Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 18
03; Notícias de última hora




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Rosa e Garofano. 23/02/0165

No outro dia já quando começava a entardecer, alguns trabalhadores do armazém iam embora, normalmente aqueles com mais experiência e respeito podiam deixar os novatos trabalhando as últimas horas do dia. Russel então os colocava para ir aos trabalho menos desejáveis, como limpar e organizar tudo, o que significava que a maioria estava fora do armazém, então Grino e seu time já podiam andar mais livremente. Já faziam dias, e a maioria dos trabalhadores, embora desconfiados (mas já desconfiavam antes, por conta da cozinha), pareciam ainda desconhecer que os Rebeldes estavam ali.

Fora da vista de todos eles, Russel abria a porta para os túneis do SEDEC. O laboratório já estava vazio, então não haviam olhos curiosos ali. A luz invadiu o corredor escuro e fétido e os pés de Tanoos se escolheram, ele estava com as pernas esticadas.

— Me mata logo. — Disse, ainda preso. Russel olhou ao redor, puxou uma lanterna do tamanho de uma caneta, e conduziu o facho de luz para o corredor, até a luz se perder na escuridão, olhou os dois lados, mas não havia nada nem ninguém por ali. Apenas os dois, como sempre.

Russel então jogou um par de chaves que bateu no peito de Henlook e caiu no chão. Henlook olhou para Russel sem entender. O rosto do prisioneiro estava ossudo, claramente desidratado ainda, as fezes ao lado fediam, misturadas a urina e ao próprio esgoto.

— Solte-se. — Russel se distanciou um passo. — Esses dois dias tem sido ruins para você.

Tanoos Henlook pegou as chaves com dificuldade, o braço tremia, fraco. Então olhou para Russel e juntou forças. Falar era, naquela situação, um esforço real. Sentia como se cada palavra lhe tirasse um pouco da força vital, então não queria as gastar à toa. Ele tentava encaixar a chave nas algemas que lhe prendiam a barra de ferro, mas errava o buraco e tremia demais.

— Você deve estar a alguns dias nesse lugar, já deve ter cansado e eu sei que não te ajudei muito nos últimos dias. Eu pensei muito e só posso te ajudar se você fizer alguns juramentos, e pra isso precisava de você fraco o bastante para ter certeza que teria honestidade e apenas honestidade. — Russel então se abaixou ficando de cócoras. Tomou a chave de Tanoos e soltou a algema. O braço do prisioneiro caiu contra o chão como se fosse um objeto morto. Tanoos praticamente se deitou em cima do braço, livre enfim da posição pendurada que estava. — Você ainda é leal ao Strike Sete?

Tanoos olhou para Russel por um momento e fechou os olhos. O que ele queria com aquela pergunta? Tanoos era o Strike Sete, independente do que fizessem ou quem colocassem no comando, ele era o melhor atirador de Stato Cinque, não ser leal ao grupo que liderara era não ser leal a própria lembrança de quem era.

— Eu posso confiar em você? — Russel perguntou, olhando fixamente para aqueles olhos fechados. — Se te der um teto, comida, e um lugar para se refazer, vai fugir? Me delatar e destruir a vida que fiz para mim aqui?

Tanoos sabia menos ainda como responder àquilo. Juntou todas as suas forças para conseguir algo que fosse a síntese de seus pensamentos.

— Eu fui traído, está bem. Eu respeito sua visão, e entendo o seu medo, eu sou parte do Strike Sete, sempre serei, mas não sou aliado do Stato, e nem nunca serei novamente!

— O inimigo do meu inimigo é meu amigo, é o que dizem. — Russel ponderou, então parou no batente da porta que separava os mundos de Henlook e dos rebeldes. — Aprecio sua força e coragem, Tanoos. Considere como um ato de boa-fé. Quando sentir que tem forças, se levante e suba a única escada que verá, encontrará pessoas que, se for esperto, aprendera a chamar de amigos.

Russel se virou e saiu deixando Henlook na sombra. Tanoos olhou para seus pés, um deles estava inchado e dolorido devido a fratura não tratada, o joelho trincado na estação de trem não doía, pois fora tratado pela tecnologia de ponta do Stato. As armas que havia pegado dos guardas que uma vez trabalharam para ele, ele perdera quando o túnel encheu em uma maré alta, quando a maré baixara ele foi puxado pela correnteza, batera a cabeça e sentira a consciência quase lhe escapar, foi como acabou quase morto, quando recobrara a consciência por completo estava nas mãos de outro homem, e em seguida feito prisioneiro.

