O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 4
Capítulo 4




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Sexta-feira passou voando! Consegui concluir todos os meus planos como nunca antes tinha feito. É aquela coisa... Se não há pressões, você rende. Você sente prazer em fazer coisas para si mesma e fica orgulhosa dos passinhos de bebê que está dando. Minha casa, hoje, tem coisas na geladeira, no armário. Frutas. Eu tenho frutas! Estou aprendendo a lidar melhor com a máquina de lavar e minha casa, agora, parece habitável. Eu até pensei em fazer uma faxina, aqui, mas, um: Carter fez uma boa antes de eu vir. Dois: eu trabalhei demais esses dias e é meu dia de folga. Três: eu tenho uma festa para ir e vou me dar um dia de Peter, sem fazer nada.

Peter. Eu não o vi ontem. Ele não passou aqui para checar se eu estou viva ou algo do tipo. E, bem, por quê ele faria isso? Em todo caso, não ouvi sua voz, ouvi seus passos e nem nada. Acho que ele nem deve ficar muito em casa e só volta para dormir. Eu ainda não sei nada do 701 e 702. Não sei se existem mais pessoas nesse andar e não é como se eu fosse bater na porta para descobrir. Apartamentos são uma coisa engraçada. Não são como uma casa em um bairro gentil, que seu vizinho bate para dar as boas vindas. Não! Você entra no seu e fica quieto lá dentro. As boas vindas são no elevador, mas você nem sempre sabe se aquela pessoa é um visitante, mora há tempos ou é uma novata. Apartamentos são caixas de fósforo singulares. E pronto. Embora, no fundo... Eu espere conhecer os vizinhos e me dar bem com eles. O cara do lado não pode ser o único, sabe?

Passei o dia no sofá, vendo filmes e fazendo exercícios de "troca de posição para melhor visibilidade da tela". Foi ótimo, recomendo! Principalmente ficar com as pernas em cima de três almofadas, enquanto você fica deitada e relaxada, fazendo vários nada. Digo, vendo filme. 

Bruce disse que a festa começaria antes das nove, para que a Universidade visse como os alunos são pessoas responsáveis e dormem cedo, mas isso era apenas fachada. Eu disse que queria ir cedo e ele pareceu feliz com isso. Acho que ele fica com medo de eu achar que ele é um nerd. Na verdade, eu não ligo. Eu não ligo se as pessoas estudam demais ou não. Ligo para o que elas são comigo e é só o que importa. Já tive minha fase e excluída, também. Todos nós tivemos. Seria hipocrisia eu dizer que não. E olhe para mim! Não estou tão incluída na cidade. Não ainda, hoje vai ser o primeiro passo para mudar isso.

Saímos de casa e Peter estava entrando no seu apartamento, com uma camisa branca e calça cáqui que o deixaram bem relaxado e bonito por natureza. Parecia cansado e eu entendi — ele não estava em casa ontem. Ele deu um passo para dentro de casa e rapidamente deu o mesmo para fora, ao nos ver. Ele observou o garoto por um tempo, que se sentiu envergonhado e foi para o elevador, e quando seu olhar se cansou, se dirigiu à mim.

— Saindo para comer, Rach?

— Na verdade... — Na verdade estou indo encontrar não-irmãos hoje, mas não é da sua conta. — Vou à uma festa, de faculdade.

— Festa. Faculdade. — Me olhou de cima a baixo. — Se enturmou rápido. 

— Estou tentando...   

— Cuidado com esses lugares. As pessoas te embebedam sem ver. — Me apontou. Sério?

— Pode deixar, papai, eu sei. — Rolei os olhos e ri.

— Espero que saiba, mesmo. Boa noite para os dois. E me conte tudo depois, Rach. — Olhou meu corpo outra vez, me senti invadida por aqueles olhos. Será que a roupa está ruim?

— Ok, ok! Até mais.  

