Divided escrita por Pat Black


Capítulo 4
Daugther


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a Maritafan por favoritar a fic, bem como aos leitores fantasmas. Muitas vezes não abandonei uma fic porque sempre encontrei visualizações quando gerenciava minhas histórias. É bom saber que estão aí, mesmo que não deixem comentários. Beijão em ocês.
TWD volta hoje, dizer que estou alegre é chover no molhado.



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 06 meses depois...

“Precisamos ir à cidade”, Daryl sussurrou para Rick, enquanto faziam a vigília.

“Não é uma boa ideia”, Rick respondeu. “Lembra-se da última vez? Ficamos cercados naquela escola e quase não saímos vivos de lá.”

“Isso aconteceu porque o grupo todo estava lá”, Daryl respondeu ajeitando a besta no ombro. “Se tivesse me escutado...” Rick o olhou severamente, mas Daryl não recuou, não quando estavam passando fome. “Se apenas dois ou três tivessem ido, não teríamos tido nenhum maldito problema.”

“Não vamos nos separar.” Rick foi duro.

“Podemos deixá-los em uma casa nos arredores”, Daryl continuou. “Vamos dois ou três e tentamos conseguir alguma coisa.” Sentindo que o xerife considerava, continuou: “Posso ir com Glenn e o T.”

Rick colocou as mãos na cintura, trocou o peso da perna, balançou a cabeça e olhou para Daryl.

“Aquela cidade está tomada”, pontuou. “Todas as que corremos estavam.”

“Essa é menor, está mais para a droga de um vilarejo”, Daryl insistiu. “Podemos entrar e sair sem dificuldade.” Encarou o xerife e se aproximou um pouco mais, não queria que nenhum dos outros percebesse que estavam quase discutindo. “Droga, Rick, precisamos ir, não é uma escolha, mas uma maldita necessidade.”

Rick sabia que Daryl estava certo. O inevitável inverno ainda não acabara e estavam tão famintos que já começavam a se arriscar pelos subúrbios em busca de qualquer coisa que fosse apenas comestível; não tinham dado muita sorte.

Olhou para trás, para a fogueira escondida no semicírculo dos veículos, os membros do seu grupo a sua volta, muito próximos do fogo e um dos outros para manterem-se aquecidos, e considerou a ideia de Daryl, ainda lembrando-se do desastre que fora a última vez que tentaram aquele movimento.

Fora um longo caminho de Atlanta até ali, passando pelo CDC, pela fazenda de Hershel e a infeliz situação com Shane que o levara a praticar o impraticável, a perder muito do que fora como ser humano antes da praga, perder quase tudo daquele cara que acordara sozinho do coma para sair e se embrenhar em um mundo caótico e encontrar sua família.

Estava calejado e quebrado, mas não derrotado. Nenhum deles estava. E era essa necessidade de se manter em movimento que os fazia seguir em frente.

Seus olhos posaram em Lori, para logo se afastar de sua figura.

Do momento em que ela o acusara e o julgara nada mais ficara certo entre eles. Desde então, dificilmente a tocava, olhava ou trocavam mais do que poucas palavras. Faria de tudo para mantê-la segura, mas sentia que muito pouco ou nada do casamento poderia ser consertado depois do tanto que lhes aconteceu, das palavras duras que trocaram, das acusações e traição; tudo se resumindo a Shane.

Olhou para a escuridão ao redor do acampamento e suspirou. Necessitavam de mantimentos e, nesse caso, precisavam arriscar.

Olhou para o amigo e assentiu levemente. Daryl apertou-lhe o ombro em um gesto fraterno e Rick sentiu vontade de retribuir, mas ele se foi antes que o fizesse.

Por fim, a manhã chegou calorosa, amistosa, dissipando o frio da noite, mas não seus medos. Rick decidiu que ele e Daryl seguiriam para a cidade, enquanto T-Dog e Glenn cuidariam dos demais. Depois de seis meses, a confiança que depositava nessas pessoas seguia sendo tão grande que pareciam ter se conhecido a vida inteira.

