Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 20
05; Procedimento quase cirúrgico




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Rosa e Garofano. 23/02/0165

Em todo o distrito não haveria momento mais oportuno para aquilo. Homero sorriu ao receber a notícia, porque a oportunidade lhe era mais que bem-vinda, mesmo sendo algo ruim. Na guerra, ofensivas inimigas podem ser exatamente o que se precisa para uma vitória rápida.

Ele estava em uma reunião com os fornecedores de uniformes da guarda, mas os dispensou imediatamente pedindo que seu transporte fosse priorizado. Eram poucos quarteirões, deveria chegar em minutos. Normalmente não teria reuniões importantes em Rosa e Cravo, mas queria que seus fornecedores entendessem porque pedia o que pedia. Com Dama Diamante querendo cortar gastos, seria bom que eles entendessem a importância do pedido. Novas armaduras com preço das antigas era como receber um presente, mas Homero não pedia esmola, oferecia acordos; o estado pagaria pelos novos coletes, placas, ombreiras e escudos de choque, tudo no devido tempo quando a ameaça fosse eliminada e a economia voltasse a crescer.

Infelizmente a notícia não era a mais agradável para os fornecesdores, mas reforçava o apelo de Homero que os deixou com a frase

— Pensem a respeito senhores. Quantas vidas poderíamos salvar, se não hoje mesmo, caso meus homens usassem seus coletes? O amor de vocês por ouro não pode ser maior que o amor que sentem por Stato Cinque.

Os deixou para cruzar quarteirões enquanto vestia o colete à prova de balas, verificava se sua arma estava carregada e pronta para uso, e notificava ao Strike7 para ação imediata.

A ação no CCC2 foi rápida, tanto pelos criminosos, como pela força local. Homero ouviu o relato enquanto ainda no carro, o camburão de transporte foi parado, os guardas na entrada rendidos, não havia escolta porque os relatórios não indicavam inquietação, mesmo assim ali estavam; com um combate armado nas mãos. Armado por quem? Embora o caos estivesse ali, não haviam dito nada sobre violência por parte dos rebeldes, mas Homero gritara ao telefone;

— Prots cinco, derrubem todos. Prots cinco autorizado.

Stato Cinque tinha cinco protocolos de segurança, indo de averiguação e voz de prisão sem força, até o uso de munição letal. Homero sabia que os rebeldes invasores eram caso para se livrar, não para convencer, porém precisava do meio termo mesmo assim. Arrependeu-se depressa da escolha, mas temia que se não mostrasse força, os rebeldes o vissem como fraco, e esse risco não poderia correr. Não iria correr.

Quando seu carro parou, ele abriu o porta-luvas e pegou o megafone, saindo do carro tomando a dianteira da ofensiva composta por uma linha de dez guardas com armas erguidas apontando para um camburão cheio de buracos de bala. Pessoas corriam para longe dali, mas o lugar já estava praticamente deserto, exceto por olhos curiosos nas janelas.

— Rebeldes! — Ele levou o megafone a boca, pronto para dar início ao seu plano de contingência, gesticulou para os guardas, para que avançassem. — Esse é o único momento em que aceitarei sua rendição, caso neguem tão generosa oferta, aceitarei seu sangue com mesmo bom grado.

Na via principal um caminhão de tropas vinha até eles, trazendo o devido reforço. Havia mais guardas dentro do CCC, mas eles não podiam deixar o posto, pois o Centro de Comando e Controle era também aonde estavam armas e munições, conteúdo imprescindível para revolucionários.

— A libertação de Stato Cinque já começou homens do poder. Deveria nos temer, pois somos tua ruína. Liberdade para Veneza! — Foi o grito vindo do outro lado do camburão.

O caminhão de tropas chegou, deixando que descessem os oficiais do Strike7.

— Então escolhemos o sangue, muito bem. — Homero olhou Stan, que parecia carregar um semblante preocupado, como se temesse que aquela bagunça toda recaísse em seus ombros no fim do dia. — Abrir fogo!

Então os guardas que avançaram entraram em combate direto. Foi o primeiro momento, tiros e esquivas, alguns correram para coberturas atrás de postes e do próprio camburão, os rebeldes correram também, em fuga. Os restantes dos guardas abriram fogo então. Um dos guardas caiu, baleado por um rebelde, outro teve um tiro de raspão no braço. E em segundos os rebeldes fugiram com os reféns, desmobilizando a força concentrada, cada qual correu para um lado, e junto correram os guardas do Strike7, exceto pelos guardas locais do CCC, que ficaram ali com Homero.

O General contornou o camburão apenas para ver um espaço vazio com um único corpo no chão, agonizando de dor, o rebelde caído encarava Homero e ao perceber quem era o homem, começou a se rastejar para trás, como se tentasse fugir, uma tentativa pífia demais para se considerar. Homero até mesmo o deixou rastejar-se por uns momentos, pois afinal; para onde iria?