Demorou quase dez minutos, mas finalmente tentou se levantar. Virou lentamente dobrando as pernas e quando forçou para se levantar sentiu a fraqueza e o cansaço excessivo, as pernas tremeram sem forças, ele bateu os joelhos no chão e segurou a queda com as mãos, de joelhos se arrastou para o laboratório de Russel. Se agarrou no corrimão aonde estivera algemado e alçou o corpo para frente, a garganta seca ansiando por tosse, mas o peito não aguentava, como se não tivesse ar o suficiente no pulmão para ser expelido.

Quando entrou no laboratório, sentiu como se seus olhos lhe traíssem. Viu mesas metálicas e equipamentos em vidro e aço, tudo era limpo e organizado, indo contra o que se fazia crer de Rosa e Cravo.

Continuou andando, bamboleando até a porta do laboratório como se fosse cair a cada passo, se agarrava nas mesas, nas paredes, derrubou potes e quebrou alguns vidros no caminho, mas não parou, via tudo ao seu redor tremendo, fraco demais, quem realmente tremia era ele.

Quando viu o escritório suspenso pensou que morreria para conseguir subir todos os degraus até lá em cima, e vinte minutos depois de começar, conseguiu alcançar seu topo, repleto de exaustão, choraria se tivesse lágrimas nos olhos, mas sentia-se tão desidratado que nem mesmo saliva sua boca produzia mais. Se apoiou nos balaústres por um instante, vendo o armazém de cima, era como ver um labirinto rodopiando.

Então a porta do seu lado se abriu, ele virou a cabeça e duas mulheres saíram de lá de dentro, uma de cabelos negros e outra de castanho escuro. Tanoos sentiu os braços delas segurando os dele e o levantando. Viu não um escritório, mas um quarto comunitário.

As duas moças, Alayza e Ennie, levaram ele até uma cama. Ennie deixou Alayza segurar o corpo do homem por um instante, indo buscar uma caixa de primeiro-socorros, mas Alayza não suportou o peso sozinha, e deitou-o na cama, deixando o corpo escapar dos seus braços, e Tanoos caiu na cama com certa força. Ennie olhou para a garota, mas não a repreendeu. Apenas retornou com a caixa nas mãos.

— Vamos sedá-lo enquanto cuidamos da medicação necessária. — Ennie disse preparando o que precisavam. A seringa em mãos, Ennie administrou o sedativo e esperou Tanoos fechar os olhos

— O que você vai fazer? — Alayza perguntou olhando o homem nas condições quase deploráveis. — Eu não sou muito… experiente nisso.

— Intravenosos, soro e alguns medicamentos para repor as forças, aumentar as defesas imunológicas e garantir que o corpo não entre em choque.

— O que você acha dele? — Alayza perguntou, recuando um passo e deixando Ennie preparar tudo.

— Russo mandou cuidar dele, vou fazer isso. — Ennie respondeu, então olhou para Alayza deixando de lado os medicamentos. — Mas respondendo ao que acho que quer dizer; Sony me disse que ele era um capitão de guarda, portanto está isolado e não tem sequer para onde ir, é procurado por traição, o que significa que não pode voltar para o governo. Se for esperto vai se juntar a nossa causa, se for orgulhoso vai ficar com pé atrás, porque Grino derrotou ele na Estação quando chegamos aqui. Mas se você pensar que ele ou fica conosco ou morre pelo estado… Não diria que tem muita escolha.

— A… — Alayza ponderou olhando para Ennie, então para o homem. Ele quem ordenou as batidas da guarda que acabou com a minha mãe presa? Pensou — Entendi.

Alayza estava sentada na cama ao lado enquanto Ennie continuava com a medicação agora.

— Bem, eu espero que ele fique na equipe. Seria uma boa adição, alguém que conhece as coisas por aqui.

— Assim como você?

— Eu não quis… — Alayza corou. Aquilo havia sido extremamente rude da parte de Ennie. — Não sei… Você acha legal viver sendo grossa assim, mas eu só quero tentar fazer as coisas darem certo, tudo bem? Pelo visto vou ficar aqui, independente de nos gostarmos ou não.

Ennie pendurou o saco de soro na cabeceira da cama e furou o braço de Tanoos com o cateter.

