Divided escrita por Pat Black


Capítulo 7
Grief


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo curto e de transição. Ao escrever o próximo capítulo, percebi que faltava um pouco dos sentimentos de Sam e algo de Chase antes de continuar a fic.



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Amor sem egoísmo.

A frase ecoava em sua cabeça, mas não era a sua voz que escutava a não ser a de seu pai.

Fechou os olhos a lembrança dele e tentou afastar a dor esmagadora que sentia ao sabê-lo morto. Ao mesmo tempo tentou buscar as lembranças felizes de sua curta vida, algo que já não fazia com tanta frequência, mas elas lhe escapavam agora, após a conversa com Linn.

Assim deixou que a mente divagasse a levando ao momento em que o pai pronunciara a frase pela primeira vez, em seu sorriso triste quando dissera a ela e seu irmão tais palavras, uma mão agarrada a de sua mãe e a outra desligando as máquinas que a mantinham viva, quando ela nada mais era do que a sombra da mulher pela qual ele se apaixonara e, ainda assim, a única que amaria em toda a sua vida. Lembrou-se do quão dolorido fazê-lo tinha sido para ele, bem como no desespero que testemunhara quando os desejos da mãe se cumpriram e ela partira.

Seguia sendo apenas uma menina à época, mal entrando na adolescência, mas se recordaria daquele tipo de afeição para o resto da vida e se descobriu incapaz da amar de outra maneira, mesmo que seu coração desejasse ser diferente.

Amava Linn dessa maneira, bem como a Chase, Sofia e...

Sacudiu a cabeça e encostou o queixo nos joelhos sentindo frio. Querendo também ser um pouco mais egoísta, mais aberta e disposta, um pouco mais Linn. Mas tudo em que se preocupava, queria e desejava era manter as pessoas que amava em segurança e felizes, não importando a mínima o que poderia esmagar de si mesma e de seus sentimentos para consegui-lo.

Linn, no entanto, queria Rick, desejava-o de uma maneira que até mesmo Sam pode sentir seu corpo formigar pela lascívia e pela franqueza de seus comentários. Linn queria seus beijos, queria seu corpo e ser amada com luxúria. Sam refletiu que se fosse ela, se contentaria com muito menos, talvez e apenas escorregar a mão em seu rosto e tentar tirar aquela ruga de preocupação de entre seus olhos.

Relembrou toda a conversa com Linn e não poderia se sentir mais triste ao escutar cada palavra que ela lhe dizia e conhecer os desejos de seu coração por Rick. Não só por que isso lhe machucara, como também porque Linn se machucaria de muitas maneiras se prosseguisse com aquilo.

Rick amava a esposa. Não importava que ela não fosse a mulher certa para ele, ou que ele a tratasse com tanta frieza que não conseguia evitar encarar o xerife com censura, principalmente em razão do estado da mulher.

E ali havia um mistério. Algo que nenhum dos outros lhe contaria, unidos como eram. Mesmo assim, pesando e especulando, talvez fosse algo relacionado com a gravidez em si.

Sam ponderou na forma como o xerife desejara encontrar sua família. Esse fora seu principal pensamento ao acordar do coma e seu maior desejo até que se separaram seguindo direções distintas. Aquele homem de oito meses atrás não trataria a mulher como este de agora, a menos que houvesse uma razão muito forte.

E, após especular e meditar nesse assunto nas últimas semanas, Sam só conseguira imaginar uma razão: Traição. Apenas algo assim poderia mudar os sentimentos de um homem, que como seu pai, amava a família antes de tudo. Talvez e até mesmo uma traição muito mais forte que a física.

Passou a mão no rosto e já ia se erguer, quando viu que Linn se encaminhava para o ônibus que bloqueava a entrada, onde Rick fazia seu turno de vigília. A pontada no peito retornou mais forte. Uma dor e um pesar que lhe aguilhoara durante toda a conversa com a ruiva. Tal dor e tristeza que escondera da amiga alguns minutos antes, transbordando de forma que mal conseguiu se mexer.

“Sam?” Ouviu alguém lhe chamar e se deu conta de que Chase lhe encarava, muito próximo. “Venha para perto da fogueira.”

Incapaz de falar fez um gesto negativo e ele lhe olhou fundo, depois se abaixou e tocou seu rosto ao notar o quanto ela parecia triste e frágil como nunca a vira antes.

“Estava pensando em meu pai.” Ela sussurrou com a voz um pouco embargada, se explicando com uma meia verdade e envergonhada em excesso por ser pega em um momento de tanta vulnerabilidade.

Devagar Chase passou as mãos pelos seus ombros e a puxou para um abraço. Não era a primeira vez que o fazia, mas lhe faltava a prática de tal gesto com Sam. Meditou então que ela era muito jovem, algo que esqueciam com frequência, pois ela também era muito forte. Por que, enquanto Linn nada tivera a perder e ele sempre viveria na incerteza quanto aos seus, Sam perdera toda a sua família e amigos em apenas um golpe fundo e doloroso que a moldou e preparou para esse novo mundo.

Beijou o topo da cabeça morena ficando ao seu lado durante o tempo em que ela parecia precisar, ainda que Sam tenha se afastado de seus braços e, alguns segundos depois, seguisse tão calma como sempre.

Ficaram calados, lado a lado, algo que lhes era comum. Por vezes seguiam sem falar durante horas quando estavam na estrada. Em muitos momentos, como aquele, palavras não pareciam necessárias. Não precisava que Sam ou Linn lhe contasse o que lhes ia à cabeça ou no coração. Precisava apenas estar com elas e estas com ele. Nada mais, nada menos.

Tratava as duas como sua família, mas não as encarava como irmãs. Não mesmo. Não que tivesse qualquer intenção em Sam. Mas não poderia vê-la como uma irmã mais nova. Muito menos quando ela poderia ser mais forte que ele em muitos aspectos e mais velha, de um jeito que acabava esquecendo que não o era.

Quanto a Linn? Chase suspirou brevemente, vendo-a caminhar em direção onde Rick estava de guarda. Talvez em outra história e em outras circunstâncias, lhe amasse como uma irmã. Porém, não aqui e não agora.

“Precisa descansar.” Chase disse a Sam se erguendo. “Vem!”

Sam segurou sua mão e se levantou.

“Obrigada.” Agradeceu, não pela ajuda, mas pela compreensão e também pelo silêncio.

“Sempre.” Chase falou se afastando em direção contrária a fogueira.

Sam achou estranho. Ele lhe olhou e sorriu de forma brejeira.

“Preciso de privacidade.”

“Mas para quê... Oh!” Sam se deu conta e também sorriu, se apartando dele, enquanto balançava a cabeça, sabendo que sempre poderia contar com Chase para levar um sorriso aos seus lábios.

“Assim está melhor.” Chase murmurou vendo-a se afastar, chegar à fogueira e deitar separada de todos, ainda que próxima o bastante para que Chase percebesse que a distância entre eles e aquelas pessoas estava se estreitando a cada dia um pouco mais.


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Notas finais do capítulo

Grief - Pesar



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