Delta escrita por Rodrigo Silveira


Capítulo 11
Delta


Notas iniciais do capítulo

Minhas sinceras desculpas pelo enorme hiato. To de volta. Sem mais demora, vamos ao que interessa:



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Só pra você não ficar tão confuso, assim como eu. A partir de agora, é o velho barbudo, Grower, quem tá falando:

“Eu nunca gostei de seres humanos. Quando você é um garotinho gênio e já sabe como funcionam todas as partes do corpo humano desde os cinco anos, você tende a crescer vendo-os como maquinas. Mas Erik me parecia diferente. Confesso que quando o conheci, no ensino médio, eu o via como uma experiência. Podia ser inseguro, mas era tão genial quanto eu.

Eu era o cara da biologia. Ele, o maior projetista e técnico de mecânica que já existiu.  Apesar disso, Erik tinha problemas em chegar às mulheres. Talvez eu fosse alguém traumatizado por tantas informações precoces, mas qualquer contato que pudesse ter alguma conotação sexual me enojava.

Dane-se isso. Nos reencontramos anos depois quando já éramos formados. Erik estava projetando os primeiros protótipos de câmeras da IRIS, Eu, porém estava em um projeto mais ambicioso. Nicolas, o presidente de Éden havia me colocado no posto de chefe das “Experiências Delta” apesar de chamarmos assim, apenas eu sabia do que se tratava. Mesmo na antiga capital pouquíssimas pessoas sabiam o que ocorrera no mundo antigo, sobre o primeiro Super Humano, sobre a Experiência Alfa.

Dediquei mais de dez anos me tornando mais frio em relação a qualquer coisa que respirasse. Nenhum de vocês seria capaz de chamar nossos primeiros resultados de humanos. Jogávamos cerca de quatro ou seis produtos defeituosos fora todos os dias durante dez anos.”

Grower não parecia ter terminado de falar ainda, e Lea já estava enojada. Eu não sabia o que sentir. Estava parado na frente dele, minhas mãos suadas tremiam. Eu não me atreveria a interrompê-lo mesmo que fosse para xingá-lo caso o que ele estava dizendo fosse verdade. Talvez Lea pudesse fazer isso. Eu não.

“No fim, eu consegui encontrar o biótipo certo. Aprendi a reconfigurar o DNA, reestruturar os hormônios e todas as coisas que as cabecinhas de vocês nãos são capazes de entender. Apresentei meu primeiro resultado à Nicolas, a Experiência Zero-Um. A minha equipe o chamava de Kai. Nunca aprovei isso. Eram apenas produtos. Sempre os encarei assim. Depois de Nicolas aprovar os resultados preliminares, seguimos fazendo o que fazíamos por cinco anos. Dessa vez, apenas um por ano. E tivemos resultados incríveis. Cada uma das crianças com um dom diferente.

Em uma dessas noites, saí com Erik. Eu gostava de colocá-lo em situações diferentes para testar suas reações. E foi então que cometi o maior erro da minha vida: revelei a Erik o que fazíamos na Divisão Especial De Testes Genéticos. Foi só para vê-lo reagir, mas o idiota ficou maluco. Durante uma semana, Erik me encheu o saco dizendo o quanto ele achava absurdo o que estávamos fazendo. Ele ameaçou terminar nossa amizade se eu não abandonasse meu trabalho imediatamente.

No dia seguinte, voltei ao trabalho.

Dentre as cinco crianças Super Humanas que fizemos, uma me incomodava. Os dons do garotinho estavam perfeitamente bem. Reagia bem a musica como todos os outros, mas ele respondia ao qualquer estimulo de forma retardada. Ficava sempre quietinho em seu quarto sem fazer barulho. Por muitas vezes sugeri descartá-lo, porém minha equipe era sentimental demais mesmo depois de tudo o que fizemos.

De um a cinco, preciso dizer qual o numero dessa experiência?”

Zero-Três. Respondi para mim mesmo.

“Mas voltando a Erik, houve uma mulher de quem ele conseguiu se aproximar. Para minha tristeza, Janine fazia parte da minha equipe. E foi através dela que Erik me entregou um Pendrive. Demorei uma semana para ver o que ele continha. Uma série de arquivos secretos da cúpula de Éden. Era impressionante o fato de meu velho amigo ter hackeado os computadores da capital. Não estou falando de sua capacidade, Erik é o maior gênio de computadores que já existiu, mas sim do ato audacioso de invadi-los. Parecia que meu velho amigo realmente estava indignado com isso.