•••

Chegamos na rua da república. Sim, viemos andando. Eu optei por não usar uma roupa que chamasse tanta atenção, porque não queria assustar Bruce. E quando ele me disse que íamos andar um longo trajeto, substituí minhas sapatilhas. Então, camisa de manga curta azul, calça jeans e tênis, me sentindo como uma caloura de novo. Eu sou formada em economia, mas nem sei porque fiz isso. Na verdade, sei: negócios do meu pai, mas ele nunca me cobrou e eu nunca insisti. 

Entro e olho em volta. A casa está cheia e a luz está baixa, misturada à luzes rosas e verdes. Há uma mesa gigante com todas as bebidas possíveis, onde se concentra a maior parte das pessoas, perdendo apenas para a escada. Há sofás, mas os do contra preferem a escada gigante. Há umas pessoas se agarrando pelos cantos, mas a maioria ainda conversa — ainda.

Bruce logo encontra seus amigos Matt, com o cabelo bem curto e loiro, alto, mas um pouco desajeitado; Niu, um chinês de sorriso largo, assim como suas roupas; e Rajesh, um indiano, moreno e magro, mas super descolado. Ou eu diria que eram o novo The Big Bang Theory. Niu me traz um copo de cerveja, enquanto Matt discute com Rajesh se Plutão merece ou não ser um planeta. Eu aceno com a cabeça, concordando com os dois, porque eu não sei dizer, mas fico feliz que eles não estejam tão nervosos por ter uma garota entre eles. 

Um tempo depois de conversar com eles, sei que posso me virar e dar uma volta curiosa, sem que pensem que não os quero. Não é isso, mas estou com fome. Então peço licença e caminho até o lugar que parece ser a cozinha. Será que não tem nenhuma comida? Nenhuma comidinha mesmo? Há um pouco de guacamole e nachos em cima da pia, ao lado de um liquidificador usado — provavelmente para fazer uma batida ou coquetel. Seria ótimo, se eu gostasse de abacate... Mas estou com tanta fome que posso repensar. Passo o dedo naquela mistura verde, com coisas desconhecidas e o chupo, quando sinto uma risada em minhas costas.

—  Deixa eu adivinhar... A gatinha não gosta de abacate. — Um moreno, de olhos claros, um pouco mais alto que eu e um sorriso de tirar o fôlego coçava o queixo ao me olhar.

— Não mesmo, mas fazer o que? — Dei de ombros e voltei a passar o dedo. Quando eu ia chupá-lo, o garoto chupou antes. Abusado! Admito, foi sexy.

— Tem pizza. Estava guardando para os mais chegados, mas você tem privilégios. — Abriu uma pizza maravilhosa de peperoni.

— Eu agradeço, mas se chupar meu dedo de novo, vou ser obrigada a te chutar e depois a gritar. — Você achou mesmo que eu não diria nada?

— Desculpa. — Passou o dedo na sobrancelha e riu. — Sou Joshua, o dono da festa, pode me chamar de Josh. Você, quem é?

— Rachel. Amiga do Bruce. 

— Sei quem é... É um cara legal. — Cortou um pedaço e colocou em um prato, me entregando.

— Obrigada. Você pode voltar para a sua festa, sei como é ter que recepcionar. — Sorri e comecei a comer.

— Eu vou, mas quando você acabar, a gente se vê lá. 

— É claro... Obrigada, de novo, Josh. 

Ele piscou, abriu aquele sorriso e acenou com a mão, deixando a cozinha. Será que estou flertando? Não, eu só fui legal, mas eu poderia flertar com ele, se ele quisesse. Enfim, terminei o meu pedaço de pizza e peguei mais um. Minha fome em primeiro lugar.

Deixei a cozinha, agora, completamente perdida. Nos quinze minutos que perdi, a festa se multiplicou em proporções infinitas. Ops, olha só a economista falando, mas sim: está cheio de gente. Rostos desconhecidos, risadas e músicas altas. Acho que estou me sentindo viva, deixando de lado meus medos e incertezas desde que cheguei nessa cidade. No momento, estou misturada à várias pessoas, que também estão misturadas à mim e não me cobram nada ou me exigem nada com o olhar. Todos queremos nos divertir, então eu vou fazer isso.