— Não é isso. — Ennie disse tentando ser mais calma. — É só que você acha que é parte da equipe, acha que é assim, só aparecer e sair atirando contra o estado para virar membro da equipe. Para você pode ser diversão, mas para nós é ofensivo.

— E como é então? Ser membro da equipe?

— Não é só aparecer. Só entra quem realmente confiamos, e tem que treinar; muito! Ninguém vai para campo com uma pessoa que não saiba se defender, vira um fardo a mais, compromete a missão. Mesmo que você entre, vai passar pelo menos dois anos treinando duro para poder finalmente ir para campo, para poder fazer parte das missões e ajudar ativamente na grande missão.

— E vocês tiveram treinamento?

— Quê? — Ennie se sentiu subitamente encurralada.

— Eu li, vocês três não tiveram treinamento nenhum, e eu conversei com a maioria já, quase ninguém aqui teve treinamento…

— É diferente. — Ennie disse em cima das palavras de Alayza. — Nós éramos jovens e fomos nós quem começamos isso. Não tinha quem nos treinar, e por isso perdemos muitas pessoas no processo. Nós tivemos que aprender do pior jeito, e por isso surgiu o processo, para que inocentes não morressem, porque vocês merecem o direito de lutar pela causa, mas precisam estar vivos para isso. Quando vocês estão em campo, a responsabilidade é nossa, se vocês não voltam, a culpa é nossa!

— E você pretende esperar dois anos…

— Você pode influenciar o Grino de todas as maneiras e até mesmo o Sony que de alguma forma te acha fofa, mas não pode me influenciar e só vai ir para campo quando nós três concordarmos com isso, e eu não vou votar sim até você ter completado o treino. Porque se você morrer, sou eu quem vou ter que suportar o Grino depois.

Então a porta do quarto se abriu antes que Alayza pudesse rebater.

— Nossa, a gente realmente precisa de um pouco de privacidade por aqui. — Sony disse entrando no quarto e olhando ao redor. — Como estão as senhoras?

— De saída. — Ennie disse olhando para Alayza. — Russo mandou ficar de olho, e como você não faz nada por enquanto; fique de olho. — Apontou para o corpo de Tanoos enquanto o saco passava o liquido no conta-gotas e gota por gota o soro com medicamento ia para a veia.

— Pelo menos não é minha cama. — Sony disse se aproximando enquanto Ennie passou por ele saindo do quarto. Sony olhou para trás, vendo Ennie fechar a porta atrás de si. Então olhou para Alayza. — O que foi jovem aprendiz?

— Ennie, o que mais seria? — Alayza bufou se jogando na cama, deitando e esticando os braços. — Acho que ela não gosta de mim.

— Não é pessoal. — Sony foi até os armários. — Ela não gosta de ninguém. Nem de mim. Ela aceita as pessoas, talvez gostar ela só goste do Grino.

Ele puxou uma gaveta e então se levantou olhando para Alayza percebendo o que tinha acabado de falar.

— Desculpa, eu esqueci que ele tá apaixonado por você e ela por ele, mas você não tá afim, e ai fica… Eu vou calar a boca agora. — Sony sorriu sem jeito se virando de costas para Alayza novamente, puxando sua camiseta verde musgo.

Alayza olhou Sony tirar a camiseta, os braços erguidos enquanto o tecido saia pela cabeça, os cachos balançando. Ela observou as costas dele, as omoplatas, o risco da coluna e os músculos marcando contra a pele, Ele tinha uma estranha tatuagem em círculo em um ombro, fora isso a pele lisa e branca era livre que qualquer imperfeição, nenhuma única cicatriz. Alayza então baixou a cabeça.

— Você precisa se trocar aqui?

Ele colocava uma camiseta cinza escura. Se virou para Alayza a tempo dela ver o abdômen conforme ele puxava o tecido justo à pele para baixo.

— Se não gosta. — Sony respondeu, passando os dedos pelo cabelo e rindo. Então desabotoou as calças. — Só não olhar.

Alayza abriu a boca para contestar, mas quando Sony abriu o zíper ela se virou instantaneamente vendo que ele não iria parar.

— É simples, estou com jeans e camiseta verde. Não posso salvar sua mãe nessas roupas… — Quando ele falou “mãe”, Alayza se virou por instinto, mas Sony estava apenas de cueca encarando com a outra calça (uma preta com bolsos maiores e coldre adjacente) no meio das pernas. — Vira pra lá.

