Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 8
07; a nova lei


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo.
A história de Alayza segue firme e forte.
Assim como a revolução!



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07; a nova lei.

Rosa e Cravo. 17/02/0165

Alayza estava ainda desesperada com sua mãe naquele estado, e tal desespero a levou a tomar uma decisão perigosa. Corria puxando pela mão quem poderia lhe trazer um destino pior que a prisão.

— Calma, menina. — A mulher dizia sempre que tropeçava nas pedras soltas pela rua, usava um vestido longo de estampa florida que não ajuda na pressa de Alayza. O tecido tinha cores escuras, com bordados feitos a mão. Colares, pulseiras e brincos adornavam rosto e braços, a maquiagem forte não enganava, sombras nos olhos e cabelos trançados formando desenhos estranhos nos fios crespos. No ombro uma bolsa pendurada de couro batido. Correndo a bolsa ficava batendo contra sua cintura, o vestido farfalhando e ela tentando não pisar na borda enquanto Alayza a puxava, impaciente.

Era uma Nganga, e por si só isso era errado. Elas passaram pelas vielas da repartição de terra onde Alayza morava, já fazia duas horas desde o ataque que sua mãe tivera. Alayza não entendeu bem o porquê, ou o que, mas assim que sua mãe melhorou um pouco ela foi atrás de ajuda já que a ajuda não viria até ela. Nenhum tipo de hospital ajudaria, não de graça e ela não tinha dinheiro, não o bastante. Então Alayza foi atrás de uma das várias curandeiras chamadas de Nganga. Elas ajudariam, era parte da crença e dos deveres morais daquelas mulheres.

Alayza chegou em sua casa, e a porta de entrada já estava aberta, pois quando saiu correndo há vinte minutos não se lembrou de fechar, apenas correu.

Era uma casa simples, mais simples possível para não ser muito cara, tinha uma sala que dividia espaço com a cozinha, um banheiro e um quarto. A entrada era igualmente simples; um corredor do cortiço, onde morava desde sempre, felizmente sua casa era a primeira do corredor que se aprofundava alguns metros com mais cinco casas e uma praça redonda pequena com uma biqueira d’água no centro onde se podia pegar água de graça (não era água tratada, mas servia para lavar as roupas e a louça).

A Nganga entrou atrás de Alayza que apontou para a mãe que estava com os olhos semiabertos, vesgos, com olheiras, suada, o rosto ainda era de dor, porém travado feito pedra, imóvel. A respiração era lenta e fraca, o peito sequer se mexia.

— Aí… O que a senhora pode fazer? Vai ajudar ela, certo? — Alayza perguntou desesperada enquanto a Nganga se ajoelhava na frente da mãe de Alayza e a estudava com o olhar analítico. — Eu te dou tudo que eu tenho, não é muito, eu sei, mas eu tenho um pouco de Florins…

— Menina. — A Nganga se virou do nada e segurou os dois braços de Alayza. — Ela só se acalma se você se acalmar também!

Alayza olhou para sua mãe, que entre os olhares de dor possuía um olhar de preocupação com ela. Como pode estar preocupada comigo? Alayza não entendia, nunca entendeu como sua mãe sempre a colocava na frente.

— Mãe! — Disse em um choramingo, se abaixando e pegando a mão fria de sua mãe na sua.

Então a Nganga começou. Pegou coisas estranhas como luvas feitas de fibra de bambus, colocou nas mãos e começou a massagear atrás das orelhas da mãe de Alayza, com cuidado e delicadeza.

Alayza se sentou no chão, desnorteada, observando. Dois ou três minutos depois a Nganga se virou para Alayza e disse com uma calma surpreendente.

— Menina, você tem sálvia e erva cidreira aqui?

Alayza não fazia ideia do que era aquilo, ou para que serviam.

— Eu preciso abaixar a febre dela, ou ela pode piorar.

— Ela não está quente…

— Nem toda febre esquenta o corpo. Os braços e pernas ficam frios, o coração tá fraco, o corpo está economizando forças, por isso o frio nas extremidades. São as primeiras partes a morrer, sempre. O corpo sabe se proteger, ela está lutando. Mas não vai conseguir sozinha. Precisa da sua ajuda. Sabe o que são essas ervas?

— Não… não sei o…

— Sálvia e erva cidreira, são substâncias com um poder abrasivo muito forte para a febre, eu preciso que você vá buscar…

— Onde…

Uma interrompia a outra, mas a Nganga falava com ternura e calma enquanto Alayza tropeçava na própria língua.