Pego mais um copo de cerveja e ajudo uma garota atrás de mim à se servir com o ponche. Lembro de como servia as pessoas na minha época e do quanto adorava beber isso. Daí você cresce e seu corpo parece ter bichinhos que só se matam com destilados. Então pego um ursinho-de-goma-com-vodca e o mastigo, andando para a frente, rumo à não sei onde. 

Eu deveria ter pego mais um ursinho, mas ao invés disso, dou um gole na cerveja e quando me dou conta, estou na primeira fila de uma "pista" improvisada. Há vários casais, homens fazendo gracinhas e mulheres apenas dançando para o seu próprio prazer. Porque sim, homens, nós dançamos para nós, para a música entrar no nosso corpo e nos renovar, mas não para vocês. Mais um gole grande e me junto à elas.

Pego o fim de Work, da Rihanna, que adoro e foi minha inspiração para entrar na pista e sigo, enquanto começa Confident, da Demi Lovato. Levanto meus braços e mexo meus quadris, sorrindo, saboreando a batida e também a letra, principalmente a parte que ela diz estar se libertando e que faz suas próprias escolhas. Sim! É exatamente o que estou fazendo. Apesar do medo de estar sozinha em um mundo desconhecido, eu estou livre e agindo por mim mesma. Isso é libertador, meu corpo sente isso. Agora, movo minha cabeça, para os lados e sinto meu cabelo se balançar no vento. Eu estou confiante, próxima de mim mesma, sendo a Rachel de Los Angeles como era com as amigas. Livre. Louca. Leve. 

Não paro de dançar, meu corpo pede mais e então quando começa The Hills, do The Weeknd, sinto duas mãos alcançando minha cintura por trás e dançando comigo. Seus dedos são largos e a mesma respiração que senti na minha nuca, na cozinha, agora está no meu pescoço, levando o nariz até minha bochecha. Olho para ele de lado, apenas para checar, mas sim, é Josh quem está dançando sensualmente comigo e eu me permito à isso. Passamos algum tempo assim, até que ele me vire e eu apoie meus pulsos em seus ombros, seguindo seus movimentos. Sua mão escorrega para um pouco além do fim das minhas costas e sua testa se encosta à minha. Estamos sorrindo. Flertar é bom. Ele curva um pouco o corpo para me beijar e o sorriso estranho de Peter antes de eu sair, cruza minha mente. O quê? Ah, não! Meu cérebro começa a se lembrar dos conselhos sobre festa em repúblicas e eu desisto de beijar. Por sorte, a música termina e eu beijo sua bochecha, ainda sorrindo. 

Não quero assustá-lo. Ele não avançou demais, mas eu dei um passo para trás em hora errada. Eu posso ser beijada e não há nada que o irmãozinho possa fazer para impedir isso. Aliás, ele nem está aqui! Eu sei que ele tem razão em algum ponto. Josh, provavelmente, me quer por uma noite e depois vai me tratar como se não me conhecesse. Vai sumir, ignorar ligações ou na pior das hipóteses, outra garota vai atender quando eu ligar. Nossa, eu sou tão pessimista!

Ele entendeu que não vai rolar beijo, mas mesmo assim, não pareceu irritado como a maioria dos caras ficaria. Saímos da pista, com a mão dele em minhas costas, mas não conseguimos conversar, já que mais amigos chegaram, desviando sua atenção. Sorrio e aceno com a cabeça, permitindo que ele vá com eles em algum lugar, que eu suponho ser a mesa de bebidas. Seguro meu cabelo para cima e me abano, está calor e abafado aqui. Bruce me encontra e me leva para a varanda, com o resto do pessoal. Lá também está cheio, mas é refrescante.

