O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 13
Capítulo 13




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Saí mais cedo, hoje. Há um pouco de sol entre as nuvens, muitas delas, mas não parece que vai chover. É apenas mais um dia de frio. O sol me atinge e eu agradeço, andando mais rápido para me esquentar ainda mais. Mark foi legal em me liberar alguns dias mais cedo, depois das semanas pesadas que tive. Ele é o melhor chefe, quando pode...

Já recebi o meu primeiro salário, essa semana e estou sorrindo para todos os lados. Comprei artigos de cozinha, para não acabar como Peter e artigos para a sala, para ficar mais do meu jeito. Minha geladeira está mais cheinha e meu bolso também. Apesar de ter enfrentado desafios com minha própria memória fraca e sua aversão à pagar contas, eu gastei de maneira consciente. Posso fazer planos de viajar ou comprar uma bicicleta, finalmente. Vamos ver.

Parei para comprar um frozen yogurt e fui para casa, sem música, dessa vez. Acenei para Bob, que estava ocupado demais batendo numa mini televisão para ver um jogo ou algo assim. Elevador funcionando. Parece que Paul deu um descanso, finalmente. A relação com Stacey — ou como quer que eles chamem — deve ter ajudado sobre isso. Não sei. É engraçado que na mesma época que Paul se acalmou, Peter parou de trazer mulheres, mas isso é apenas um fato qualquer. Acho que nem são amigos. 

A porta do elevador se abre e noto que vou subir com uma garota, que nunca tinha visto antes. Aperta o nono andar. Ela é bem mais baixa que eu e asiática. Devemos ter a mesma idade ou algo assim. Ela segura sua sacola do mercado contra o corpo e arruma o óculos, enquanto puxa assunto comigo.

 

— Você é do andar do Peter Clark, certo?

— Sim... — Fechei os olhos e suspirei. Ex ou admiradora?

— Vizinha dele? São amigos? — Pareceu empolgada, agora.

— Também. Precisa que eu entregue algum recado? — Coloquei a mão livre na cintura.

— Não! Só queria saber se você foi convidada para a festa de aniversário dele e se sabe se vai ser temática. Não tinha nada explicado no cartão...

— Cartão? Você quer dizer... Convite? — Levantei as sobrancelhas. Festa, convite e eu não sei de nada!

— Sim, sim. Hoje, às 22h! — Sorriu. — E então, você sabe?

— Na verdade não...

— Ah, entendi. — Fez uma pausa e me apontou. — É ex dele.

— Não! — Exclamei. — Eu só não sei. É melhor perguntar para ele.

— Tudo bem. Obrigada por nada. — Suspirou.

 

O elevador se abriu e eu quase me joguei para fora. O que foi isso? Tenho mil coisas para ordenar na minha cabeça, agora. Peter vai fazer aniversário e não me convidou. Há alguém no prédio que acha que somos ex-namorados e... Já disse que ele não me convidou para o seu aniversário? 

Bufo e abro a porta, quase caindo, pisando em um papel que estava próximo à mesma. Era o convite! Quando drama para nada, Rachel... O papel é simples, parece mais um panfleto do tipo que recebíamos no colégio, nos anos 90. Simples, comunicando sobre a festa, dizendo para celebrar o 29° aniversário dele e que a única exigência é um presente. Bem, parece que não é uma festa fantasia como a garota ficou em dúvida e agradeço, porque arrumar uma fantasia de última hora é sempre uma missão impossível! 

Noto que há algo com uma tinta preta e forte ao avesso do panfleto e o viro. É a letra de Peter, muito provavelmente, porque o que está escrito me deixa bem claro.

Esqueça o presente.

Traga seu namorado.

Ok. A letra é linda, mas estou rindo para o papel. É um conjunto de palavras sem sentido. As duas frases se complementam ou ele apenas queria me dar permissão para arrastar Josh comigo? Ele quer conhecer meu namorado como presente de aniversário? Não... Ou sim? Isso parece meio típico dele, não é? Enfim, é melhor não me focar nisso e correr atrás de um presente. 

Josh e Peter juntos? O que será que isso vai dar?

 

•••

 

Tudo pronto! Estou nervosa e roendo a unha do indicador. Droga! A campainha toca e eu pego o presente no balcão — um conjunto de pratos e copos, porque ele precisa!—, abro a porta imediatamente e saio, sem deixar Josh entrar. Ele me dá um selinho e ri.

