Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 21
06; Alex




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Rosa e Garofano. 23/02/0165

Assim que desceram pelos túneis, Sony viu Grino lá em cima empurrando a tampa e fechando o caminho por onde vieram. Então ele pegou um dispositivo pequeno e colocou na base da tampa do bueiro, o dispositivo colou como se fosse um imã, e então Sony puxou do corpo metálico acoplado na tampa o que pareceu ser metade do dispositivo, um fio de aço existia unindo ambas as partes. Era um explosivo de gatilho-armadilha.

Deixando-o preparado caso alguém tentasse abrir a tampa.

A maioria dos reféns resgatados já corria pelo túnel deixando os rebeldes para trás, afinal de contas a cidade era deles mesmos, enquanto Sony tinha mapas e aprendia os caminhos, alguns daqueles ali resgatados provavelmente conheciam todos os tuneis do SEDEC.

Quando se virou para o restante do grupo, viu que mesmo com a fuga de alguns, sobrara ainda boa quantia. E destes, todos olhavam para ele.

— Precisamos ir, eles vão entrar logo. — Disse para eles. — Leslie e Pietra, vocês vão na frente abrindo caminho comigo, Lucious e Dennis na retaguarda garantindo a segurança. Vamos andando...

— Para onde? — Uma voz irrompeu então.

Sony que passava pelos reféns libertos parou e olhou para trás. Um homem havia questionado.

— Como?

— Ir andando para onde? Eles sabem quem somos, para onde formos vamos ser alvos, e nossas famílias então?

— Protegeremos vocês...

— O que você quer de nós?

— Não queremos nada. — Pietra quem disse, por cima de Sony que por um instante ficou sem palavras. — Estamos salvando vocês da morte...

— Pi, deixa. — Sony disse colocando a mão no ombro dela. — Vamos levar vocês até um lugar seguro, temporário, de lá cada um pode seguir seu rumo ou se entregar para o Stato se desejarem. Mas precisamos ir de qualquer forma. A água logo vai começar a subir.

Então começaram a andar pelo túnel do SEDEC até alcançarem uma galeria com intersecções. Sony olhou no seu tablet de pulso um mapa ainda incompleto, por um instante ficou parado, dando o sinal que não sabia bem o que fazer, mas alguém tomou a dianteira.

— Podemos ir por aqui. — Um homem disse apontando para um corredor aonde uma placa torta dizia “estação” e o restante estava ilegível. — É um posto abandonado, não vai ter guardas lá.

Leslie olhou para Sony e os dois olharam para Pietra, como se buscassem um acordo silencioso.

— Pode ser. — Sony rebateu anuindo para o homem. — Obrigado.

— Nós quem devemos agradecer senhor. Eu devo agradecer, se não fossem vocês... Digo, alguém precisa fazer alguma coisa, só fico feliz que vocês tenham agido.

— Nós também. — Leslie respondeu. — É bom ouvir um obrigado de vez em quando.

— Mas não é pelos obrigados que fazemos isso. — Sony retorquiu na hora. — Qual seu nome?

— Alex, senhor. E eu gostaria de pedir, quer dizer, implorar até...

— Não. — Sony olhou para Alex enquanto andavam e viu que o rosto dele era simples, carregava cansaço e dor, como o da maioria, mas seu espírito era determinado, motivado. — Não sou senhor de nada, Arachnid é como me chamam, mas não tem que implorar por nada, nunca, para ninguém. Ainda mais entre nós. Somos iguais!

Alex mudou seu olhar de submissão para uma gratidão e orgulho que fazia aqueles momentos valerem a pena, mesmo ainda estando amedrontado, Sony podia ver que Alex já sentia-se mais livre que há segundos atrás.

— Eu queria me juntar a vocês, se me permitirem. Lutar com vocês.

— E você luta pelo quê? — Sony indagou parando de andar. A comitiva toda parou em seguida, esperando um grande momento, todos olhavam para Sony e Alex.

— Não sou ignorante como esses outros. Eu sei de onde vocês vieram, o que fizeram. Eu já teria feito o mesmo, se tivesse como... E agora tem, com vocês aqui. — Alex então percebeu que não respondera a pergunta, e pior; complicara ainda mais sua situação ao revelar que sabia quem e de onde eles vinham. — Trabalhava para um nobre, assim aprendi coisas que o resto não sabe. Assim aprendi coisas que eles sequer querem saber, porque só me fez ver a posição que estamos, o quão é degradante, humilhante. E eu quero mudar isso, vocês lutam para mudar isso. Eu quero lutar com vocês.

— Quem mais tem esse sentimento? — Sony perguntou olhando para todos os resgatados, homens e mulheres que ficaram em silêncio, como se a única coisa que lhes coubessem fosse vergonha, medo e incerteza. — Qual o seu nome mesmo?

— Alexander Vespasiano. Mas pode me chamar de Alex, senhor.

— Vem comigo Alex. — Sony disse tomando a dianteira alguns passos, deixando o restante do grupo para trás.

No túnel só podiam ouvir os próprios passos na água, ecoando nas paredes de tijolos avermelhados cobertos de vegetação e parasitas como minhocas e lesmas. Sony naquele momento sequer se lembrava da mãe de Alayza se estava ou não entre o grupo de pessoas resgatadas, na verdade o pensamento até lhe ocorria, mas suas prioridades eram bem alinhadas, e naquele momento se a mãe de Alayza estivesse ou não ali, eles nada poderiam fazer se não comemorar ou lamentar, mas Alex era promissor, e Sony via isso, então foi nisso que decidiu agir. No escuro ele estendeu a mão olhando nos olhos de Alex e vendo alguém para iniciar naquele caminho que anos atrás ele havia iniciado, Grino havia iniciado, Ennie... Todos começavam dali, naquele momento.

— Meu nome é Sony. Bem-vindo!


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