— Meu irmão possui uma banca de legume e verduras do lado da entrada do armazém do Russo, sabe onde é? — Alayza fez que sim com a cabeça, conhecia Russel, homem insuportável que tinha arruinado sua família, e mesmo assim sua mãe gostava do indivíduo por algum motivo. — Ótimo, essas duas ervas não são permitidas pelo governo. — A Nganga disse pegando uma moeda de plástico bem maior que as normais, esta era cheia de símbolos estranhos, desenhos ritualísticos. — Mostre a ele, e ele vai lhe dar o que precisa.

— Eu… não tenho como pagar… é caro?

— Não vou te cobrar pelo que precisa para salvar sua mãe! — A mulher disse sincera e humilde. — Não vou te cobrar o que define a sequência ou o fim de uma vida. Mais vou te cobrar que traga esses dois ingredientes rápido, por favor, ou pode ser tarde demais para ela. Vá, vá agora e vá depressa!

Alayza fez que sim mais de quatro vezes com a cabeça andando de costas, quando chegou na porta a Nganga a chamou.

— E menina, não deixem os guardas verem essa moeda, ou as ervas, se não…

Alayza concordou sabendo o que aquilo significava. E quando percebeu estava correndo, desesperada, rua acima para o armazém de Russel. Entrou em um trem, o mesmo estava praticamente vazio se não por quatro pessoas caladas, havia lugar para se sentar nos desconfortáveis bancos de plástico duro e quebrados que sobravam naquele único trem, pois os bancos costumavam ter sido ou tirados pelo governo ou roubados pelo povo. Permaneceu em pé, o trem parou em uma das estações quando um homem fez sinal para subir.

Enquanto parado na estação, Alayza viu pela janela sem vidro do trem dois guardas saindo de dentro de uma casa com armas apontadas para a cabeça de duas crianças. Um terceiro guarda vinha com um homem algemado e um quarto gritava “aonde está a mulher?” enquanto as crianças berravam e o homem chorava em desespero.

— O que eles estão fazendo?

Disse para si mesma, mas o homem que acabou de entrar a respondeu com prontidão.

— É a nova lei, eles querem nos amedrontar e para isso vão matar qualquer um que tiver comida de mais ou comida escondida, malditos bastardos. A esposa dele fugiu com a comida eu acho. Não é justiça, é tirania, se quer saber o que acho…

O homem continuou falando e todos os poucos ouvintes do trem lhe dando atenção, Alayza, porém foi para o fundo do vagão, começava a suar. Eles logo chegariam na sua casa, e encontrariam uma Nganga, uma espécie de curandeira, fazendo rezas e superstições sob o corpo de outra mulher enferma. Bruxaria, doença, contágio, ervas, culto religioso, adoração. Ela listava os crimes que estavam cometendo naquele instante em sua mente, apenas para atormentar-se.

— Não! — Disse baixinho encarando os trilhos que passavam voando por seus pés nas fissuras das chapas de ferro fundidas de forma pobre no chão do trem. Pensou em descer e voltar, mandar a Nganga embora com sua moeda de plástico para evitar problemas, mas então quem cuidaria de sua mãe?

Quando desceu do trem perto do armazém saiu correndo novamente. Precisava alcançar logo os ingredientes e regressar, ou seria tarde demais, tarde para ela, tarde para sua mãe, para a Nganga, para todos.

Achou uma banca cheia de legume e mostrou à moeda apressada sem considerar que poderia ser a banca errada. O homem, um magricelo de barba fina que só existia no queixo deu um tapa na mão de Alayza jogando a moeda longe pelo chão da praça aonde pessoas andavam esbaforidas. O próprio homem já começava a desfazer sua banca.

— O que quer fazer? Matar-nos todos? — Disse ele olhando para dois guardas que passavam rapidamente. — Menina burra.

— Fechem o Armazém… Ordem dos Cinque. — O guarda dizia para um homem. — Senhor Russel, amanhã abrirá, hoje feche!

— E a perda de Florins, o governo vai querer eles…

— Tenho certeza que conseguirá repor, senhor. — O guarda argumentou, com certa educação. Russel não era, afinal, apenas um trabalhador. Ele era um empregador.

— Fechem o armazém agora! — Outro guarda mais severo disse com o revólver não letal na mão, se aproximando de Russel a fim de intimidá-lo.

