Divided escrita por Pat Black


Capítulo 5
Energy


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos a Dixon Girl por favoritar a fic.
Senti sua falta.
Beijos.



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“Vamos levá-la para sua mãe”, Daryl prometeu e a garota sorriu feliz, ainda que desse uma olhar demorado para Sam, como a ter certeza de que esta estava de acordo.

“Sofia”, Sam chamou e a garota se soltou e voltou para perto da morena.

Daryl ainda pensou em mantê-la ao seu lado, mas achou melhor não tentar a sorte quando estavam com um jogador a menos. Além disso, Rick conhecia a garota, talvez até a ruiva também, e isso podia evitar uma batalha inútil ali, porque — maldito fosse! — ele não iria embora sem a menina.

“A mãe dela faz parte do nosso grupo”, Rick informou dando dois passos para frente e se aproximando de Sam.

“E ela faz parte do meu", Sam respondeu. “Encontramos Sofia sozinha na floresta há quase seis meses.”

“Estivemos procurando por ela durante todo esse tempo," Rick explicou. “Chegamos a acreditar que estava morta.”

Sam colocou uma mão no ombro de Sofia com carinho e deu a esta uma olhada em que Rick pode detectar tristeza, pois sabia que, se a mãe desta estava viva, elas fatalmente se separariam.

“Onde está esse seu grupo?”

“Tem mais pessoas com você?”

Rick e Sam fizeram ambas as perguntas ao mesmo tempo e puderam ler uma pitada de humor nos olhos um do outro. Sam viu, naquele momento, alguma coisa do antigo Rick naquela face onde a barba crescida, ainda que rala, lhe dava um aspecto mais envelhecido; algo de sua autoridade nata e muito de sua honestidade.

“Somos nós apenas”, explicou sem receios, confiando nele o bastante.

Chase se moveu incomodado às suas costas e Linn pareceu sentir o mesmo. Certamente o fascínio por reencontrar Rick havia evaporado e a sanidade da ruiva voltara ao lugar.

Rick pareceu considerar aquilo, olhando demoradamente para cada um deles, depois voltando a encarar Sam, os os olhos azuis dele devastadores, como sempre, seu olhar incisivo percebendo que aquele era um grupo unido. Sam e Linn eram como irmãs e a maneira como o cara mantinha-se em alerta, dizia o muito que as protegeria caso fosse necessário.

Apesar de notar o aspecto um pouco esfomeado de cada um deles, muito parecido com as pessoas de seu próprio grupo, Rick se deu conta de que Sofia estava bem e parecia muito diferente da menina magricela que sumira.

Enquanto em Sam as maçãs do rosto seguiam salientes, os olhos fundos e escuros, além de um pequeno arranhão no queixo, com sua cor oliva levemente desbotada, Sofia tinha as bochechas rosadas e uma aparência muito saudável. Muito mais importante: Sofia não se assemelhava mais àquela menina amedrontada que se perdera na floresta, ela parecia mais forte; a arma que levava, agora em uma cartucheira por baixo da jaqueta, não parecia lhe causar receios, mesmo que tenha gritado pouco antes, por causa de um errante.

Rick percebeu que eles a mantiveram em segurança. Muito ali dizia que eles passaram dificuldades, mas não deixaram que a criança o fizesse. Compreender isso lhe dava uma visão bem clara da natureza do tal Chase, bem como de que Sam e Linn não haviam mudado muito. Elas ainda tentavam ajudar outros.

Como ele poderia ser diferente?

“Nosso grupo é um pouco maior”, Rick explicou olhando fundo para Sam. “Vocês poderiam se juntar a nós... por enquanto”, ofereceu.

Sam se virou e encarou Linn e Chase. Rick pode ler o assentimento de Linn, mas Chase ainda possuía reservas. Sam se afastou de Sofia e se aproximou do homem não muito mais alto que ela.

“O conheço”, disse baixo.

“É o cara de que Linn me falou? O que estava em coma?”, Chase sussurrou. “Isso foi há muito tempo.”

“Sofia também os conhece, são do grupo original dela”, Sam pontuou.

“Os que a abandonaram na floresta”, Chase rosnou.

“Os que a perderam na floresta”, Sam replicou tocando o braço de Chase e se aproximando mais dele, algo que Rick duvidava que ela pudesse fazer com outro homem. “A mãe dela está com eles”, Sam continuou. “Não posso impedi-la de ir, mas não quero deixá-la partir.”