Seus amigos estão mais leves e me perguntam sobre meus primeiros dias e tudo o que sempre perguntariam. Respondo, com prazer, cada uma delas, enquanto Niu me traz outro copo de cerveja. Estou tão relaxada, que as horas passam e eu não noto.

São cinco da manhã, quando parte das pessoas se dispõe a ir embora. Ainda não está claro o suficiente, para irmos em segurança, mas o grupo insiste em acompanhar Bruce e eu. Nenhum tem carro, sabemos como pré-universitários são desprovidos de dinheiro, então temos um longo caminho até em casa e com certeza, vai ficar claro até antes mesmo de chegarmos.

Estamos reunindo nossos copos e entrando, para depositá-los em uma sacola gigante que eles chamaram lixeira, quando Josh nos olhou e veio até nós.

— Já vão? É cedo. — Abriu os braços.

— Já, é um pouco longe para nós. — Apontei os quatro, me apontando em seguida. — E os meninos primeiro vão nos deixar, depois vão para casa.

— Vão de metrô? — Colocou uma mão no bolso.

— A pé. — Ri.

— Nem pensar! Eu levo vocês. — Tirou a chave do bolso.

— Não, não, não. — Balancei as mãos, enquanto os meninos confirmavam o contrário.

— Eles venceram. Quatro contra um. — Riu, rodando a chave nos dedos, antes de colocar sua mão em meu ombro. — Vamos.

Eu assenti e eles comemoraram! Ele nos levou e o caminho ficou bem menor. Às vezes, ele tocava meu joelho ou coxa e sorria. Eu sorria de volta e olhava os meninos, pelo retrovisor, estavam apertados no banco de trás, mas parecia um jogo ótimo para eles. Meninos... 

Josh levou o trio primeiro, nos deixando por último. Descemos do carro e Bruce foi na frente, já que ele pegou minha mão, me puxando para trás.

— Obrigada pela carona... — Apertei sua mão.

— Não foi nada! Eu só preciso voltar logo. Deixei James cuidando da festa sozinho e não vai dar muito certo. — Coçou a cabeça, rindo.

— Tudo bem, eu entendo. Boa noite, Josh. — Coloquei um pé na calçada, mas sua mão segurou a minha mais forte.

— Quer sair comigo?

— Quando?

— Eu tenho prova nos próximos dias... Quarta-feira, pode ser?

— Pode sim. — Eu ia dizer "É claro!", mas isso pareceria muito desesperado.

— Então, Quarta, às 21h.

— Ok! Até lá. 

Ele beijou minha bochecha demorado e soltou minha mão. Acenamos, um para o outro e eu girei o corpo, rumo à porta. Bruce estava me observando, que vergonha! Coro, sorrio e entramos juntos, em silêncio. Ele vai para sua casa e eu entro no elevador, como poucas vezes, durante esses dias. Parece que cheira à Peter, mas é cedo para ele ter voltado. Ou voltou com alguma mulher. Meu peito apertou forte dessa vez e faço uma careta. Acho que estou bêbada e confusa, deve ser isso.

Eu preciso focar em: eu tenho um encontro! E o cara é legal, bonito, educado e muito sexy. Minha vida está começando a se movimentar e meu corpo está aceitando NY. 

Josh, hoje, conheceu uma parte da verdadeira Rachel. E mesmo antes de dançar comigo, me viu comer e não me tratou como uma irmãzinha menor. Ele não teve pena de mim, se me trouxe, foi para me convidar para sair. Eu sou uma mulher e estou me sentindo como tal!

Saio do elevador com um pouco de tontura. Talvez eu bebi demais, mas mesmo assim, antes de entrar, encaro a porta daquele apartamento. Sim, eu estou bem, hoje. Eu fui igualzinha à você e cheguei bem tarde. Flertei, bebi, fui louca. Você já pode parar de entrar na minha mente, porque eu vou ter um encontro e não é com você, 704.


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