“Use apenas para nos informar se precisarem mudar de posição, a bateria está fraca”, Rick avisou entregando a Glenn o walkie talk. Depois apertou Carl em um abraço e se ergueu, encarando a todos. “Não importa o que aconteça, nós encontramos vocês.”

Glenn concordou, enquanto os demais passaram a guardar as coisas que encontraram nos carros e depois seguiram para se abrigar em uma casa isolada, à orla da floresta.

Rick e Daryl usaram um dos veículos por boa parte do caminho até que o estacionou em uma rua transversal, próxima a rodovia, por trás de alguns carros abandonados. 

Começaram a caminharam ao longo de uma comprida rua, cercados pelo caos de sempre, mas sem errantes à vista. Após alguns minutos, Daryl apontou para um grupo de construções onde um supermercado se destacava. Em verdade, o local se parecia mais com um galpão, mas uma placa desgastada e com o papel comido pelo tempo, além de manchado pela chuva, anunciava que aquele deveria ser o ponto de abastecimento do lugar. Rick achou que era inapropriado já que aquilo não podia ser chamado mesmo de cidade, como Daryl pontuara na noite anterior, visto possuir apenas três ruas que se cruzavam, um pouco à frente, e nada mais.

Esconderam-se atrás de uma picape quando avistaram um errante. Quietos aguardaram atentos caso houvesse mais do que um pássaro desgarrado. Quando perceberam que a coisa estava sozinha, esperaram que ele se aproximasse o bastante para que Daryl o derrubasse e Rick prontamente enfiasse a faca em sua cabeça. Quando chegaram ao passeio em frente ao galpão, notaram que suas quatro largas portas estavam trancadas por grossas correntes e cadeados.

“Isso não é bom sinal”, Daryl sussurrou daquele seu modo arrastado, encostado à parede e atento a qualquer possível errante.

Não mesmo. Rick pensou se aproximando dele e mantendo os olhos cuidando do lado oposto.

“Podemos verificar outros lugares”, Daryl sugeriu.

Rick meneou a cabeça em negativa.

No caminho até ali, percebera que as poucas casas estavam reviradas e algumas até destruídas. Obviamente que poderiam encontrar alguma coisa em alguma delas, mas correriam muito perigo para conseguir pouco. O risco/benefício não valia o esforço.

Olhando para o tamanho do galpão, pensou que aquela expedição poderia ser seguida por outras, caso o interior do lugar se mostrasse promissor. Por isso não podiam correr riscos desnecessários.

“Esse lugar é enorme, vamos procurar outra entrada”, Rick falou se erguendo, sendo seguido pelo amigo.

O lugar era desproporcional como centro de abastecimento local, o que certamente indicava que ele podia abastecer uma área maior, certamente em razão das muitas fazendas e sítios que se encontravam pelas redondezas, bem como as cidades menores, Rick imaginava. Seguiram pela sua lateral, até avistarem a entrada de carga, onde uma enorme porta de correr, em aço, estava parcialmente aberta.

“Vamos”, Rick chamou, ligando a lanterna, jogando sua luz no interior, verificando se não havia nenhum errante próximo para, só então, entrar, seguido por Daryl. Com as mãos esticadas à frente do corpo, a mão da lanterna sob a de sua automática com silenciador, Rick seguia à dianteira.

Estavam na área de distribuição de carga. De um lado podiam notar um caminhão e uma empilhadeira e, atrás destes, pilhas de caixas de todos os tamanhos, perfeitamente alinhadas. Daryl se aproximou de uma delas, mas abanou a cabeça logo em seguida, após ler a descrição nas laterais.

“Peças de veículos”, falou desanimado.

“Vamos encontrar alguma coisa”, Rick tentou, ainda esperançoso.

