Delta escrita por Rodrigo Silveira


Capítulo 10
Respostas


Notas iniciais do capítulo

Depois de tantos capítulos, eis todas as respostas que vocês estavam esperando.



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É claro que não conseguia dormir. O quarto em que eu estava tinha apenas as paredes e a cama. Super confortável. Virei para um lado e para o outro. Nada. Eram tantas coisas acontecendo, tantas perguntas sendo feitas e nem uma resposta vindo que eu não conseguia relaxar. Na teoria, aquele lugar seria um refugio para mim e Lea, mas eu não me sentia seguro.

Abri a porta para me dirigir até onde Lea estava deitada, porém só dei de cara com Fred, no corredor, sentado no chão com as pernas esticadas, portando uma arma velha.

Ele olhou para mim, confuso:

— Quer ir ao banheiro?

— Não. Só ia falar com a Lea.

— Tem que deixar ela descansar. — falou o vigia banguela. — Ela está dormindo agora. Eu chequei. Você devia estar fazendo o mesmo.

Sentei-me do outro lado da parede do corredor, de frente para ele.

— Não consigo dormir. Não enquanto meu pai estiver nas mãos deles. Enquanto não vingar a morte do Dex...

Fred brincou com a arma. Uma atitude não muito inteligente, mas que mostrava que ele sabia o que estava fazendo com ela, mesmo sendo tão novo.

— Eu não sei muito sobre você, Reen. Mas eu sei que você é importante. Para o Kai, para o Taka...

— E como ele está? Digo, o Taka...

No fim das contas, Taka tinha salvado minha vida mais vezes do que eu me lembrava. Talvez eu pudesse chamar isso de amizade, no mínimo.

Fred deu um leve sorriso.

— Ele é maluco... Não me revelaram o estado de saúde dele, porém acredito que ele vá ficar bem. Nós acreditamos em vocês...

— Nós quem? — eu quis saber.

— A Revolução. São vocês que podem nos salvar...

— Nós?

— É! Você, o Kai, o Taka... Os Deltas!

Eu tinha escutado aquela expressão na casa da Lea. E até onde eu tinha entendido, e não era muito, não tinha nada a ver comigo. A não ser o fato do símbolo deles ter aparecido na minha barriga.

— Eu não sou um Delta. — falei me defendendo.

Fred levantou a blusa de farrapos e mostrou a barriga e o peito. Por um instante, pensei que fosse ver o mesmo símbolo, mas tudo o que havia lá eram cicatrizes. Grande e pequenas.

— Eu sou um guerreiro de elite da Revolução — ele explicou. — Se você não fosse um Delta, o Taka não teria se arriscado, nem Kai e nem eu estaria aqui.

— Eu queria me lembrar de como isso apareceu na minha barriga.

— Bom, isso é uma coisa que eu também não sei.

Não me senti a vontade de perguntar nada sobre o passado de Fred, nem como ele tinha ganhado as cicatrizes, e com ele não ia me contar o que estava acontecendo de fato, acabamos passando a noite sem assunto.

[...]

Você já acordou desorientado antes? Quero dizer, sem noção? Sem saber onde estava ou para onde ia? Pois é. Despertei exatamente assim. Tinha uma coisa martelando na minha cabeça. Apenas cambaleei para frente no corredor e abri a primeira porta que encontrei. Era a da saída da casa. 

A luz do sol me encandeou por um momento e eu dei dois passos para trás. Em seguida, encarei a rua novamente onde encontrei meu “guarda-costas”, Fred. Ele permanecia armado, e olhando para mim, deu um sorriso bem animado. Animado até demais, eu diria.

— Bom dia — disse ele.

Ignorei-o e voltei a fitar a rua. Ela parecia bem mais melancólica agora. O lugar estava cheio de folhas secas por todo o chão. Era como se fosse uma pequena vila cujas casas formavam um circulo ente si. Não havia nenhuma câmera lá. No meio dela, estavam cinco dos enormes carros. Havia membros da Revolução lá, conversando entre si. Todos rindo e não parecendo se importar com o que tinha ocorrido na noite passada.

— Pra onde você pensa que tá indo?