Alayza corou de vergonha, se virando e pensando no que via, mas não conseguiu manter esse pensamento, algo mais importante tomava sua mente.

— Vai salvar ela hoje?

— Não, não. Estou me vestindo agora porque só vamos semana que vem. — Sony respondeu com sarcasmo. — Pode virar.

— O que seria isso?

Alayza perguntou ao ver ele com aquela roupa diferente de tudo que vira Sony usar. Parecia que Sony tinha pegado as peças do Grino emprestadas, exceto que Sony era mais forte, ao menos parecia, que Grino.

— Roupa para ação. A camisa e calça favorecem o movimento, e o tecido é duplo, no meio tem um sistema que me impede de ser rastreado por sensores infravermelhos, e ainda conseguem reter a temperatura do meu corpo, o que é muito bom caso a gente sei lá, vá parar no esgoto como da outra vez. Além do tecido intermediário também servir para reter os disparos eletromagnéticos das armas dos guardinhas daqui. É bacana, eu que desenhei selecionei os tecidos e costurei tudo.

— Sabe costurar?

— Aprendi. Meu cérebro é muito bom em qualquer coisa que eu pratique um pouco, aprender a costurar levou quatro dias, mas consegui. — Sony então pegou do armário um grande casaco negro.

— Isso é para o Grino?

— Sim, minha segunda criação, a melhor de todas. — Sony disse esticando o casaco com capuz. — Essa daqui eu levei quase um ano para fazer dar certo. Não pelo tecido, mas pela tecnologia — Sony ainda pegou um par de botas, então se sentou na cama e olhando para Alayza tomou folego para o que diria.

— O que o casaco faz?

— Nunca cheguei a uma conclusão se sequer é um casaco, um colete, um capuz, um sobretudo… Serve como tudo isso, tem várias camadas e é bem pesado. Na frente é couro, mas o segundo nível é uma liga metálica maleável, o terceiro nível é um tecido de ajusta de temperatura, com a capacidade de inflar, servindo de almofada em caso de queda ou pancada muito forte, e então mais uma camada com bloqueadores de rádio, anulador de presença, emissor de ondas, placas de energia o bastante para eletrocutar alguém até a morte e um recuso de segurança final que impede o usuário de ser eletrocutado. O couro é hidrofóbico então não vai molhar e ficar ainda mais pesado, além de ter espaço para os bastões retrateis, três armas pequenas e uma grande, mais algumas armas brancas como facas de arremesso, soco inglês, essas coisas.

— Legal. — Alayza respondeu percebendo que havia dado corda demais para Sony e agora ele não iria mais parar de falar. — Mas e a minha mãe?

— Sim, quanto a isso, Jovem Alayza, não posso falar nada.

Sony disse sério como se deixasse de ser ele naquele instante. Então duas batidas na porta, que se abriu em seguida. Alayza viu Grino entrar.

— Grino. — Ela se aprumou na cama, ficando desconfortável. Sempre ficava desconfortável quando ele estava por perto, como se não soubesse como agir perto dele, o via como um salvador, mas sabia que ele a via como mais que isso, ao mesmo tempo pensava que podiam ser amigos, mas como aquilo funcionária?

— Alayza. — Grino maneou a cabeça para ela. Eles pouco se falavam, mas sempre que podia, Grino a observava discretamente, gostava apenas de olhar para ela, apreciar sua beleza em silêncio enquanto cogitava se deveria agir ou não.

— Vão resgatar minha mãe? — Ela perguntou.

— Disse para não abrir a boca. — Grino olhou para Sony com decepção.

— Escapou! — Sony deu de ombros dando o nó no cadarço de suas botas. — Ennie vai ir?

— Vai cuidar das defesas e garantir que nada aconteça com Tanoos e Alayza.

— Garantir que Alayza não nos siga, quer dizer. — Sony disse olhando para a garota.

Alayza pareceu se zangar.

— Quando pretendia me avisar? — Ela inqueriu indo até Grino.

— Quando a missão terminasse. — Grino respondeu encarando ela. Naqueles momentos de discussão eles se olhavam de igual para igual, e ele podia apreciar as sardas dela sem que ela soubesse o quão aquilo lhe agradava. — Sony achou os arquivos há pouco tempo. Eu, Ennie e ele concordamos em agir logo. Não era o plano original, é uma janela de oportunidade.