 

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, mas é a primeira festa que eu vou nesse prédio e quero causar boa impressão. Vem!

 

Menti. Eu estou nervosa para ver Peter. Suas amizades, suas garotas, seu ar de aniversariante e dono da festa. Para ver seu comportamento, durante toda a noite e especialmente com Josh. Para notar sua reação sobre um presente que ele não pediu. Quero saber se é mesmo hoje, seu aniversário ou se já passou e não nos vimos. Quero ver Doc, outra vez. Quero ver como Stacey e Paul irão se comportar em público. Me sinto empolgada demais, como se fosse meu próprio aniversário. Isso é estranho.

Toco a campainha e uma garota de cabelo loiro escuro e olhos azuis, como o oceano abre a porta. Seus seios saltam, sob a blusa regata, com o pulinho que ela dá quando nos vê e Josh olha, mas disfarça. Como não olhar?

 

— Rachel! — Seu sorriso se iluminou para mim e revelou dentes maravilhosos. A garota é perfeita e eu... Sou apenas eu.

— Nos conhecemos? 

— Ai, que burra, desculpa! Eu te conheço da foto. Sou Jessie!

— Ah! — Que alívio. — Irmã do Peter... Tudo bem?

— Tudo e você? — Beijou minha bochecha e a de Josh, em seguida, abrindo mais a porta para nos receber.

— Bem, obrigada... É um prazer conhecer você.

— Te digo o mesmo. Você é mais linda pessoalmente.

 

Corei. A garota mais bonita que já vi está me elogiando. Ela tem a energia ótima, assim como o irmão. Despreocupada, meiga, esperta... Josh e ela se encaram algumas vezes, tenho a impressão que já se conhecem, mas não dou importância. A casa está totalmente enfeitada por balões e bexigas de todas as cores. Fizeram um poster de papelão com a foto dele em tamanho quase original e algumas pessoas tiram fotos com ele. Está engraçado e também lotado de rostos desconhecidos. Doc vem me receber e fico brincando com ele por um tempo, dispersa de onde estou.

 

— Foto? De que foto ela estava falando? — Josh se curva e me interroga.

— De uma foto em Long Island. — Dei de ombros, sem olhar para ele, mas sua voz mudou.

— Ah. De quando você sumiu, então?

— Sim...

— Vou pegar bebida para a gente.

 

Me levantei e olhei em volta, enquanto Doc entrava no quarto. Avistei a garota do elevador, que estava me olhando fixamente, acho que esperando que eu a olhasse de volta. Ela apontou para o meu lado e entendi, depois de alguns segundos que não era para mim, mas sim para a estante de gavetas estranhas, atrás de mim.

Giro o corpo e noto que a nossa foto está em um porta-retrato improvisado sobre a estante. Coro, mas sorrio sem perceber e volto à olhar a garota, que sorri ironicamente. Acredito que ela tenha se convencido que namoramos, depois disso. Ela dá de ombros para mim e sai rumo à um grupo pequeno de pessoas, pensando que ganhou. Algumas pessoas também olham a foto e tentam ter certeza que sou eu, provavelmente supondo o mesmo. O que eu posso fazer? Não estava pendurada ali da última vez...

Finalmente avisto Peter e ele vem até mim. Sinto que meu corpo se esquece de respirar, quando meu peito começa a bater forte, no instante em que ele está próximo. Alguém esbarra o ombro, gentilmente, no meu e vejo que Josh voltou com as bebidas. Ok, agora estamos os três e eu nunca pensei que isso ia acontecer. Peter se lança para mim, me abraçando com uma mão e dando um beijo na testa, mas logo se afasta, olhando fixamente para o meu namorado.

 

— Josh, esse é Peter. Peter, esse é Josh. — Apontei os dois, com a mão livre, antes de pegar meu copo.

— Prazer. Namorado dela. — Sorriu com um ar superior. 

— E eu sou o melhor amigo. Fiquem à vontade. — Estendeu a mão, sério e Josh apertou. 

— Pode deixar. Feliz aniversário, cara.

— Obrigado. A casa é sua, Rach.

 

Peter me lançou um olhar congelante, antes de sair, me fazendo esquecer completamente de entregar o presente ou puxar algum assunto que amenizasse essa cena estranha. Ele me pediu para trazê-lo e agora mudou de ideia? Qual o problema dele? Vai ser sempre assim?