Mais uma vez, ignorei Fred. O que eu precisava fazer estava na minha mente agora. Eu tinha algo a dizer. Procurei cuidadosamente entre os caras e encontrei Kai. Se ele era mesmo o líder, era com ele que eu precisava falar. Ele não parecia tão descontraído como os outros, mas ainda tinha uma expressão feliz em seu rosto. Caminhei apressadamente passando pelos dois rapazes que reconheci como sendo os que nos ajudaram na perseguição.

— Kai — eu chamei, fazendo todos ao redor pararem de rir e olharem para mim. — Onde tá o Taka? Preciso falar com ele, agora.

O líder cruzou os braços e me olhou sério, duvidando da minha urgência.

— Descansando.

— Tenho realmente que falar com ele.

— Seja o que for, pode esperar.

— Não, não pode!

Eu odiava aquelas situações. Kai estava me olhando de cima exatamente como Sungro fazia, me menosprezando.

— Tudo foi um mal-entendido — insisti. — Vocês não entendem.

— Nos faça entender.

Kai parecia que não ia ceder. Todo mundo olhava para mim como se eu fosse um idiota por estar enfrentando ele daquele jeito. Contudo, o líder da Revolução era importante para os revolucionários, não para mim. Eu não tinha por que temê-lo e nunca estivera tão convencido disso.

— Eu me lembro de tudo, agora. — Falei. — Da noite em que Sungro morreu. Foi o Taka. Ele fez isso comigo! — Levantei minha blusa, toda suja e rasgada, e mostrei minha barriga, também suja e rasgada, mostrando a marca dos Deltas. — Eu não tinha esses poderes antes disso! Não sou um de vocês!

Kai apenas deu uma risadinha debochada.

Por um momento, demorei a entender que ele estava olhando alguém por detrás de mim. Era Lea.

— Você me ouviu. — falei com ela. — É tudo um mal entendido! Eles aplicaram algo em mim.

Ela não reagiu. Se alguém estava ali sem motivo, esse alguém era Lea.

Cerrei meus punhos e me voltei para Kai. Já podia sentir a fumaça.

— Tem que me deixar falar com ele, aquele imbecil.

— Não — Ele respondeu dando de ombros. — Devia ser mais grato, afinal ele te salvou algumas vezes.

As labaredas já começavam a sair das minhas mãos. Eu não tinha motivo por ser grato, afinal aquilo tudo fora causado por ele. A cena do liquido róseo sendo aplicado persistia em vir na minha mente. Fui avançando até Kai.

Se você um dia vir alguém com fogo saindo das mãos caminhando em sua direção, no mínimo vai ficar espantado. Kai, sequer esboçou alguma emoção. Ele continuou encostado em um dos carros enquanto eu ia até ele.

Para minha surpresa, os revolucionários dele começaram a chegar e fechar um círculo ao nosso redor. Os caras, na verdade, não fizeram gesto de me atacar em nenhum momento, eles pareciam mais ansiosos para ver o que ia acontecer.

Assim que cheguei mais perto, com toda a raiva expressa nas chamas que já subiam para os meus braços, consumindo ainda mais minha blusa, Kai me lançou para fora do círculo com um leve movimento de braço. Tudo o que eu ouvi então foi o grito de Lea, assustada, e depois minha cabeça atingiu o chão.

Um pouco de sangue escorreu da minha testa, descendo pelo meu nariz e depois me fazendo provar do gosto de ferro. Meus ouvidos estavam zumbindo sem parar. Estava tudo rodando agora. Eu fraquejei bastante antes de me levantar. Mas definitivamente não ia deixar aquilo assim.

Os revolucionários estavam todos nos olhando. Eles pareciam esperar o que aconteceria a seguir. Entendi que em nenhum momento eu representei uma ameaça para eles ou para Kai.

— Meu Deus! — Lea disse, voltando-se para Kai — Olha o que você fez com ele! Disse que eram aliados. Ele está sangrando! O que vai fazer se eu bater de frente com você também? Me espancar?

— Talvez.

Kai era do tipo de cara que seria popular na escola. Mas não dos legais. Do tipo cafajeste que ainda assim ficaria com todas as meninas porque tem uma boa aparência. Naquele instante ele estava justamente dando um sorriso de cafajeste.

Lea estava disposta a tirar o sorriso do rosto dele, mas no momento em que ia avançar até ele, um clique a fez parar.

Era Fred. Estava com sua arma apontada para a cabeça dela.

— O que tá fazendo, Fred? — Eu perguntei, indignado. — Você disse que ia nos proteger!

