Divided escrita por Pat Black


Capítulo 11
Kissher


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a Foxes por ter favoritado a fic. Muito obrigado e espero que continue acompanhando.
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Música - Dancing on my own cover by Callum Scott (por que a versão dele dessa música casa com a fic em qualquer direção que ela tome)



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T-Dog estava de vigília nas celas do Bloco B aonde Rick e os demais colocaram os prisioneiros, após livrarem a área dos errantes. Daryl o renderia dali a quatro horas, enquanto Glenn tomaria lugar do xerife a seu turno.

Chase estivera com Linn à cabeceira de Sam durante todo o dia e fora um trabalho quase impossível tirá-los dali para que descansassem durante a noite, enquanto, primeiro Carol e agora Hershel, velavam pela jovem.

Rick sentou um momento nas escadas, um pouco cansado de andar de um lado para o outro durante boa parte de seu turno, a cabeça quase explodindo imaginando o que fazer com os prisioneiros. Todas as suas considerações o levando à mesma conclusão diante de tudo o que acontecera, ou imaginavam que tinha acontecido, já que não possuíam todas as peças daquele quebra cabeças.

Passou as mãos no rosto e, logo depois, pressentiu que alguém se aproximava às suas costas. Ergueu-se meio preparado para se defender, a mão no coldre a cintura, para identificar Linn.

Ela parou um pouco surpresa com a reação dele, quando o estado de alerta em todos não deveria lhe surpreender nunca.

“Vou dar uma olhada em Sam.” Ela se desculpou dando um passo em direção a cela.”

“Deveria descansar um pouco mais.” Rick falou preocupado.

Ela parou e lhe encarou, a luz das janelas atingindo seu rosto como se a acariciasse, o vermelho dos cabelos ainda mais destacado diante de sua palidez. Linn tinha olheiras, o cabelo bagunçado, um rosto em que a palavra cansaço parecia escrita em letras garrafais.

“Você também não está nada bem.” Ela rebateu como se pudesse ler sua mente, ou talvez, seu rosto revelasse o que lhe ia pela cabeça.

“Glenn vai me render em duas horas.” Informou.

Linn balançou a cabeça levemente, fez menção de caminhar novamente em direção ao catre em que Sam estava, mas parou, voltou-se e se aproximou de Rick.

“Rick.” Ela começou como se procurasse as palavras, ou tentasse contê-las, Rick não sabia realmente. “Aqueles homens... O que faremos com eles?”

Ela havia se afastado da luz e Rick pode discernir muito pouco de seu rosto, ali na penumbra. Mesmo assim, sentiu que as expectativas de Linn sobre aquele assunto começavam e terminavam com uma bala na cabeça dos dois cativos.

“Ainda não está determinado.” Respondeu. “Precisamos esperar Sam acordar e estar bem o bastante para nos contar o que realmente aconteceu.” Pode sentir, enquanto falava, que Linn parecia ferver de raiva. “Não somos assassinos Linn.” Tentou. “Por mais que eu queira me livrar dos desgraçados, não somos assassinos.”

“Seria justiça, não assassinato.” Linn explicou. “Você mesmo já nos disse que o mundo possui novas regras e que precisamos proteger os nossos. Sempre.”

“Não é tão simples.” Repetiu o que dissera a Daryl e ela rebateu com um argumento mais contundente que o do amigo.

“Claro que é.” Objetou dando um passo a frente, ficando ainda mais próxima a ele. “Se tivesse acontecido com Maggie, Beth... Ou Lori, vocês não estariam considerando tanto.”

A acusação lhe pegou desprevenido e doeu como se ela o tivesse esbofeteado. Como ela podia imaginar algo assim, Rick pensou, lembrando que quase perdera a cabeça quando se deu conta que alguém havia machucado Sam?

“Acha mesmo isso de nós?” Perguntou também dando um passo a frente e encarando a ruiva de perto.

Pareceu-lhe que ela ficou arrependida e envergonhada pelo comentário, mas sabia que custava muito a Linn pedir desculpas sobre qualquer assunto, grande ou pequeno. Em verdade, ele só a tinha visto se desculpar uma vez, com Chase, ainda que não parecesse dar motivos para ter de pedir perdão a Sam sobre qualquer assunto.