Chase concordou. Ele também não queria. Juntara-se aquele pequeno grupo logo após encontrarem a menina e se afeiçoara a ela, bem como as duas mulheres, de uma forma que agora eram sua família. Separar-se de qualquer uma delas seguia sendo algo impossível de imaginar ou permitir. Mas o cara lhe dava calafrios. Havia algo em sua figura que não o permitia confiar plenamente. Uma dureza e frieza que só encontrara levemente em Sam, mas que nela era contrabalançado com um coração, algo que, duvidava ele, aquele homem pudesse ter. E havia algo mais, algo naqueles olhos azuis que lhe remetia a uma saudade, um sentimento estranho de perda, como algo que nunca encontraria nessa vida e não faria parte dessa sua nova história.

Chase assentiu levemente e Sam deu um aperto caloroso em seu braço, antes de se virar novamente para Rick e depois para o amigo dele.

“Sou Sam”, ela se apresentou ao mal-encarado com a besta. “Esses são Linn e Chase.”

“Daryl”, o caçador falou com um leve gesto de cabeça para os três. “Vocês tem um veículo?”, perguntou agarrando uma das mochilas e jogando nas costas.

“Não”, Linn respondeu. “Ficamos sem combustível há alguns dias e nos descartamos dele.”

“O nosso não está longe”, Daryl explicou depois de encarar Rick.

Com aquilo resolvido, cada um pegou sua mochila com os poucos mantimentos que haviam encontrado e passaram a seguir os dois homens.

Caminharam sem problemas durante todo o caminho, encontrando o carro onde eles haviam deixando. Próximo a ele, dois errantes vagavam, virando e começando a caminhar na direção do grupo quando os avistaram.

Linn e Daryl ergueram suas armas ao mesmo tempo e atiraram logo em seguida, depois se encararam admirando a destreza um do outro: ele com a besta e ela com o arpão.

Guardaram as mochilas e seguiram no veículo. Rick dirigia e Daryl ia ao seu lado. Atrás, Linn e Sam ficaram em cada ponta e Chase, no meio, observava os dois a sua frente ainda com suspeitas.

“Deixa ela comigo”, Linn pediu colocando Sofia em seu colo, no que a menina fechou os olhos e adormeceu.

Durante boa parte do caminho ninguém disse nada, cada um deles perdido em seus próprios pensamentos, muito do ar carregado de desconfianças e dúvidas sobre aquela união dos dois grupos.

Sam pensou em perguntar a Rick se ele havia encontrado a família. Havia notado que ele agora levava uma aliança, mas isso não queria dizer que a mulher estivesse viva. Seu pai sempre levara a dele, mesmo após anos em que sua mãe partira vítima do câncer. Dando uma olhada de esguelha em seu perfil, Sam achou melhor não questioná-lo sobre aquilo. Em pouco tempo, acabaria descobrindo. Talvez a mulher estivesse esperando por ele junto com os demais, quem sabe tivesse morrido ou ele nunca os encontrara. 

Não havia errantes à volta quando chegaram ao destino, sendo assim, saíram do veículo sem muitos medos, ainda que atentos. Logo algumas pessoas saíram da casa para encontrá-los, principalmente uma mulher magra e de cabelos curtos, para a qual Sofia correu, e se aferrou, chorando e sorrindo.

“Obrigada”, a mulher agradeceu, pouco depois, ao trio de estranhos quando Sofia lhe contou que eles a salvaram e protegeram.

Logo depois Sam descobriu que ela, a tal Lori, sim, estava bem viva e muito grávida. Aquilo foi inesperado. Mais ainda diante das dificuldades em se ter uma criança, muito menos um bebê, naquele mundo dominado por errantes e selvagens.

Rick apresentou os demais após entrarem na casa. Sam simpatizou com Gleen e Maggie, mas não gostou muito da tal da Beth. Lori foi um caso à parte. A mulher olhara ao marido com rancor desde o momento em que descobriu três estranhos saindo do veículo, principalmente ao notar o quanto Linn era bonita e a forma como esta encarava ao xerife, vez ou outra.

