Parado à margem do bosque, olhando para os muros de latão que se estendiam centenas de metros de leste a oeste, Mike Gilles, mais comumente conhecido como o Alfaiate, rezava para que aquela comunidade fosse o lugar seguro que a matilha necessitava para sobreviver ao inverno iminente.

Os garotos perambulavam pela mata à procura dos preciosos cogumelos que garantiriam o jantar daquela noite. Pássaros não carniceiros eram alvejados por baladeras para terem o mesmo destino. Havia muitos carvalhos no bosque, o que garantiria uma sopa de bolotas na ceia.

O Alfaiate ansiava por um bom pedaço de pão caseiro quente com manteiga derretendo por cima. Um sonho naqueles tempos perdidos. Balançou a cabeça afastando o desejo que jamais seria satisfeito novamente, prestando atenção à sua volta.

Um zumbi se aproximava dele. Rosnando em seu passo cambaleante, num passado distante fora uma jovem mulher de cabelos vermelhos compridos, vestida com um vestido de verão. Agora era um horror ambulante e faminto, com o rosto mutilado. O Alfaiate sacou de uma bainha adaptada à coxa, a metade de uma grande tesoura muito afiada e enfiou na tempora do cadáver revivido.

Nem olhou para o corpo que caia, preferindo esquadrinhar o bosque a sua volta, procurando seu povo, avaliando novas ameaças. Os homens dos Salvadores que vigiavam por perto fizeram acenos positivos com a cabeça, aprovando a arma e a perícia em usa-la.

Apesar de sua aversão a estranhos e quietude natural, aquela não era a hora de bancar o misantropo. Por isso não fez nenhum gesto em recusa à aproximação dos rapazes dos Salvadores. Olhando com mais atenção percebeu que um deles era uma mulher feita, com os cabelos cortados a zero e a jaqueta grande, passava despercebida entre seus colegas homens.

_Já vi muitos tipos de armas adaptadas. Mas uma tesoura é a primeira vez. A mulher olhou com interesse enquanto Mike exibia a metade da grande tesoura de alfaiate que se adaptava facilmente em punhal agarrado à mão.

_Ela sempre garantiu a minha sobrevivência, em tempos idos e agora mais do que nunca. _Mike concedeu a eles uma explicação. Percebendo que seus interlocutores olhavam com ódio descarado para os muros à frente, aproveitou para fazer suas próprias perguntas.

_Eu sou o Mike. Meu bando me chama de Alfaiate. Apresentações cordiais podiam facilitar para extrair informações.

_Sou Paul. Falou de forma seca, porém cordial um afro - americano alto, magro e barbudo. Seus olhos demonstravam maior violência quando fitavam os muros de latão.

_Sou Pamela, disse a mulher camuflada. A jaqueta de inverno lhe dava um aspecto corpulento e os olhos enormes no rosto magro eram duros. Isso ajudava na ilusão de parecer um rapaz.

Um silêncio natural se instalou entre os três, intensificando o burburinho das pessoas na mata. Mike esperou que os Salvadores falassem. Paul foi o primeiro a perturbar o silêncio entre eles. Suas palavras e seu ódio eram dirigidos à comunidade onde pretendiam instala-los.

_Se eu pudesse queimava este lugar até o solo.

_Mas você não tem autorização, Paul. _Retrucou a mulher. _ Então fique quieto e se acalme.

Percebendo que eles não dariam maiores informações, o Alfaiate se obrigou a perguntar:

_Que tipo de gente mora aqui, Pamela? Não quero levar meu pessoal para uma armadilha.

A mulher o olhou e pensou antes de responder, avaliando as próprias palavras:

_Essas pessoas não serão um problema para sobreviventes fodas que nem vocês. Eles nos causaram muitos problemas, mas Negan os ensinou que toda ação arrogante tem consequências.

_Nossa gente intimida as pessoas, Mike. Agride e saqueia metade de tudo o que os sobreviventes possuem e produzem, mas não significa que vamos sair por aí matando tudo e todos que aparecerem.

Pamela ficou quieta e foi a vez de Paul continuar com as explicações:

_Nosso acordo com vocês é diferente dos negócios que temos com Alexandria. Eles nos devem sangue. Vocês só devem a ajuda que prestamos.

"Assassinos domados", pensou Mike. Negan pretendia instala-los dentro de uma maldita comunidade de assassinos. "Parecia que não poderiamos desarrumar as mochilas nesse inverno."

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O lugar era melhor do que jamais imaginei. Casas imensas, ruas desimpedidas, pracinhas sem mortos-vivos perambulando. Nunca pensei que veria luz elétrica e água encanada novamente. Será uma pena deixar esse lugar para trás.

Quando Negan voltou ao comboio e nos reunimos para entrar pelo grande portão de Alexandria pude ver a placa de saudação na entrada. "Abrigo para os perdidos. Vingança para os saqueadores". Negan seguiu meu olhar e falou com desprezo para a placa. "Idem, seus filhos da puta".

Pessoas nos olhavam das varandas bem cuidadas e rostos assustados nos vigiavam de janelas com vidros limpos. Aquelas pessoas não eram mais inocentes iludidos. Eles já tinham visto o terror que o apocalipse trazia, tiveram perdas mesmo dentro de seus muros seguros.

Agora eram obrigados a receber, abrigar e dividir seu espaço com um grande bando de pessoas estranhas e imprevisíveis. Provavelmente só agora começavam a perceber o tamanho da dívida que contraíram com Negan.

O Alfaiate não estava em seu lugar de costume enquanto marchavamos em estranha procissão por ruas arborizadas e limpas. Ele andava em meio ao grupo e por gestos de nosso código próprio recomendava cautela. Já éramos normalmente cautelosos, então isso significava que deveríamos agir com extrema cautela.

Percebi que ele conversara com os Salvadores enquanto esperávamos o retorno de Negan. Mal podia esperar para conversar com ele e descobrir as informações que conseguira. Ele normalmente era tão tranquilo, mesmo em meio ao terror que eu só podia imaginar que o que descobriu era péssimo para nós.

"Regina", seu olhar e expressão corporal me diziam: "O lugar não é seguro. Essas pessoas não são confiáveis."

Pensei nisso quando Negan me apresentou Rick Grimes como o responsável por Alexandria.