“Não é o que penso.” Nada de desculpas Rick se deu conta. “Estou com raiva, muita raiva daqueles dois.” Linn passou as mãos no cabelo. “Chase disse que ela sumiu por mais de uma hora, quase duas.” Gemeu. “Sabe o que poderia... O que pode ter acontecido com ela durante todo esse tempo?”

Sim, Rick podia imaginar os pensamentos de Linn sobre aquele assunto. Cinco prisioneiros e uma garota bonita? Obviamente todos ficaram preocupados que lhe tivessem feito algo, alguma brutalidade que a garota pudesse encarar como pior que levar um tiro. Ainda mais quando Rick acreditava que ela deveria ter passado por situação semelhante antes de conhecê-la nove meses antes.

“Axel disse que não a tocaram.” Ele tentou retirar aquela preocupação do coração de Linn.

“Acha que ele seria idiota em admitir algo assim?” Linn parecia cética.

“Sam o protegeu.” Rick rebateu. “Acha que ela faria isso se algo mais tivesse ocorrido?”

Linn lembrou-se da barraca coberta de sangue, de dois corpos estripados e Sam entre eles.

“Não.” Respondeu após um curto silêncio. “Não Sam.” Disse com um sentimento cheio de certezas e Rick soube que ela havia acessado alguma memória sobre a amiga, algo ruim.

“Ouça.” Rick colocou as mãos em seus ombros e abaixou-se levemente, muito pouco já que Linn tinha quase sua altura. “Sam está bem, vai melhorar, e junto com ela tomaremos a melhor decisão sobre esse assunto.”

“Não espere que ela seja misericordiosa.” Linn sorriu levemente.

“Nunca.”

“Ok” Linn murmurou sentindo o corpo se arrepiar com o prolongado do contato.

As mãos de Rick estavam frias, a pele calejada de suas palmas em um roce leve e terno sobre a sua carne, quando ele lhe acariciou levemente, com nenhuma intenção que não lhe confortar.

Linn sentiu ganas de se aconchegar a ele e sentir toda a extensão daquele corpo masculino colado ao seu. Ele pareceu imaginar algo assim também, por que seus escrúpulos afastaram as desejadas mãos de sua pele e ele deu um passo atrás muito desconcertado.

“Rick?” Chamou com voz rouca, traindo todo o desejo que a tomava naquele momento.

“Você deveria descansar.” Ele aconselhou novamente, a voz firme, limpa e clara, como se ele não estivesse tão desejoso quanto ela.

Uma merda que ele não me deseja. Linn pensou se afastando, um laivo de esperança penetrando em seu coração e ali firmando acampamento, se preparando para um momento mais apropriado, em que tanto não pesasse entre eles.

Afastando em direção a cela de Sam, a única iluminada, deu uma olhada em Hershel que cochilava sentando de forma desconfortável, tocou o rosto da amiga, comprovando que estava bem, e se afastou em direção a sua própria cela, sem encarar Rick novamente.

O xerife aguardou que a luz do catre de Linn se apagasse com a firme intenção de permanecer no mesmo lugar e não dar nenhum passo em direção das promessas da ruiva.

O que Linn lhe oferecera, por que ela tinha completamente se oferecido, seguia sendo algo, alguma coisa além do físico e carnal, que não fazia parte de sua vida há muito mais tempo que os nove meses daquela praga. Por que o seu casamento vinha morrendo de forma inexorável antes de que entrasse em coma. E todos os esforços que tinha feito para mantê-lo vivo, foram vãs tentativas, por que ainda amava de alguma maneira a esposa, ou a lembrança da mulher com quem se casara e desejara viver toda a sua vida.

Olhou para a cela de Linn e pensou no como fora difícil dar um passo atrás, afastar as mãos de seu corpo e se negar o que qualquer homem separado, ou não, teria agarrado e desfrutado.

Respirou fundo e se aproximou da cela de Sam, apenas para fugir da tentação.

“Hershel?” Chamou tocando em seu braço ao ver o ancião dormindo sentado em uma cadeira dura, de maneira que lhe pareceu muito incômoda para alguém de sua idade.

“Rick... Estou bem.” Falou ainda meio sonolento.

O xerife sorriu levemente.

