Uma Odisséia em Outra Terra escrita por Curupira


Capítulo 4
Um destinado encontro.




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—Onde caralhos eu estou?

Uma grande muralha podia ser vista do alto, duas entradas se faziam presentes, cada qual possuía duas torres de vigia laterais, uma direita e uma esquerda. Ainda era possível ver um longo rio que contornava a construção.

Definitivamente esse deve ser um novo parque temático, o ramo de entretenimento deve estar crescendo a passos largos. Porém, por que fariam todo esse empreendimento em um lugar isolado como este? Não há estacionamento ao redor do parque, eu não vejo nem mesmo um único carro. É isso! Estou observando o lado contrário da entrada, esses portões não devem ser realmente utilizados. Devem ter policiais lá dentro, estou salvo.

Conforme atravessei o muro, os indivíduos no interior da torre grunhiram coisas misteriosas para mim. Entendi, deve ser um tipo de gesto característico dos trabalhadores do local, os imitei prontamente, desse modo eles me deixaram passar sem problemas. Quando dentro da cidade pude reparar cada detalhe da construção. Todos vestiam roupas estranhas, alguns possuíam acessórios ainda desconhecidos por mim e tinham uma aparência similar ao dos moradores da vila anterior. Provavelmente são todos funcionários, eu pensei. Excelente ambientação, très bien¹, eu dizia entusiasmado.

Após minha primeira comoção um cheiro pútrido² começou a subir em minhas narinas, a ânsia de vomito foi inevitável. Nunca senti um cheiro tão intenso, pude praticamente sentir os cadáveres em minhas mãos, literalmente, pois um corpo estava estirado no chão a alguns metros de mim. Cavaleiros com armaduras peculiares faziam a ronda, um deles limpava o sangue de sua espada na roupa do morto. Todos ao redor pareciam estar ansiosos para suas retiradas, assim que esses viraram a primeira esquina, um grande alvoroço se fez presente, roupas rasgadas começaram a ser lançadas para o alto, até que o homem estirado no chão tornava-se completamente nu.

Uma senhora ao meu lado entregava um dos pertences do falecido a uma criança. Esse definitivamente não era um parque temático, eu realmente deveria estar na Idade Média, e como as pessoas ao minha volta possuíam a pele viscosa e rostos desfigurados, só podia ser ... a peste. Estou condenado. Um dos panos do recém falecido repousou sobre a minha face, eu rapidamente atirei o pedaço de roupa no chão e comecei a correr para a suposta entrada principal da cidade. Devo estar sonhando!

Entrei em uma rua vazia, tentei me acalmar, minha respiração era profunda. Começou a chover de repente, a chuva era fétida e amarronzada, me movi para de baixo de um toldo, olhei para o alto e observei uma pessoa segurando um largo balde acinzentado no segundo andar de uma das casas. Chuva de matéria fecal.

—Merda!

Limpei o dejeto que pesava em minhas pálpebras, toda motivação de correr que tinha previamente foi perdida, se tiver alguma doença nessa cidade com certeza já estou contaminado. Caminhei para uma outra rua principal, nela vi das coisas mais estranhas, pequenos animais asquerosos choravam nas pequenas aberturas de cada construção. Ao final desse trecho, um sujeito estava sendo agredido por um ser tão sujo quanto eu. Conforme continuei a me aproximar de ambos, o agressor fugiu apavorado. Tentei me comunicar com aquele que se encontrava agora sentado. Finalmente, estendi minha mão para o ajudar a se levantar. Ele pareceu confuso, entretanto aceitou.

 Ele me olhava com curiosidade, tentamos nos comunicar, mas cada qual falava em sua língua. Ele me puxou pelo braço e começamos a subir uma das alamedas apressadamente, passamos por outro grande portão. O ambiente parecia mais agradável, isso é, havia uma menor aglomeração de pessoas. Parece que chegamos em sua casa, a mesma tinha dois andares, era principalmente feita de tijolos, contudo, hastes de madeiras foram encaixadas para dar a sua devida sustentação.

Subimos uma escada que desembocou na entrada de um amplo quarto, ele encheu uma tina³ de água e indicou que era para mim, comecei a tirar minha roupa descaradamente, achei que um sujeito enlameado de fezes não deveria ter mais nenhum pudor, afinal apesar de cada qual de sua maneira, acho que eramos ambos homens, meu engano foi evidente, ele saiu do quarto com pressa e fechou a porta com força. Tirei o azedume do meu corpo, em seguida comemos algo que não consegui identificar e fui encaminhado para um dos aposentos.

Enquanto isso no quarto ao lado, Óneiporos refletia sobre o encontro. Ele acreditava que Sophrosseus deveria fazer parte de um dos outros continentes, havia somente indícios deles em livros que agora eram considerados lendas. A OVP negava qualquer evidencia real da existência de outras raças, era uma heresia, invenção de charlatões. Ele se decidiu, retornaria agora ao centro de estudos, entraria na biblioteca e leria tudo relacionado a esse tópico.

—Uma revolução!

Proferiu em voz alta.

Óneiporos deu peças de roupas a Sophrosseus que cobriam grande parte de seu corpo. Apontou para o humano e depois para si mesmo e começou a andar, olhou para trás esperando que o forasteiro o seguisse. Após alguns segundos Sophrosseus compreendeu e se pôs a seguir.

Cheguei em uma construção parecida com os castelos que vi em alguns livros do Ensino Médio, percorremos os jardins e percebi que meu novo amigo evitava qualquer encontro com outras pessoas. Entramos em um grande salão oval, a quantidade de livros era surpreendente, fui levado até o último andar dessa biblioteca, em cima de cada estante havia símbolos estranhos, provavelmente são parte do alfabeto local. Ele pegou um grande livro de capa preta, fez um sinal para que eu me afastasse e o abriu no chão. Era um livro antigo com mapas e anotações, ele pediu que eu apontasse de onde vim, eu tentei dizer que nunca tinha visto esses contornos de terras. Nossa surpresa foi sincronizada, descobrimos que esse não era meu planeta de origem.


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Notas finais do capítulo

¹ Muito bem em francês.
² Podre
³ Banheira de madeira usada na Idade Média para tomar banhos.



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