O Irmão Do Meu Sócio escrita por pequenaapaixonadaporletras


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Ponto de Vista de Elle Karnezis



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Castiel se tornou um ótimo companheiro de horas vagas, por mais improvável que isso parecesse no começo da nossa amizade. Ele até concordou que viria para a inauguração da loja, mas acho que isso tinha mais a ver com o fato de que a banda predileta dele iria tocar. Sim, eu cobrei um favor do vocalista da Winged Skull. Sim, essa é a influência da família Karnezis. É como um polvo: temos tentáculos em todos os cantos, desde o mundo da moda até nas melhores bandas de rock. Não significa que sejam as mais famosas, mas também não significa que não sejam.
De qualquer modo, aqui estou eu, me arrumando para a festa de reinauguração da loja do Leigh. Passei novamente a mão na saia do meu vestido. Ele era criação minha: um decote em coração com mangas grossas, cintura bem colada e saia volumosa, tudo isso num dégradé de marrom para o branco, significando que a maior parte do vestido era bege. Prendi metade do meu cabelo num alto e coloquei várias presilhas de diamantes. As jóias também eram criações minhas: pulseira de prata de elos com uma serpente em ouro que subia e descia pelos elos e engolia a própria cauda no final e um brinco aonde o pino ia à frente, sendo uma bola de ouro quando visto de frente e alguns fios de ouro quando visto de trás. Respirei fundo.
Minha maquiagem de olho violeta e o batom vermelho nada tinham a ver com o resto do look, mas era algo que fora feito para combinar com Leigh, que iria usar também uma criação minha: um guarda-pó modificado, com cauda que tocava o chão e ombros rígidos, botões de madeira e uma gola em u, onde ele colocaria seu enorme lenço violeta como um colar. Só as divindades sabem onde ele aprendeu isso, mas tenho admitir que gostei e aderi a idéia.
Ouvi três batidas na porta e botei meus saltos que também eram criações minhas, mas já antigas. Um meia-pata bege com a sola e o salto folheados a ouro, além de um “K” costurado em couro em cima do sapato. Abri a porta para ver Lysandre ali, com o mesmo semblante de tédio que ele usava no dia-a-dia. Ele assentiu educadamente para mim quando eu me desculpei pelo atraso e nós ficamos ali, num silêncio desconfortável. Pelo seu jeito reservado, ele me fazia ficar nervosa facilmente. Eu me acostumei a sempre saber dizer o que as pessoas querem pelo seu olhar, mas Lysandre ainda é um mistério para mim.
    - Você está bonita. – ele disse simplesmente.
    - Você também. – respondi com um sorriso.
Eu não estava mentindo. Lysandre tinha ganhado sua própria casaca feita por mim, com a parte da frente reta e alinhada e atrás formando um w elegante. Tudo isso com botões também de madeira e num preto que, embora poucos percebam, também era dégradé. Ao contrário da gola de Leigh, eu não dei a Lysandre a opção de prender seu lenço verde: ele pendia por cima do decote em u muito baixo com elegância.
    - Tudo obra sua. – ele sorriu casualmente.
    - O modelo também ajuda muito. É fácil vestir algo que já causa admiração naturalmente. – eu disse.
Então lutei contra mim mesma e o meu impulso de fechar a porta e me esconder depois daquele elogio tão escancarado. Isso era tão a minha cara: não pensar direito nas coisas e deixar que tudo fosse por água à baixo com um simples comentário idiota. Porém, Lysandre somente sorriu e se virou me oferecendo seu braço. Eu suspirei de alívio e respirei fundo em seguida, lembrando a mim mesma que tinha uma pequena multidão lá fora querendo me ver. Eu estava no quarto dos fundos da loja, que era o meu escritório, do lado do escritório de Leigh. Ampliamos tanto o terreno de Leigh com alguns telefonemas que parecia mais que estávamos num estádio de futebol muito mais elegante.
    - Elle, eu não acerto isso. – disse meu sócio surgindo do seu escritório.
Eu fui até ele e comecei a abotoar seu guarda-pó com cuidado. Realmente, o sistema que eu criei para abotoar era um pouco mais complicado do que os normais, até porque eu criei uma sequência de escada invertida e ainda tinha a parte de cima para abotoar, que era como um ângulo de 75ºC e alguns botões simplesmente eram enfeites, porque parte da gola era caída. Ele ajeitou seu lenço quando eu terminei e me olhou. Após puxar alguns fios do meu cabelo e ajeitar levemente o caimento do vestido, nós nos encaramos e sorrimos.
