Welcome to Silent Hill escrita por Kuroi Namida


Capítulo 5
Capítulo 5 - A bruxa




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As portas de vidro no hotel eram um pouco pesadas, e as dobradiças estavam rígidas, mas não a ponto de não poderem ser abertas. Eu corri pela estrada até o grande hotel de onde vinham os gritos de Dominic, e forcei a fechadura até que as portas se abrissem para mim. Jonathan me seguia desde a lanchonete, ele havia voltado apenas para apanhar a arma que encontrou na estação de rádio, e pelo que sei poderia ser útil para nós dois. Eu busquei pela voz de Nicky que parecia estar gritando com outra pessoa em algum lugar no primeiro andar. A encontrei logo em seguida em uma saguão, ela estava curvada perto de uma parede e jogava coisas em uma mulher que se encontrava jogada no chão.
— Saia de perto de mim, sua louca. - eu corri até ela tentando fazê-la parar, mas Nicky parecia estar em choque, e demorou para perceber que eu estava bem diante dela.
— Hey, Nicky! Sou eu, Alice. Calma, tá tudo bem... - tentava fazer com que ela olhasse para mim segurando seu rosto.
— Alice? - finalmente ela me reconheceu. - Ah meu Deus, eu pensei que estivesse morta. - então seus braços vieram para cima dos meus ombros, enquanto ela me abraçava aliviada.
— Eu também. - dessa vez quem respirou aliviada fui eu. - Estou feliz em ver você.
No outro lado da sala, aquela estranha de cabelos ruivos se levantava enquanto repetia uma porção de coisas assustadoras e sem sentido, o que explicava o porque de Dominic estar tão assustada.
— Vocês não deveriam estar aqui. Não deveriam... - ela se levantou e tentou correr, mas Jonathan a impediu parando em seu caminho antes que ela chegasse a porta.
— Ela ficou repetindo essas coisas o tempo todo. Disse que eu era uma bruxa e que bruxas deveriam queimar. - Nicky dizia baixinho enquanto se agarrava ao meu braço.
— Tá tudo bem. - eu lhe disse tentando fazer com que ela ficasse calma.
A mulher agora estava andando de joelhos pelo saguão, catando latas espalhadas no piso sujo e jogando dentro de um saco de pano. Ela nos encarava o tempo todo como se estivesse com medo de nós.
— Você? Como se chama? - eu questionei a mulher de cabelo ruivo.
— Ana... meu nome é Ana. -a ruiva respondeu, me olhando pelo canto dos olhos.
— Ana. Tá tudo bem, nós não vamos te machucar. Acho que você deixou nossa amiga nervosa com o que disse. Escuta... - eu estendi as mãos enquanto me aproximava devagar, mostrando que não tinha a intenção de machucá-la. - precisamos de ajuda. Você sabe como sair daqui? Ou conhece alguém que possa nos ajudar?
— Tem mais alguém aqui? - Jonathan perguntou dando um passo a frente.
— Sim. Christina nos mantém seguros. Nós nos refugiamos na igreja. - Ana falava como uma garotinha assustada, como se tivesse ouvido histórias assustadoras a vida toda e acreditasse nelas.
— Você viu mais alguém além da minha amiga, Ana? - eu apontei para Nicky atrás de mim para que ela soubesse a quem eu me referia. - Meu irmão está aqui, talvez você tenha visto ele.
— Não. - ela sacudiu a cabeça rapidamente parecendo ainda mais assustada. - Mas... se ele for forte, e sua fé também, ele poderá sobreviver... se não... - ela disse em voz baixa, quase num sussurro enquanto olhava em meus olhos.
Havia uma faca bem ao lado dela, eu a retirei do chão antes que Ana pudesse alcançá-la.
— Posso ficar com isso? - perguntei sem esperar uma resposta, não confiava em uma estranha maluca com uma faca na mão.
Ela concordou com um gesto rápido de cabeça, então se levantou deixando a mostra um grande desenho vermelho no chão. Eu me ajoelhei em seu lugar tocando o símbolo.
— Você viu isso? - eu me dirigi a Jonathan. - Havia outro igual na escola.
— Sabe o que é? - perguntou.
— Está em todos os prédios construídos por meus antepassados. - Ana estava a alguns passos na minha frente. - É o símbolo da nossa fé.
A expressão de Jonathan ao ouvir aquilo não era exatamente de interesse. Ele franziu o cenho e se afastou de Ana andando até o balcão da recepção onde deu início a uma busca por qualquer pista ou alguma coisa que pudesse nos ajudar. Eu me levantei, e estava pronta para me aproximar de Dominic, que ainda estava quieta no canto da sala, quando Jonathan me chamou mais uma vez:
— Alice! Dá uma olhada nisso. - ele esperou que eu estivesse perto para me mostrar um relógio de pulso que havia encontrado em uma das prateleiras onde eram guardadas as chaves do hotel. - Isso é do Shay não é?
— De que número você tirou isso?
— No número 111. - ele apontou para o armário vazio.
— Shay pode estar lá. - eu o encarei. - Precisamos ir até o 111. - eu apanhei o relógio das mãos de Jonathan e andei apressada até Ana. - Você vem com a gente. - disse pegando-a pelo pulso e a arrastando comigo em direção a escada.

