É de se esperar que uma mulher tenha amigos homens. Na verdade, é compreensível e até mais relaxante. Pelo menos, ela não vai ser uma completa leiga em assuntos masculinos, e se pode ter uma liberdade maior em conversas. Mas isso tinha que acontecer exatamente com a garota que eu me apaixonei? E não são só os amigos, embora sejam principalmente eles. Com Castiel, Matthew e os gêmeos, eu posso lidar. Eu acabei até adquirindo certo nível de intimidade com os estranhos, e me aproximei de Castiel após finalmente admitir minha queda. Mas daí a pedir para aguentar o Hwan, você deve estar brincando com a minha cara.
Por que todos os homens ao redor dela pareciam se apaixonar? Que absurdo. O garoto coreano tem vindo aqui quase todos os dias, conversar alguma coisa em algo que eu presumo ser coreano com a Elle. Tudo bem, eu admito: eu até tentei aprender algo de coreano depois que eles conversaram animadamente no primeiro dia, mas é simplesmente muito complicado. O que só me faz ter mais raiva ainda do rapaz. O que me faz viver em um ritmo constante de raiva, amor e stress. Acho que se isso continuar por muito tempo, eu terei que ir num cardiologista.
    - Eu achei que ele nunca fosse embora. – disse Castiel assim que Elle fechou a porta para Hwan.
    - Não seja mau. Ele pode te ouvir. – disse ela baixinho e olhou ao redor – Mas eu tenho que admitir que também estivesse achando isso.
    - Do que vocês falam tanto? Não entendo nada. – disse o ruivo, enquanto se jogava no sofá ao meu lado.
    - Em sua maioria, de administração e marketing. Ele me pergunta da minha vida educadamente, conta algo que os meninos fizeram, e vai embora. Eu não sei como ele consegue estender as conversas tanto assim, no entanto. – disse Elle enquanto cruzava a casa e ia até a cozinha beber água.
    - Você já acabou o meu dever de ciências? – perguntou Castiel.
Eu o fuzilei com o olhar. Desde que ele descobriu que a garota era muito inteligente e passava horas a fio estudando, tem trazido suas tarefas para ela. E ela nem se incomoda, diz que “é bom fazer esse tipo de coisa, revisar os assuntos básicos do colégio”. Lógico que eu não aprovava, principalmente porque os professores estão achando que eu estou fazendo as tarefas dele. Só se perguntam por que ele está respondendo melhor do que eu.
    - Já. A propósito, quando você pretende fazer aquele trabalho da feira? Eu posso ajudar. – ela sentou ao meu lado e eu respirei fundo – Quando eu e o Leigh fizemos esse trabalho, nós tiramos a maior nota.
    - Só porque ela teve a ideia genial de fazer aquela maquete. Até hoje me pergunto como funciona. – disse meu irmão enquanto passava pela sala e sorria – Eu preciso falar com você, Elle... Sério. – então ele ficou com um semblante sombrio.
    - Eu devo sair? – disse Castiel.
Ambos o encaramos. Desde que ele tem andado com Elle, seu vocabulário anda mais amplo. E também sua coleção de coisas de rock. Mas Leigh negou com a cabeça e puxou a poltrona para ficar à frente do sofá, mais especificamente, de frente para a garota. Ele suspirou e abriu um envelope amarelo no qual eu não tinha reparado antes. Dentro dele, tinham várias fotos de mansões e de algumas casas de aparência cara.
    - Por que você está se mudando? – ele perguntou.
    - Você está se mudando? – eu perguntei.
    - ‘Tu ‘tá indo para onde? – gritou Castiel.
    - Eu... – ela suspirou – Não posso ficar aqui. Não só por incomodar vocês, mas por questões de segurança. Meu pai anda pegando no meu pé, e ele quer porque quer que o Joël venha para cá. Ele é o meu assistente social e segurança. E ele é... Chato. – ela franziu a testa – Digamos que o meu cachorro é um amor se comparado ao meu segurança.
    - E na verdade, eu estou surpresa em como ele tem sido paciente todos esses dias com a óbvia falta de responsabilidade que eu tenho assumido. – disse uma voz de homem atrás de nós.
Quando nos viramos, vimos um homem alto, de olhos diferentes, assim como os meus. Um dos seus olhos era azul, e o outro era castanho claro. Tinha cabelos pretos e lisos, e parecia tão forte que poderia nocautear qualquer um a qualquer momento ali. Elle murchou no sofá, se inclinando para frente e dizendo algo em francês.
    - Estava aprendendo a sua língua, Mademoiselle Elle. – ele circundou a sala e puxou seu queixo – E tu estás num enorme problema.
    - Eu admiraria um telefonema antes de chegar assustando todo mundo. – disse a garota, soprando seu rosto.
    - Você vai se mudar. Isso não está em discussão. – ele tomou as fotos da mão do meu irmão – Obrigado, Monsieur Leigh. Monsieur Castiel. Monsieur Lysandre. – ele fez uma reverência a cada um de nós – Agora, Mademoiselle... – ele lhe olhou com raiva.
    - E lá vamos nós. – Elle segurou uma almofada diante da sua face e se encolheu no sofá, botando os pés para cima.
    - Você perdeu sua mente? Seu bom senso? – ele gritou – Como ousa você, você vir a este lugar? A este lugar sem me avisar? Você tem alguma ideia de como eu fiquei quando soube que você saiu? E você sabe o que sua família me fez passar pelos últimos dias?
