O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 14
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678992/chapter/14

A festa de aniversário de Peter ocorreu calma depois do que aconteceu no quarto — ou pelo menos eu a vi assim. Seus amigos, apesar de gritarem bastante, não causaram confusão ou conflitos. Claro que alguns já dormiam no sofá, mesmo antes de terminar, mas quem nunca viu um bêbado dormindo pelos cantos em uma festa? 

Jessie foi uma ótima anfitriã e todos se serviram bem, além de dançar até altas horas. Confesso que abandonei a festa um pouco cedo. Estar com Josh, ali, começava à ficar sufocante. E não por ele ou porque Peter lhe causou algo, mas por mim. Pelo gosto que eu trazia nos lábios. Tudo, daquele beijo em diante, estava diferente. Eu seguia, sem gravidade, por um mundo que não era meu, mas nosso. De Peter e meu.

Não foi um beijo como o da primeira vez, apesar de trazer a mesma impulsividade para que o segundo acontecesse. Foi... Desejado, esperado e até errado, mas não havia mais erro, quando meus lábios eram dele. Quando meu corpo pedia por ele. Eu precisava entender que meus sentimentos estavam me dando avisos que eu tentei ignorar, para prosseguir o resto da noite em paz e com meu namorado.

No dia seguinte, variando entre a ressaca e a culpa, eu consegui me livrar de Josh. Ele foi fazer não sei que coisa com os amigos, enquanto eu passei o dia dormindo, para não pensar ou tomar qualquer decisão. Fui covarde, eu sei, mas foi a primeira vez que isso aconteceu na minha vida.

Eu nunca traí um namorado, nem nunca gostei do que eu fiz, mesmo que tenha sido errado aos olhos de todo mundo, inclusive aos meus. Sei que minha cabeça me incita e provoca, dizendo que nós não namoramos realmente e as palavras de Peter passam como um filme, mas é dessa forma que estamos levando a relação. Ou estávamos.

A Segunda-Feira veio e com ela aquele sentimento depressivo de que mais uma semana começaria e todo o trabalho e cansaço também. Foquei totalmente no meu trabalho para me poupar a decisão se ia ou não falar com Josh essa noite e pareceu funcionar até que bem. Estou me saindo ótima na parte de não decidir nada!

O expediente terminou e eu abandonei o lugar sem trocar quase nenhuma palavra com Mark ou Daya. Tenho a impressão de que se eu começar à conversar com qualquer pessoa, vou desabar e não é o que eu quero. Principalmente onde trabalho. Não quero chegar aqui todos os dias e pensar que eu chorei no lugar onde preciso voltar cinco dias na semana.

Já é primavera e o clima está melhor. Uma jaqueta leve é o suficiente para a minha caminhada de sempre. Mãos nos bolsos e um olhar atento ao meu redor, que por sorte, não encontra um rosto conhecido. Entro no prédio e já percebo Bob e seu olhar irritado para o elevador. Ok, Paul está de volta! Fazia certo tempo que ele não aprontava uma e não vê-lo na festa de Peter talvez não tenha sido um bom sinal.

Estou terminando a escada do quinto andar, quando olho a próxima e encontro Stacey e um garoto novo, conversando e sendo acompanhados por uma garrafa de Smirnoff. O silêncio toma conta antes mesmo que eu me aproxime e não tenho coragem de quebrá-lo. Coragem não é a minha palavra favorita esses dias.

 

— Não me olha assim, Rachel. Danny é gay. Diz para ela! — Stacey está bastante alegrinha, apontando seu amigo.

— Eu sou gay! — Levantou uma mão, enquanto levou a garrafa até a boca com a outra.

— Ok, prazer, Danny. — Sorri e encostei na parede. — O que vocês tem?

— Preguiça de subir as escadas. — Ela me encarou um tempo.

— Faltando menos de 30 degraus pra chegar em casa? Stacey, por favor! Isso tem a ver com o Paul?

— É dia dele trabalhar hoje. De quebrar coisas... O assunto de sempre. Eu quero que ele se... 

— Stacey! — Danny a cortou e riu. — Ela está com ciúmes dele, mesmo que não admita.

— Eu percebi. — Assenti. 

— E você com essa cara péssima, Rachel, o que Peter te fez? — Ele perguntou e eu corei, não sem antes lançar um olhar bravo para ela.

— Eu sou de confiança e seu vizinho do 602. Pode contar tudo, vamos tentar te ajudar. Não deu certo com Stacey, mas quem sabe com você...