— E estou protegendo. — Falou. — Se você avançar, Lea Vinsyl, vai se machucar. Kai vai te machucar.

— Ele não seria capaz — Lea duvidou.

Kai ergueu a mão e Fred abaixou a arma.

— Você não faz ideia. — Disse o líder — Não me conhece. Eu não me considero uma pessoa. Não tenho medo de transgredir as leis humanas. Sou uma arma. Não tenho problema algum em machucar gente. Seja homem ou mulher, ou... Crianças.

Kai estava se igualando aos homens que mataram Dex. Já estava claro que a Revolução não era algo tão do bem assim.

Lea fez que ia avançar de novo, mas outro barulho a impediu. Dessa vez, um assobio.

Todos nos viramos para cima de um dos carros de onde o barulho viera. Tinha um menino lá. Arrisco dizer que ele tinha a idade do Dex. O garoto tinha uma franja grande, azul, em metade do rosto.

 Sim. Era estranho. Ele e a franja.

— Que droga é essa em uma hora dessas da manhã? — ele perguntou.

Os revolucionários pareceram se acalmar quando ele falou. Kai olhou sério para ele.

— Não é da sua conta.

— Essa aí não é a refém? — O menino perguntou, olhando para Lea.

— Eu sou o quê? — Lea se indignou.

Nessa hora, eu já tinha chegado ao lado dela. Ergui meus punhos para lutar por ela, mas não estava convencendo nem a mim mesmo.

— E esse aí é o Zero-três? — O menininho persistiu — Porque ele está todo esfarrapado e sangrando? Foi você quem Fez isso?

Kai deu de ombros.

— Não tudo, mas tem participação minha também.

O garoto riu feito um idiota. Como se eu fosse um personagem de desenho apanhando.

— Legal.

— Que droga é essa de refém? — Lea continuou. — Parece que vocês são tão desprezíveis quanto a IRIS. Cansei disso. Não vou ficar aqui com gente como vocês.

Lea virou-se e ia saindo.

— E vai para onde? — Kai gritou — Pra casa? Acha que existe outro lugar seguro pra vocês agora?

— Aqui também não é! — gritei — Tudo o que nós queremos é uma explicação! E nem isso vocês estão dando.

— Ah! — O menino da franja exclamou. — Tinha esquecido. Foi por isso que eu vim. Grower está aqui. Ele veio ver o Zero-três.

Grower. Era um nome já dito antes que não me era estranho. Mas não lembrava de onde. Ao ouvi-lo, todos os revolucionários pareceram se amedrontar. Alguém que os próprios membros da Revolução temiam estava ali para me ver. Por algum motivo, isso não me cheirava bem.

Kai estalou os ossos das costas e desencostou do carro e caminhou até nós. O chão até tremia a cada passo seu. Passando direto por Lea, ele me agarrou com um braço e começou a me carregar. Eu sequer tive como reagir, tamanha a sua força.

— Vamos — disse ele — Cansei de ti. Grower vai dar as respostas que você tanto quer.

Kai me tirou do meio dos Revolucionários e me conduziu — se é que podemos chamar assim — Até a casa que ficava no centro das outras, Lea foi conduzida junto por Fred que não precisou ter que apontar a arma para ela novamente.

A casa era diferente da outra em que eu havia dormido antes. Tinha uma enorme sala cheia de computadores que me pareciam bem velhos. Eles faziam barulhinhos insuportáveis que eram capazes de deixar qualquer um maluco. Havia telões em todas as paredes. Neles, vi pela primeira vez os estragos causados na noite passada. Estavam sendo exibidos vários noticiários, locais e das outras cidades, sobre o ocorrido.

Tremi enquanto via meu rosto novamente no jornal de Nova Eufrades. Tinha acabado por ficar na linha de fogo da IRIS e dos Revolucionários e isso agora me tornava um fugitivo. Em algumas manchetes, eu era causador de parte daquela destruição.

De certo modo, isso era verdade.

Mas como eu estava dizendo, e não estava sendo ouvido, eu não tinha nada a ver com isso.

Kai finalmente me soltou no chão. Cair de cara no chão dói bastante.

Assim que me levantei, notei a presença do garotinho que havia ficado lá fora. Coisa que era tão estranha quanto a franja que ele tinha. Ele não tinha nos acompanhado então não era possível que chegasse ali tão depressa.

