande expectativas, principalmente minha mãe que tinha achado Wade um garoto ótimo. É claro que eu nunca cheguei a mencionar as circunstancias que haviamos nos conhecido.

— Ei. — Wade abriu a porta, e eu desmanchei, simples assim, como uma poça de água no chão.

Ele havia movido a mesa de lugar e colocado ela em um lugar bem debaixo de uma lampada o que eu não tinha entendido muito bem, já que ela estava apagada, e haviam velas acesas dando uma tonalidade mais misteriosa para o jantar, mas entendi depois, quando eles me fizeram sentar exatamente na cadeira onde a lampada estava exatamente redirecionada, e acenderam a luz, acusando dizer que era minha noite, e o brilho deveria ser meu. Contudo, antes disso, ainda parada a porta, eu observei as flores a mesa, eram tulipas, as minhas favoritas, os balões pretos e brancos presos na parede e até mesmo a trilha sonora ao fundo que eu reconheci sendo The XX, umas das minhas bandas favoritas. Achei estranho Wade saber todas essas coisas sobre mim, e olhei acusatoriamente para minha mãe.

— Não me culpe, não disse nada dessas coisas para ele. — Ela levantou os braços como se fosse inocente.

Sorri para ela lentamente, e vi o quão bonita ela estava naquela noite mesmo estando apenas em uma saia preta com uma blusa meio indiana despojada nos ombros. Não me lembrava de ser tão parecida com ela.

— Então, como você soube? — Eu perguntei assustada.

— Bem — Wade pegou minha mão e me empurrou para dentro. — Nós temos uma surpresa para você.

Alex olhou para mim com um sorriso lateral e eu olhei assustada para eles. Realmente eles etavam me deixando nervosa com aquele papo de surpresa, quando de repente, ela saiu de dentro do quarto do Wade, usando uma calça jeans, e uma blusa regata listrada de azul e branco. Soltei um grito e pulei para cima de Gabi de uma forma que toda a saudade no meu peito pudesse vazar lentamente enquanto nos abraçávamos. Gritei com ela e nós ficamos ali nos abraçando enquanto gritávamos uma com a outra, e pulávamos. Deveria ser uma cena bem engraçada de se ver, mas eu não me preocupava.

— Terminou com André e não me contou. — Ela se afastou e me deu um tapa de leve.

— Mil desculpas? — Eu disse, e a abracei de volta. — Se te consola eu não queria que ninguém soubesse.

— Fiquei magoada quando um estranho teve que me contar o que está acontecendo na sua vida. — Ela sorriu meio tímida para Wade, e ele apenas sorriu de volta, indo até a cozinha de onde o cheiro ótimo estava vindo.

— Me desculpe mesmo, Gabi, me desculpe, mas você ficou sabendo da história..

— Com a Dani? — Ela gritou lendo minha mente. — Fiquei indignada quando o garoto estranho ali me contou. — Apontou para Alex e suas bochechas coraram muito forte. — Qual o seu nome mesmo?

— Alex. — Ele disse, e sorriu abertamente para ela, o olhar dos dois estavam conectado por uma linha que eu teria que comentar após sairmos dali.

— Enfim, como você está? — Me envolveu em outro abraço.

— Realmente? — Desabafei. — Estou muito bem.

Ela apenas sorriu e fomos para a mesa. Mal tive tempo de trocar muitas palavras com Wade, pois estava tão focada em Gabi que acabei me dispersando. Sentia tanta falta dela, que ter ela ali juntamente minha mãe e com as pessoas que haviam se tornado extremamente importantes para mim, simplesmente enchia meu coração com uma coisa tão boa que eu nem sabia como agradecer por aquele momento.

ade realmente me impressionou no jantar, ele tinha feito uma lasanha que eu mesma não teria feito melhor, e ainda tirou sarro da minha cara. Alex e Gabi tinham uma sintonia que eu não estava entendendo, os dois riram a noite toda praticamente e Wade mesmo trocava olhares acusando-os para mim, eu apenas sorria e assentia com a cabeça.