Russo fez cara feia mandando seus homens puxarem a porta para baixo. Alayza analisou o homem por meio segundo, viu as portas se fechando quando um homem lá de dentro levantou a mão como um aceno. Alayza não entendeu, não soube se era para ela, as ruas estavam tumultuadas e cheias de guardas e pessoas correndo, outras caídas sendo algemadas gritando “não é meu, essa comida não é minha”.

— O que quer? — O homem de barba berrou para ela então. Alayza encarou-o de novo deixando o armazém para lá, retornando aos seus pensamentos, aos seus problemas.

— É… sálvia e erva cidreira.

Ele olhou em volta, chamou Alayza para o canto e sem nenhum senso de delicadeza levantou a camisa de Alayza até a cintura e enfiou um saquinho cheio de folhas verdes entre seu corpo e sua calça, na virilha.

— É para fazer um chá de uma xícara só com essa dose. Agora some!

— Espera! — Alayza olhou para ele confusa, se sentindo abusada, mas se sentiu no dever de perguntar. — Sua irmã é uma curandeira?

— Cala-te, burra. — Ele disse o mais alto possível, se aproximou e disse. — Uma Nganga. — Como se a palavra curandeira fosse-lhe ofensiva, ou para a irmã.

— Ela que me mandou, os guardas vão revistar minha casa, eu… vem comigo, me ajuda! Minha mãe…

O homem olhou para trás, prezando pelo seu negócio, mas assim como Alayza estava preocupada com sua mãe ele estava com sua irmã.

— Pelo sangue de Aweni, vamos logo. — Disse saindo correndo com ela deixando tudo para trás. Ele sabia que os guardas o confrontariam eventualmente, e ele teria de mostrar sua licença de comércio, forjada. Sabia dos riscos. Perder a banca de venda lhe soou preferível que ficar e perder a vida. Além do que, não pretendia perder também sua irmã.

Então Alayza e o vendedor retornaram à via principal, corriam. Procuraram um trem, mas nenhum apareceu. Naquele momento, enquanto corriam solitários nas vias cheias de pobres desesperados e casas em chamas, chamas estas ateadas pelos guardas, Alayza percebeu; chegaria atrasada demais para salvar sua mãe, ou cedo o bastante para se condenar junto dela.

E não conseguia decidir qual destino era pior!

*****

Atrás deles Grino saiu correndo junto de Ennie que tentava o impedir de qualquer jeito de seguir em frente.

— Não. — Ele se virou e segurou Ennie pelos braços, ela vibrou ouvindo uma palavra tão dura, o tom de voz não admitia debate. — Eu tenho que seguir ela! — Disse como se isso lhe fosse imposto por uma força maior, e talvez o fosse. Grino não entendia porquê, só sentia que devia fazê-lo.

Ennie não queria que ele fosse, seus olhos se encheram de lágrimas, ela teve certeza que fosse o que ele sentisse por aquela garota desconhecida era maior do que ele sentia por ela, e era apenas uma desconhecida.

— Cuida da barraca desse homem! — Ele disse soltando Ennie que ficou imóvel, sem noção de realidade. — Isso é uma ordem. — Disse para garantir que Ennie o faria, assim não o seguiria.

Ela, porém, só queria impedir que ele fosse pela segurança dele, de todos os rebeldes invasores. Aquilo era arriscar tudo sem razão real, mas Ennie não pode desobedecer, nunca pode. Sentia-se uma tola, mas ficou. Sabia que se o pior acontecesse, os rebeldes precisariam de uma liderança. Então ficou. Ficou com a raiva, o amargor, o amor e a dor, mas ficou.

*****

Alayza continuou correndo agora junto do irmão da Nganga que descobriu, chamava-se Paolo. Quando chegaram além da metade do caminho viram casas em chamas, pessoas mortas caídas no chão com sangue espirrado lá e cá e caos. Guardas atiravam para matar, não era mais mentira, não era treinamento, não era uma revista nas casas. Era terror, puro e total terror!

Alayza se desesperou, corria desajeitada e perdia velocidade e tropeçava em tudo querendo olhar ao redor para ver se alguém a seguia, se algum guarda lhe apontava a arma, se estava prestes a ser derrubada. O desespero tomou conta dela e seu medo era tão grande que passou da frente de sua casa e não se deu conta, apenas no final do quarteirão se virou.

— Eu esqueci, é ali. — Apontou para trás.

O irmão da Nganga se virou e olhou para onde a jovem apontava e na viela do cortiço cinco guardas adentravam o corredor estreito.

