Abri a porta e lá estava ela, linda como sempre, com seus cachinhos negros, olhos castanhos escuros, vestidinho de alçinha rosa-bebê, rasteirinhas e um sorriso radiante no rosto. Ela era a garota mais sonhadora e alegre que eu conhecia, adorava festas, adorava romances e mais do que tudo adorava sorvete. Ela era minha melhor amiga, e eu não sei o que seria de mim se ela não tivesse aparecido na minha vida. Ela segurava uma sacola estendida para mim com as duas mãos, as unhas francesinhas perfeitas. De repente, ela fechou a cara.

— O que é isso? – dissemos as duas ao mesmo tempo.

— O que é isso o quê? – disse eu, confusa.

— Hoje você disse que ia estudar, e ao invés de estudar, você dormiu?

— Como sabe que eu dormi? - de dentro da sacola, ela retirou uma bolsinha de mão e de lá retirou um espelhinho de bolsa e estendeu para mim. Assim que me vi diante do espelho soube no mesmo instante do que ela estava se referindo: Minha cara amassada, olhos inchados, e cabelos um caco, deixava o fato de eu ter dormido por horas aparente. Não podia negar, estava horrível, mas isso é resultado de muito sono acumulado, semana que vem começa as provas, passara horas acordada estudando, pensando no Nicolas e na Isa, nos meus tios e em meus pais. Ultimamente venho pensando muito neles, muito mais do que o normal. – Ah, entendi. E o que tem aí dentro dessa sacola? – disse pegando a sacola e retirando de lá 3 hambúrgueres do McDonald’s, com um punhado de batata frita. - Me agradeça depois – disse Isa, abrindo um sorriso.

— Menina, como eu te amo! – disse, subindo para o quarto. – Vou tomar um banho! Já volto! – entrei no chuveiro e deixei a água cair. Quando saí, peguei meu celular e vi as horas. Oito e um. Não era possível. A água estava ótima mas será que eu fiquei tanto tempo assim debaixo do chuveiro?

— Quanto tempo eu demorei? – disse com os olhos arregalados. Isa deu uma olhada rápida em seu relógio de pulso e disse:

— Uns 50 minutos. - deu de ombros.
Descemos e fomos comer. Meu Deus, como eu estava com fome.
E Então a Isa começou a falar:
— Sabe Mel, ás vezes eu acho que o Christian não é tudo aquilo que eu pensava... – Ah! Jura? – no começo nós sempre estávamos juntos, ele me dava atenção, amor... Agora eu nem sei mais sobre a vida dele! Toda vez que eu o chamo para conversar ele fala que está ocupado com o trabalho e depois me chama. Ultimamente eu estou me sentindo em último lugar na vida dele, quer dizer... Eu sei que ele tem que trabalhar para pagar as despesas da casa, que ele mora sozinho e tudo, mas e eu? – disse olhando para mim com os olhos enchendo de lágrimas – nós mal nos vemos, é uma vez na semana e olhe lá! Tudo estava tão bem desde que... – e então começou a chorar de verdade. Droga. Eu sabia do que ela estava falando, desde que ela entregara a virgindade dela para ele, ele vem se afastando dela aos poucos.
— Poxa Isa, não queria falar isso, mas eu te avisei tanto! O Christian não é para você, Isa. Me escuta ao menos uma vez! Eu não sou nenhuma expert no assunto, mas acredito que quando um cara ama a menina, ele faz ela se sentir especial, e não chorar! – disse enquanto ela soluçava. Abracei-a, suspirando. – Olha, você é a minha melhor amiga, eu só quero o seu bem. Por que não conversa com ele sobre o que você sente?
— Eu já tentei! Ele desconversa e fala que tem que trabalhar e que depois conversamos sobre isso! E esse “depois” nunca chega! – mais soluços. – Será... Será que ele está planejando t-terminar comigo, Mel? Ou pior, s-será que ele está me traindo? – disse entre soluços.
— Se for isso, ele é o cara mais burro que eu conheço por perder alguém como você! – afirmei para ela. E então peguei aquele espelhinho que ela tinha mostrado eu mesma quando chegou e mostrei a ela seu reflexo no espelho. – Olha para você, Isa. Você é linda, não precisa disso!
Ela fitou a si mesma no espelho e aos poucos os soluços cederam.
— Você tem razão. – e abriu um sorriso para mim.
Revirei os olhos, e abraçando-a mais forte disse:
— Quando é que eu não tenho? – e rimos juntas. Depois disso ela se acalmou e fomos para o quarto. Disse a ela para dormir aqui em casa hoje, e ela aceitou no mesmo instante. Deitou do meu lado e depois de alguns minutos em silêncio disse:
— Mel?
— Oi?
— Você acredita em alma gêmea? – disse ela. Parei para pensar alguns segundos e por fim disse:
— Acredito que o amor da nossa vida passa apenas uma vez na nossa vida.