No fim do jantar, um bolo fora tirado da geladeira e eu apenas não soube onde enfiar minha cara. Senti que todo meu corpo tinha ruborizado, ainda mais quando o olhar de Wade ficava tão preso ao meu. Eles cantaram parabéns e eu tive que me conter ao abraçar todos eles para ter certeza que meu coração não explodiria de tanta felicidade.

Após comermos o bolo, eles inventaram de me entregar presentes. Alex havia me comprado uma blusa com um gatinho, que ele afirmava ter achado a minha cara. Apenas sorri, e concordei, era realmente a minha cara. Gabi tinha me dado uma calça jeans, e minha mãe disse que o meu presente era meu apartamento, e que eu ficaria no mínimo uns anos ainda sem ganhar presente, aquilo me trouxe memórias. Ri lentamente acompanhando todos e após isso soltei um suspiro dolorido ao perceber que havia uma pessoa faltando naquele jantar, e que todos os anos sem a presença dela naquele dia era simplesmente desesperador.

— O que foi, querida? — Minha mãe notou o olhar que ameaçava deixar lágrimas caírem.

— Nada. — Voltei a sorrir, espantando as lágrimas para longe de mim, não precisava e nem queria falar sobre aquilo na frente de todo mundo. Principalmente de Wade e Alex que não sabiam de nada. — Eu só… Eu só estou tão feliz.

Todos eles olharam para mim, e meu coração derreteu.

— É a minha vez. — Wade abriu um sorriso, e foi até seu quarto, voltando de lá com um papel de embrulho quadrado que me lembrava muito a um livro.

Sorri sem graça, e abri o embrulho, me deparando com o livro “a hora da estrela” da Clarice Lispector. Meu coração simplesmente explodiu. Eu amava aquele livro, com toda a força do meu coração, mas nunca tinha parado para comprar, havia tido que ler uma vez na escola, e depois de ler acabei me apaixonando. Até mesmo pensava em usá-lo no meu TCC no próximo ano, e sabia que teria que comprá-lo, mas Wade simplesmente havia lido meu interior e me dado uma parte de mim.

— Como… — Eu coloquei a mão na boca.

— Não é aquele livro que você amava na escola, e ficava pedindo para eu ler? — Gabi disse e eu realmente fiquei impressionada por ela se lembrar de uma coisa daquelas.

Eu assenti lentamente.

— Eu simplesmente pensei que você falou sobre seu TCC e aí... — Ele parecia estar tão sem graça quanto eu.

Depois disso, fora quase impossível olhar para o rosto de Wade sem que eu corasse logo após, e dei graças quando minha mãe sugeriu que fossemos embora, pois Gabi e ela tinham tido um longo dia de viagem. Acompanhei elas até a porta, mas Wade segurou meu braço lentamente antes que eu pudesse entrar no apartamento. Elas fecharam a porta para nos dar mais privacidade, mas eu quis rir daquilo. Sabia muito bem que ambas estariam com o ouvido colado na porta para saber sobre o que estávamos falando.

— Espero que você tenha gostado, foi meio de improviso…

— Wade, eu só, nossa quero agradecer de todo fundo do meu coração. — Tombei a cabeça. — De verdade, ainda mais que você tem que arrumar as suas coisas para viagem.

Um sorriso leve surgiu no seu rosto, e ele pegou minha mão colocando algo nela, depois apenas se virou e voltou para seu apartamento. Guardei o papel no bolso, e entrei no apartamento, desviando qualquer assunto que surgisse sobre Wade e eu, ressaltando que tinha que arrumar lugar para que elas dormissem. Isso fez com que ambas distraíssem suas mentes e conversassem sobre outra coisa qualquer. Não ousei ler o papel até que todas estivessem dormindo na sala, e eu me encolhesse na minha cama, a qual tinha oferecido para minha mãe, mas ela apenas recusou. Abri o papel e li as palavras borradas:

Duas da manhã de segunda-feira no estacionamento.

Não entendi muito bem, mas apenas me virei e fechei os olhos, deixando aquelas borbulhas do meu estômago dançarem.


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