Os arquivos informavam dos planos da IRIS de reproduzir um exército de Super Humanos e colocar ao seu dispor. Depois, substituir cada humano das treze cidades por esses novos seres. A raça perfeita que eu criara iria dominar tudo o que restava do nosso legado.

Erik fez com que Janine convencesse minha equipe de que deveríamos agir contra eles. Eu nunca fui alguém altruísta nem nada assim. Nunca quis ajudar os outros, mas o problema é que eu também era humano e ia me ferrar assim como os outros.

E foi desse jeito que começamos: Erik e eu éramos pessoas influentes. Cada um em sua área. Eu conhecia cada pedaço dos laboratórios de Éden. Ele conhecia pessoas. Sabia onde conseguir armas e sabia os truques para abrir cada porta que existia.

Mas existe algo que ninguém sabe sobre Erik. O motivo de ele ser o homem mais procurado de todos.

Nós já sabíamos que íamos fazer uma bagunça, se é que posso chamar assim. O problema é que precisaríamos sair dali no final. Veja bem. Nós não tínhamos carros de guerra para bater de frente com o armamento da IRIS nem um monte de meninos dispostos a morrer pela nossa causa. O que vocês moleques hoje chamam de “A Revolução”, na verdade era um grupo de cientistas, um idiota genial e alguns caras que sabiam usar pistolas. Erik então projetou a coisa mais ousada que já vimos. Mais ousado do que criar vocês. Um crime pesadíssimo que poucas pessoas conhecem. O imbecil que cuidou de você projetou um avião.”

— Um o quê? — Eu perguntei.

— Avião — Lea explicou — É tipo um ônibus, só que ele voa.

Assim como eu, Taka e o menininho estranhamos aquilo. Era surreal.

— Pra quê um ônibus voaria? — Perguntou o menino da franja azul.

— Eles existiam em uma enorme quantidade no mundo antigo. Mas aqui em cima, em cidades suspensas no céu, eles são um risco terrível. Poderiam colocar nossa órbita em perigo.

Grower concordou com a cabeça para o que Lea disse e prosseguiu:

“Nós o escondemos na casa de Ruben. Ele tinha uma grande mansão antes de ser um policial traidor. Erik levou meses para terminá-lo. Mas quando o fez, sabíamos que nunca mais nada seria igual. Perderíamos tudo o que tivemos na vida. E foi o que aconteceu.

Naquela noite, Ruben pilotou o avião sobre a cabeça de milhares de cidadãos da capital. Erik desligou todo o enorme complexo dos laboratórios e nós, de dentro, começamos a destruir todos os arquivos referentes à Experiência Delta. Eu fui o primeiro a perder tudo.  Estava destruindo anos da minha vida em troca dela mesma. Meus companheiros também perderam o mesmo. Contudo, também perderam suas famílias. Acredito que Erik perdeu mais. Ao menos emocionalmente, sim.

Nicolas não reagiu muito bem ao saber que estávamos acabando com seus planos e mandou toda a segurança da cidade para lá. Soubemos que estávamos com problemas quando Janine, a única mulher com quem Erik se dera bem na vida, foi incinerada ao ser reconhecida como uma dos envolvidos.

Aquilo fez com que Erik quisesse desistir no meio de tudo, porém eu estava lá para bater na cabeça dele e chamá-lo de idiota quando ele mais precisava. E ele era nossa chance de retorno. Assim que conseguimos queimar tudo, nós precisávamos voltar ao avião o mais rápido que podíamos. Só que alguém além de Erik não tinha ficado muito feliz em Janine ter virado cinza. O irmão dela. Ele veio tirar satisfação conosco e meu brilhante colega conseguiu resolver bem a situação jogando acido no rosto dele, o problema é que ficamos quase tempo voltar.”

No fim, Grower parecia exausto. Ele estava ofegante e me olhou profundamente. Dei dois passos para trás e ele apontou para mim, dessa vez com o dedo de carne.

