Em Más Companhias escrita por Maritafan


Capítulo 10
Cap 9 "Espelhos"


Notas iniciais do capítulo

Alguns protocolos de apresentação não podem deixar de serem cumpridos. As emendas da histórias não podem deixar de serem feitas. Apreciem ^-^



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Regina olhava sem acreditar para a mulher desgrenhada, suja e magra que era o seu reflexo no espelho e não se reconhecia. Nunca foi de se preocupar exclusivamente com a aparência, mas cuidava de si mesma. Olhando suas mãos calejadas com unhas sujas e quebradas, lembrava que fazia pelo menos dois anos que não se olhava num espelho.

A líder bizarra se recuperou rapidamente do choque de ver o quanto havia mudado e analisou a sala e o homem que preparava uma câmera para filmar a conversa a que foi convidada a terem quando ela e seu bando chegaram de forma tão inusitada em Alexandria.

Do outro lado do espelho adaptado na parede, Carol Peletier estava atenta a cada mudança de expressão do rosto marcado da mulher desconhecida. Nem o modo como chegaram em Alexandria a surpreendeu tanto quanto as pessoas que vieram com ela. Judith Grimes, Lizzie Samuels e Tyreese. Carol não conseguiu conter o tremor de medo e arrependimento quando lembrou da última vez que viu Tyreese. Olhando para suas mãos as via manchadas de sangue e sentia o fedor de carne torrada.

Quando Regina virou as costas ao espelho, recusando - se a ficar perturbada, o que mais a surpreendia não era a sala espaçosa e bem conservada. Os lugares do mesmo nível social em que se escondeu com seu bando estavam todos destruídos, pilhados e imundos. O que surpreendia e pos Regina em guarda dupla foi a atitude cordial e pacífica do líder de Alexandria.

Regina não podia permitir que essa aparente cordialidade a desarmasse em sua necessidade de proteger seu povo, mas também não iria dificultar a conversação. Ela já tinha sido colocada a par de como eram as coisas entre Negan e Alexandria e não pretendia se meter nisso mais do que o necessário. Não permitiria que seu grupo fosse usado como carne de zumbi em suas disputas.

_Meu nome é Rick Grimes, senhora. Seja bem vinda em Alexandria. Ele estendeu a mão para cumprimenta-la e sorriu. Em seus olhos havia.... gratidão? Muito estranho e suspeito. Regina aceitou o cumprimento e se apresentou:

_Sou Regina First, Sr. Grimes. Ela deu o tom de tratamento que teriam de agora em diante. A câmera apontada para o seu rosto a desagradava. _Qual a necessidade de gravar essa conversa?

_Temos uma rotina de admissão em Alexandria, Sra. First. Para que as pessoas que vierem depois de nós saibam como começamos e o preço que pagamos. _Mesmo que tenham chegado como uma imposição de Negan, precisamos deixar claro como agimos dentro da comunidade para que possamos conviver e sobreviver.

_Então pretende pagar qualquer preço para manter esse lugar de pé, Sr. Grimes?

_Já estamos pagando o preço que a sobrevivência cobra, Sra. First _ Rick resolveu presumir que estavam no mesmo barco. Ambos, a comunidade e o bando recém chegado à mercê de um grupo hostil e mais poderoso. Embora quisesse conversar imediatamente com Tyreese, este não parecia ter uma posição de destaque no grupo, maior que a própria Regina ou quem parecia o segundo em comando, o homem das tesouras.

Cumprir certos protocolos era necessário. Precisava saber que tipo de gente Negan os estava impingindo. Embora ter visto que trouxeram sua filha presumida morta e outros velhos conhecidos fizera Rick ter uma esperança de que essas pessoas pudessem ser mais uma solução do que um problema.

_Meu povo precisa deste lugar, Sr. Grimes. Já passamos um inverno na estrada e as perdas que tivemos foram numerosas e dolorosas. Podemos cooperar no que for necessário para o bem comum. Mas temos nossa própria agenda e dívidas para acertar.

_Não creio que possa haver confiança entre nós. Mas somos cooperativos. Alexandria nos deixa em paz, nós os deixaremos em paz. Poderemos dar o que Negan quer e ele nos deixará em paz.

Rick Grimes não acreditava que um grupo com tantos sobreviventes fosse ingênuo ao ponto de acreditar que Negan ficaria satisfeito em algum momento.

_A senhora acredita mesmo que Negan vai nos deixar em paz?

_Não. _ First foi sincera com Grimes. _Mas não temos outra opção por enquanto senão nos submeter.

*******

Já estava anoitecendo, Rick Grimes voltava de uma ronda ao portão, onde tinha ajudado Tobyn e Gregory a derrubar uma pequena horda de zumbis que estava enchendo as valas de proteção aos muros de latão que cercavam a comunidade.

Após dar as últimas instruções aos vigias do primeiro turno da noite, bateu à porta de sua própria casa. Michonne sempre fazia questão de mante-las trancadas em qualquer hora do dia e da noite. Sua mulher viera abrir para que ele entrasse e o sorriso com que o recebeu foi tão caloroso que ele sorriu de volta e se aproximou para beija-la na boca.

O casal entrou na casa e se abraçou aliviado. Michonne sussurrou no ouvido de Rick: _Ela está viva... Eles se afastaram por um momento um do outro e ele pode ver que os outros membros de sua família também estavam na casa.