...

O andar aonde chegamos estava tão escuro quanto os anteriores. Não havia eletricidade em parte alguma, o que tonrnava impossível a subida com um elevador, isso nos obrigou a subir andar por andar usando apenas a força das próprias pernas. Jonathan era o único que portava uma lanterna, ele estava bem atrás de mim sendo seguido pela Nicky, e por Ana. Eu estava a frente de todos, olhando cada número nas portas dos quartos que iam sendo encontrados no caminho.
— Não existe um quarto 111. - concluiu Jonathan ao passar entre o quarto 110 e o 112.
— Tem que estar aqui em algum lugar. - eu disse parando diante de um quadro.
— O fogo purifica. - a voz de Ana ecoou no corredor.
— O que? - nós nos viramos para encará-la.
— Antes da cidade ter nome, os antepassados dos meus antepassados mantinham a cidade pura. - disse apontando para a imagem no quadro.
— Os fundadores do hotel queimavam bruxas. - eu concluí ao ver a imagem de uma mulher sendo queimada em uma fogueira na firgura pintada naquele quadro.
A imagem veio a minha mente tão clara quanto uma lembrança vívida. Eu já tinha visto aquela pintura antes, em um sonho. Eu sabia porque era exatamente igual em cada traço. Eu retirei a faca que tinha tirado de Ana da minha cintura e andei até o quadro.
— Ele está aqui. - disse ao erguer a lâmina no alto da minha cabeça.
O golpe foi certeiro, e rasgou a figura no meio revelando atrás da mesma a porta de número 111. Eu cortei as partes que faltavam da figura e atravessei pelo quadro até estar em frente a porta, abrindo-a logo depois. Jonathan foi o primeiro a me seguir, ele entrou no cômodo e foi direto para um buraco aberto na parede. Haviam alguns móveis velhos ainda inteiros e empoeirados ali, nada importante.
— Dá uma olhada nisso aqui. - disse Jonathan antes de saltar para o outro lado, através da abertura na parede.
Eu o segui indo até a mesma de onde pude ver um grande poço que separava o quarto do lugar para onde Jonathan havia pulado. Jonathan estava do outro lado segurado a lanterna com a luz voltada para meu rosto. Ele estendeu a mão e me pediu para pular. Eu tomei impulso e saltei, deixando a faca cair da minha cintura. Nicky pulou logo depois, sendo seguida por Ana.
— Estamos no prédio ao lado. - ele explicou girando a lanterna pelo cômodo. - Parece um tipo de depósito.
Eu ignorei o que Jonathan dizia enquanto ele avançava pelo depósito, entre caixas e outros objetos inanimados. Dominic, assim como Ana o seguiram antes de mim, me deixando para trás. Um barulho ao fundo chamou minha atenção. Ao me virar, pensei ter visto uma garota de cabelos negros correndo pela escada. Eu a segui deixando os outros para trás sem avisá-los para onde ia. A menina correu para o alto do depósito, até sumir. Eu a segui até o topo, onde encontrei apenas destroços do prédio que em outra época poderia ter sido um shopping, talvez até bonito. Haviam barras de ferro, e fios de cobre por todo lado. Tudo estava retorcido e dobrado. Do outro lado de um grande buraco bem no meio da sala, estava a mesma garota que eu havia seguido. Ela parecia com medo, se manteve de costas para mim enquanto sussurrava algo que eu não podia ouvir de onde estava.
— Hey! O que faz aqui em cima sozinha? - questionei ao tentar me aproximar em cima de uma das barras de ferro atravessadas sobre o buraco no chão. - Podemos ajudar... Você tá me ouvindo?
A garota não respondeu, ela apenas virou parte da cabeça na minha direção, mas eu não pude ver nada além dos seus cabelos escuros cobrindo sua face.
— Tá tudo bem. Eu vou... Vou tentar pegar você. Fique aí está bem?