— Nunca ouse gostar de mim, criança. Porque naquela noite eu estava deixando você para morrer nas chamas e Erik voltou para te salvar.

Grower se levantou e saiu deixando-nos sozinhos.

— Aí estão suas respostas — Disse Kai antes de sair — Espero que tenha gostado.

Eu não sabia como agir. Nem mesmo nas aulas de história ninguém havia me jogado tamanha quantidade de informações na minha cara. Minha cabeça não estava suportando. Diferente das aulas, onde eu escolhia não ligar, aquilo que o velho dissera podiam ser verdades sobre mim, mesmo que naquele instante estivesse lutando para negar tudo.

Aquele Erik, aquela Janine. Eles não poderiam ser os mesmos. Eu não queria que fossem.

Lea, Taka e Fred não estavam ajudando muito me olhando daquela forma como se esperassem uma reposta.

— O quê?

Eu gritei pra eles já sentindo as lágrimas quentes descerem. Então percebi que não eram apenas as lágrimas que estavam quentes. Aquela foi a primeira vez em que todo o meu corpo pegou fogo.

De repente, Lea tapou os olhos, e Fred viraram o rosto e Taka me olhou enquanto se acabava de rir junto do garotinho.

Afinal...

Bom...

Que vergonha, cara...

Eu fiquei completamente pelado na frente deles.

[...]

Depois do que aconteceu, é natural que eu não quisesse sair mais daquele quarto. Fred me entrou algo que haviam desenvolvido pra mim. Uma roupa, parecida com a que Taka usou na noite da fuga. Uma espécie de couro que ia do pescoço até os pés, que queimava com mais dificuldade. Isso resolvia apenas um dos milhares de problemas que eu tinha agora.

Naquele momento eu estava me enchendo com um sanduiche e um copo de suco que eles tinham trazido. E mesmo que eu não desejasse nada que viesse da Revolução, não tinha comido nada há algum tempo, e ficar pelado na frente dos outros é uma coisa eu não quero ter que fazer nunca mais.

Saí da cama quando Fred bateu na porta.

— Oi — Disse de boca cheia.

— Você deve falar com Kai.

Eu comecei a fechar a porta.

— O velho maluco vai estar lá? Sabe, foi meio traumatizante da ultima vez. Ainda estou tentando absorver as informações da última conversa.

Fred a segurou do outro lado.

— E o que quer fazer agora? Não pode sair por ai...

— Não me diga.

— Reen. Eu estava lá. Sabe, eu não tive família, mas deve ter sido difícil ouvir o que você escutou ontem. O negócio é que temos que fazer alguma coisa. Nesse momento Kai e Lea estão discutindo sobre...

Imediatamente abri a porta e deixei Fred sozinho com cara de besta que a falta de dentes proporcionava naturalmente.

Eu não estava disposto a deixar Lea sozinha com aquele idiota. Ouvi-lo chamá-la de refém me dá nos nervos até hoje.

Se você está se perguntando se eu estava gostando dela, não.

Ainda não.

Tudo que eu queria era deixá-la segura. Eu precisava proteger alguém pelo menos.

Assim que vi os revolucionários na rua em volta de Kai, corri apressadamente até eles, até me deparar com Lea, falando calmamente com o líder da Revolução. Todos olhavam para mim como se eu fosse alguém de outro planeta. Confesso que estava ridículo com aquela roupinha colada, graças a Deus Taka não estava lá.

— O que está acontecendo? — Perguntei.

—  Estamos conversando coisa de gente grande.

Kai me respondeu tão grosseiramente que decidi evitá-lo. Virei-me então para Lea.

— Estamos planejando resgatar seu pai. — Lea falou.

— E por que não me chamaram?

— Porque você estava ocupado demais ficando deprimido.

Kai havia saído do meio dos outros e veio me encarar. Bom, não encarar exatamente porque ele era maior até mesmo que o Sungro.

— Como vocês vão fazer isso? — Questionei — Nem sabemos pra onde levaram meu pai...

Aquela foi a primeira vez que aquilo me ocorreu. Minha garganta meio que travou quando eu falei “pai”. As coisas que Grower havia dito pareciam realmente terem me afetado. Meu inconsciente dava ares de que negava Erik como meu pai agora.

— E é por isso que a gente estava conversando.

