Beatriz escrita por Revoltada


Capítulo 3
1º Lição


Notas iniciais do capítulo

Oiieee coelhinhos,
Obrigada pelos comentários do último capítulo, como podem perceber coloquei de novo as palavras nesse capítulo.
Bem vindo para os news!
Aproveitem ♥



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Beatriz saiu do banheiro balançando os quadris de um lado para o outro, dançava ao som de "can't remember to forget you" e cantava unindo a sua voz com a voz da Shakira. Sua cabeça ainda doía do acidente da manhã. Passou a mão pelo pescoço massageando-o,  respirou fundo, precisava conversar com o seu pai. Por que ele nunca disse que ela tinha um avô? Ela também nunca chegou a perguntar, mas isso não era uma desculpa. Será que teria uma avó também? Tios? Primos? Ela só conhecia o seu pai, ele foi a sua única família por muitos anos. Seus avós paternos não ligavam muito para ela nem para  ele. Eram muito ricos, enquanto o irmão mais velho de seu pai seguia o caminho da família, ele se afastou para trilhar o seu próprio futuro casando-se. 

Jogou a toalha na cama e vestiu um vestido leve e solto, penteou seus cachos ainda molhados e deitou-se na cama soltando um suspiro. Sua cabeça estava explodindo com tanta informação e não sabia o que sentia, o que deveria sentir. Com o celular na mão, navegou pela internet em busca de alguma receita para fazer pro senhor Constantino que viria amanhã. Melhor, para o seu avô!  

"Hmm... tortas, cookies, bolos...", Bia lia com os olhos as categorias, parou na última e clicou institivamente. Não era muito religiosa, porém era bastante sensitiva, tinha algumas superstições, apesar que crer no destino não era uma delas. E no momento achou que um pouco de crença não mataria ninguém. Estava decidido, faria um bolo. "Agora só falta decidir o sabor!". 

— Papai! — ela gritou do seu quarto, já se levantando e indo procurá-lo. 

— Catarina, eu não quero saber. Encontre alguém até quinta... você têm uma semana! Não... Não precisa, já arrumei um motorista, quero alguém para tomar conta dela e da casa... tudo bem, boa noite.  

Pietro desligou o telefone, não ouviu bia chamá-lo, nem mesmo escutou os seus passos quando ela entrou na cozinha e pegou parte da chamada. Se virou e tomou um susto com aqueles grandes e inquisitórios olhos. Ele escondeu a garrafa atrás de si, não queria que ela visse que ele estava bebendo. Sorriu e perguntou se ela estava bem, se precisava de alguma coisa a mais. 

— Só de explicações, e eu já vi a garrafa pai! Não precisa tentar esconder, mesmo porque o cheiro já te entrega. 

Ele soltou um suspiro e tomou um gole antes de colocar em cima da pia. 

— Sobre o Constantino? Sobre o porquê de eu não ter contado que você tinha um avô? Bia, você também nunca me pergunto... 

— Claro, você tirou todas as coisas relacionadas a mamãe da casa. Não deixou nada para que eu pudesse perguntar. E sobre isso eu perguntarei a ele amanhã. Com quem você falava? 

— Com a Catarina, a minha assistente, você conhece ela. 

— Sim, eu conheço. Por que quer alguém para cuidar da casa? Tá procurando por uma babá pai? Eu não preciso de uma babá! 

— Eu sei, meu bem. No entanto eu acho que uma pessoa para cuidar da casa seria muito bem vinda. Você precisa se preocupar em estudar agora, não ficar arrumando casa. 

— A gente já tem uma ajudante pai! Na verdade já temos uma ajudante, um jardineiro, o cara que olha a rua e principalmente um motorista! Esquece, você não vai colocar um motorista e uma babá só porque eu sofri um acidente hoje. Eu não sou uma criança mais, eu cresci e você nem percebeu. Ficou muito ocupado chorando por anos a perda de alguém que já se foi e acabou perdendo quem ainda está aqui! — a cozinha ficou em silêncio, ninguém se atreveu a pronunciar uma palavra. O peso das últimas sufocava aos dois. Com as lágrimas saindo, junto do arrependimento que chegava, a menina saiu correndo para o quarto batendo a porta atrás de si. 

O pai ficou lá, parado sem saber o que fazer. Só sentindo o peso das palavras. 