“Maggie vai chegar em breve.” Falou o ajudando a se levantar. “Vá descansar, eu cuido dela até sua filha aparecer.”

Hershel apenas assentiu, se erguendo com dificuldade e caminhando para fora e em direção ao seu próprio quarto.

Rick diminuiu a luz da lanterna, se acomodou na cadeira e observou Sam, não mais que vinte centímetros separando o assento da cama e seu corpo do dela.

Ela estava deitada meio de lado, o braço ferido enfaixado e bem limpo, o que lhe alegrou, já que não sangrava mais ou exibia qualquer tipo de infecção. Por um instante sentiu vontade de tocar sua testa e conferir sua temperatura, visto que durante todo o dia ela lutara contra a febre, mas a garota parecia tão tranquila que preferiu evitar qualquer chance de acordá-la.

O ângulo em que colocara a cadeira deixava que observasse a entrada, tanto da cela como dos portões do bloco no qual estavam, o que permitia executar suas duas funções de vigia sem receios.

Olhou ao redor, aquele seria o quarto de T-Dog e Chase, mas eles cederam a Sam e mudaram suas coisas para duas celas depois, para que nada a incomodasse enquanto se recuperava. Assim, apenas a mochila de Sam jazia a um canto e a maleta de Hershel descansava sobre uma mesa perto da entrada.

Olhou para Sam novamente e se rendeu a vontade de conferir sua febre. Levemente tocou sua testa e percebeu que ela estava bem, um pouco quente, ainda que nada preocupante. Mas, como temia, ela despertou.

Seus olhos pareciam maiores e um pouco mais escuros quando ela os rodou abrangendo boa parte do quarto até baterem nele e piscarem algumas vezes, como se não acreditasse que estava segura e que ele estava ao seu lado.

“Xerife?” Ela murmurou ainda desorientada, sentindo-se como se andasse por uma bruma densa. Sabia que era Rick que estava ao seu lado, mas o ambiente e ele pareciam algo irreal, como se ainda estivesse sonhando.

Rick, por seu lado, se deu conta de que ela sempre o chamava de xerife quando precisava lhe dirigir a palavra. Apenas uma vez o chamara pelo nome e isso só por que eles estavam em perigo naquele galpão, onde se reencontraram, e ela precisava que a seguisse.

Como ela fez menção de se levantar, ele se inclinou em sua direção, a mão a poucos centímetros dela e recuando em seguida sem lhe tocar.

“Fique deitada.” Pediu.

“Tenho sede.” Ela sussurrou com voz rouca.

Rick se afastou, agarrou uma garrafa e a trouxe para ela. Sam a pegou, mas ao tentar se erguer, fez uma careta e se deixou afundar no travesseiro parecendo exausta.

Mesmo sabendo que ela não gostava de ser tocada, Rick saiu da cadeira e sentou a cabeceira da cama, deixou a garrafa sobre o assento e se virou para Sam.

Ela parecia ter se encolhido e afundado ainda mais no travesseiro ao perceber suas intenções, mas ele não fez caso. Passando o braço pelos seus ombros, ergueu Sam um pouco, ajeitou o travesseiro as suas costas, ainda que a tivesse mantido erguida levemente contra seu ombro, agarrou a garrafa e aproximou de seus lábios.

“Calma.” Sussurrou quando ela estremeceu e tentou recuar. “Apenas beba.”

Seus olhos brilharam com um pouco de raiva pela ordem, mesmo que estivesse desejosa de matar sua sede. Sem afastar os olhos dele, deixou que aproximasse a garrafa e sorveu um grande gole.

“Devagar.” Rick sussurrou se inclinando um pouco mais sobre ela.

Quando Sam se sentiu satisfeita, ele afastou a mão e depositou o recipiente sobre o assento novamente.

“Quer algo mais?” Perguntou sem se afastar.

Sam negou levemente com a cabeça, a sensação de sonho ainda presente e muito intensificada pelo calor dele tão perto e o aconchego do braço firme as suas costas.

Ele fez menção de deitá-la e se afastar. No entanto, antes que pudesse, com ele inclinado sobre seu corpo, ainda lhe sustentando, Sam elevou a mão do braço sadio e tocou seu rosto, um pouco contra a sua própria vontade e, ainda assim, completamente em seu controle.