    - É sua família também. – resmungou Elle.
    - Isso não está em discussão também! – ele tirou a almofada dela.
Eu não sei exatamente quando isso me atingiu, ou quando eu o atingi. Eu sei que aquilo estava me matando por dentro desde que ela se encolheu. Ele estava gritando com ela, e a tratando como uma criança irresponsável, o que era simplesmente absurdo. Ela não era nenhuma filha de um rei, ou de um presidente, para precisar desse tipo de superproteção. Então, eu levantei (descobrindo o fato reconfortante de que eu sou bem mais alto do que ele) o segurei pela gola da blusa preta e sussurrei, bem perto do seu rosto:
    - Se você gritar mais uma vez com ela, o próximo a gritar aqui vai ser você.
Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu maleficamente, mas alguma coisa pequena se intrometeu entre nós e nos separou.
    - Ele normalmente não é assim. – disse Elle ficando na minha frente – Eu faço o que você quer. Eu me mudo.
    - Ótimo. Partimos em meia hora. – disse Joël, mas ele ainda estava com os olhos fixos em mim quando se virou e saiu.
    - Por que você faz o que ele quer? Não entendi. – disse Castiel.
    - É uma longa história. Tem certeza que quer saber? – perguntou Elle, indo se sentar novamente e massageando as têmporas.
Quando todos nós sentamos e acenamos positivamente com a cabeça, ela suspirou alto e sentou em posição de meditação. Literalmente, botou os braços e juntou os dedos e tudo. Respirou fundo, e então abriu a boca devagar.
    - Quando eu tinha cinco anos, fui sequestrada por alguns mercenários. Eles queriam dinheiro, e meu pai deu metade da sua fortuna para eles. Desde então, comecei a ser vigiada por cinco guardas, todas as horas do dia. Mas, quando meu pai encontrou seu filho bastardo, as coisas mudaram. Ele e eu nos tornamos próximos. E ele era mais velho do que eu, e muito diferente. Digamos que Joël tenha uma aptidão natural para as artes marciais e lutas em geral. – ela respirou fundo mais uma vez e fechou os olhos – Então ele passou a ser meu guarda, quando eu tinha dezesseis anos e podia ser um pouco mais responsável por mim mesma. Ele tem me protegido desde então, e já me salvou de inúmeras coisas e situações. Ele mesmo já foi sequestrado, e é outra longa história. – ela abriu os olhos – Mas ele nunca desistiu de me proteger. Ele é meu irmão, e meu melhor amigo. Então eu o obedeço. Ele tem... Problemas de temperamento. – ela fez uma careta.
    - Ele é aquele cara que arremessou a carteira da escola no outro aluno no nosso tempo de escola? – perguntou Leigh.
    - É. Ele é um tanto louco, mas em sua defensa, o outro aluno tinha dito que ia me bater se eu continuasse a ser tão metida. – ela esclareceu, se ajeitando no sofá – Ele mais ladra do que morde, e ele gostou de vocês. – ela sorriu forçadamente – Menos do Lysandre, ele não gosta de ser desafiado. – ela olhou para mim, curiosa – O que deu em você?
    - Ele estava gritando com você. – eu respondi imediatamente.
    - Tudo bem, então... Mas eu vou ter que me mudar. De qualquer forma, obrigada. Foi incrível morar aqui com vocês. – ela sorriu verdadeiramente e abraçou Leigh.
Uma semana depois.
Sim, tem uma semana que Elle se mudou de lá de casa. E eu sinto falta dela, mas estou feliz. Muito feliz. Extremamente feliz. Por quê? Porque Joël é um guarda incrível. Castiel não consegue mais andar tanto com Elle, e nem Matt, com quem o irmão da loira parece ter uma implicância. Mas Leigh tem passe livre, assim como Rosalya. Estranhamente, as duas tem se dado muito bem. Eu entro na casa deles com a ajuda de Leigh, mas na verdade, Joël não gosta muito de mim. Ele fica me encarando, e sempre se coloca entre nós quando estamos conversando.
O que só prova como ele é superprotetor, e me dá finalmente espaço para relaxar. Eu não poderia ter pedido por um guarda melhor para ela. Eu sei, soa ciumento e possessivo. Mas é a verdade. E eu estou muito feliz. Além disso, Elle tem sido mais rígida em seus horários de trabalho, e a loja está muito melhor. Com algumas melhorias de Joël em relação à segurança, ela passava a maior parte do dia no seu escritório, onde o seu irmão não pode me impedir de entrar. Embora ele tente.
    - Você deveria pedir desculpas a ele, sabia? – sorriu Elle ao erguer uma fita de medida para a minha cabeça – Ele me dá nos nervos com esses olhares para você.
    - Não tinha percebido. – menti.
    - Você me parece feliz ultimamente. Desculpa se ser meu manequim te deixa ocupado, ou algo do tipo. Mas eu não poderia pedir ao Joël, ele não tem as medidas certas. Ninguém tem tanto braço quanto aquele brutamonte. – ela anotou a medida da minha cabeça para um chapéu.
    - Não, de modo nenhum. Gostei dos seus últimos modelos. – admiti.
Desde que todo o stress que eu tinha passado havia sumido, eu podia finalmente conversar com ela com tranquilidade e até me divertir perto dela. Com ela, eu me tornava mais falante, mais alegre. E eu tinha tomado uma decisão sobre o que fazer com a minha queda por ela. Eu ia perseguir esse sentimento. Eu vou a chamar para sair.