««« 

Abriu os olhos e pensou na noite anterior  "Por que eu disse aquilo? Merda!".  Levantou da cama sem muita coragem e caminhou calmamente até a cozinha. Em cima da mesa de café  tinha um bilhete e ao lado uma coca de vidro com coxinha. "Pelo menos é coxinha". Pegou o bilhete e começou a ler: 

 

"Eu não tenho desculpas para meu comportamento, apesar de inadequado. Sua mãe se tornou o que eu era de melhor, e perder ela foi como perder uma parte de mim mesmo. Não tem como eu te culpar por isso, por que afinal você se tornou a minha outra parte, aquela que ainda continuava intacta e lutava para voltar a viver. Ontem me lembrou de como é fácil perder alguém para morte, e me fez perceber que se você também se for, então eu também irei.  Irá me matar perder a outra parte que se resta de mim e principalmente a última parte que se restou da sua mãe. Porque querida, mesmo que você já saiba vale dizer: Você é um pedaço de mim e um pedaço de sua mãe. Na verdade, você é o melhor de ambos. 

Deixei a coca e a coxinha como um pedido de desculpa por tentar te arranjar uma babá. Mas eu ainda irei contratar um motorista, e ele é o meu melhor amigo, ele é a única pessoa pra quem eu tenho a coragem de confiar você. Então não discuta isso. Saí para lhe dar mais privacidade com o seu avô! 

Voltarei à noite, 

Do seu pai." 

Com cuidado dobrou o papel. Notou que havia voltado a chorar, se ontem aquele pequeno gesto mexeu com ela, esse nem poderia comentar. Comeu a sua coxinha e bebeu a sua coca. Arrumou a cozinha e separou as coisas que faria pro almoço, arroz com brócolis e file mignon, afinal seu avô estava vindo! Fez com o máximo de amor que conseguiu reunir, cozinhando tudo direitinho. Se lembrou de quando fora criança na hora de preparar a sobremesa. Optou por fazer um bolo de banana com gotinhas de chocolates. Pois o bolo no forno e após preparar a mesa subiu para tomar um banho e se preparar, estava animada em conhecer o pai de sua mãe.  

A campainha tocou no momento que passava um perfume, pegou o anel da sua mãe na mesma caixa de joias que colocará a carta do pai e desceu para atender. Constantino esperava com um grande sorriso e um buquê de orquídeas. Ela o abraçou e deu passagem, guiando-o até o jardim onde teriam o almoço. Bia agradeceu as flores e as colocou em um vaso para mais tarde plantá-las no jardim. Depois da refeição o avó agradeceu e elogiou a comida. 

— Você cozinha tão bem quanto sua mãe cozinhava. Na verdade, você parece muito com ela. 

— Obrigada, eu realmente gosto de cozinhar! Gostaria de fazer algumas perguntas, se não for incômodo... primeiro começando por: Posso te chamar de avô? 

— Mas é claro, querida. O que gostaria de saber? 

— Tenho mais família, como primos, tios, uma avó? 

— Receio dizer que não, sua mãe fora minha única filha. Sabe, sua avó foi uma linda mulher, mas como o seu pai, ela não aguentou a perda da única filha. Entrou em depressão e ficou  com a imunidade baixa, morreu dois anos depois da sua mãe. 

— Desculpa... 

— Que isso, a culpa não é sua. Não é isso que você pensa, não é? Não foi sua culpa, Beatriz. Sua mãe sabia dos riscos, e ela te escolheu. Todos nós sabíamos. 

A bia abaixou a cabeça tristonha, seu avô se levantou e a abraçou. Depositando um leve beijo no topo da sua cabeça. Se levantando ela disse meio nervosa: 

— Posso te mostrar algo? 

— Claro, por quê não?! 

Puxou um pouco mais a fundo do jardim, até que chegaram em um pequenininho bosque muito bem cuidado. Nele tinha uma lápida bem ao centro, com muitas flores. Constantino arregalou os olhos reconhecendo o nome, fazia tanto tempo que não via sua filha, que não falava com ela. Passou a mão pelos cabelos brancos e chegou mais perto, se ajoelhando em frente. Bia o seguiu e fez a mesma coisa. 

— Sabe vovô, eu tenho uma lembrança da minha mãe — ele olhou meio assustado para ela —, quando era um pouco mais nova ela costumava falar comigo aqui. Na última vez ela me fez prometer algo e que temo nunca conseguir. 

— O quê você prometeu? 

— Que eu lembraria o papai de como é sorrir, de como é ser feliz novamente... mas vovô, parece impossível.  

Ele não soube o quê fazer além de abraçá-la, tão nova e com um fardo que nem mesmo ela entendia. Ele não tinha certeza, no entanto achava que nem ela mesmo sabia como era ser feliz. Não podíamos ensinar algo aos outros que não sabemos sobre. Segurando seu rosto ele disse: 

— A pobre criança! Você precisa encontrar a sua própria felicidade antes de encontrar a dos outros. Não tem como ensinar  algo do qual não saiba. 

— E como eu faço para ser feliz? 

— Isso só você pode descobrir! 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Vamos lá ao joguinho:

Como já sabem, quem é novo deixem o nome primeiro nome.

1º Descreva em uma palavra a carta do pai para Bia;
2º Qual é o livro favorito de vocês.

O meu livro favorito é A menina que roubava livros.