Caminharam para o interior da construção, ultrapassando algumas portas, para se deparar com um corredor que dava acesso ao salão onde ficavam as mercadorias.

O local estava obviamente sem energia, mas as amplas janelas ao longo das paredes o iluminava como se todas as luzes estivessem acesas, mesmo que aqui e ali as sombras escondessem potenciais perigos.

Rick desligou a lanterna e a guardou na mochila vazia que levava a tiracolo. Fez um sinal para Daryl e apontou para cima, onde as placas indicativas se encontravam.

Seguindo para área de alimentação encontraram tudo revirado, com boa parte das prateleiras vazias. Mesmo assim eles conseguiram encontrar algumas latas aqui e acolá, salgados e uma prateleira com pacotes de biscoitos. Não era muito, mas lhes parecia um banquete, diante do quão pouco tinham conseguido ao longo de todo aquele inverno.

Ainda pegaram alguns outros materiais que poderiam ser necessários, além de algumas coisas no setor de higiene pessoal. Notaram que o local valeria uma segunda visita com mais alguém do grupo, assim que fosse possível. Talvez até pudessem usá-lo como abrigo durante algum tempo.

Rick fazia planos sobre isso quando, retornando pelo mesmo caminho, tiveram que recuar diante da presença de vários errantes, entre eles e a saída.

“Merda!”, Daryl murmurou puxando o xerife pela mochila e o colocando agachado ao seu lado.

Ficaram um momento imóveis até que resolveram recuar devagar para pararem ao escutar um grito de criança e, logo, alguns tiros.

“Mas o quê...?”, Daryl começou antes que alguém atravessasse à frente do corredor em que estavam, apressada, veloz, em direção a última seção, onde ficavam as janelas.

Puderam ver apenas que era uma menina. Vestia calças cargo e um casaco comprido, um boné fortemente enterrado na cabeça impediu que visualizassem suas feições, o cabelo loiro balançando em uma curta trança.

Mas não era ela quem estava atirando, ainda que Daryl e Rick tivessem visto que levava uma arma na mão enquanto segurava uma mochila pequena, mas pesada, na outra.

Foi tudo muito rápido, alguns segundos apenas, tempo em que Rick e Daryl se decidiam se revelavam suas presenças e tentavam ajudá-los, ou seguiam para trás e davam o fora dali.

“Subam na prateleira próxima a janela”, alguém ordenou.

Mulher.

Para Rick, uma voz familiar.

Logo mais três pessoas passaram correndo. Duas mulheres e um homem. Rick viu de relance cabelos flamejantes na primeira mulher e um rabo de cavalo de cachos escuros na segunda. Esta última parou bem em frente à entrada da seção em que ele e Daryl estavam escondidos, enquanto os outros seguiam até a seção.

Ela deu dois tiros, depois, como se os tivesse visto pelo canto do olho, apontou a arma para eles e parou, no rosto uma incerteza que se transformou em reconhecimento.

“Sam”, o homem chamou desesperado.

“Jesus!”, Rick ofegou ao mesmo tempo em que Daryl o puxava pela manga do casaco e os dois seguiam para o fim do corredor, atirando em dois errantes que apareceram do nada.

Rick foi agarrado por outro que apareceu do lado esquerdo, girando e o jogando ao chão para se afastar e atirar em sua testa.

“Por aí não”, ouviram a garota gritar muito perto.

Rick entrou no corredor ao lado, acompanhando Daryl, para só então perceber que ela o seguia.

“Merda, Xerife, vem comigo”, Sam falou atirando em um errante e encarando Rick profundamente.

Quando ele acenou que sim, voltaram a correr, atravessando duas seções para chegar às prateleiras do canto, que estavam presas à parede.

“Sam”, Linn gritou, cheia de alívio, para só então perceber que duas pessoas a seguiam. Surpresa ao reconhecer uma delas.

“Onde ela está?”, Sam perguntou quando chegou ao alto das prateleiras.