Josh encontrou algumas pessoas conhecidas. Parece que ele é amigo da cidade toda, enquanto eu não localizo nem os meus. Tento me focar no assunto deles e ser a namorada amigável, mas não sei quantos pontos o Giants fez noite passada, então sorrio e aceno com a cabeça, enquanto olho Peter se divertir. Algumas risadas com amigos, abraços, tapas estalados nas costas e fotos perto do poster. Ele está feliz. Ou estava até me encontrar com o olhar.

Será que eu não devia ter vindo? Acho que fui ingênua demais e não devia trazer um ciumento para ver outro, mas estava mais do que na hora deles socializarem e minha mente parar de colocá-los para brigar. Agora eles brigam de verdade. Uau! 

Jessie abre a porta e um grupo de garotas entra, fazendo barulho e rindo alto. Viro os olhos para elas e sua empolgação, mas Peter fica contente e vai até elas, dando toda atenção do mundo e ficando no meio delas, sendo o galinha de sempre. Finalmente lhe devolvo o olhar frio e termino meu copo. Estamos quites, agora. 

Tento passar o tempo sem pensar em quantas delas já esteve com ele e se alguma foi a que gemeu bem na minha orelha ou na minha parede, que dá no mesmo. Sua irmã parece incomodada por elas, também e aumenta o volume de um rádio antigo, que toca Can't Stop Dancing da Becky G. Ela começa a dançar, despreocupada, no meio da sala e me puxa para me juntar à ela. Posso fazer isso! Deixar de lado o ego inflado dos dois e esquecer dos problemas, por um tempo. Aos poucos, as pessoas se juntam à nós. Homens e mulheres rindo, com os braços para cima e mente relaxada. Isso é um aniversário! 

Estou com os pensamentos na lua, quando Josh me puxa para dançar apenas com ele. Não era bem o que eu queria, mas entendo que está com ciúmes e eu dei pouca atenção. Continuamos à dançar, quando a música muda para Replay, da Zendaya. O toque é um pouco mais lento e até provocante, posso sentir a ponta de seus dedos deslizando pela minha cintura, subindo a descendo em um bom ritmo. Danço de costas para ele, quando um barulho de porta batendo tira minha atenção. É a porta do quarto de Peter. Puxo Jessie para nós dois e os deixo dançando, me misturando entre diversas pessoas e vou atrás dele. Talvez ele esteja com alguém lá dentro e bateu a porta, pela empolgação do momento. Eu ignorei esse pensamento e abri a mesma, entrando.

 

— O que aconteceu? O que foi isso? — Franzo o cenho e cruzo os braços, olhando-o deitado na cama.

— Você ainda pergunta? O que foi aquilo, Rachel? — Sentou-se, fechando os punhos, pressionando-os na mesma.

— Eu estava dançando! Sua irmã também! — Me defendi.

— Com ele. Ele estava quase... Transando com você na pista. — Seu olhar está estranho.

— Você acha que eu faria isso? — Ri, nervosa. — Não entendo você. Primeiro me pede para trazê-lo e agora fica assim.

— Sei o que eu pedi. — Levantou. — Queria saber se ele valia a pena. Se ele merecia alguém como você, mas pelo visto, não.

— Peter... Você não o conhece, ok? Não sabe nada sobre ele, você não pode dizer que...

— Eu posso dizer! Posso dizer que ele quase caiu com o rosto no decote da minha irmã ou deu mais atenção para os amigos dele do que para você! E que ele foi um estúpido, babaca se apresentando como namorado. Ele só quis se auto-afirmar!

— Mas ele é meu namorado! — Exclamei. 

— Não. Ele não é. É um cara sem compromisso, sem respeito com ele e menos ainda com você, Rachel. — Puxou minha mão e a levantou. — Vê algum anel aqui?

— Não, mas nem toda relação precisa de um! 

— Você precisa! — Sua voz era áspera. Ele estava me atacando. — Você merece e ficando com ele, não se dá o valor.

— Talvez eu não me dê valor nenhum, afinal. Ficando com um cara que não me pede em namoro e beijando vizinhos que se sentem no direito de dar lição de moral em mim.

— Exatamente, você me beijou e foi muito bom. Como também posso te dar lição de moral e vou... Termine com ele. 

— O que? — Olhei em seus olhos, com uma expressão de dúvida, mas ele parecia falar sério.

— Termine, Rachel. — Seu corpo ficou mais perto do meu, nossos nariz quase se encostaram.