— Há quatorze anos — Kai começou, sem tirar os olhos das telas — Houve um confronto civil na antiga capital, Éden...

— Nós já sabemos — Lea interrompeu.

— Já?

Lea olhou pra mim com um olhar tão perigoso quanto a arma de Fred.

 — A IRIS estava escondendo algo, e os revolucionários estavam tentando descobrir o quê. Então derrubaram a cidade. E nós nunca soubemos o “quê” eles escondiam...

— Ok. Essa é a história que eles contam na escola. — Kai falou — O fato é que sempre se soube o “quê”.

— É? — Lea questionou incrédula — E o que seria?

— Isso vai parecer um pouco filosófico...

Kai caminhou pela sala decorada por cenas do caos que causamos.

— Nós.

— Nós? — a garota finalmente perdeu a paciência — Que droga eu teria a ver com isso?

Então Kai finalmente perdeu a paciência.

— Não você — Ele apontou para mim e para ele mesmo virou-se para apontar para o garotinho, mas sem que percebêssemos, ele não estava mais lá. — Já ouviram falar da Experiência Delta?

Olhei para Lea esperando que ela soubesse.

Como Lea não respondeu, Kai prosseguiu:

— Sabem ao menos o porquê da civilização antiga ter sucumbido?

— Confrontos, guerras, interesses políticos e revoluções sociais.

Ao ouvir a respostas de Lea, Kai deu uma leve risadinha e balançou a cabeça.

— Você se acha tão esperta. Mas sequer está arranhando a superfície. Você não sabe de nada. Super Humanos. Mutantes ou qualquer outra forma que possa chamá-los. Era isso que as pessoas fazendo lá embaixo, no mundo antigo.

— Que bobagem — Lea falou. Mas não prosseguiu, pois sabia o que Taka e eu fazíamos.

— Aquela era a Experiência Alfa. Um só foi capaz de derrubar tudo o que os humanos haviam construído sobre a terra. E vejam só, depois de tudo, há quatorze anos, a IRIS estava disposta a repetir a mesma burrice. Era contra isso que aqueles revolucionários estavam dispostos a lutar. Infelizmente, era tarde demais. Eles haviam conseguido criar crianças em laboratório. Não tão poderosas, mas que como vocês viram noite passada são capazes de fazer um grande estrago.

Aquela insinuação maluca fez minha cabeça ferver.

— Eu não sou um mutante — me defendi — Muito menos fui criado em laboratório. Cresci em Nova Eufrades, meu pai é Erik Odon! E eu já disse que foi o Taka quem fez isso comigo! Ele aplicou uma parada que fez com que essas coisas acontecessem.

— Que bom que acredita nisso.

Descobri que o olhar de deboche de Kai era algo que despertava minha raiva, e por consequência, minhas chamas.

Lea se adiantou, impedindo que eu partisse para cima dele novamente.

— Essa história de Super Humanos... — ela falou — Como ninguém soube disso antes? E além do mais, mesmo tendo evoluído tanto nossa tecnologia, ainda é impossível gerar pessoas em laboratório!

— Discordo de você garotinha.

Não foi Kai quem disse aquilo.

Um homem velho acabara de entrar na sala. Ele tinha cabelos brancos e bagunçados e uma barba enorme da mesma cor. Vestia um colete branco de cientista maluco, mas o que mais chamava a atenção era seu braço esquerdo. Aliás, a falta dele. Assim como meu pai, o homem usava uma prótese de metal antiga.

— Afinal de contas — Continuou ele, apontando para si mesmo com o dedo de metal — Aqui está uma pessoa que gerava pessoas em laboratório.

— Quem diabos, é você? — Lea perguntou o que eu também queria saber.

O homem pareceu ignorá-la e olhou para mim de cima a baixo como se procurasse algum defeito em mim. Mal sabia ele que eu tinha todos.

— Parece que Erik cuidou de você muito bem — disse ele, para minha surpresa.

— Conhece meu pai?

O velho deu um riso silencioso.

— Pai? É assim que o chama?

Depois de perceber que a pergunta me deixou tão intrigado quanto ele, o homem prosseguiu:

— Eu e Erik éramos colegas de trabalho na antiga Éden. Nos conhecemos na faculdade, na verdade. Ele era um grande físico e um espetacular projetista, mas me surpreende que um mané como Erik possa ter sido um bom pai.

