Welcome to Silent Hill escrita por Kuroi Namida


Capítulo 6
Capítulo 6 - Santos e pecadores




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Ela se levantou apressada, e começou a correr em direção as escadas. Jonathan segurou minha mão e me puxou na mesma direção. Encontramos Nicky no quarto 111, ela parecia estar apenas nos esperando. Todos correram para fora, descemos as escadas e seguimos até a saída do hotel.

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As sirenes tocavam insistentemente avisando que a escuridão estava vindo. Ana corria a nossa frente mostrando o caminho para o restante do grupo, enquanto a seguiamos apressados em direção ao abrigo do qual ela havia nos falado anteriormente no hotel. Não levou muito tempo para chegarmos a frente de uma igreja onde uma longa escadaria levava até a entrada. No topo, havia uma cruz com três ramificações que cercavam um círculo central. Eu já tinha visto algo parecido antes, não tinha certeza, mas o local era familiar. A sensação de dejavu me fez parar ainda nos primeiros degraus da igreja deixando que Jonathan e Doninic passassem por mim e seguissem até metade da escada. Ele parou antes de chegar ao topo e chamou pelo meu nome, mas eu estava absorta naquela sensação e mal conseguia me mover. Jonathan então desceu os degraus enquanto outros habitantes da cidade corriam para dentro do abrigo quase o atropelando. De repente eu o ouvi repetir meu nome, assim como Dominic no topo da escada. Me deparei com aquela pequena multidão passando por mim, enquanto buscava por socorro no interior da catedral. O céu se tornava escuro em um vermelho sangue enquanto algo sombrio cobria toda a cidade. As pessoas vinham de toda parte, cemitérios, casas, estabelecimentos todos desesperados temendo o que viria. Ana estava bem na minha frente a alguns degraus a cima quando ela apareceu atrás de mim segurando meu braço. A mesma mulher que eu encontrei na entrada da cidade, de cabelos brancos e vestes mal trapilhas, que me chamou de Alessa por minha semelhança assustadora com a de sua filha.
— Não vá. - ela dizia segurando meu braço, enquanto se ajoelhava nos degraus da igreja. - Não deixe que eles a levem. Estão todos amaldiçoados. Não é seguro...
— Se afaste sua pecadora. - a voz de Ana ecoava atrás de nós. - Fique longe. - algo atingiu o rosto da mulher e ela se encolheu.
— Para com isso. - eu me virei para repreender Ana enquanto ela se preparava para apanhar outra pedra do chão e lançá-la contra a mulher.
— Não dê ouvidos a ela. - Ana implorava. - Dahlia é uma pecadora...
Eu voltei a encarar a mulher até então sem nome. Eu já havia lido sobre ela no diário do meu pai, e agora ela estava bem diante de mim, provando que tudo aquilo que ele escreveu naquelas páginas era real.
— Isso não é um abrigo, é a prisão deles. Os pecados deles os prendem aqui. - Dahlia soltou meu braço e sumiu na escuridão.
— Espera... - eu estendi a mão para alcançá-la sentindo apenas o espaço vácuo entre os dedos.
— ALICE!
A voz de Jonathan me fez voltar os olhos para o topo da escada. O lugar inteiro, exceto a igreja, estava tomado por trevas. Ana estava bem diante de mim, quando algo se materializou bem atrás dela. A coisa a agarrou pela cabeça e a ergueu um metro do chão. O homem com a cabeça de piramide, como Jonathan o chamava, estava entre mim e a entrada da igreja. Jonathan e Dominic gritavam meu nome me pedindo pra correr. Enquanto Ana se debatia e gritava, eu subi os degraus o mais rápido que minhas pernas aguentaram e corri para os braços de Jonathan, que me carregou para a porta da cetedral. Enquanto tentavam fechar as portas, a figura assustadora andou até o topo carregando Ana como um troféu. Ele arrancou suas roupas deixando que sua nudez ficasse exposta diante de todos, e depois, rasgou sua pele retirando-a dos ossos de Ana usando apenas as mãos. As portas se fechararm no momento em que ele lançou a carne contra nós. O sangue de Ana atravessou a pequena fresta entre as portas e atingiu nossas roupas e rostos. Dominic gritou enquanto se jogava sentada no canto da igreja. Eu fiquei estática diante das portas trancadas sentindo o sangue escorrer pela minha face.