Ele ofegou levemente e parou de respirar por um instante quando ela tocou em sua testa e afagou entre suas sobrancelhas, delineou lentamente uma delas, deslizou por sua face, até que escorregou os dedos na lateral de seu maxilar, primeiro com as pontas, depois com os nós, até alcançar o seu queixo.

Ela não deixou de fitar seu rosto enquanto o acariciava, os grandes olhos muito abertos, acompanhando o caminho percorrido pela mão, até que tocou sua boca timidamente, para então fitá-lo diretamente nos olhos.

Rick ficou sem saber se ela se dava conta do que estava fazendo. Talvez estivesse com a febre mais alta do que ele pudesse compreender e delirava por conta disso, alheia as suas ações.

“Rick.” Ela murmurou meio sonâmbula e ele tentou se afastar, sendo detido pela mão que escorregara pelo seu pescoço e se enredara em seu cabelo.

Ela sussurrou seu nome outra vez então, quando ele colocou a mão sobre a dela em seu pescoço. Fora aquele último sussurro que derrubou suas defesas. A voz da jovem soara tão impregnada de alguma coisa, um sentimento que Rick não soube precisar com clareza, mas que atingira suas entranhas e as revirou como se ela o tivesse socado com força.

Não pode deter o que aconteceu a seguir.

Baixando a cabeça, capturou seus lábios, com Sam suspirando feliz e disposta. Beijou a garota como não teve coragem de fazê-lo com Linn, tão abandonado, que aplicou mais força ao gesto do que teria feito se pudesse controlar a merda que o governava naquele instante em que perdia muito de si mesmo, do homem que era e dos valores que cultivava e regeram sua vida.

Beijou-a com paixão, capturando seus lábios, abrindo aos poucos sua boca e invadindo aquela sua primeira intimidade em busca de sua língua, provando e sendo provado, suspirando quando ela permitiu que fosse mais ousado, recebendo tanto seus gemidos, como seus suspiros, como um presente e um prêmio.

Quando só beijar e ser beijada não pode ser mais suficiente Sam, devagar, agarrou sua mão e entrelaçou seus dedos, puxando-as do pescoço dele para perto de seu corpo, espalmando aquela grande mão sobre um de seus seios por cima da blusa e gemendo com o contato, quando Rick cavou e cravou os dedos em sua macia carne.

Foi nesse momento que Rick se deu conta de que tinha ido longe demais. A garota não estava bem. Por certo aquela não era uma atitude que ela tomaria se estivesse consciente. Não uma Sam no controle de si mesma.

Sentindo-se um canalha se afastou lentamente e ela se elevou um pouco não desejando que ele a abandonasse.

“Não.” Pediu e ele parou sem saber se conseguiria deixá-la.

“Não posso.” Murmurou encarando seu rosto tomado pelo prazer não plenamente satisfeito, os lábios um pouco inchados e levemente abertos, um convite para que tomasse sua boca novamente. O desejo o tomando tão completamente que literalmente doeu deixá-la.

Ela não pareceu compreender ou acreditar que ele pudesse ter forças para parar o que acontecia naquele momento, mas ele o fez. 

“Me desculpe Sam.” Ele pediu e ela não sabia bem pelo quê: Por beijá-la, ou por ter parado de fazê-lo.

“Eu...” Ela tentou, mas as palavras se avolumaram em sua garganta, sem que as pudesse pronunciar.

Rick parecia tão consternado, ali, pairando sobre ela, que Sam odiou tê-lo feito se sentir daquela maneira. Detestando-se em seguida por ter forçado aquele homem a fazer algo que ele nunca teria cometido se não temesse machucá-la quando ela se aferrara a ele como uma erva daninha e se oferecera sem pudor.

Entretanto, ainda que se sentisse envergonhada, não se arrependia, seria uma maravilhosa lembrança a levar consigo pelo resto de sua miserável vida. Para sempre se recordaria daquele beijo, do gosto dele e de cada gemido que Rick dera enquanto tomava e devastava sua boca.

Com cuidado ele retirou o braço e se afastou completamente. Sam sentiu o frio tomar todo o espaço que ele preenchera e depois invadir seu corpo e ali permanecr, como para lhe mostrar, mais do que palavras, que Rick nunca mais iria deixar que algo assim acontecesse novamente entre eles.


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