— NÃO! — Alayza saiu correndo desesperada rumo à sua casa. O irmão da Nganga também e passou dela na corrida, mais rápido, Alayza não viu como, mas quando notou, Paolo tinha uma faca em sua mão.

Os dois entraram e viram a Nganga de joelhos com as mãos na cabeça, a mãe de Alayza tremia como se estivesse tendo uma segunda convulsão, enquanto um guarda lhe apontava a arma ignorando o fato da mulher não estar em condições de revidar..

— Punição por prática ilegal de atos religiosos e bruxaria!

Foi o que Alayza ouviu quando a arma rompeu em um som tão alto que a deixou surda, e só pode ouvir um apito sem fim. A Nganga caiu, bateu à cabeça no chão o buraco no meio da testa escorria sangue lavando o chão em uma poça que crescia a cada segundo. O seu irmão berrou largando a faca, Alayza não ouviu, mas soube que ele berrava pela sua expressão incabível de fúria com o maxilar tão esticado quanto sua pele permitia, ainda ouvia apenas o apito do disparo enquanto recuou um paço, estarrecida.

Então os guardas notaram suas presenças, e enquanto um deles ia render Paolo, o outro apontava a arma para Alayza, que se jogou no chão sentando sob as próprias pernas se agarrou encolhida amedrontada como um animal acuado quando a arma foi apontada para si.

Viu o jovem vendedor de ervas se jogar em cima do guarda, ele puxou o revólver do guarda, tentou lutar contra a justiça, mas um segundo guarda o puxou e girou seu pescoço com as próprias mãos em um estralo e Paolo rodou no chão, pés frouxos de um corpo morto, um espasmo final e o irmão daquela mulher também caiu no chão, morto, Alayza se sentia cada vez pior, tremendo, imóvel.

Só sabia que deveria lutar contra aquilo, precisava lutar, ou morrer tentando.

Então a arma estava na sua frente, o cano lhe encarava como um olho negro por onde a morte viria. Naquele momento Alayza sabia que não valia a pena se ajoelhar, se humilhar. E todo aquele orgulho que continha ressurgiu, num ímpeto fechou os punhos, colocou-se de pé encarando além da arma, encarando o guarda.

— Prendam ela. — Disse outro.

Um dos guardas parecia um monstro, pegou seu braço e a puxou, o som retornava como se ela estivesse submersa em água. Viu alguns guardas saindo da casa, não soube quantos restavam e quantos tinham saído ou que estava acontecendo.

Preciso lutar contra. Pensou. Preciso resistir.

Sua mãe ainda se debatia quando o som voltou aos seus ouvidos com o apito se desfazendo por completo, ouviu o berro do guarda.

— Quem é você?! GAROTA!

Alayza nunca pensou sentir tanto medo na sua vida. Tudo que sempre foi, corajosa, destemida, percebeu que não passava de caprichos, ela sentiu medo. Então um segundo guarda enfiou a mão em sua virilha e puxou o saquinho com ervas.

— Traficante! — Ele disse para o que a segurava pelo braço, então enfiou a mão novamente pela calça de Alayza e tentou abusá-la. A menina se debateu, mas seu braço foi torcido e o guarda com os dedos entre suas pernas sorriu, dedilhando-a para ferir. — Ela gosta, olha a carinha de…

Sentiu-se pior que lixo, mas tão rápido sentiu-se em explosão. A fúria lhe encheu as veias no lugar do sangue e jogou a cabeça para trás, a pancada doeu, mas em seguida jogou a cabeça para frente. O guarda que lhe segurava por trás recuou com a pancada, soltando seu braço, assim como o da frente deu um passo para trás, cambaleando, e tirando a mão do meio de sua calça. Alayza sentiu a dor das duas pancadas em sua própria cabeça.

— Vadia desgraçada. — Amaldiçoou-a o guarda, enquanto a rendia novamente, agora com mais violência, chutou sua perna, a pondo de joelhos. — Elimina a traficante agora!

O guarda pegou seu revólver dando de ombros, Alayza começou a bater os dentes tremendo como nunca antes. Sentia a testa doer profundamente, desejou morrer de forma indolor, desejou não ver nada daquilo, fechou os olhos no mesmo segundo em que o cano da arma encostou do lado da sua cabeça, ela sentiu o frio do metal e se perguntou se aquele seria o frio da morte. Que seja rápido. Respirou fundo, seu coração pareceu parar por um segundo e tudo voltou ao silêncio, ela mergulhou em uma onda de adrenalina que a fez parar no tempo, ainda de olhos fechados.