    - Lembre-se bem desse momento, Leigh. Pois é o momento em que você se torna parte da crème de la crème francesa. – anunciei animada.
    - Obrigado, Elle. – ele me sorriu.
    - Ei. – eu disse me fingindo de ofendida – A nerd sem amigos sabe pagar as dívidas.
    - Você tem a mim. – ele me ofereceu seu braço.
    - Eu tinha quase me esquecido disso. – admiti.
Nós rimos e ele me levou para descer a escada (sim, agora temos andares!). A música começou a tocar e os flashes a disparar. Pude ver pelo canto do olho Leigh piscando por alguns instantes, mas me mantive firme e sorrindo meu sorriso treinado para fotógrafos. Sem pés de galinha, sem bochecha rechonchuda: a lady que eles queriam ver, como sempre me cobraram desde pequena. Leigh se acostumou e voltou a descer as escadas e, quando chegamos ao térreo, houve uma salva de aplausos e me entregaram um microfone.
    - A mídia é incrível. – iniciei o discurso preparado – Estou aqui há uma semana e dois dias, e já fui assediada mais vezes do que posso contar. Ótimo. – o meu público riu – Ouço comentários de que sou a próxima tendência do século. Então isso deve significar que essas são as novas tendências do século! – anunciei, e cortinas foram puxadas para mostrar os modelos em exibição, que ficaram banhados em flashes – Desenhados por mim e costurados com a ajuda da minha colaboradora e namorada do meu sócio, Rosalya.
Rosalya, que estava agarrada à Lysandre, sorriu e piscou com os flashes que dispararam em sua direção. Lysandre se manteve impassível, mas não olhava diretamente para as câmeras. Ele me encarava, quase que como um crítico. De repente, fiquei nervosa, com coisas borbulhando no meu estômago. Talvez eu devesse parar de comer trufa Madeleine. Entreguei então o microfone para Leigh, que pigarreou antes de começar seu discurso.
    - Bem-vindos à minha loja. Eu sou Leigh, proprietário do local e sócio da Elle. Como velhos amigos, tenho como garantir exclusividade por um bom tempo. – houve risos – Além disso, vendemos marcas variadas na loja, e também as minhas criações. – os fotógrafos cochicharam – Mas como sei que todos vocês estão curiosos, abrirei espaço às perguntas.
Uma das repórteres levantou a mão tão depressa que seu equipamento para gravar caiu no chão. Leigh e companhia ficaram chocados, mas eu apenas ri e peguei um outro microfone.
    - Pode perguntar querida, mas acho que devemos a você uma pausa para recuperar o microfone? – sorri e todos riram.
    - Elle, por que escolher uma loja sem fama enquanto milhares de grifes famosas estão querendo você? – perguntou a mulher.
    - Porque lá, eu não poderia criar do jeito que eu quero, quando eu quero e como eu quero. Na loja do Leigh eu tenho algo que ninguém compra numa Karnezis: autonomia. Eu posso trabalhar dias a fio e descansar um mês, e lançar qualquer coisa que eu queira. Isso nem a fortuna inteira do meu pai compra. – eu sorri.
    - Leigh, você pretende pôr suas criações à venda junto com as da Elle, ou antes? – perguntou um homem.
    - Na verdade, eu agora sou um estilista oficial da nossa nova grife, a Karnezis. Algumas das peças em exibição têm contribuições minhas, mas quais, é segredo. Vamos ver se as pessoas conseguem adivinhar.
    - Ei! – o interrompi – Alerta de spoiler, sócio. – sorri – Na verdade, isso é um pequeno concurso que lançaremos para os amantes de moda. Quem conseguir adivinhar quais peças são só minhas, eu farei uma criação especial para a pessoa, com a ajuda do Leigh.
    - Por que você não trabalha sozinha? – perguntou uma ruiva.
    - Porque isso iria contra o objetivo da grife, que é ajuda social. Noventa por cento do lucro obtido com as roupas será convertido em caridade. Uma jogada inteligente que eu gosto muito, mesclar as duas coisas prediletas de qualquer socialite: roupas de grife caríssimas e caridade socialmente aprovada e reconhecida. – sorri.
