Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 7
06; general Creta


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, esse sobre o nosso antagonista!
Espero que gostem... do capítulo, porque gostar de Homero vai ser díficil :V
Boa leitura :)



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06; general Creta

Quartieri Di Noblitá. 16/02/0165

Homero Creta sabia de sua posição no governo. Mesmo um membro da força militar podia puxar cordas, e Homero puxava várias, servindo muitas vezes como a ponte entre o estado doravante o exército, mediando as duas forças que pareciam sempre estar em desalinho, mas nunca abertamente discordantes.

Parado na frente do Palazzo Grassi, Homero esperou ter sua passagem liberada pelo segurança. Então adentrou no átrio principal. Ia se encontrar com Ortoclásio, um dos Cinque; na verdade, o sexto. Ninguém no grande cenário sabia de sua existência, todos conheciam apenas Feldspato, o irmão.

No átrio as colunas de mármore esbranquiçado sequer mostravam a idade que tinham, bem conservadas. O chão sob seu pé era atapetada com um grande e felpudo tapete bordo com fios dourados nas bordas e as paredes possuíam quadros que foram trazidos para lá da Rússia antes da guerra por um traficante de renome na época. Homero olhou para a escada bifurcada iluminada pelo sol que adentrava pelas claraboias no telhado. Ali, na escada, um homem o aguardava.

— Ainda bem que veio! — Era Ortoclásio. Ele usava seu casaco de flanela desenhado, calças de moletom e pantufas. Nem de longe remetia ao líder que comandava o show pelas sombras, escondido por trás dos holofotes, jogando a luz da culpa em quem convinha. — Tenho mais uma ordem para o senhor.

— A última foi muito ruim! — Homero disse com um humor fraco parado no pé da escada enquanto Ortoclásio descia seus degraus.

— Sim, acredito que tenham sido. — Ortoclásio respondeu sem muito interesse, se não se enganava, a última ordem havia sido sobre Domaha. — Meu irmão está em São Marco com os outros quatro, estão esperando minha ligação para dar sequência, e eu estou esperando seu consentimento.

— No quê?

— Os rebeldes invasores. Alguém precisa caçar eles, general. — Disse, sério e sombrio.

Então Ortoclásio o conduziu para um escritório aonde debateram por toda a tarde. Inúmeras discussões, esclareceu diversos pontos sobre o que os Cinque queriam e como Homero poderia conseguir.

Até que no fim da tarde, Ortoclásio recebeu a visita de mais duas figuras escoltadas; Diamante e Feldspato chegaram no palácio. Homero, assim como Ortoclásio, foi recebê-los no átrio. Naquela altura o General se perguntava se poderia negar aquele pedido, e se aquilo era um pedido.

Dama Diamante em pessoa havia aparecido para lhe informar os parâmetros da missão. E os dois irmãos estavam ali. Olhar Feldspato e Ortoclásio era como olhar para um espelho. Ambos eram idênticos.

Mas naquele momento, enquanto recebia as últimas informações, se perguntava outra coisa. O quão difícil pode ser caçar alguns rebeldes sem recursos?

A fama que recairia sobre seus ombros em caso de sucesso seria inimaginável. Os rebeldes que destruíram uma colônia, detido por Homero Creta. Pensava o General. Eles estão quebrados, sem armas, sem recursos, sem base de operações, cansados e desorganizados. Um ataque rápido e impiedoso será o bastante. A fama me aguardará. Me aposentarei deixando um legado eterno!

Então apertou a mão dos três ali, e sem mais, Dama Diamante e Feldspato os deixaram, com o pedido que Ortoclásio alinhasse os pontos finais. Então os dois foram ao terraço aonde tomaram chá no fim da tarde olhando Estado Cinque, ou a parte nobre. As ruas iluminadas e o movimento tranquilo eram sinais de paz, mas bastava olhar para o outro lado, para o Distretto Industriale, para ver as manchas negras de fumaça subindo no céu. Um contraste surreal. É lá que eles devem estar. Pensava Homero.

— Ainda assim, precisarei de tropas para caçá-los. McCoy não cederá soldados sem autorização do Fundador. Como pretende que eu encontre os rebeldes? — Perguntou enquanto terminavam o chá jogando uma partida de xadrez.

Ortoclásio olhou para Homero com um sorriso enquanto movia sua torre.