“Chase a desceu primeiro”, Linn respondeu, apontando para a corda amarrada à prateleira e jogada pela janela. “Rick?”, Linn ofegou se virando e ajudando o xerife a ficar em pé.

“Linn”, ele soprou como se ainda não acreditasse.

Sam não o olhou, apenas estendeu a mão para o rapaz que estava atrás dele, ajudando-o, para logo após se afastar, jogar a sacola que carregava nas mãos do homem do lado de fora, que estava com elas e saíra primeiro.

“Vem, Sam”, a garotinha chamou com a voz rouca e assustada.

“Logo.” Sam tentou tranquilizá-la. Virando, pediu que os dois homens jogassem as sacolas que levavam, mas eles hesitaram.

Aquilo foi eloquente.

Sam percebeu que, mesmo as reconhecendo, Rick não confiava mais nelas. Seus olhos iam de uma para outra com suspeitas, duros e frios, como lâminas afiadas e perigosas.

“Desça primeiro então”, Sam falou com a voz um pouco doída, ainda que cheia de compreensão.

“Daryl”, ele disse apenas e o rapaz colocou a besta a tiracolo, pulou a janela e começou a descer pela corda.

Assim que ele chegou ao chão, Rick jogou as suas duas mochilas e apontou para a janela com a cabeça, ordenando, mais do que pedindo, que Sam descesse.

“Vai, Linn”, Sam pediu à mais velha, não obedecendo a ordem de um homem que lhe parecia estranho após todo aquele tempo; mas a amiga ainda olhava para Rick sem acreditar que eles se encontravam após tantos meses. “Linn?” Sam tocou-a no ombro.

Saindo do estupor, Linn fez o que lhe foi ordenado, enquanto Sam e Rick sentiam a prateleira balançar pela ação dos errantes, ainda se encarando como a medir forças.

A peça de metal pesada estava presa ao piso, mas os errantes tinham se tornado uma horda e, se continuassem com seus esforços, a prateleira cederia.

“Va!”, Rick mandou.

Diante do tom imperioso, mesmo que sua natureza a mandasse se impor e recusar, Sam preferiu descer primeiro, atenta à vantagem que teriam de quatro contra um lá embaixo, antes que ele descesse, caso fosse necessário.

Seis meses parecia a Sam uma eternidade no mundo atual. Todo aquele tempo havia mudado muito do que ela era e, certamente, conseguira modificar o que conhecera do xerife, por isso não poderia arriscar confiar cegamente.

Quando Rick chegou ao chão, o tal do Chase estava encarando Daryl, atento, a arma na mão. Sam abraçava e consolava a pobre menina, que enterrava o rosto em seu pescoço e tremia pedindo desculpas.

“Não foi culpa sua, meu bem”, Sam dizia com as mãos afagando às costas da criança. “Eu também teria gritado.”

“Mentira”, a menina falou por entre um soluço, um traço de humor na voz, que se transformou em um riso cristalino quando ela se afastou e encarou os demais.

Rick sentiu como se o socassem quando a viu.

Daryl praguejou e avançou na direção da menina, tentando tocá-la.

Sem entender, Linn, Chase e Sam tentaram proteger a criança daquele estranho, apontando suas armas para eles.

“Sofia”, Daryl chamou com a voz embargada.

Sam olhou para a menina. Tinha colocado a garotinha às suas costas, antes de erguer a arma para o cara da besta. O rosto da menina pareceu tão surpreso quanto o dos outros dois, mas Sam viu reconhecimento, alegria e esperança.

“Daryl?”, ela falou e se pôs a chorar, correndo e o abraçando apertado. E este a acolheu como se abraçasse uma filha há muito perdida.


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Notas finais do capítulo

A história não segue fiel, nem aos quadrinhos, nem ao seriado em muitos pontos. Aqui, nessa fic, Sofia não morreu, porque foi salva por Linn e Sam.
Obrigada por lerem.