O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 5
Capítulo 5




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Estou na frente do armário por, pelo menos, uma hora. Eu comprei algumas roupas novas, mas, mesmo assim, não sei o que vestir para um encontro. Já faz algum tempo desde que saí para um e encontros quando você já está namorando, não contam, então... Faz três anos. 

Saia, calça ou vestido? Jaqueta ou cardigã? É oficial: estou nervosa. Separo um par de coisas e vou até o banheiro. Camisa de manga comprida, cinza, brilhante e com uma transparência sutil. Saia lápis, preta, que me deixou com um corpo bom. E meias finas com um scarpin, ambos pretos, também. Maquiagem e... pronta!

Acho que deu para perceber que estou ansiosa. A casa sente minhas vibrações em nervos. Meu celular, pobre dele, é checado cada cinco minutos, esperando dar o horário. Não é que eu esteja desesperada para sair, mas já perdi o jeito com isso. Fazer a linha "Vou demorar para parecer difícil" não me cabe. Gosto de ser o que sou. Simples assim. 

Josh me mandou uma mensagem, avisando que está chegando e desço. Bob já não está, mas ele sabia que eu iria sair hoje. Bom, eu não tenho amigas aqui ainda, ok? Eu preciso contar para alguém! 

Avanço até a porta e há um homem, parado ali, pegando duas caixinhas do que suponho ser yakisoba. De camisa de gola v preta, calça de moletom cinza e um tênis aparentemente mais gasto que eu, Peter parece descolado, mas caseiro, essa noite. Está lindo, vestido casual, mas acho que deve ficar bem com roupas sociais, também. Uma pena que seja um preguiçoso, eu nunca irei ver isso além da minha imaginação — que está bem movimentada por causa dele, ultimamente. 

 

— Hey, Rach! Está bonita, hoje. Toda arrumada... — Bonita? Uau!

— Obrigada.— Minhas bochechas queimaram. — Não vai sair hoje?

— Agora não. Talvez mais tarde. E você, vai para um club ou algo do tipo? — Checou minha roupa.

— Eu tenho um encontro, na verdade.— Cocei o cabelo. Merda! Eu disse isso?

— Encontro? — Ergueu a sobrancelha.— Com alguém daquela festa, lá?

— É. 

— Rach...— Sua voz era de desaprovação.

— Sim?

— Nada. Boa sorte.

— Vou precisar...

 

Outra vez parecia cuidar de mim. Ele não cansa?  Eu não sei o que ele quer com isso, mas, provavelmente, ele pense que eu sou virgem. É sério? Não, eu só sou desastrada, louca e derramo coisas quando eu como, mas eu já encontrei caras que pudessem lidar com isso. Enfim, como ele ia saber? 

Saio porta afora e observo a rua. Não há muitas pessoas, nem está tão iluminada, então pequenos movimentos chamam a atenção. Ainda me sinto vigiada por Peter e quando olho para trás, ele está encostado próximo ao armário de correspondências, mexendo em uma das caixas de comida e olhando, também para a porta. É impressão minha ou... Ele parou ali para me espiar e conhecer quem vai me levar pra sair? Rio para ele e em seguida, pego meu celular, dizendo para Josh me encontrar na rua paralela, pois não há vagas aqui. Sim, eu menti, mas também não ia deixar o engraçadinho tomar conta do meu encontro. 

Estava andando para o local que sugeri, quando me lembrei de um trecho de um dos meus livros favoritos: O Melhor Livro Sobre Nada, de Jerry Seinfeld. É um título incomum e mais incomum ainda tê-lo como preferido, mas quem disse que eu sou normal? Um dos capítulos, começava exatamente assim...

"Um encontro é pressão e tensão. Afinal, o que é mesmo um encontro, senão uma entrevista de emprego que dura a noite toda? A única diferença entre um encontro e uma entrevista de emprego é que não há muitas entrevistas de emprego em que você tem uma boa chance de acabar nu."

Estou rindo, no meio da rua, mas é a mais pura verdade. Estou indo para não sei onde, com chances de terminar a noite na casa de um estranho. Eu faria isso? Por que não? 