Lea parecia tão diferente agora. Quer dizer, há algumas horas ela estava disposta a deixar aquele lugar a qualquer instante. Mas Lea estava cooperando, planejando. Ela mudava de ideia facilmente.

Pensei então nos pais dela. Em nenhum momento ela tinha falado deles. Talvez Lea fosse realmente mais forte que eu. Tudo o que eu tinha feito era chorar, gritar e enlouquecer. Talvez fosse o fato de que o pai dela, Ex-senador Rijjad Vinsyl, estava tendo um caso com a diretora Sali, que por sinal trabalhava pra IRIS.

Ainda assim, tinha a mãe dela. Eu precisava ser útil.

— E sobre o quê exatamente estavam conversando? — Perguntei a ela.

Kai se antecipou:

— Sabemos que não há nenhuma prisão em Nova Eufrades. Então pensamos que ele pode ter sido levado para Hercules, o estado dos prisioneiros.

— Mas isso parece obvio demais. — Lea interviu — E além do mais, ela é uma das cidades mais distantes. Teríamos que passar por Nova Éden. Nelos não nos deixaria passar assim.

— Não podemos ficar aqui também — Falou Kai voltando para junto dos seus — Não vou arriscar a vida de nenhum dos meus companheiros. Não até termos certeza de algo.

— Eu tenho que chegar lá — Falei.

— Você sequer sabe onde é “Lá”, Zero-Três.

Finalmente eu tinha entendido que Kai era o tipo de cara que nunca ia concordar comigo.

— O que acha que vai fazer — ele continuou — ir a pé, passar pelas estradas, pelas cidades, ir até Zac Nelos e dizer: “Solte meu papai”? Precisamos de um plano. Pensar a respeito.

— E não temos muito tempo.

Ruben havia chegado. Saber que ele também tinha parte no que aconteceu há quatorze anos me fez olhar para ele de outro modo. Ele parecia um pouco menos com um tiozinho legal. Ou talvez um pouco mais.

— A polícia não está medindo esforços para encontrar vocês. Mesmo esse lugar não é mais seguro depois do que vocês fizeram ontem. Vamos ter que abandonar o refugio o mais breve possível.

— E vamos pra onde? — Eu quis saber.

— Judas — Kai respondeu com uma naturalidade que enlouqueceu Lea.

— Eles têm um exército lá — Ela gritou com ele — é como sair de um forno e entrar em uma frigideira.

Mas Kai estava disposto a ser paciente.

— Depois de Judas, dos destroços que sobraram, existe um lugar seguro. Que Nova Éden jamais seria capaz de confessar que existe. É o nosso lar. A casa da Revolução. Tudo que temos está lá.

O líder da Revolução tinha me dado inveja agora. Todos aqueles caras, ele não haviam surgido do nada. Eles tinham um lar, um lugar para onde voltar. Diferente de mim. Havia chegado o momento de decidir entre ir junto com eles ou... Seja lá qual fosse a outra opção eu estaria sozinho com ela.

Mas alguém interrompeu.

— Zero-Três — Chamou o Franja Azul — Você tem que vir comigo.

— Pra onde? — Perguntei como se ele fosse um menininho de cinco anos me perturbando.

— Grower quer falar com você.

Dessa vez reagi tremendo junto com os outros garotos da Revolução. Eu tinha entendido o quão pesado era estar na presença dele. O que mais ele poderia querer de mim? Me contar histórias que me fariam ficar mais maluco do que agora?

— Pra mim já foi suficiente falar com ele uma vez — Respondi.

O garoto cruzou os braços e começou a bater um pé no chão, impaciente. A velocidade com que fazia isso me fez entender o “poder” dele.

— Ele disse que sabe como chegar ao Erik, mas só vai contar a você.

Então todos olharam para mim esperando minha reação.

Sabe, é tão maluco. Se aquilo tudo era verdade, Erik havia escondido todas essas verdades obscuras no meu passado e isso causara até mesmo a morte recente de Dex. Caso contrário, eram contos de um velho maluco e isso era igualmente assustador.

— Reen! — Lea gritou, tirando-me das minhas divagações. — Acontece sempre.

Kai assentiu.