— Isso não será problema. Sei que está acostumado a comandar tropas treinadas para guerra, Homero, mas dessa vez não estará em uma guerra, é uma operação menor, mais discreta. Seria, inclusive, sensato de sua parte se lembrar disso. Quanto menos barulho melhor. Então veja bem, terá uma força especial sob seu controle, não homens treinados para matar. Além do que, queremos eles vivos… — Ortoclásio derrubou o rei de Homero, xeque-mate. Levantou-se da cadeira e estralou as costas, então sorrindo terminou; — Ao menos os líderes deles, o resto… se divirta!

 

Homero olhou para o chão. Um turbilhão de informações correu sua mente da conversa daquela tarde, a reunião, seu novo cargo, a ida durante a tarde na biblioteca de São Marcos, o acesso aos registros… tinha tanta coisa para ler, relatórios dos últimos cinco anos das Terras do Rei. Estudou tudo que pode, os primeiros movimentos contra o parlamento inglês, a invasão nos distritos nobres, a guerra em dois frontes, o sequestro do Rei, a invasão de Westminster, os roubos de cargas, das armas, os subornos, as ameaças às fábricas, os contratos com o mercado negro… precisava se habituar com o inimigo novo.

Enfim quando sua vista voltou ao normal ele estava sentado na mesa da sala de jantar, sua mulher de um lado e sua filha do outro. Já era noite e o dia havia corrido depressa, ainda estava apenas se preparando, mas mal via a hora de começar a caçar.

— Foi bom. — Respondeu sua esposa, que havia lhe perguntado como seu dia havia sido.

Homero já era um homem chegando aos cinquenta anos, seus cabelos outrora loiros agora já eram quase completamente brancos e sua barba era apenas espinhosa e grosseira. Os olhos tinham grande bolsas d’água embaixo, e o nariz parecia ter sido quebrado algumas muitas vezes (assim como vários outros ossos de seu corpo). Sua visão cansava fácil com leitura, e o dia de muita leitura havia deixando o General exausto e com dor de cabeça.

— Papai? — Uma menininha loira de olhos acinzentados disse encarando ele. — O que o senhor vai fazer agora?

— O papai ganhou outro trabalho para pegar outros homenzinhos maus. Agora vai dormir com o seu ursinho novo, querida.

— Tá bom, papai.

A menina se levantou da mesa educadamente, colocou o guardanapo na mesa ao lado do prato, empurrou a cadeira, foi até o pai e deu um beijo em sua bochecha. Foi até a mãe e repetiu a operação. E então foi para as escadas e sumiu.

— O que você tem que fazer de verdade? — A mulher perguntou farta da falsidade de antes, todos os sorrisos e conversas animadas.

— Ortoclásio me pediu para aceitar um serviço de prender os invasores. O próximo passo é avisar vocês, o serviço é perigoso, eu estou entrando nisso pelo que vem depois, se eu conseguir terminar essa missão vou ter ouro o bastante para não precisar fazer o resto.

— Resto? — Ela perguntou sem entender.

— Vou poder me aposentar, Mira. — Homero completou.

Mira, esposa de Homero por mais de vinte anos, olhou para ele com um falso olhar de felicidade que havia aprendido a emular. Estava cansada daquela vida, daquela rotina. Para ela quanto mais missões, melhor. Quanto mais longe Homero estivesse, melhor. A própria Mira já o teria deixado, mas para onde ir? Conhecia as histórias. Amaldiçoava a hora que decidiu se apaixonar por um militar. Sair de Estado Cinque seria, graças a seu esposo, impossível.

Então apenas resmungou.

— Mal vejo a hora de te ter em casa o dia todo!

Disse se levantando. Empurrou a cadeira que bateu na lateral da mesa. Homero pensou em todos os criminosos que tinha detido, tudo que tinha feito, as guerras vencidas, revoltas contidas… e agora não conseguia sequer manter seu casamento, ou pior, não conseguia mais manter as aparências, e para um homem com seu nível hierárquico naquela nova civilização, não manter as aparências podia ser um erro tão grande quanto ser um rebelde.

Ele temia perder Mira, mas já não sabia se havia como mantê-la. No âmago sabia já tê-la perdido, e isso o frustrava. Queria terminar logo. Se aposentar de uma só vez. Então, talvez assim, ambos pudessem seguir seus caminhos separados, mas não deixaria Mira partir antes disto, precisava dela e ela teria de entender isso.


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