— Você não manda em mim. 

— Me diz que você quer ficar com ele, agora e eu te deixo em paz.

— Eu não preciso dizer.

— Diga e então te deixo ir. — Me puxou para ele, nossos corpos se chocaram.

 

Engulo em seco. Não tenho reação para essa cena. Quase caí com o movimento brusco dele e agora sinto sua respiração quase em cima de mim. Meu peito bate forte, mas parece comum, perto do dele. Sua mão treme sobre minha pele e sua respiração tem uma raiva que já conheço. Preciso pensar em alguma resposta e parar de notar tudo o que ele faz, mas é em vão. Meu cérebro parece bloqueado depois disso.

Nos olhamos por algum tempo, regulando a ira que está em nossos corpos e eu começo à tentar me desfazer daqueles braços fortes, me puxando mais e mais. Nossa força briga, como tudo em nós, mas nessa luta, obviamente ele ganha. Estou irritada, encarando-o e pedindo dessa forma com que ele me solte, mas ele parece se divertir com isso, embora seu rosto siga tenso. Tento me soltar mais uma vez e ele me beija desesperadamente. Tento dar um passo para trás e empurrá-lo, mas estamos tão unidos que é impossível. 

Sua língua invade minha boca e meu peito aperta, logo se expandindo. Parece que há fogos de artifício e toda uma comemoração em mim. Eu permito que ele faça isso, aos poucos e me entrego ao momento. Minhas mãos estão em seu rosto e as dele seguem me segurando, tomando meus lábios e minha respiração. Minto, tudo em mim é dele. Esqueço de tentar lutar, da festa lá fora, do mundo complicado em que vivemos. É o melhor beijo de guerra que já provei.

Nossa respiração aumenta e eu seguro em sua camisa, sentindo sua sua mão que varia para minha cintura. Ele perdeu o medo de que eu vá embora, provavelmente, porque agora ele apenas me toca e... Me lança à parede. Uau! Isso tomou uma velocidade inesperada. Sua boca para de provar a minha e parte rumo ao meu pescoço. Eu pressiono as mãos em suas costas e sinto um arrepio subir por todo meu corpo. Gemo. 

Não consigo me livrar de Peter até que a porta se abre e nos assustamos. Ele dá um pulo para trás e eu entraria pela parede afora se existisse um buraco. Estou mais vermelha do que nunca e sei que devo estar despenteada. Meu rosto queima quando vejo Jessie sorrindo e arregalando aqueles olhos incríveis para nós.

 

— Meu Deus! Eu... Eu... Não esperava. Desculpem. — Balançou as mãos. — Eu queria saber se você estava bem, Peter, mas já tenho a resposta.

— Jessie... Vai brincar. — Peter encarava o chão e os móveis baixos próximos à nós.

— Eu não vou deixar ninguém entrar, prometo. Levem o tempo que precisar. Desculpem, de novo! — Fechou a porta.

 

Levamos alguns segundos torturantes para nos olharmos. Não havia o que dizer e também o clima havia ido embora. Além do mais era um fato: precisávamos voltar. Suspirei e ele veio até mim, como se agora pudesse ler minha mente com essa última frase. 

 

— Precisamos ir... — Retirou alguns fios de cabelo do meu rosto.

— Eu sei. — Concordei.

— Você está bem? Digo, vai ficar bem?

— Sim...

 

Ele encosta sua testa na minha e eu fecho os olhos, tocando seu queixo com um pouco de barba por fazer. Brinco com o dedo por toda a extensão do queixo e bochecha, esperando até que nossa respiração se regularize e mantenha um compasso bonito e calmo, juntas. Peter está calmo. Não parece em nada o selvagem que me tocou minutos atrás. É a segunda vez que me beija e sua reação é a mesma, após isso. Doçura e calmaria. Parece que meus beijos o alimentam.

 

— Pete... 

— Sim?

— Feliz aniversário. — Murmurei.

 

Eu não o vejo sorrir, mas sinto, quando meus lábios se colam aos dele para um selinho demorado. Acabo de perceber que ele também me alimenta, de alguma forma, pois estou pisando em algo que parecem nuvens. Vou até a porta, em passos leves e aceno, sorrindo para ele, que retribui. Um de nós precisa ir na frente e é melhor que seja eu, por alguma razão que não consigo pensar. 

Há toda uma festa e não só ao meu redor, mas agora, dentro de mim mesma. 


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