— Te deixaram, tolo. — Brincou olhando ao redor. A maioria da população fugira, mas ainda haviam olhos curiosos ansiando por entretenimento para apaziguar o espírito das mazelas daquele distrito. Querem o espetáculo completo.

Stan então veio até ali também.

— Ele precisa de atenção médica...

— Cerque o lugar, coordene seus homens para caçarem e encontrarem esses rebeldes, detenha qualquer suspeito que viu demais, quero interrogar todos, e descubra como deixamos isso acontecer!

— Pegamos um deles...

— Eles levaram dois camburões de prisioneiros. — Homero rebateu. — Se eu não tivesse colocado aqueles últimos à prova, seriam três camburões hoje e não dois. Pegamos um e isso deveria servir de consolo? Vá fazer o que mandei.

Homero observou Stan deixar o local até que ele pudesse agir sem a bussola moral quebrada de Stan prejudicando o desenrolar da ação. Se aproximou do rebelde, que com mais pressa e se debatendo começou a rastejar até a calçada. Homero o chutou e pisou em cima de sua perna o fazendo parar entre grunhidos e olhares de raiva com medo.

— Olha só para você, um legitimo britânico. — Homero se abaixou ficando de cócoras ao lado do rebelde caído, com sangue pulsando pelo seu colete, na altura do abdômen. — Eu odeio concordar com Stan, mas você precisa mesmo de atenção médica.

Homero desabotoou o colete do homem até tê-lo aberto por completo, então subiu sua camisa até a altura do peito revelando sua barriga e abdômen, o sangue saindo do orifício aonde a bala penetrara, a respiração do homem fazia o sangue pulsar no ritmo que seu pulmão se enchia e esvaziava de ar.

— Precisamos começar desalojando a bala. — Homero colocou o dedo em cima da ferida e o rebelde urrou no mesmo instante, se debateu, mas a pancada contra seu rosto fez a cabeça bater no chão e o sinal foi claro. O rebelde parou e Homero o segurou empurrando o peito contra o chão. — Não seja imprudente, a bala alojada pode infeccionar. Para seu bem eu sugiro que me conte aonde está seus amigos, ou vai desejar pela infecção.

O rebelde detinha uma legitima expressão de dor, mas Homero não detectava medo nos olhos dele. E era justamente de medo que precisava. Felizmente não preciso do seu medo. Os olhos que tinham medo eram aqueles a assistir.

— Nada? Tudo bem, vamos do jeito antigo.

Homero primeiro colocou o indicador, contornou toda a aureola do ferimento antes de introduzir o dedo e quando o fez, o rebelde rangeu os dentes com tanta força que parecia que ia trincar, mas não gritou, tentou se conter o máximo possível, mesmo com o olhar sádico de Homero ao inserir dois dedos e mexe-los dentro da ferida, caçando o projetil enquanto sentia a textura do material que os homens são feitos. No terceiro dedo o rebelde revirou os olhos abrindo a boca e soltando um gutural silencio, suprimiu a própria voz para não dar o prazer ao seu torturador, mas contorceu-se em agonia, os espasmos musculares involuntários aconteciam, ele sentia que urinava de tanta dor.

Foi quando a mão inteira adentrou um buraco de bala, forçando a carne a se rasgar mais, o sangue banhava o chão e o rebelde não suportou mais, berrou, berrou com tanta força que sua voz ecoou nas paredes das casas e adentrou nas salas e nas cozinhas de toda a vizinhança deixando claro o que acontecia ali naquele instante. Homero girou a mão dentro do abdômen do rebelde e segurando o único objeto duro o bastante, puxou para fora, trazendo consigo muito mais que apenas a bala. Balançou a mão espirrando sangue no rosto do rebelde suado e caído imóvel com olhos mareados e perdidos

— Agora você vai ficar bem melhor que a bala saiu. — Homero se levantou e soltou o projetil, o metal tilintou caindo no chão na poça de sangue, e em seguida, dos dedos de Homero pingou uma gorda gota vermelha. — Então, me diga; onde está o seu grupinho anarquista?

— A libertação de Veneza... Já começou. Tema, pois somos... Sua Ruína.

— E eu sou a tua! — Homero respondeu puxando seu revolver do coldre, os dedos ensanguentados deslizando pelo metal. Engatilhou apontando a arma par a cabeça do rebelde. — Última oportunidade.

— Viva a revolução! — O rebelde proferiu, já com os olhos fechados.

E o som que ecoou nas paredes invadindo as salas e cozinhas não foi mais de grito algum. Depois daquele disparo todos ouviram apenas silêncio, todos, inclusive o Rebelde Miles Bennet.


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