 

•••

 

Josh me trouxe em um restaurante caro, com colunas que parecem a Grécia antiga. Na parede, um quadro, dizendo que a arquitetura é jônica e aqueles desenhos na parte de cima se chama capitel. Interessante. Isso me lembrou meu pai, ele já deve ter vindo aqui, mas mesmo assim, decido tirar uma foto e enviar para ele, pelo WhatsApp. 

Continuo reparando em cada detalhe da decoração e nas pessoas bem vestidas à nossa volta. Não estamos tão apropriados, então acho que ele decidiu isso de última hora ou não liga muito para roupas. Ele veste uma camisa branca, coberta por um casaco de moletom escuro e uma calça jeans clara. Simples, tanto quanto o vi dias atrás. Puxou a cadeira para mim e eu sorri, em agradecimento, recebendo a retribuição com seu sorriso de tirar o fôlego. Ele me entrega o cardápio, antes de pegar o dele. Ok, isso foi legal. 

Ele escolheu um Moussaka, que é uma espécie de lasanha e eu escolhi uma batata gratinada. Falam tão bem da comida grega, mal posso esperar para começar à comer. Entretanto, enquanto esperamos, Josh está me contando que vem de família grega e por isso se sentia confortável ali. Também estava explicado porque ele se parece à um Deus grego! 

 

— Meus pais têm um restaurante, mas acho que levar alguém lá, na primeira vez é meio chato. — Riu.— E... eu levei uma pessoa há pouco tempo...

— Entendo... Não tem problema. Aqui é incrível, eu adorei!

— Que bom, mas... E você, Rach, tem "essa pessoa" no seu caminho?

 

Eu peguei fôlego para responder, mas não tinha uma resposta. Eu não tenho ninguém, certo? Tenho um tipo de paranóia pelo meu vizinho, mas ele não é minha pessoa. Eu não tenho uma ou estou tendo agora, no jantar. Meu Deus, que cabeça confusa! Meu celular apitou e eu poderia beijá-lo por ter me salvo, nesse momento. Puxei o celular e o revisei, era meu pai.

 

Pai:

Minha menina está lendo sobre a Grécia... Eu preciso te levar algum dia, Mykonos é simplesmente genial!

Está tendo um encontro romântico? Rs

Beijos, o papai ama você  21h32

 

Eu:

Oi, pai! Adoraria conhecer a Grécia. Obrigada por me deixar corada no primeiro encontro, hahaha. Eu te amo :)  21h33

 

Deixei o celular na mesa e ri. Eu falei que ia ter um encontro para o meu pai! Às vezes eu não consigo ficar quieta. Ele vai me cobrar os detalhes, quando me ver, mas isso é bom, para que veja que eu comecei a viver New York, a me divertir e ser eu. Ah, e claro, ele vai ficar feliz em saber que superei meu ex, era a preocupação dele.

 

— Tudo bem? — O bonitão perguntou, sorrindo.

— Tudo! Era o meu pai... — Sorri e me ajeitei ao ver o prato chegar.

— Ele deve ter gostado da foto. E gostado de saber que está em um encontro... Ou ele é ciumento? Efcharistó.— Olhou para o garçom e disse isso, piscando. Acho que significa obrigado. Arrepiei.

— Ele gostou sim. Saber que meu ex foi embora da minha vida, deve ser uma maravilha pra ele.

— Então, parece que você não tem mais "essa pessoa".

— Oh, não, não tenho. Ninguém. — Coloquei o guardanapo no colo, evitando o contato visual. Peter apareceu na minha mente. Eu vou marcar um psicólogo.

— Mas isso pode mudar, se você quiser... — Apertou minha mão. 

— Eu acho que quero. — Apertei de volta.

 

Sorrimos, um para o outro e soltamos as mãos, gentilmente. Josh é uma mistura incrível do que toda mulher quer. Bonito, educado, prestativo, inteligente, paciente e com bom gosto. Se ele me quer, é loucura não querer de volta. Gosto de estar com ele, é leve, mas é muito recente e você não conhece uma pessoa no primeiro encontro, então vamos ver no que vai dar.