— Assim como Grower contou. — Ele voltou a me encarar — O que me diz, Reen? Podemos voltar ao nosso lar juntos ou deixar você queimando em algum lugar como Grower sugeriu. Depende de você. Que tal colaborar com a gente fazendo uma visita ao nosso criador?

Acho que eu já disse isso, mas é muita maluquice. O que mais ele podia me contar? Por quê tinha que ser eu? Parte de mim ficou tentado a desistir de resgatar Erik. Caso as historias fossem reais, ele merecia ficar preso, mas e se não fossem? Decidi que eu perguntaria pessoalmente a ele.

— Reen!

Lea gritou de novo e eu segui o garotinho enquanto ele caminhava tediosamente de volta a casa dos monitores onde eu reencontraria o “nosso criador”.

Os monitores haviam voltado a sua programação normal. Alguns exibiam desenhos, outros filmes...

Grower estava sentado no meio como antes.

— Você me chamou — Falei mantendo certa distancia.

— Você ainda acha que estou mentindo. — A voz dele era rouca.

Grower estendeu a mão e o menino prontamente o entregou um controle que ele apertou fazendo com que as telas reexibissem o estrago da última noite.

— Você realmente gosta de ver destruição. — comentei.

— Não causamos apenas destruição para eles — Grower falou — Alguns dos nossos também se machucaram. Zero-Dois, o que você conhece por Taka, também se feriu. Estava disposto a morrer. Eu não sou o velho louco que acha que eu sou.

Deixei que ele percebesse minha cara de surpresa.

— O quê? Achou que eu não pudesse prever o que você pensa de mim? Reen, eu estou muito além de tudo isso. Infelizmente, mesmo que não seja louco, sou um velho. E não posso fazer o que vocês podem.

— E o que você quer de mim? — interrompi, avançando ainda temeroso em sua direção — O que eu posso fazer que você não pode?

— Desenterrar seu próprio passado.

— Não sei o que quer dizer. Se você me criou, deveria lembrar que tenho esse defeito. Sou meio lesado.

— Tudo o que sobrou do avião projetado por Erik está além de Judas, na nossa casa. Ele é inútil agora, já que não sabemos como consertá-lo. Mas Erik sabe. Ele tem o projeto. Encontre-o e podemos usá-lo para sobrevoar as cidades.

— Essa coisa de avião. Convivi com ele esse tempo todo e nunca vi nada assim. Meu pai... Erik nunca deixou que eu visse nenhum projeto desde que se aposentara. Não está na nossa casa.

Grower riu levemente.

— E eu nunca disse que estava. Responda-me criança, como é ter uma mãe?

Como o Grower disse, ele estava pensando além de mim. Eu não sabia o que responder para parecer que havia entendido, então apenas respondi naturalmente:

— Não sei. Ela morreu... Ou nunca existiu.

— Uma boa conclusão — O sorriso ainda não tinha saído de seus lábios secos — Então me responda, o que diabos está enterrado no cemitério de Nova Eufrades, no tumulo de Janine Odon, já que a mesma foi transformada em cinzas?

Meu corpo gelou completamente. Aquela suposição, como várias outras, não me tinha me passado em nenhum momento pela cabeça.

— Erik é um homem sentimental — Grower avançou para seu xeque-mate — Simbolicamente, eu suponho, ele enterrou todo seu passado ali. Seus amigos, suas ambições, seu amor, Janine, seus projetos...

— Você quer que eu... — Fraquejei — escave o tumulo da minha mãe pra procurar o projeto da sua maquina voadora...

Finalmente me dei conta de que Kai estiva ali o tempo todo. Eu precisava dar uma resposta. E precisava ser rápido.

Erik me levou no cemitério uma vez, no dia das mães. Foi tedioso pra mim e pra ele. Eu já tive inveja dos meus amiguinhos que tinham mãe e pai. Mas nunca me faltou nada. Erik nunca deixaria, assim como a senhora Lithman não deixaria faltar nada para Dex. Eu não precisei de uma mãe.

Mas fazer aquilo, ainda era absurdo e além do mais, era um crime.

Criminoso eu já era na TV.

Então chegara o momento de fazer um absurdo.


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Notas finais do capítulo

O próximo capitulo já tá no forno. E aí, esqueceu de alguma coisa por causa do hiato? Que tal dar uma relida e refrescar a memória?



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