No interior da igreja, uma mulher apontava para nós repetindo ofensas e escarnios, pedindo justiça pela morte de Ana.
— Malditos! Eles trouxeram a coisa até nós.
— Amaldiçoados sejam. - um homem também se uniu a ela, ele veio até mim segurou meu braço de maneira violenta me fazendo tropeçar. - Bruxas devem morrer. - ele rosnava pra mim, sacudindo meu corpo para trás e me puxando novamente para si.
O restante deles também parecia querer justiça e acreditavam que nós eramos os culpados por aquela coisa ter matado um deles. Jonathan se aproximou por trás de nós, e afastou o homem o empurrando com força para longe de mim, quase fazendo com que o mesmo caísse sentado. Ele se colocou na minha frente enquanto as pessoas se aglomeravam diante de nós e gritavam de maneira insana, me chamando de bruxa. Eu o vi levar a mão as costas e tirar sua arma debaixo da camisa erguendo-a para o alto e disparando um tiro que fez com que todos se afastassem um passo.
— Todos vocês, fiquem longe dela. - disse apontando a pistola 9mm em direção a cada um.
Uma mulher vestindo um tipo de manto se aproximou no meio da multidão fazendo com que eles se afastassem respeitosamente. Ela tinha um rosto alongado e cabelos castanhos cacheados que estavam presos em um coque frouxo a cima da cabeça. Outra mulher, mais velha e com as costas curvadas se aproximou com as mãos em sua direção enquanto dizia:
— Eles mataram a minha Ana. Eles tem que pagar, Christine.
— Esses jovens não mataram sua filha. - ela respondia à mulher com extrema tranquilidade e frieza. - Ana desobedeceu as regras saíndo sozinha. Ela escolheu o destino que teve. Deixe que esses jovens descanssem.
A mulher de nome Christine lançou um breve olhar sobre nós antes de se virar e convocar os outros para o centro da igreja onde deram início a um tipo de missa. Christine se ajoelhou em um tipo de altar unindo ambas as mãos enquanto era seguida pelos demais, que se prostraram de joelhos em um círculo em torno da primeira, e repetiam cada oração citada por Christine.
— Que loucura é essa? - disse Jonathan.
Eu ainda estava assustada, permanecia no mesmo lugar mantendo os olhos voltados para o piso. Dominic chorava no canto da sala, abraçada aos próprios joelhos, estava tão assustada quanto eu. Jonathan era o único que parecia tranquilo ali. Ele andou até mim, tocou meus ombros e perguntou olhando em meus olhos:
— Você "tá" bem? - ele pegou uma mecha do meu cabelo e a levou para trás da minha orelha.
Eu apenas consenti que sim com a cabeça, e então esbarrei em seu peito fechando os olhos instintivamente. Jonathan me acolheu sem dizer uma só palavra, apenas tocando minha nuca e deixando que eu afundasse meu rosto em seu peito. Eu tentava apagar a imagem de Ana da minha mente, mas o cheiro de ferrugem que vinha das minhas roupas e do meu rosto não me deixava esquecer. As vozes dentro da igreja me deixavam mais calma, assim como as orações feitas por Christine. Minha mãe Cheryl nunca foi muito do tipo que vai a igreja, mas meu pai Jerome parecia acreditar.
Em pouco tempo, a escuridão se foi e a luz do dia novamente invadiu as janelas de vidro no alto da igreja iluminando o lugar inteiro. Dominic estava quieta, assim como o restante das pessoas dentro da igreja. Jonathan estava ao meu lado, sentado em um dos bancos perto da porta. Minha cabeça ainda estava sobre seus ombros, e um de seus braços me protegia. Eu ergui a cabeça voltando a olhar para um dos homens que seguia Christine. Ele era velho e carrancudo, tinha uma cicatriz na face esquerda que ia dos olhos até o queixo. A mulher, subiu um lance de escadas e fez sinal para que ele viesse até nós.
— Christine deseja vê-los. - ele disse parando ao lado do banco onde Jonathan e eu estavamos.
— Eu vou. - respondeu Jonathan logo se levantando. - Você fica aqui com a Dominic.
— Aham. - eu respondi.
Vi Jonathan seguir o sujeito até a escada e subir desaparecendo logo atrás de um paredão. Eu me aproximei de Dominic e me sentei ao seu lado, ela que naquele momento estava mais calma sentada no canto de um degrau dentro da igreja, perto de onde eu estava sentada.
