Em Más Companhias escrita por Maritafan


Capítulo 6
Cap 5 "Ratos"


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é dedicado aos leitores fantasmas. ^^



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Pov Lizzie Samuels

O Alfaiate fala muito em lobos e matilhas. Ele diz que devemos cuidar uns dos outros e dos filhotes. Ele diz que entramos num inverno eterno, quando o lobo solitário morre, mas os lobos da Matilha sobrevivem.

O Alfaiate gosta muito de matilhas e lobos. Eu gosto de ratos. Acho que nós nos parecemos mais com ratos do que lobos. Ratos andam em bandos como nós, eles sobrevivem de restos de comida como nós, eles aproveitam todas as coisas que encontram como nós.

Os ratos grandes também cuidam dos pequenos ratinhos. Como a Regina e o Alfaiate fazem, eles adoram os pequenos ratinhos.

A ratinha ranhenta me mordeu quando lhe dei um beliscão. Esses ratinhos reagem. Ela nunca reagia quando eu batia ou beliscava.

Regina os ensina a reagir. Ela nos ensina a todos, como a outra fazia. A outra tentava nos ensinar escondida. Os outros não aceitavam. Os outros não queriam que nós aprendêssemos a sobreviver.

Todos no novo grupo aprendem a lutar, a derrubar errantes e a achar comida na mata. O Alfaiate nos ensina a derrubar os errantes com qualquer objeto que temos em mãos. Ele inventou o truque da corda de tesoura. Michel é o melhor de nós nela. As vezes ele derruba um errante de uma só estocada, às vezes tem que fazer mais vezes.

Eu sou melhor em achar comida. O Porteiro e o Gill me ensinaram a achar os cogumelos certos, sempre os marrom, nunca os vermelhos. Uma vez dei um cogumelo vermelho a um dos ratinhos. Ele esfregou na minha cara. Regina me olhou feio e bateu em mim. Tudo bem, eu cometi um erro, merecia ser punida. Nunca os vermelhos, Lizzie.

Já faz um inverno que o tanque apareceu na frente da prisão. Aquelas pessoas eram más, destruíram nossa casa. Quando aquela mulher apareceu, eu salvei a vida de Tyreese e ele nos ajudou a fugir dos errantes e das pessoas.

Na época, eu não queria acertar a cabeça dela. Ela não iria voltar mais. Mas agora sempre acerto na cabeça. Não sou mais amiga deles. Não me esforço mais para entender suas vozes. Estou de mal com eles.

Mika estava muito assustada e Judith chorava muito, então os errantes sempre nos encontravam. Eu sabia que eles eram meus amigos e não me fariam mal. Mas esqueci que podiam fazer mal a ela.

Um errante mordeu Mika, nós gritamos, e muitos outros estavam perto! Tyreese usava o martelo para derrubar todos, mas mais e mais vinham.

Então aqueles garotos apareceram. Eram da minha idade. Eles sabiam lutar contra vários errantes de uma vez. Eles atacavam e recuavam. Tinham até arcos, eram diferentes do arco do caçador.

Enquanto Tyreese lutava e as novas pessoas derrubavam os errantes, eu cuidava da minha irmazinha. Ela não gritava mais, só gemia, ficou muito branca e tremendo e eu disse que ela ia melhorar logo e voltar pra mim. Usei minha faca no lugar onde a outra disse que mataria rápido.

Mika ficou bem quietinha depois disso.

Ao nosso redor tudo estava muito quieto, até Judith. Tyreese olhava pra Regina e Regina olhava pra nós. Ela perguntou se precisávamos de ajuda. Como o Tyreese ficou calado eu falei que precisávamos sim.

Eu gostei da Regina desde o início. Ela me deu tempo pra cuidar da minha irmã. Acho que o Tyreese ficou calado porque ficou assustado com a aparência do outro grupo. Havia barro no cabelo e na pele deles. Depois Regina explicou que o barro e a areia também limpam e protegiam a pele. O barro no cabelo era para as moscas não botar larvas no couro cabeludo.

Apesar da aparência selvagem, Regina conseguiu convencer Tyreese a aceitar ajuda. Segurei Judith no colo e insisti para levarem a minha irmã. Queria estar por perto quando ela voltasse. Não queria que ficasse vagando com estranhos. Ela poderia ficar assustada e eu nunca mais iria brincar com ela.

Tyreese levou Mika enrolada num cobertor sujo que o Porteiro tinha. O Porteiro ainda estava vivo na época. Ele voltou quando morreu dormindo.

Regina nos levou a atravessar os trilhos e ir em direção da luz. Para o leste, ela disse. Eu sei que o sol nasce no leste. Michel diz que sou muito inteligente.

