Uma Odisséia em Outra Terra escrita por Curupira


Capítulo 5
Sophrosseus, o físico-químico.




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No terceiro andar de uma biblioteca alienígena encontravam-se duas criaturas, estranhamente diferentes em suas aparências e ainda mais estranhamente similares em seus comportamentos.

Uma delas era Sophrosseus, um homem terráqueo no começo de seus 30 anos, filho de um colombiano com uma indiana, passou grande parte de sua infância na Grécia, depois se mudando para o interior paulista no Brasil. Nesse local será justamente sua miscigenação que levantará o estandarte de seu planeta natal.

A outra era Óneiporos, o astrônomo, já tinha mais de 40 anos de idade, sua raça tinha um potencial de ver facilmente os 130 anos de idade, o que infelizmente era mais do que raro, dadas as circunstâncias da sua civilização. Possuía as orelhas deslocadas para cima, eram voltadas para frente e triangulares, já seu nariz era levemente alongado e suas minúsculas pupilas se perdiam nas grandes íris alaranjadas. Além da pele plastificada, pouco mais se notaria de diferente dos seres humanos.

O terráqueo dava voltas entre as diferentes prateleiras, observava os símbolos que se encontravam nas capas de cada livro. Finalmente achou um que despertara sua curiosidade, entre os símbolos de sua capa reconheceu os caracteres sânscrito, latino e grego.

—Como é possível encontrar algo legível para mim nesse lugar?

Do outro lado, o extraterrestre me olhava curiosamente e voltara o olhar para os livros que empilhara, parecia ser toda uma coleção de enciclopédias, devia estar procurando explicações. Voltei minha atenção para o livro que me interessava, assim que aberto nada poderia causar tanto entusiasmo, deve ter sido a primeira boa notícia que recebi desde que acordei. Alguém anotou todas as correspondências entre os principais alfabetos da Terra com os alfabetos daqui, pelo o que percebi nesse mundo também existem algo próximo de 30 algarismos.

Coloquei o livro embaixo do braço, procurei se mais algum similar poderia ser encontrado. Me dirigi ao meu novo amigo, o interrompi e mostrei minha nova descoberta. Não sabia muito bem como explicar, apontei para o topo de uma das estantes em que ele estava. Li pausadamente o que estava escrito, e apesar de não ter entendido o que lera, ele prestou bastante atenção. Repetiu os mesmos dizeres com a pronúncia correta e desse modo pude o copiar até dominar minha primeira palavra, sinto como se tivesse aprendendo a falar pela primeira vez.

Um mês se passou e tenho pouco a adicionar sobre esse tempo. Na verdade, durante esse mês me dediquei inteiramente ao estudo da língua e cultura local. Um dia nesse planeta parece durar entre 5 a 10 horas a mais que na Terra, pelas minhas contas, um mês levaria 870-1020 horas, levando em conta que eu durmo aproximadamente 8 horas por dia, tive 720 horas de exposição ao novo idioma, isso deve ter me levado ao nível intermediário. A duração do dia deve ser maior devido a uma segunda lua que nos orbita, a gravidade local também é um pouco maior. Meu projeto futuro é calcular a circunferência desse planeta, meu compatriota Eratóstenes resolveu o problema sem muitos recursos tecnológicos, se eu...

— Sophro, está perdido em seus pensamentos?

—Disse algo Óneiros?

—Eu ainda não entendi nada que você me explicou, como podem as estrelas não serem o teto que cobre nosso mundo? Como podem existir outros mundos? Nós somos os únicos! Culinus é o centro de toda a criação dos deuses.

—Se você venera tanto seus deuses, eles não serão muito mais magníficos quanto maior forem suas obras? E vocês não são muito pretensiosos em achar que são o apogeu de toda a criação?

— ... Talvez você tenha razão, só tem sido muito para digerir, eu... Eu acho que nas minhas pesquisas, de alguma maneira, eu sempre pensei em algo assim.

—Eu imaginei que sim, você é um observador, certo?

—Observador? Você quer dizer astrônomo?

—Isso! Tinha uma profissão parecida em meu antigo lar... Eu mantinha contato com eles, trabalhei em uma universidade assim como você, era físico-químico.

—Universidade? Físico-químico?

Conhecemo-nos pouco a pouco com o passar de mais alguns dias, por vezes ele me levara escondido na biblioteca de maneira que eu pudesse aprender sobre variadas coisas. Comecei a copiar alguns desenhos de plantas e animais, as vezes pedia alguma explicação para Óneiros, o apelido que o dera, e prosseguia com meus estudos. Uma hora recolhi material suficiente para sobreviver do lado de fora das muralhas, haviam monstros, plantas, noites de terror, alguma política e religião. De tudo que consegui, só faltara sobre o mar, diziam que esse era violento e impossível de utilizar, os relatos eram obscuros e nada mais me foi útil.

O astrônomo circundava seu próprio quarto em uma viagem dentro de seu palácio mental de pensamentos. Assim que a cena me irritou, o interrompi:

—O que te preocupa tanto? Dentro das muralhas não nos preocupamos com os monstros e no círculo interior da cidade a violência é amena. Eu sei que nossa situação é misteriosa, mas não há muito a ser feito. Eu quero voltar para casa assim que possível, porém a pressa é inimiga da perfeição.

— O que disse?

—Dentro das ...

—Não isso, a última parte.

— “A pressa é inimiga da perfeição”?

—É isso! Finalmente me decidi, partiremos em breve. Pegue essa mala e coloque tudo que você achar ser útil.

—Mas o que isso tem a ver com ...

—Tudo rapaz, tudo! Vamos, apresse-se!

—Você e sua terrível maneira de me interrom...

—Está esperando o que? Chega de falar.

Esse alien ainda vai me foder.


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