Sam quase sorriu ao perceber que Linn ainda sentia fascinação por Rick. Afinal, como não sentiria? Aquele fora um dos poucos caras decentes com o qual cruzaram pelo caminho, além de Chase. Mas Chase... Bem, Sam pensou que Chase era o homem mais decente que alguém poderia conhecer. Talvez Linn devesse perceber isso com mais clareza, mas Sam não ia se meter naquele tipo de situação, não em algo tão pessoal.

As pessoas sentaram na ampla sala, após cuidarem de bloquear a porta principal. Daryl e o tal T-Dog começaram a separar e analisar o que tinham encontrado, e Sam acenou para que Chase lhes passasse uma das suas sacolas.

Rick a olhou como se perguntasse quanto à outra mochila, e ela o encarou como se respondesse que precisavam se conhecer melhor.

Juntos partilharam a refeição mais substanciosa que tiveram em dias. O senhor chamado Hershel fez, antes, uma prece da qual Rick, Sam notou, não participou. Logo todos procuraram se organizar para dormir, em uma harmonia que Sam só presenciou com seus dois amigos.

Sentiu o coração falhar ao ver Sofia se abrigar nos braços da mãe quando sempre a teve por perto; a menina fora mais apegada a ela do que a Linn ou Chase. Sam gostava de crianças e sentia muito a falta dos meninos que resgataram de um orfanato e acabaram perecendo quando o seu acampamento original fora invadido por uma horda. 

Ofereceram-se para fazer a vigília, mas Rick os colocou cada qual com um dos seus para o trabalho, dividido em turnos durante a noite, e Sam não podia culpá-lo pela falta de confiança.

Ele pegou o primeiro turno e ela se prontificou a partilhá-lo com ele. Eram os dois líderes, precisavam conversar e por cartas na mesa.

Os demais dormiram logo, cansados e abatidos, os corpos tentando se recuperar com o descanso que nunca podia ser completo, já que deviam estar sempre preparados para qualquer eventualidade.

Após se afastar de Linn e Chase, que dividiam um canto onde ela também planejava dormir, Sam se aproximou de Rick.

Ele estava parado próximo a uma das janelas e, vez ou outra, olhava por uma fresta para fora. Como um falcão, passeava os olhos pelo seu povo amontoado na sala, com exceção de Maggie e Glenn, que procuraram um quarto na parte de cima.

“Tem planos de sair daqui amanhã?”, ela perguntou em um sussurro destinado apenas a ele, após um longo silêncio em que ficaram lado a lado, cientes um do outro, mas com os pensamentos em diferentes assuntos.

Rick abanou a cabeça em negativa e Sam pensou que ele ficaria até que os errantes começassem a aparecer. E eles fatalmente apareceriam. Como tubarões, aquelas coisas podiam sentir o cheiro de sangue na água a quilômetros de distância.

“Ouvi o que seu amigo disse sobre abandonarmos Sofia”, Rick murmurou.

“Ela nos contou que o xerife a mandou esperar”, Sam respondeu, achando engraçado que nunca tivesse associado o xerife a ele. E como poderia se Sofia nunca dera nomes? “Como você demorou, um errante apareceu e ela teve que fugir.”

Aquilo pareceu machucá-lo de alguma maneira, porque Sam viu seu maxilar tenso e o corpo dele sacudir em um quase imperceptível estremecimento.

“Nós a procuramos durante muito tempo”, ele tentou se explicar, algo que não parecia fazer com frequência.

“O importante é que ela está viva e voltou para a mãe”, respondeu com uma nota de perda na voz. Depois o olhou fundo e abordou o assunto que a consumia desde que vira a aliança no dedo dele. “Fico satisfeita que tenha encontrado sua família.”

“Foi um acaso feliz”, Rick explicou com uma nota de ironia na voz.

Sam achou estranho, mas não tinha nenhuma intimidade para se embrenhar em uma conversa com ele sobre aquele ponto.

“E vocês?”, ele questionou.

“Zanzamos por aqui e ali, sempre longe de Atlanta ou qualquer cidade maior”, Sam respondeu ajeitando uma mecha de cabelo para trás da orelha. “Encontramos Chase logo após Sofia. Ele tinha acabado de perder uma amiga e estava vagando sozinho pela estrada.” Sam sorriu e Rick estreitou os olhos porque não se lembrava de tê-la visto sorrir realmente. “Quase o deixamos para trás, mas Linn foi um pouco confiante demais, como sempre, e o ajudamos. Desde então estamos juntos.”