— Como é que você está? - disse realmente preocupada, me sentindo um pouco egoísta por tê-la deixado sozinha até aquele momento.
— Simon tá morto não tá? - ela respondeu com outra pergunta.
Eu não sabia como dizer as palavras, era doloroso demais pra mim lembrar que meu amigo havia cruzado com aquele monstro antes de mim e que não havia sobrevivido como eu sobrevivi graças a ajuda de Jonathan. Apenas concordei com a cabeça, vendo-a encher os olhos com lágrimas e cobrir o rosto com as mãos.
— Eu corri tão rápido. Estava com tanto medo... - ela dizia. - Não parei para ver se ele estava atrás de mim. Quando percebi, ele havia sumido.
— Não foi culpa sua. Esse lugar é um lugar ruím. Não deviamos ter vindo, eu não devia ter trazido vocês comigo. Se existe alguma culpada aqui, sou eu.
— Não. - ela voltou a erguer os olhos e me olhar. - Simon e eu nos oferecemos pra vir, eu insisti pra que ele viesse. Ele teria ficado em casa tomando conta da avó dele senão fosse por minha causa.
— Ficar remuendo isso não vai ajudar, Nicky. - eu toquei seus cabelos em uma tentativa desesperada de consolar. - Nós temos que manter a calma e tentar achar um modo de sair daqui. Mas preciso saber porque eu vim até Silent Hill.
— Você veio atrás do Shay. -ela me olhou confusa.
— Eu acho que algo me atraíu pra cá. E não foi o Shay.
Um grupo com três homens vestindo roupas de minerador, se aproximou de nós sendo seguidos por Jonathan e a tal mulher, Christine. Eu permaneci aonde estava ao lado de Dominic, segurando sua mão. Christine ainda conversava com Jonathan, até então sem desviar sua atenção para mim ou Nicky.
— Não aconselho que saiam por aí sozinhos, mas já que insistem. Meus homens levarão vocês até o antigo hospital onde poderão encontrar seu amigo. - dizia ela sem muita bondade em seu tom de voz., na verdade Christina parecia pouco se importar com o que aconteceria a nós depois que saíssimos dali. - Depois, vocês estarão sozinhos. Estarão por sua conta. Eles não irão além disso.
— Tudo bem, é só o que precisamos. - respondeu Jonathan.
— Eles sabem onde está meu irmão? - eu me manifestei, então de pé diante de Christine.
— Você. - a voz de Christine assim como sua expressão parecia assombrada com alguma coisa. - Você tem a face do demônio. - ela se afastou apontando para mim, com um sinal nas mãos estendendo o dedo indicador e o menor. - É sangue do sangue dela. Não pode sair daqui.
— O que? - questionei dando um passo para trás.
— Cora tinha razão. Queimem a bruxa! - ela gritou em alto e bom som, ordenando seus seguidores ou seja lá o que aqueles homens fossem.
Jonathan mais uma vez se colocou entre mim e aquelas pessoas, como um escudo de proteção. Eu já havia perdido as contas de quantas vezes ele tinha se colocado na minha frente para me proteger, do que quer que estivesse tentando me machucar. Dominic estava de pé, bem atrás de Jonathan, e parecia incrédula.
— Se alguém tocar nela, eu juro que dou um tiro na sua cabeça. - Jonathan empunhava a pistola 9mm na direção da testa de Christine.
A mulher estendeu a mão para seus homens, fazedo sinal para que eles recuassem. Um deles segurava uma barra de ferro. Jonathan deu um passo para trás subindo no degrau próximo a porta, me obrigando a fazer o mesmo.
— Você. - ele fez sinal para o sujeito com a barra de ferro. - Dá isso pra ela. - ele se referia a Dominic.
Dominic o olhou confusa, mas deu um passo a frente até estar do lado dele. Ele ordenou a ela que andasse até o homem e pegasse o objeto de suas mãos. Cautelosamente minha amiga se aproximou e tirou a barra das mãos do sujeito e voltou correndo para perto de nós.
— Alice, a porta. - disse ele.
— Não irão muito longe sem a nossa ajuda, garoto. - Christine sorriu de maneira rancorosa.
Não esperei uma segunda ordem, eu me afastei enquanto Jonathan mantinha o braço esticado com a arma apontada para Christine. Abri apenas uma das portas da igreja e fui até o lado de fora onde verifiquei se estava tudo vazio. Voltando, eu avisei os outros.