Carol, Glenn e Carl eram os últimos membros do grupo de Atlanta que ainda estavam vivos e morando em Alexandria. Glenn havia se mudado para Hilltop com Maggie mas retornou, completamente inconsolável, quando o grupo de Negan não satisfeito com a execução de Daryl Dixon, havia exigido outra morte. Eles tinham escolhido Maggie Greene.

Mas o horror e o choque pela execução de seus amigos fora temporariamente relegada a segundo plano com a felicidade do retorno de Judith, Lizzie e Tyreese ao mundo dos vivos.

Carol servia um ensopado de coelho com macarrão velho. O coelho fora caçado por Carl na floresta e estava tenro e macio. Era uma festa. Glenn trouxe vinho e os sobreviventes brindaram ao retorno dos três membros de seu grupo que foram presumidos mortos na queda da prisão. Carl estava ansioso:

_Quando vamos buscar a Judy, pai? O rapazinho não percebia as implicações de tal ato.

Os adultos se olharam compreendendo que poderia demorar algum tempo até que tivessem Judith novamente em seus braços. Coube a Rick explicar a seu filho:

_Não podemos trazer sua irmã por enquanto Carl. Não podemos revelar ás pessoas de Alexandria que Judy está viva e morando aqui, agora. Negan pode descobrir. Não podemos deixar que ele descubra sobre ela, entendeu Carl?

O olho do garoto encarou seu pai sem expressão. Seria difícil convencer Carl a ficar longe da irmã para a própria proteção desta.

_Também não podemos traze-la agora mesmo porque ela não nos conhece mais, Carl. _Carol percebeu a hesitação do garoto. _Judy tem quase dois anos e está acostumada com as pessoas que cuidaram dela no último ano. Precisamos ter paciência, Carl.

_Sou o irmão dela. Nós somos a família dela. É com a gente que ela tem que ficar. _O garoto com o chapéu de cawboy e os cabelos cobrindo o buraco no rosto, provocado pela perda do olho direito, podia ser insuportávelmente teimoso.

_Nós vamos conversar com o Ty e a Lizzie, amanhã, Carl. Vamos descobrir o que aconteceu e então vamos saber o que fazer, esta bem? _Michonne tentou ajudar encerrando a discussão.

Carl pareceu aceitar a decisão dos adultos, terminando o jantar, se recolheu ao seu quarto no piso superior da casa. Gleen observou o garoto subindo as escadas, tendo um mau pressentimento. Mas balançou a cabeça concentrando-se nos seus próprios sentimentos de perda.

*******

A Sra. Duvier colocou a sexta criancinha na cama e os observou. Limpos e de barriguinha cheia de caldo de pássaros quente engrossado com farinha de aveia velha, estavam dormindo profundamente na grande cama de casal do maior quarto da casa imensa. Apesar dos adultos sempre garantirem pelo menos uma refeição ao dia nos últimos três anos, estavam magrinhos. Precisavam de descanso. Todos no grupo precisavam.

A mulher idosa, de sessenta e poucos anos havia sobrevivido junto ao grupo que se formara em Nova Orleans. Eram todos moradores do mesmo bairro do setor norte da cidade e haviam se refugiado em um alto prédio de apartamentos de moradia, parcialmente abandonado no começo da praga.

Os membros de seu grupo eram sobreviventes do grande engarrafamento que havia impedido que deixassem a cidade quando o bairro francês perto do mar e todos os arredores já havia sido tomado pelos infectados.

Haviam pedido abrigo ao Porteiro que os recebeu dando as chaves dos apartamentos vazios. Muitos dias se passaram até que a Sra. Duvier pudera sair do refúgio que dividira com completos estranhos e já havia formado uma família quando saíram para o corredor transformado num necrotério. Regina First havia chamado por eles perguntando sobre sobreviventes. Dizia que não havia perigo imediato.

Aquela altura as ruas já estavam silenciosas de gritos e tiros e somente o ronco dos mortos vivos perambulando nas ruas era ouvido pelas janelas trancadas dos apartamentos nos últimos andares.

O exército havia deixado cedo a cidade, depois de evacuar autoridades e milionários. Deixaram os "creolles" à própria sorte o que havia sido uma bênção pelo que souberam depois.

O Alfaiate estava andando pela casa imensa que era seu novo abrigo, fazendo a contagem e distribuindo os turnos de vigilância. Naquela noite, a Sra. Duvier dormiria com seus pequeninos, para estar de pé quando eles acordassem e Isabelle, uma jovem de dezessete anos, faria a primeira vigília.

Nunca dormiam sem vigilância atenta, desde que Gaston, um homem forte de trinta anos havia morrido repentinamente durante o sono, transformando - se logo depois e mordendo o namorado com quem dormia. Isso havia acontecido no primeiro ano, quando ainda estavam aprendendo a sobreviver. Muitos morreram antes das pessoas aprenderam coisas básicas. E apesar de já saberem praticamente tudo o que havia para saber sobre os mortos vivos, o grupo ainda perdia seus membros.

A Morte não desistiria de levar todas as pessoas vivas da terra, deixando suas almas no meio do caminho. Sem ter como voltar, sem saber como continuar, permaneciam num estado de semivida, tendo como único instinto saciar a fome sobrenatural que atormentava os desmortos.


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Notas finais do capítulo

Cada vez mais craque no copiar e colar. Essa é a primeira vez que acerto a edição na primeira vez. Espero coments. É tão legal receber comentários. ;))



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