Sem resposta, eu arrisquei um passo a frente sobre os alicerces de aço que pendiam sobre a abertura no chão. Senti o metal tremer quando pus meu peso sobre ele. Não havia onde me segurar, o que tornava cada passo a frente mais arriscado. Mesmo assim, eu continuei como se precisasse fazer aquilo. Havia um espaço muito grande entre mim e a próxima barra de ferro cravada nos tijolos da construção, eu precisaria de um salto maior e certeiro para não despencar lá de cima. Respirei fundo, e tomei um novo impulso para saltar, parando de pé do outro lado. Eu quase escorreguei e caí, mas consegui me manter firme o bastante para atravessar a barra de ferro e chegar ao outro lado. Eu me aproximei da garota bem devagar com um braço extendido em sua direção, enquanto tentava chamar sua atenção.
— Eu vi você antes. Você estava na estrada não estava?
Notei que a garota começava a se virar devagar e se levantar do canto onde estava de joelhos. Seus cabelos negros e molhados começaram a revelar seu rosto. Conforme ela se aproximava, eu podia ver claramente quem ela era. E ela se parecia bisarramente comigo.
— Meu Deus! - eu dei um passo atrás e cobri a boca. - Você se parece comigo.
Ela continuou vindo até mim, sem dizer uma só palavra, apenas me olhava com olhos tão escuros quanto seus cabelos e sorria. A garota afastou os braços do corpo e os estendeu em cruz enquanto virava o rosto em um ângulo de noventa graus.
— Olha pra mim. -ela finalmente disse. - Estamos queimando! - mais uma vez ela sorriu.
Dessa vez seus braços começaram a queimar, e ela continuava a andar até mim. Eu podia sentir o calor do fogo vindo dela. De repente, minha própria pele ardia, e minhas roupas estavam em chamas. Eu começei a gritar e bater em meu corpo tentando aplacar o fogo, e então tudo sumiu, assim como ela. Eu cobri o rosto com as mãos e me joguei no chão, me curvando de joelhos sobre o cimento quebrado. Ouvi a voz de Jonathan do outro lado da sala.
— Alice! Alice o que tá fazendo aí? - ele parecia preocupado, e pelo tom de voz estava nervoso. - Droga. - eu ergui o rosto e o vi segurar uma corda de aço. - Eu vou jogar isso pra você. Eu quero que segure isso e se balance de volta pra cá. - ele empurrou a corda, fazendo com que ela viesse até mim.
Usei a força em meus braços e mãos para me segurar naquilo usando-o como um cipó improvisado me balançando para o outro lado como Jonathan havia sugerido. Ele me segurou quando meu corpo balançou pra ele, e me ajudou a ficar de pé.
— Como chegou daquele lado? - perguntou. - Podia ter se matado. - ele estava me repreendendo.
— Eu a vi. A mesma garota que me fez bater o carro. Ela estava na estrada, e agora estava aqui. Ela me atraíu pra cá.
— Que garota?
— Alessa. - eu respondi lembrando das histórias que meu pai havia escrito em seu diário.
— Não pronunciamos o nome dela. - dessa vez era Ana que falava. Ela estava um pouco distante, e se ajoelhava diante de um símbolo de ferro, preso no alto da sala.
Jonathan voltou sua lanterna para o mesmo ponto, concluindo:
— É o símbolo da sua fé? - ele disse com desdém.
— Sim, é.
— Aconteceu alguma coisa horrível aqui, Jonathan. - ele voltou a olhar pra mim.
Jonathan manteve o olhar fixo em mim por um tempo, até sermos interrompidos por bater de asas. As aves surgiram pela abertura no chão, e voaram para o teto como se fugissem de algma coisa.
— Está vindo. - disse Ana. - Temos que voltar para o abrigo.
Ela se levantou apressada, e começou a correr em direção as escadas. Jonathan segurou minha mão e me puxou na mesma direção. Encontramos Nicky no quarto 111, ela parecia estar apenas nos esperando. Todos correram para fora, descemos as escadas e seguimos até a saída do hotel.


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