— Que oportunidade? Aonde ela está… Me expliquem…

— Tudo aconteceu muito rápido Alayza. Todos os que foram presos naquela raide foram levados para um posto local, mas serão transferidos para o Dedo até o fim do dia. Vamos interceptar os camburões e resgatar os inocentes, voltaremos em breve com boas ou más notícias.

— E o que eu faço?

— Espera e não faça nada que se arrependa. — Sony quem respondeu enquanto Grino vestia o casaco.

— Você pensou nisso desde o começo, me deixar para trás, eu posso ajudar…

— Não é treinada, você não vai. Só irá atrapalhar. — Grino respondeu sem abrir espaço para discussão. — Você fica, e Ennie vai te fazer ficar, caso queira desobedecer a essa ordem.

— Eu vou! — Ela disse com ar tão definitivo quanto o de Grino. Sony quase riu.

Grino ouviu o berro não de uma mulher, mas de uma criança mimada fazendo birra. Se lembrou das suas discussões com seu pai e como elas sempre acabavam. Se virou com os olhos apertados e a boca aberta soltando palavras como uma metralhadora solta balas.

— Não, você não vai. — Ele proferiu com ar mais rígido que antes. Alayza nunca o vira falar assim. — Eu disse que não vai sair daqui e é exatamente isso que vai acontecer. Quer saber porque a Ennie também não vai? Porque ela tem que ficar de baba mantendo você quietinha aqui, mas ela seria uma ótima ajuda em campo, pode ser o que define se a missão será um sucesso ou um fracasso, mas não posso correr o risco porque também não posso confiar em você! Então da próxima vez que quiser bancar a adulta, primeiro se torne uma.

Alayza então tinha os olhos cheios d’água, prestes a chorar copiosamente, ela fungou sem piscar, se piscasse as gordas lágrimas iriam escorrer. Os dois se encararam por mais alguns segundos e Grino quis pedir desculpas e abraçar ela, mas apenas se virou e saiu do quarto com o casaco no corpo.

Sony olhou para ela, e então foi até a garota, enquanto Alayza abaixava a cabeça e tentava esconder as lágrimas.

— Olha, eu sei que você pensa que tem que ajudar, mas por favor não tenta nada idiota. Se tentar fugir isso vai ficar pior ainda, então eu vou te fazer um agrado. — Sony disse pegando o próprio celular e entregando para Alayza, então bateu no seu pulso, mostrando as argolas de metal que tinha presas no braço. — É uma extensão do meu tablet, tem um aplicativo com câmera do meu traje, do da Ennie e do Grino. Você pode assistir a tudo, ao vivo.

Alayza pegou o celular e balançando ele de leve em sinal de agradecimento.

— Obrigado.

— Tá, agora eu preciso ir, salvar inocentes, liberar o mundo da tirania… O de sempre! — Sorriu para ela, tentando amenizar a situação.

— Tá… Só… Voltem, os dois. — Ela disse para Sony, enquanto ele recuava andando de costas. — E traga minha mãe, por favor.

Então Sony desceu as escadas rumo ao armazém. Grino falava algo com Russel, então ele foi até Ennie, que estava na porta dos fundos.

— Fazia tempo que ele não usava o capuz como hoje. — Ennie disse para Sony, ela estava encostada na parede, perna apoiada na parede e braços cruzados.

— Você precisava ver como ele falou com a Alayza…

— Eu ouvi. Acho que todos ouviram na verdade. — Ela respondeu.

— Eu sei que não é da minha conta, nós concordamos… Só que… Vocês tem se falado pouco, ele está… Agitado.

— Ele está bem. — Ennie rolou os olhos como se quisesse evitar aquela conversa.

— Ennie, é seu dever… Mais cedo ou mais tarde vai acontecer de novo…

— Não vai acontecer nada. — Grino surgiu como se para cortar aquele assunto pela raiz. — Vamos?

Ennie fez um sinal de carinha para Sony, abriu a porta e ele foi o primeiro a sair. Então ficou só ela e Grino.

— Se cuida. — Ela disse olhando para Grino, que fez que sim com a cabeça, e então deixou o armazém também.

Ennie ficou ali, sozinha por um instante, então fechou a porta e olhou para cima, para o escritório. Odiava ficar de baba.


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