Comíamos em silêncio, com uma troca de olhares típica. Tudo era muito doce e bem elegante, mas com uma mistura de flerte e excitação. Ou curiosidade para a quebra de silêncio ou um próximo passo. Isso me fez lembrar de mais um trecho do livro, é exatamente onde estamos e é tão engraçado pensar que todo encontro tem sua parte igual. Não importa a época, situação ou o país que você esteja, vai passar por isso.

"E por que é sempre jantar? Você palita os dentes, eu limpo o queixo, vamos descobrir o que é, afinal, que estamos fazendo aqui. Ele está pensando: "Cabelo legal." Ela está pensando: "Não acredito! O tamanho do pedaço de pão que ele pôs na boca!" Isso sempre acontece comigo."

Ele me perguntou o que me fez rir e eu disse que era um trecho de algo que lembrei. Muito interessado, ele pediu para que eu mandasse partes do livro para ele e eu não recusei. Será uma das primeiras coisas que eu farei quando chegar em casa. Gosto de como Josh se interessa pelo meu jeito estranho. 

O jantar correu nesse clima leve, descontraído e um pouco romântico, até. Confesso que duas taças de vinho me ajudaram a manter a calma e a ter um sorriso permanente. Ficamos um bom tempo de mãos dadas, mas ainda nos olhávamos como se aquilo fosse uma análise. Espero que ele tenha pensado que meu cabelo era legal...

 

•••

 

Quando o encontro acaba, é exatamente onde você pode definir pelas ações do cara, quem ele é. Ou pelo menos na maioria das vezes. Ele pode: a) te levar para a casa dele; b) parar no meio do caminho da sua casa, em um canto qualquer; c) simplesmente te levar para sua própria casa. A parte ruim da alternativa C é que você fica se perguntando se há algo errado com o encontro em si. Deixa eu me explicar, depois do jantar, há dezenas de lugares que um casal pode ir e não necessariamente uma casa. Uma praça, uma balada, um cinema...

Embora, confesso que estar chegando em casa é bom. Acho que qualquer segunda intenção pode esperar mais um pouco. É claro que ele tem e já me demonstrou isso, mas está sendo legal em ir devagar. O carro para e ele sai, abrindo a porta para mim. Eu diria que foi gentil, se ele me deixasse passar, mas agora eu estava encostada no carro e a sua mão estava apoiada no mesmo.

 

— Obrigada pelo jantar, a noite foi ótima.

— Sabe, Rachel, essa foi uma das melhores noites para mim, durante um tempo...

— Você deve ter noites melhores, está no último ano da faculdade e é rodeado de garotas. — Fiz careta e ri.

— Todas elas tentam me impressionar, mas você não. — Segurou meu queixo. Ui.

— Eu só quero ser eu mesma, é difícil ficar tentando impressionar o tempo todo. Acho que fugi de Los Angeles por isso.

— Espero que não fuja de mim, agora.

 

Antes que eu pudesse responder, ele levou as duas mãos ao meu rosto e me beijou devagar. Seu beijo é doce e quente, eu não recusei, é mesmo muito bom. Continue fazendo isso com a língua, rapaz. Isso mesmo. Uau! Eu estou beijando no meio da rua, mas quem se importa? Não passa ninguém aqui. Começo a roçar os lábios nos dele e vamos cortando o beijo com selinhos. Sorrio, muito corada e mordo o lábio. Avançamos uma casa, no nosso joguinho, mas ainda assim, é muito cedo para convidá-lo para subir. Toco o peito dele e subo na calçada, ele não me impede, dessa vez.

 

— Obrigada pela noite. De novo. — Coloquei o cabelo atrás da orelha e apontei nós dois. — Por isso, também.

— Me agradece saindo comigo na sexta! — Encostou-se no carro e deu uma risadinha.

— Então eu te agradeço em dois dias. Boa noite, Josh! — Acenei com a ponta dos dedos e caminhei até a porta.

— Até mais, Rachel...

 

Entrei ainda sentindo o gosto do beijo. Isso foi divertido. Eu posso fazer mais vezes. Não pensei em nada, enquanto estava beijando! Essa é a maior das novidades para mim. Será que meu cérebro me deu uma folga? Será que desistiu de pensar no 704? Parece que sim...

