O cara do apartamento ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 12
Capítulo 12




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Josh voltou de viagem e não posso conter minha excitação por isso! Todas as mensagens, ligações e videochamadas durante essas duas semanas pareceram curtas demais. Foram dias um pouco solitários sem ele, eu confesso. 

A energia elétrica do apartamento retornou na tarde seguinte e eu voltei para minha vida normal, bem como Peter o fez. Não ouvi voz feminina no corredor, mas ele não dormiu em casa quase dia algum. Stacey está desaparecida desde que voltamos e eu, até hoje, não descobri o que ela faz da vida. E Bruce esteve em semana de provas. Ou seja, eu trabalhei, dormi e só. Josh era o expert em me fazer sair de casa, mas ao invés disso, nos falávamos assim que eu chegava em casa ou quando eu acordava. A diferença de horário nos castigou e me deixou jogada em um canto...

Você não sabe mesmo o quanto sente falta de alguém, até que sua única opção é sentir. Eu gosto dele de verdade, tenho certeza que sim. Eu estava roendo as unhas, antes de pegar seu carro e ir até o aeroporto, buscá-lo. Se um homem te empresta seu carro só pode significar duas coisas: um, você é importante e dois, ele confia em você. Não sou do tipo confiável para a direção e em New York ainda não há ninguém para instruí-lo sobre isso, mas quando eu mesma tentei, ele insistiu.

Então, lá estava eu, com um carro interessante e um GPS que poderia fazer todo o trabalho para mim ou quase isso. Só quase. A parte que me cabia foi um desastre. Fiz um caminho de, aparentemente, uma hora, se tornar quase duas! Eu entrei em ruas loucas, vi pessoas estranhas e ouvi a palavra "recalcular" centenas de vezes. Em algumas, precedia um silêncio que, se aquele aparelho fosse uma pessoa, nós já teríamos terminado e eu estava em casa chorando, com um pote de sorvete e um filme de animalzinho.

Como em um filme, eu o esperei no desembarque e ele veio até mim com seu sorriso de deus grego, que muito amolece minhas pernas, largou sua mala e me abraçou fortemente. Eu suspirei um pouco antes de ele me dar um beijo longo e lento, seguido de alguns selinhos. Isso é bom. Senti meu coração quente, outra vez. 

Eu não sou do tipo clichê, sabe? Na verdade, se ele não tivesse me convencido à vir com o carro dele, eu provavelmente esperaria em casa, até ele me ligar e dizer que já estava descansado e poderíamos fazer alguma coisa, mas estou aqui e isso foi até que legal. Revigorante, como diria minha mãe.

 

— Como foram seus dias? — Beijou meu cabelo e começamos a andar.

— Cansativos. Trabalhei demais... — Levantei os ombros, fazendo careta. — Não vi Stacey, praticamente e esqueci de pagar contas.

— Sério? — Riu. — Você vai pegar o jeito, gatinha. Espero que não tenha sido conta de luz, água e essas coisas...

— Foi. De luz. — Olhei para ele de lado, mas logo abaixei o olhar, com vergonha.

— Mas deu tudo certo? Como você fez? Emprestou de alguém?

— Não... Ninguém tinha. — Falei baixo. — Dormi na casa do Peter.

— Eu teria te emprestado, se tivesse me ligado! — Seus passos ficaram lentos, até que ele parou, estreitando o olhar para mim. — Peter?

— Meu vizinho... Stacey não apareceu a noite toda.

— Peter é... Um velho de 80 anos? Um homem casado, com 10 filhos? Um cachorro?

— Não. Eu nem sei quantos anos ele tem. — Ri e beijei sua bochecha. — Ele é só o cara que mora do meu lado e meu melhor amigo.

— Ah... Gay. — Sorriu.

— Não exatamente. — Retribuí o sorriso, mas cocei a cabeça. — Mas é só meu amigo e sabe sobre você, como eu sei sobre todas as garotas que ele dorme, porque faz barulho perto da minha cabeça.

— Hum... — Fez uma pausa e eu até esqueci de respirar. — Se é só seu amigo e seu namorado chegou, ele vai te mimar, agora. Vamos no cinema, essa noite.

— Sério? Ficou tudo bem para você?

— Ainda estou assustado e com um pouco de ciúmes, mas sei que vamos nos divertir hoje e esquecer isso.

 

Sorri e seguimos até o carro, sem parar, dessa vez. Ele ficou com ciúmes de Peter e eu não tenho argumentos para provar o contrário. Se eu tentasse me explicar, provavelmente chegaria ao "Nós nos beijamos, mas ele disse que era só um beijo e nós fomos na roda gigante, sem você. Ele me viu com um pijama improvisado e curto, mas tudo bem, não tema!" e isso pioraria as coisas. 

Deixei assim.

 

  •••

 

Já estamos no Loews Theatres e já passam das oito. Hoje está bem mais escuro do que de costume e esfriou, também. Aqueço minhas mãos no meu sobretudo vermelho, enquanto Josh compra os ingressos e acompanho-o para pegar pipoca e refrigerante. Ver um filme sem pipoca é tão difícil quando vamos ao cinema. Parece que você precisa disso ou nada vai ser tão completo. Os corredores cheiram pipoca. As cadeiras, também!