— Não ouse falar dele! — Me enfureci, ignorando o fato de até onde eu sabia, meu pai tinha nascido em Nova Eufrades — Por causa de vocês é que ele está preso!

Então, o homem se irritou.

— Pare de chamá-lo de pai, Zero-Três! Você é uma experiência assim como os outros. Não se atreva a dizer que é nossa culpa Erik estar preso. Ele causou tudo isso, tudo pra te esconder de todos! Até de você mesmo, quem, ou melhor, o que você é!

A sua voz me atingiu como um soco. Ela não me era estranha, mesmo que eu pudesse jurar nunca tê-lo visto antes. Apenas fiquei parado na frente dele, esperando que ele despejasse mais coisas, que no momento, eu acreditava que fossem maluquices. Ainda assim, ouvi-lo dizer que eu não era filho do meu pai, e sim uma experiência, me incomodava em um nível além da ofensa. Era como se fosse verdade.

— Ouça — O homem continuou — Apesar de todas as merdas que aquele idiota fez, Erik Javes ainda é meu amigo. Eu e a Revolução faremos tudo para tirá-lo das mãos de Zac Nelos.

Assim que ouvi o velho errar o sobrenome do meu pai, senti que aquela era a hora de virar a mesa contra todos os argumentos dele. Então disparei:

— O nome dele, o sobrenome é Odon! Que inferno! Dá pra alguém escutar o que eu falo ao menos uma vez na vida? Meu nome não é Zero-Três, é Reen! Eu nasci e fui criado em Nova Eufrades por Erik Odon. Nada de Erik Javes. Agora, quanto a isso — Abri uma mão e mostrei uma bola de fogo se formando — é o que estou tentando explicar. Na noite em que fui encontrar Sungro, aquele imbecil, foi o Taka, outro imbecil quem aplicou uma coisa em mim que resultou nesse fogo que sai de mim sempre que eu fico com raiva.

— Ui, que sexy.

Assim que ouvi essa voz, eu tive certeza de quem era. Me virei e encontrei o desgraçado que fez com que minha vida se tornasse esse inferno: Taka.

Sabe isso que eu falei sobre ficar com raiva? Pois é estava acontecendo agora.

Fui em direção a ele com o fogo literalmente saindo das minhas narinas, porém ele apenas ficou parado ao lado de Lea, estava com o braço enfaixado por causa dos tiros, mas isso não me impediria de fazê-lo pagar por tudo isso.

— Zero-Três!

O berro do velho me fez parar, ainda que eu não o quisesse fazer. Aquela voz mexia comigo. Me fazia ter medo. Me virei para ele, assustado. Todos estavam me olhando agora.

— Acho eu você deveria ouvi-lo — Lea aconselhou.

— Era uma solução especial. — O velho voltou a falar mais calmo enquanto passava a mão de metal em sua barba — O que ele aplicou em você naquela noite. Em pessoas normais, ela faria com que ficassem agitadas a ponto de correrem por todas as Estradas de Diamante. Em você, e em todas as outras Experiências Delta, desperta os poderes adormecidos.

 — Fiz com que todos os jovens ali acreditarem que era uma droga para poder encontrar você. Acho que não sou tão imbecil assim, né?

Tive que me segurar muito para não socar a cara do Taka ou vomitar lava na cara dele. Se é que eu podia fazer isso.

O som de música clássica encheu a sala.

Encontramos o molequinho de franja azul segurando um aparelho de som.

— Vocês estão muito agitados, pessoal — Ele falou.

A música realmente parecia estar me acalmando.

— A garotinha aqui tem razão, Reen. — Taka falou — Você tem que escutar o que o Grower tem a dizer.

Lea não gostou muito de ser chamada de “garotinha”, mas parecia que ela e Taka haviam concordado. Então me virei para Grower. Esperei o que viria dele porque no final, poderia considerar tudo uma grande mentira e atirar fogo pra todo lado.

Mais uma vez, sem que eu percebesse, o garoto saiu e voltou da sala trazendo uma cadeira para que Grower sentasse. Ele apontou um dos dedos metálicos, antigo e enferrujado, e falou:

— Escute bem, Zero-três, porque não tenho paciência. Vou contar aquilo que Erik, Odon ou Javes, foi covarde demais para lhe contar. Essa é a história da sua origem, de quem você realmente é.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.



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