Regina nos levou até um acampamento cercado por arame farpado, perto de um rio. Enquanto Tyreese falava com ela e com o Porteiro, eu esperava minha irmã se transformar, mas ela demorava.

Depois de muito tempo, Tyreese veio falar comigo, enquanto nosso novo bando cuidava de Judith. Havia cinco outras crianças um pouquinho maiores que Judith. Elas já sabiam andar, mas eram muito quietinhas. Ficavam escondidas em caixas de papelão, como se fossem ratinhos.

Ele disse que tínhamos que ficar com esse bando até achar os outros e a irmã dele. Eles tinham comida para mim e a Judith e Tyreese era forte, poderia ajuda - los. Eu disse que podia ajudar também, depois que a Mika voltasse.

Minha irmã estava demorando demais.

Eles me deram comida. Era cogumelo cozido com tempero. Gill trouxe pra mim. Ele era um garoto grande, quase adulto. Mas não olhava pra mim como os garotos e os homens adultos olhavam. Gill disse que só os cogumelos marrons podiam ser cozidos e comidos.

Ele disse também que as pessoas deixavam todos os temperos nas lojas. O que era burrice, já que o sal era muito importante para a caça. Gill queria ser caçador.

Eu não queria dormir, queria esperar minha irmã, então Regina me ensinou a untar o cabelo e a pele com barro vermelho misturado com óleo. Disse que era pra limpar e afastar as moscas. Isso se chamava ocre.

E Mika ainda não tinha voltado.

Eu dormi! Acordei feliz, pensando que Mika já poderia ter se transformado. Aquele grupo era muito bom, tinham crianças. Não fariam mal à minha irmã. As pessoas já estavam acordadas, elas falavam baixo e eram muito silenciosas. Eu pensei em ratos.

Mika estava ao meu lado, tinham dado a ela seu próprio cobertor. Mas estava com o cobertor no rosto. Provavelmente por causa das moscas. Tava calor e já tinha muitas moscas, mesmo sendo tão cedo.

Eu fiquei olhando para minha irmã e não entendia. O cérebro dela não tinha sido machucado. Eu tomei cuidado quando cuidei da minha irmã. Eu chamava "Mika, Mika!!! Acorde, vamos!!! Tem comida e temos que ajudar os outros!!!!"

Eu falei muito alto, mas estava confusa. Chamei a atenção das pessoas. Então a Regina e o Tyreese vieram falar comigo. Tyreese me ofereceu um copo grande de plástico, dizendo que era chá doce. Eu estava confusa mas, para não gritar de novo, eu bebi. Era doce e gostoso. E tinha umas florzinhas amarelas, pequenas e bonitas no chá. Tomei tudo e me senti melhor. Sem vontade de gritar.

Então Regina falou comigo e sua voz era muito suave. O jeito que ela olhava fazia eu me sentir muito bem. "Querida." Ela me queria ali com o bando dela.

"Você lembra se sua irmã tomou a vacina contra a gripe que o governo deu, antes dos errantes aparecerem?" Regina me perguntou. E eu lembrei que tínhamos tomado sim. Toda a minha família foi na clínica bem no início da gripe que matou quase todo mundo e fomos vacinados. Mika ficou com medo da agulha, mas eu fui muito corajosa, até ganhei um diploma de coragem. Eu dei pra Mika, pra ela ser corajosa também. Eu disse que sim.

"Às vezes acontece que a vacina faz efeito, mas é raro. A Mika não vai se transformar, Lizzie."

Eu fiquei olhando pra ela durante muito tempo. Não podia ser. Mika tinha que se transformar, tinha que voltar pra mim e brincar comigo.

"A Mika não vai voltar porque ela não estava infectada, Lizzie." Regina insistia.

"Mas ela foi mordida." Eu falei, tão triste. Agora eu estava triste.

"Mas você acabou com o sofrimento dela antes da infecção da mordida se espalhar."

Quando Regina disse aquilo, eu fiquei olhando para minha irmã... Eu tinha tirado o cobertor do rosto dela e havia moscas em seus olhos e entravam em sua boca. Seus cabelos estavam cheios de ovos de moscas porque ela não tinha passado o ocre de argila e óleo. As moscas faziam um ruído irritante.

"A Mika não vai voltar, Lizzie. Se ficar assim, exposta, as moscas vão incomodá-la para sempre." Regina insistia.

"Então precisamos enterrar minha irmã." Eu disse. As pessoas se transformavam porque estavam infectadas. Mika era sadia, ela não voltaria para mim.

Me desculpe, Mika. Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

Pessoalmente, eu adorei esse capítulo. Espero que gostem também. Será que ficou coerente com a Lizzie??!



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