A Loucura dos Liddell escrita por Imagine
Chovia naquela noite, uma chuva fina e murmurante. O frio sussurrava para o vidro da janela, que por sua vez estremecia, as cortinas balançavam com o vento que adentrava o quarto.
O homem sentava á frente de sua costumeira escrivaninha, o lampião aceso iluminava a madeira velha e um monte de papéis amarrados por um barbante, um tinteiro e sua pena permaneciam intocados em um canto. Ele baforou com seu cachimbo, a fumaça de uma tonalidade turquesa subiu em um círculo e se desfez, com seus olhos escuros e vagantes encarava o fascinante vazio.
De repente ele acordou de seu devaneio, tirou o cachimbo dos lábios e disse:
— Entre querida, deve estar muito escuro aí fora.
A porta rangeu ao abrir e pelo seu pequeno espaço aberto entrou uma garotinha.
— Pesadelos novamente imagino –disse o homem.
A pequena confirmou enquanto se aninhava no colo de seu protetor.
— Estou com frio –sua voz fina e tremulante denunciou.
A mão do homem procurou cegamente o casaco que estava próximo, com uma esguelha rápida ele conseguiu capturar o tecido escuro e pesado e jogá-lo por sobre os ombros da garotinha. Ela parou de tremer no mesmo instante, encostando a cabeça no peito do mais velho.
— Não quero voltar pra lá.
— Pode dormir em minha cama.
— Não estou falando do quarto –ela voltou seu rosto para ele- é daqui.
Ela pontou para a própria cabeça, dando batidinhas nela, o homem pegou seus dedos pequeninos e tentou acalmá-la com um sorriso bom e gentil, mas não adiantara, a pequena estava com muito medo para retribuir.
— Lacie...
— Não, não é! –retrucou com um gritinho murcho- Não são só pesadelos, pessoas normais não tem os mesmos pesadelos todas as noites!
Lacie tentou se desvencilhar, mas o homem a segurou com firmeza. Ele levantou-se da cadeira e agachou-se á altura da pequena, olhos nos olhos.
— Mas você não é como o resto das pessoas Lacie –seu rosto todo sorriu- é especial, uma garota muito especial.
Ela choramingou.
— Mas eu tenho medo –seu tremor voltava.
— Sim, eu sei –ele pegou uma das lágrimas da jovem nos dedos- todos temos, Lacie, mas é isso que nos faz humanos... mas você pode domá-los, se quiser.
As lágrimas começaram a cessar junto dos tremores... e do próprio medo.
— Posso?
— Não só pode, querida Lacie, mas já o fez.
Ele curvou-se um pouco, com a palma da mão segurou o rosto molhado dela e beijou sua cabeça.
— É especial Lacie, lembre-se disso.
Minutos mais tarde, ele a pôs para dormir. Deixou a pequena se acomodar nos travesseiros e mantas de lã, e após dois contos de ninar seus olhos começaram selar.
— Vá dormir querida.
Lacie bocejou, virando-se ela pegou na mão do mais velho.
— Fica comigo?
— Eu sempre vou estar com você.
Ela cerrou os olhos e ele diminuiu a luz da lamparina, permaneceu sentado em sua cadeira de balanço ao lado da cama até que ela caísse em um sono profundo, dormindo em paz, como um anjo á repousar, sua face era calma, os pequenos lábios estavam entreabertos, o nariz retesava quando sentia coçar e os cabelos negros despejavam-se no travesseiro branco feito tinta derramada sobre o papel.
Ele sorriu.
— Boa noite, querida Alice.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Me perdoem caso os parágrafos fiquem grudados uns nos outros, isso aconteceu devido a passagem do documento para o site, caso encontrem um desses erros, por favor, deixem um comentário ou me enviem uma mensagem notificando. Obrigada!