A sala não está tão ocupada, ainda, mas estamos tão acima que acabamos notando cada um que entra. Jovens, crianças, casais... Rostos desconhecidos, mas que querem o mesmo que nós: diversão e relaxamento. Esquecer o mundo lá fora. 

As luzes se apagam e a tela se acende. Sorrio sempre que isso acontece. É tão inesperado que chega a ser mágico, para mim. Estou assistindo algum trailer que ainda não sei o nome, quando Josh murmura sobre dormir lá em casa e eu confirmo, apenas com a cabeça. Por que não? Já dormimos juntos, já fizemos de tudo... E Peter também leva garotas naquele corredor. É normal.

O balde de pipoca já está acabando, quando o filme começa. Sigo comendo e concentrada na abertura, até que passam duas cabeças no meio da tela. É um casal rindo e procurando o lugar, que não encontram. Alguns fazem o famoso "shhh" e a garota ri alto, mas é puxada e se senta com o seu par. Ok, eles roubaram toda a minha atenção e eu sei que vou encará-los por um bom tempo, até que eles se comportem.

Sinto que conheço a risada, mas com os barulhos de tiro na parte inicial da trama, talvez eu tenha me confundido. Não vejo tão bem de longe e está escuro, então intercalo o olhar entre o casal e as cenas que me prendem, esperando por uma clara o suficiente, para vê-los bem.

Bingo! A garota se virou para pegar pipoca, que estava no colo do rapaz e eu tenho impressão de que é Stacey. Cutuco Josh, que me olha instantaneamente e eu me curvo, para falar em sua orelha.

 

— Aquela ali não é Stacey? — Aponto com a cabeça.

— Quem? — Pergunta, confuso.

— Lá. A que entrou rindo e atrapalhou o filme.

— Pegando pipoca com o Paul? — Joga o último lance de pipoca na boca e sacode a cabeça. — Uhum.

— Paul? O Paul? Nosso Paul? — Arregalei os olhos e apoiei as mãos nas laterais da cadeira, para me levantar e tentar vê-lo.

— Ele mesmo, tenho certeza. — Riu e me abraçou. — Parece que eles estão ficando...

— Meu. Deus!

 

Eu adoro Paul e Stacey, mas juntos? Será que eles vieram apenas ver o filme? Será que já eram amigos antes ou o Festival os aproximou? Acho que estou um pouco chocada e com ciúmes. Amigas sentem ciúmes sadio! Eu prometi que ia cuidar dela e não a vi nas últimas semanas. Tanta coisa pode ter acontecido que eu não faço a menor ideia. E temos Paul, o mestre em quebrar elevador. É um fato que nada quebrou nos últimos tempos e apesar de adorá-lo pela sua excentricidade, eu não sei se ele é bom o suficiente para minha S. 

Ela olha para trás, como se pudesse ouvir meus pensamentos e eu disfarço, beijando Josh. Ele retribui e eu sigo com os lábios colados nos dele tempo suficiente para a louquinha se cansar e virar para onde estava. E a mesma o faz, mas não sem antes roubar um selinho de Paul. Eu quero gritar, alguém me segura!

Decidi me acalmar e resolver isso depois. É impossível eu querer conversar no meio do cinema e além do mais, meu namorado está com saudades de mim! Sou injusta com ele. Sempre me distraio com qualquer outra coisa. Sinto uma pontada de culpa, então o abraço e permaneço até o filme terminar.

Perdemos o casal de vista, na hora da saída. A sala, de repente, ficou tão cheia, que antes de esvaziar a parte onde estávamos, eles conseguiram dar o fora. Nenhum rastro deles pelo corredor e se ela estava com o carro dela, eu nem sei o modelo! 

Josh riu do meu ciúmes o tempo todo. É nítido como estou. Acho que tenho curiosidade, também. Como minha amiga namora por semanas e não me conta? Ela disse que foi algo casual! 

Sentimentos são complicados, mesmo que você não os queira, eles estão lá. Mesmo que sua razão te aconselhe — e muitas vezes grite —, você não é capaz de ouvir, porque seu coração apaga as gravações. Foi assim quando dormi na casa do Pete e ele me disse coisas bonitas, na cozinha. Eu deveria ter cortado e dito que estava namorando ou algo assim, mas tudo o que eu sentia vontade era de beijá-lo, outra vez. É errado me atrair por Peter, sabendo como ele é e ouvindo tudo o que ele faz, mas é difícil abafar isso completamente. Talvez Stacey se sinta assim.

Fico filosofando por todo o caminho, enquanto olho pela janela. Eu devia estar mais contente, porque meu namorado vai dormir pela primeira vez na minha casa, mas não é bem assim que eu me sinto. Eu não vou voltar atrás, é claro que não, eu só... Me sinto agindo como Peter. Sei que não existe comparação nenhuma, pois eu não levo homens diferentes para minha casa, mas é o sentimento que tenho, de que somos iguais. Suspiro. Acho que cansei de ser diferente dele.