 

Sentei entre Stacey e o meio loiro, de olhos castanhos que me deu um sorriso gentil e receptivo. Eu posso contar para eles? Sim. Eu posso desabar aqui? Sim, porque é minha casa. Minha amiga está aqui, meu porto seguro. Sei que ela talvez me repreendesse por Peter, mas ela não fazia o tipo julgadora e sabia, melhor do que eu mesma, o tamanho dos meus sentimentos. 

Suspirei e olhei para cada um, por um tempo. Estou pronta.

 

— Gente, eu beijei o Peter na festa de aniversario dele.

— Mas e o Josh? — Stacey arregalou os olhos.

— Quem é Josh? — Perguntou Danny.

— Meu namorado. Quer dizer, o cara que está comigo. — Dei de ombros, decepcionada comigo mesma. — Ele não viu, S, foi no quarto. 

— Você beijou Peter Clark e está triste? Garota, cadê os fogos de artifício? — Ele pareceu incrédulo comigo enquanto Stacey gargalhava.

— Tinham fogos dentro de mim, Danny, mas é como S disse... E Josh? Foi traição! Eu sou horrível!

— Então você quer contar para ele?

— Você vai contar para o Josh? — Stacey gritou e tampamos sua boca com as mãos.

— É meu dever, certo? — Os dois me olhavam sem resposta. Levantei a voz. — Certo?

— É o certo... — Danny disse, parecendo derrotado.

— É, Rachel, mas isso vai trazer consequências. — Stacey suspirou. 

— Eu sei... — Olhei os dois.

 

Permanecemos quietos, encarando a garrafa que estava no degrau abaixo. Acredito que cada um estava pensando sobre suas próprias culpas ou problemas. Eu sei exatamente o que devo fazer, então é melhor que o faça antes que desista. Puxei a garrafa, dei um gole destemido, despedi rapidamente e subi correndo, quase atropelando os degraus embaixo de mim.

 

•••

 

Estou pronta pata sair com Josh. Um pouco nervosa, confesso, então me arrumei o minimo possível e desci para esperá-lo. 

Apesar do meu humor, ele optou por ir à um pub bem movimentado e eu não recusei. Tenho medo da reação dele, quando eu contar e fazendo isso em um local público, as chances de violência são menores. Vi na TV!

Eu não contarei exatamente no meio do público, não quero causar vergonha ou expor Josh ao ridículo, mas ter alguma proteção externa é bom. Isso me faz lembrar James. Ele gritaria para toda a cidade vários nomes sobre mim. 

O que James tinha de bonito, tinha de estourado. Ele brigava até sobre uma frase que ele não entendia e a jogava fora de contexto. Ele teve partes boas, é claro, mas namorar com ele me fez, com certeza, ser mais cautelosa em algumas situações, sem estendê-las, dizendo o que quero de início ou cortando quando vejo que não há solução. Por que estou falando dele? Não posso comparar todos à ele sempre! Vamos virar a página...

Josh quis ficar no bar, enquanto comíamos aperitivos, mas eu o convenci à pegarmos uma mesa, para jantar de verdade e o fizemos. Ele insistiu em pagar, mas eu venci, pagando pelos dois.

Ok. É hora de resolver isso. Não posso enrolar e enganar alguém para sempre. Eu não gostaria que fizessem isso comigo.

 

— Josh... Precisamos conversar. — Não consegui encará-lo nos olhos, então foquei nas minhas unhas.

— Por que não vamos dançar antes? Essas conversas podem esperar! — Riu e puxou minha mão, desviando meu foco para ele.

— Não. Precisa ser agora...

— Vai me dizer que está grávida? Não devíamos ter tomado cerveja, então! 

— Não é sobre isso. — Neguei com a cabeça.

— É só suspeita? 

— Não é um bebê! — Exclamei. Fui terrivelmente grossa, droga! Respirei fundo e tentei diminuir a voz. — Mas é importante para a nossa relação...

— Então me fala. — Apertou minha mão e fechei os olhos.

— Ok... Certo. — Fiz uma pausa, inalei profundamente. — Peter me beijou.

— Ele fez o quê? — Gritou e bateu a mão na mesa, me fazendo dar um pulinho. — E você?

— Eu correspondi, Joshua. Me desculpa, eu sinto tanto por isso. Tanto!

— Vamos dançar, Rachel.

— O quê? — Fiz uma careta. — Você ouviu o que eu disse?

— E você, ouviu o que eu disse? Vamos dançar. Agora.

 

Sua voz era tão fria que me deu arrepios. Ele se levanta e puxa minha mão, não sinto que deva recusar e sigo com ele. O lugar não é tão grande, mas está cheio de gente. Competimos pelo espaço, mas logo estamos na pista. Está tocando Why Don't You Cry, da Willow Smith e ela cai muito bem, por como as coisas estão indo.