Chego no elevador e ele está parado no quarto andar. Aperto uma, duas vezes... E nada! Rolo os olhos e já sei como isso vai terminar, então subo as escadas. Como se eu não tivesse que trabalhar amanhã e fosse tarde o suficiente para eu já estar na cama, mas Paul não pensa assim. Um dia eu vou encontrar com ele, ah, eu vou. E nós vamos conversar, porque não pode ser! 

Estou no último degrau do meu andar, quando outra garota vem descendo do oitavo. Rimos, a dor é a mesma, eu tenho certeza. Ela é mais magra que eu e mais alta, também. Seu cabelo é preto, encaracolado e vai até a metade das costas. Tem olhos azuis e um sorriso despreocupado. Eu pensei que ela iria descer, mas agora está destrancando o apartamento 702. Poderia gritar, conheci uma vizinha! 

 

— Hey, então você é a novata do prédio? — Me apontou.

— Prazer, Novata! — Ri e acenei.

— O prazer é meu e é um alívio ter uma mulher nesse andar, também. Meu nome é Stacey. 

— Te juro que estou pensando o mesmo. Rachel. 

— Deve ser difícil conviver parede com parede com Peter... E as mulheres que ele traz.

— Ainda não tive o desprazer. — Fiz uma careta.

— Pois é. Ele só não faz como o Paul, mas já vai se acostumando. Se você precisar de qualquer coisa, pode me chamar. Toca aqui em casa, eu vou adorar! — Pareceu super empolgada.

— Pode deixar, muito obrigada. — Sorri e abri a porta.

— Toda arrumada... Teve um encontro? — Riu e mordeu o lábio.

— Eu tive... — Ri também, me sentindo vermelha.

— E deu uns beijos? — As pessoas desse prédio são descaradas, hein?

— Hum... É... — Coloquei as mãos no rosto e ri mais.

 

Ela soltou um gritinho de empolgação e de repente uma das portas se abriu. Era Peter, apenas com a cabeça, para fora de casa. Ele estava escutando a conversa ou veio pelo grito? Foi tão rápido, que levei um susto e dei um pulo para trás.

 

— Você beijou hoje, Rach? — Seus lábios estavam em uma linha fina e o rosto sem emoção.

— Você estava ouvindo a conversa? — Franzi a testa.

— Beijou, sim ou não? — Ficou sério.

— Não que seja da sua conta, mas sim. Beijei. Qual o problema? — Abri os braços. Qual o problema dele?

— Nenhum. Beije a cidade toda, Rachel. Boa noite, Stacey. — Bateu a porta.

— Vocês tiveram alguma coisa? — Ela perguntou para mim.

— Com Peter? — Ri. — Ele me trata como a irmã dele. Eu não sei o problema dele comigo.

— Irmã? Essa é nova... 

 

Nos despedimos e eu entrei em casa. Joguei os sapatos em qualquer lugar e fui atrás do livro, para tirar algumas fotos das páginas, para Josh. Não posso negar que, apesar das risadas, a atitude de Peter me incomodou. Ele parecia irritado, mas, por quê? Ele não precisava ter feito isso, apesar de saber que essa também seria uma atitude do meu irmão. O que meu pai não tem de ciúmes, Carter tem. 

Finalmente acho o livro, perdido entre minhas coisas no guarda-roupa e começo a tirar as tais fotos que prometi, quando escuto um barulho na parede do quarto seguido de um gemido feminino. Espera... O quê? Olho para a mesma e os gemidos seguem. Peter está transando com alguém, exatamente do lado do meu quarto. Uau, isso é... No mínimo estranho. Ele parecia irritado comigo por ter dado um beijo qualquer, enquanto ele já estava com uma garota em casa? 

A garota deu um gemido com o nome dele e meu peito apertou. Será que eu estou tão errada, para ter que ouvir essas coisas? Não! Eu não estou! Droga, Rachel! Meus olhos ficaram cheios e eu não sei bem o porque. Peter quer ser só meu irmão e eu estou saindo com outra pessoa. É tão simples.

Simples, mas não posso lidar com esse sufoco dentro de mim. Eu não quero ouvir mais. Eu não posso. Ando rápido e saio de casa, bato na porta vizinha e Stacey não demora à atender.

 

— Oi! Eu sei que vai parecer estranho, mas... Será que posso dormir aqui?

— É claro! Eu sabia que você viria...  


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