Josh estaciona e nota algum problema no motor, parando para revisá-lo. Eu o ajudo, segurando o celular com a lanterna virada para o carro e espio a rua, procurando sinais do casal do mês, mas, ao invés disso, vejo Peter cruzando para o outro lado da rua, rumo à um carro com um cara e duas garotas. Uau. Ele sorri e acena para mim, e eu retribuo. Assim que ele entra no carro, Josh me avisa que corrigiu o problema e me distrai. Peter estava tendo um encontro e... Ótimo! Eu também. 

Arrastei meu namorado pelas escadas da entrada, quando escutei a risada conhecida mais uma vez. Agora sim! Poderia dar pulinhos, porque agora eles serão descobertos, mas mantive a pose e os esperamos no elevador. A risada dos dois cessou quando nos viram e se separaram, com vergonha, mas dava para notar que voltaram abraçados. Paul demorou a retirar a mão de sua cintura, enquanto acenava para nós, em câmera lenta.

Entramos no elevador e sorri para Stacey. Ela está vermelha, agora e mordendo a bochecha! Isso é divertido. A linda sempre me investiga, me inspeciona, mas nunca havia recebido isso de volta. Parecia uma criança depois de uma boa encrenca. Começo a rir e sussurro.

 

— Tem alguma coisa para me contar, S?

— Eu? Não, não... — Me imitou!

— Sei... — Espiei os números e vi que Paul pararia no andar dele, talvez para disfarçar.

— Nos encontramos na rua. — Sorriu e acenou, como Josh e eu. — Tchau, Paul, até amanhã.

— Tchau, Paul!— Virei o rosto para ela. — Na rua antes do cinema e entraram para se beijar por coincidência?

— Eram vocês! Eu sabia! — Arregalou os olhos e Josh riu alto.

— Pode ir contando tudo, garota! — Saímos do elevador e entreguei a chave para ele.

— Nós... Estamos ficando, ok? Vamos ver no que isso vai dar. — Levantou as mãos. — Eu ainda quero beijar o máximo de bocas possível e só beijei a dele nos últimos 14 dias. Entra logo, Joshua!

— Você se apaixonou e ele também. Vai por mim! — Disse ele, enquanto destrancava a porta e entrava no meu apartamento.

— Se apaixonar é coisa de gente velha, como a Rachel! — Me puxou até a escada entre o sétimo e o sexto andar. — Vem.

— E aí? O que vem rolando entre vocês? — Sentamos no primeiro degrau.

— Quando não vejo Paul, conto as horas para vê-lo e quando o vejo... Penso no próximo encontro. Pareço você com Peter!

— Shh! — Olhei para trás e a porta do meu apartamento estava fechada. — Eu não tenho nada disso com Peter!

— Conta outra... — Virou os olhos e riu.

— Você sabe tudo o que vai ter que lidar se ficar com ele. Talvez ele mude... Não sei.

— Eu não sei se quero que ele mude, sabe? Gosto dele assim. — Passou as mãos no cabelo e rosnou. — Ai! Vou ficar louca!

— Agora você vê que sentimentos não são para gente "velha". — Mostrei a língua.

— Vai com o seu namoradinho. Sai daqui! — Riu e cutucou meu ombro com o seu.

— Eu vou para casa. Vem, vamos dormir. 

— É, eu preciso. Dormi vai me fazer bem.

— Me chama se precisar. — Abracei-a apertado. — Boa noite.

— Boa noite e pode deixar. Vou atrapalhar o sexo, caso eu precise!

 

Sorri para ela e fui para o meu apartamento, acompanhando-a com o olhar, enquanto ela fazia o mesmo. Sentimentos não escolhem local, hora ou alguém, eles apenas nascem e nasceram em Stacey. Sei que ela pode lidar bem melhor que eu, mas também sei que isso sacudiu seus planos como ela jamais pensou.

É fácil ser sozinha e solteira, mas quando o coração abriga mais um e você tem que carregar duas pessoas para onde quer que vá, tudo se complica. Sua mente diz coisas, mas seu coração está ocupado demais e é onde tudo vira uma bagunça total.

Eu sou essa bagunça, agora, olhando para minha cama e vendo alguém que meu coração arrastou para cá, mesmo com a minha mente perturbando-o. Josh me puxa para cima dele, com carinho e me beija. Não preciso me sentir mal por isso e aliás, Peter nem está em casa, então isso não vai ser o tipo de guerra fria que eu pensei que fosse.

Acho que, às vezes, eu só preciso relaxar, como Stacey faz. Ela também tem medo das coisas, eu tenho certeza, mas ela se joga no que quer e vive, antes de pensar com tanto pessimismo, como eu costumo fazer.

Relaxe, Rachel e aproveite o fim do seu filme, essa noite. Antes que as luzes  se acendam e você não tenha aproveitado o suficiente por medo de derrubar algumas pipocas para fora do balde. 


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