Josh não me puxou para a pista para dançar comigo. Não. Foi pior. No meio da pista, ele solta minha mão e vai cumprimentar uma garota, com beijos, abraços e... Começa à dançar com ela! Meu Deus! Esse é o tipo de vingança dele?

Assisto, sem reclamar, durante um tempo pois estou em choque. Eles dançam sensualmente, com as testas encostadas e o corpo colado. A garota começa a beijar seu pescoço e meus olhos se enchem. Eu sei, estou errada, mas eu não preciso presenciar isso. Ele não precisa me fazer passar por isso. Somos adultos! Estou no meio da pista, sendo empurrada por pessoas alegres e casais felizes, mas eu não me encaixo em nenhum dos lados. Estou sozinha e infeliz. 

Quero gritar, mas não o faço. Ao invés disso, vou até ele e toco seu ombro. Chega de me fazer sofrer por hoje.

 

— Ok, Joshua, eu vou embora. — Disse, séria, mas meus olhos delatavam a tristeza.

— Espera! — Ele disse para a garota e então se virou para mim. — Vai embora por que? Doeu, Rachel?

— Não! Foi ótimo! Você é um ótimo dançarino. Nada que eu não soubesse. — Andei rápido até a entrada, mas ele me puxou.

— Você não vai embora! — Riu. — Você ainda nem viu o beijo que vou dar na Brittany.

— Eu não quero ver nada! Eu não preciso! Achei que poderíamos nos resolver como adultos, mas você não é um.

— É adulto trair, Rachel? — Sua voz saiu alta, atraindo alguns olhares. — É adulto contar uma história sobre melhores amigos e enfiar a língua na boca dele?

— Não foi bem uma traição, se nós nunca namoramos realmente, mas se você tomou assim, bem... Eu te traí, você me traiu, estamos quites. Agora estou "terminando" com você, se isso não ficou claro! — O encarei, com a mão na cintura.

— Nossa, como se não fosse o que eu estava esperando para fazer! Terminou. Você é ridícula. — Seus olhos queimavam de ódio e os meus não aguentaram.

— Eu tinha grandes esperanças com você, Josh. Eu pensei que você fosse o melhor... — Limpei rapidamente uma lagrima que escorreu.

— Eu também pensei, mas você foi procurar minha bondade na boca de outro e eu não admito isso! 

— Eu... Sinto muito. — Minha voz saiu chorosa enquanto assistia a famosa Brittany se aproximar de nós. 

— Você vai sentir bem mais. — Piscou e deu um sorriso que já não era meu.

 

A garota tocou seu ombro e olhou para mim, como se tivesse algum direito sobre ele e meu coração se partiu. Eu estava com ciúmes de Josh e sequer podia protestar por isso, porque havia perdido meu direito há noites atrás. Ela nos perguntou se havia algum problema, mas eu não consegui sequer mover a cabeça para negar ou confirmar e saí do pub, correndo.

Minhas lágrimas caem e eu me sinto patética. Eu beijei alguém que não é capaz de ter uma relação e já me deixou isso claro. Depois, eu perdi a pessoa que esteve do meu lado praticamente desde que cheguei. E agora estou perdida, caminhando e chorando em uma rua que eu não conheço.

Isso é viver em New York? Dizem que essa cidade desvirtua as pessoas. Isso é estar sozinha em um lugar e tomar decisões basicamente erradas todo o tempo? Eu me desconheço totalmente. Tirando o fato de ter sido sincera, mais nada parece ser a que eu era. Eu estou me perdendo ou crescendo? 

Cada término leva consigo um pedaço do seu coração e mesmo sem amar James, achei que ele tinha levado o que sobrava do meu. Só não contava em conhecer alguém como Josh e tentar me entregar, outra vez. E quando você entrega algo, aquilo não te pertence mais.

Deixei com ele uma parte de mim, hoje, porque era o certo à se fazer. Eu não poderia continuar com ele desejando os beijos de Peter. Porque é isso que eu quero: mais beijos, mais palavras doces, mais toques. Eu não posso ficar com os dois. Eles não merecem mentiras e indecisões.

Eu vou sentir falta dele. Do seu sorriso, das viagens, das noites românticas, da sua risada e paciência, mas agora ele vai arrumar alguém que realmente o mereça. Que mereça tudo o que fez por mim, nas últimas semanas. Ele vai ser um grande publicitário logo e alguém vai sentir muito orgulho do filme grego que ele fez...

Já eu, vou continuar aqui, no de sempre. Mesmo emprego, mesmas pessoas. Com o coração tentando se curar e com a mente exausta, mas agora confessando a paixão pelo cara do apartamento ao lado.

Sim. Você se apaixonou, Rachel. E não ganhou nada, mas perdeu Josh.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O cara do apartamento ao lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.