— Não tem ninguém lá.
— Vai. - respondeu dando alguns passos pra trás.
Dominic saiu antes de mim e nos esperou lá fora, Jonathan e eu saímos em seguida. Ele arrancou a barra das mãos de Dominic e a atravessou na porta da igreja entre uma maçaneta e outra.
— Isso vai mantê-los ocupados por um tempo. - concluíu. - Vamos sair daqui.
Jonathan colocou a arma de volta na cintura e segurou minha mão com força me arrastando para os degraus. Domninic nos seguiu, enquanto andávamos em direção a rua vazia.
— Pra onde nós vamos agora? - perguntou Nicky.
— Pra qualquer lugar bem longe dessa gente maluca. - Jonathan andava em passos apressados, longos demais para que eu pudesse acompanhar sem precisar correr um pouco.
Jonathan tinha aproximadamente um metro e noventa, tinha pernas longas o bastante para que dois passos meus equivalessem a um dele. Dominic e eu tinhamos a mesma altura, um metro e sessenta talvez sessenta e cinco, e isso nos dava uma desvantagem. Ele segurava minha mão com tanta força que ela doía. Mas ele não queria me machucar, só estava garantindo que eu estaria perto e segura, eu sabia disso. Enquanto caminhavamos para o final da rua, eu podia ver nos olhos de Jonathan que ele estava com raiva. Cada um de nós reagia de um jeito aquele lugar, e ele reagia assim. Dominic ficou calada o caminho inteiro, algo incomum para ela que gostava de encher as pessoas com perguntas, mas ela estava assustada demais para bancar a curiosa. Dobramos em uma das ruas e continuamos andando, passando por inúmeras casas e apartamentos vazios. Finalmente avistamos um grande hospital ao final da estrada.
— Christine disse que encontrariamos seu irmão aqui. - Jonathan parou e me encarou depois de fazer todo o trajeto em silêncio.
Levei minha mão agora livre até a cintura de Jonathan retirando a lanterna que estava presa no seu cinto, e a segurei firme. Não disse nada, apenas continuei andando em direção a entrada do hospital até estar no saguão. Havia um elevador, provavelmente aquele também não funcionava, mas não haviam escadas visíveis no lugar.
— Vamos ter que abrir. - seguiu Jonathan procurando algo em torno dos balcões da recepção.
— Abrir o que? - questionou Nicky.
— A porta do elevador. - respondeu ele. - Christine disse que esse era o caminho.
— E você confia nela? Ela tentou nos matar.
— Ela me disse isso antes de ver Alice. - ele arrancou algo do chão, uma barra de ferro fina, mas resistênte que usaria em seguida para forçar as portas do elevador. - Quarto B151, no porão do prédio.
Enquanto Dominc ajudava Jonathan a abrir as portas do elevador, eu andei até a parede ficando diante de um mapa que mostrava as salas do hospital uma a uma, cada andar. Eu fechei os olhos tentando memorizar cada corredor, e seus números. Precisaria daquilo quando estivessemos lá embaixo no escuro.
— Alice. -a voz de Jonathan atrás de mim me fez dar um pulo. - Tá fazendo o que?
— Esse mapa, vai ajudar a achar o caminho. - disse apontando para o quarto B151.
— Querem mesmo descer lá pra baixo? - Dominic estava em pé na porta do elevador.
Jonathan e eu nos aproximamos, a porta estava apenas parcialmente aberta, teríamos que passar por ela de lado, um braço de cada vez. Eu fui a primeira, sendo seguida por Jonathan.
— Nicky, você não precisa ir se não quiser, mas vamos ficar mais seguros juntos. - eu disse mantendo a lanterna acesa em seu rosto.
— Tudo bem. - convencida, Dominic atravessou a porta.
— E agora, como vamos descer? - perguntei.
Jonathan se moveu em direção ao painel abrindo o mesmo usando a ponta dos dedos. Tudo era velho e estava um pouco enferrujado, mas com um pouco de força e a ajuda de uma placa de guerra que ele carregava em torno do pescoço, logo o painel estava no chão e os fios internos da coisa estavam ali, a mostra. Jonathan só precisou mexer nos fios certos e o elevador rangeu. A única coisa que precisamos foi puxar a barra de ferro da porta para que ela se fechasse, tudo tremeu quando as portas bateram uma contra a outra e então o elevador simplesmente despencou no poço.

 


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