Alguns aplaudiram e eu dei as perguntas como encerradas. Fui então falar com o vocalista do WS. Com surpresa, notei que Castiel estava bem perto deles, mas não conseguia se aproximar para pedir autógrafo por causa dos seguranças e dos outros fãs ali amontoados. Acenei para os seguranças, que me deixaram passar e então fui até o vocalista da banda, que sorriu e me abraçou.
    - Oi, Elle! – ele me fez girar – Linda, maravilhosa.
    - Você também não está nada mal, Andie. – sorri e pisquei para ele – Tem alguém aqui que eu quero que você conheça. Seguranças! – chamei alto - Deixem o ruivo de olhos cinza passar. É um amigo. – eu disse.
Automaticamente, a pequena multidão se afastou, abrindo passagem para Castiel. Os homens que antes o empurravam assentiram respeitosamente e pediram mil perdões para o ruivo, que sorriu para eles e provavelmente fez um comentário sarcástico. Ele veio até o palco e subiu pela escada lateral direita, e parecia bem ansioso.
    - Castiel, Andrew. Andie, Castiel, um amigo recém-conhecido, porém já bem valioso. – pisquei para o ruivo – E o resto do pessoal você pode conversar depois, eu vou trocar umas palavras com eles.
Acenei com a cabeça para Castiel e Andrew e fui falar com o resto dos integrantes, que estavam mais nervosos do que galinhas. Um até fez uma reverência, e eu ri alto. Com alguns minutos, todos estavam bem mais calmos e muito felizes. Quando eu elogiei a música deles, o guitarrista ficou branco como papel e abriu um sorriso surpreso. Pedi autógrafos dos meninos e eles se amontoaram numa folha de papel que eu agradeci e sorri. Quando estava quase indo embora, Andrew me chamou.
    - Gatinha, gatinha! – ele disse, saindo de perto de Castiel – Tenho um presente... Dois presentes, na verdade. Blusa da banda e mochila. – ele acenou para o baterista, que pegou – Já autografamos.
    - Que lindo, obrigada! – falei – Vou fazer inveja no Castiel. – provoquei o ruivo, que riu.
    - Na verdade, eu já ganhei os meus. – ele me mostrou uma mochila.
    - Que absurdo! – nós rimos.
Então eu saí de perto deles e fui para perto de Lysandre, que estava parado vendo uma das minhas criações menos populares: a mais simples, designada a ser mais barata. Na verdade, era o que eu chamava de “criação popular”, e tinha mais ou menos o mesmo preço que as roupas normais.
    - Não entendo. – ele me disse – Por que fazer tudo isso para a caridade? Não é mais fácil só doar o dinheiro?
    - Diga a alguém que doe o seu dinheiro, e ela vai relutar. Diga a alguém que compre algo exclusivo e valioso, e ela vai amar. Agora dê às pessoas um anúncio gigante de que você faz caridade e que, por acaso, também é uma coisa fashion e valiosa de uma estilista única e reconhecida... O que você acha que vende mais? – perguntei, dando de ombros.
    - É genial. – ele admitiu – Mas muito complexo.
    - Minha vida é complexa. – eu admiti.
    - Você disse “nerd sem amigos” lá atrás. Não parece uma. – ele observou.
    - Eu era. Aí descobriram que eu era bem rica. – dei de ombros – Acabei a escola mais cedo para me livrar disso. Pessoas como o Nathaniel... Elas estavam em toda parte. Cansei.
    - Sinto muito, não era da minha conta. – disse Lysandre.
    - Eu não sei o que você acha de mim, Lys. Mas para mim, você é um amigo. Você tem sido muito gentil comigo e é uma pessoa muito interessante. Não precisa ser formal ou tenso na maior parte do tempo como faz. Eu gosto de você. – admiti, e então corei – Eu vou... Hm... Checar se o Leigh precisa de ajuda.
Lancei um sorriso para ele e então me repreendi pelas bochechas rechonchudas que deveria ter mostrado. Controlando minha expressão mais um pouco, saí pela loja, tentando achar Leigh. Talvez ele realmente precisasse de ajuda.


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Notas finais do capítulo

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