“Foi um golpe de sorte", ele sussurrou "É muito difícil encontrar pessoas de confiança hoje em dia”, Rick pontuou como se fosse um aviso.

“Verdade.” Ela o olhou fundo. “Mas não mudamos tanto depois que você seguiu seu caminho.”

Rick ergueu uma sobrancelha como a não concordar com aquelas palavras. Contudo, talvez ela estivesse certa. A garota que conhecera era dura, essa a seu lado só estava um pouco mais. Mas vira um brilho predador nos olhos de Linn, algo que o pegara desprevenido, porque a lembrança dela sempre lhe parecera calorosa. Não foi algo que desgostasse. A Linn de antes era muito cordial para seu gosto atual. Voltou seus pensamentos de Linn para a jovem a sua frente quando ela lhe falou, quase como se o acusasse:

“Já você.” Sam o encarou de cima a baixo, analisando-lhe a postura de predador, seu olhar cortante, sua aparência selvagem e irascível, predominantemente déspota e tirano.

“Tivemos que nos adaptar”, ele respondeu sem se importar com a fria análise que ela parecia fazer de sua figura, lendo em seus olhos que ela não gostava muito do que via. “Essas pessoas são minha família.” Ele apontou com um leve gesto de cabeça na direção em que os amigos dormiam. “Precisei mudar para mantê-las em segurança. E sempre as protegerei a qualquer custo, mas exijo que sigam minhas ordens.”

Sim, ele parecia realmente um tirano agora. O corpo voltado na direção de Sam, a mão pousada na arma pendurava sobre a coxa, a outra em punho na parede próxima.

“Para estar conosco você e seus amigos vão precisar seguir essas mesmas regras.” Ele continuou: “Não vivemos mais em uma democracia.”

“Não sou fã de democracias, não mais.” Sam o surpreendeu. “Muitas pessoas não estão preparadas e precisam de uma mão forte e um pulso firme.” Ela passeou os olhos pelo rosto dele e a face dela relaxou, suas palavras saíram calmas e não pareciam em nada com ela. “Mas não podemos deixar de escutar os que estão ao nosso lado. Um bom líder sempre levara em conta a opinião dos que lhe são subordinados.” Suspirou. "Por isso, não sei se estamos preparados para seguir cegamente a alguém."

“Se não quiser seguir minhas ordens, você e seus amigos podem partir”, Rick soprou com um pouco de raiva. “Não são obrigados a ficar.”

“Mas, se ficarmos, precisamos seguir você de forma irrestrita?", ela mais afirmou que perguntou.

Sam desviou o olhar para o canto em que Linn e Chase dormiam, costas contra costas, como se cada um velasse pelo ponto cego do outro. Eram mais velhos que ela e, mesmo assim, não sabia por qual motivo, sempre estavam a seguir suas ordens.

Mas Sam estava cansada de ter aquela responsabilidade o tempo inteiro. Queria poder dividir aquela carga com alguém, mesmo que soubesse que os amigos não precisavam se submeter a outras pessoas para estarem a salvo. No entanto, aquele grupo tão unido, dava-lhe a sensação de que muitos outros pontos cegos poderiam ser cobertos e não precisariam estar em situação de alerta vinte e quatro horas por dia.

Voltou a encarar Rick, sentindo sua força e energia, seu poder e domínio. Soube, sem receios, que o seguiria, que não seria difícil cumprir suas ordens ou estar sob seu comando. E aquela constatação a atordoou por um segundo, fazendo-a recuar um passo, alerta, confusa em se descobrir tão parecida com Linn quando o assunto era aquele maldito xerife, algo que pensou ter descartado há meses.

Ele pareceu levemente surpreso ao vê-la dar um passo atrás, mas esperou paciente, porque precisava de uma confirmação agora, sobre se aqueles três ficariam ou teriam que se separar na manhã seguinte.

Sam, enfim, acenou levemente que sim e se virou caminhando para o extremo oposto da sala, para a outra janela, onde permaneceria até Linn redê-la dali a três horas.

Rick a observou por alguns segundos, depois lançou Sam e seu grupo para um canto de sua mente, voltando a pensar o que fariam nos dias à frente, em como conseguir um local em que pudessem passar mais que uma ou duas noites, um abrigo seguro para que Lori tivesse a criança e onde sua família se sentisse protegida, principalmente agora que tinham alguns convidados.


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Notas finais do capítulo

Energy - Domínio