Ouviu pancadas e estouros, não atiraram em sua cabeça, pelo contrário, a arma não encostava mais em sua pele.

Alguém lutava por ela. Um homem desconhecido com um capuz cobrindo seu rosto pulava usando os moveis como apoio como ela nunca tinha visto antes alguém fazer, ele girou por um guarda segurando seu pescoço o jogando-o no chão, socou outro enquanto o guarda que segurava Alayza a soltou e mirou o revólver naquele individuo encapuzado.

Alayza, quando foi solta, tropeçou nos próprios pés e caiu, só viu um revólver subindo e batendo no teto, o guarda que tinha segurado ela caiu no chão ao lado com a boca aberta e o sangue escorrendo junto de dentes quebrados.

Ela engatinhou para trás quando o encapuzado olhou para ela e então para fora.

Os uniformes dos guardas eram brancos, e do lado de fora um guarda olhou para dentro no mesmo momento que aquele encapuzado olhou para fora, em vez de lutar o guarda se virou e saiu correndo.

— Droga! — O guarda disse lá fora. Não precisava ser nenhum especialista em táticas, aquele guarda ia atrás de reforços.

O encapuzado deu um salto pelo corpo caído da Nganga e agarrou Alayza no colo ao ver que ela estava praticamente catatônica.

— Não… minha mãe… leva ela… ela, não eu… ela… — Berrou se debatendo pendurada no ombro daquele homem que parecia uma montanha de tão forte.

— Não dá mais tempo! — Sua voz foi mais grave e assustadora do que Alayza esperava, e mais preocupada do que ele pretendia.

Foi a última coisa que Alayza ouviu antes de desmaiar sem saber como.

*****

Estava tudo preto quando Alayza abriu os olhos e sua visão entrou em foco, ela olhou para baixo e viu que estava sob uma construção, o chão era de telhas marrom-avermelhadas.

— O que…

— Silêncio. — O encapuzado disse, sério. — Desculpe…

— Minha mãe…

O homem de capuz olhou para ela, Alayza viu na sombra que o capuz fazia no seu rosto os olhos mais brilhantes que já havia visto em alguém. Ele a encarava de volta, sem hesitação.

Grino Joyel puxou o capuz para trás, pronto para falar a verdade quando viu nos olhos daquela jovem menina esperança que não via no rosto de ninguém há muito tempo, nem mesmo nos de Ennie ou de Sony.

Dez minutos atrás os guardas saíram da casa de Alayza levando uma mulher, algemada e arrastada, ela estava inconsciente, Grino estufou o peito respirando com dificuldade, como falar o que aconteceu?

— Desculpe. — Disse evitando olhar para a menina novamente, encarando as telhas e rapidamente subindo os olhos com medo, aflito. — Eu não pude fazer nada…

Alayza olhou para o chão lá em baixo, estava do outro lado da rua, e na rua existiam destroços de moveis, moveis ainda em chamas, corpos, lixo e destruição. Ela olhou para o céu, e este estava escuro, poluído por aquele acontecimento, aquela noite de terror.

— Ela está…

— Não. — Grino disse puxando o rosto da menina para baixo com delicadeza para poder olhar suas feições. Não sabia na verdade se a mãe daquela menina estava viva ou morta, mas os mortos haviam sido largados no chão, e uma vez que ela havia sido levada algemada, provavelmente estava viva, apenas inconsciente. — Mas foi presa…

— Ela vai m… — Alayza não conseguiu terminar a palavra. — Está doente com febre e se eu não…

— Não dá mais. — Ele disse olhando para ela sem ação, sem saber o que fazer ou o que dizer. — Desculpa, eu queria, eu tentei, mas não teve como, não… não pude.

— Por quê? — Ela perguntou, decepcionada.

— Porque eu teria que te deixar! — Grino abaixou os olhos novamente. — Foi egoísta eu sei, mas, pelo menos, eu salvei você.

— Deveria ter salvado ela, eu queria que salvasse ela. — Alayza praguejou aumentando o tom de voz.

— Eu sei, mas eu não pude, eu falhei, mas a mantive viva.

Alayza olhou para baixo, fechou os olhos e levou as mãos até sua face então começou a chorar.

Grino ao seu lado não soube o que fazer. Fez o que achou certo fazer na hora, no pânico e no desespero, tomou a decisão que julgou apropriada. A menina podia lhe culpar, mas se necessário, faria tudo de novo, e salvaria ela outra vez.


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