Canção do Cisne — A Melodia dos Mortos escrita por Majalis


Capítulo 2
Eu os ouvi.




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Desde o seu retorno e dos demais a Floresta Encantada, Baelfire juntou-se aos nômades. Nome pelo qual eram conhecidos os homens e mulheres que cruzavam os reinos montados em seus cavalos em nome d’O Círculo. A função dessas pessoas consistia em acompanhar o processo de reconstrução das diversas partes de Misthaven e das regiões próximas, afim de manter seus “contratantes” informados para o caso de ser necessária alguma assistência a qualquer parte visitada.

O Círculo havia sido formado também após o retorno. O grupo era composto pelas pessoas influentes, tendo como principal função proteger o reino, por exemplo, de novas maldições. O que soa irônico considerando o fato de que Regina Mills, a Rainha Má, faz parte da sua formação. A maior parte de Misthaven já havia sido reconstruída, dando, portanto, espaço para que o Círculo lide também com questões políticas e econômicas do reino, sendo que desde a sua formação não havia lidado com nenhum grande perigo iminente.

Baelfire encontrava-se num grande salão. Com as costas voltadas para a entrada principal, ocupava-se com a visão que uma das janelas lhe concedia. Era manhã, os raios de sol tocavam seu rosto, tornando a pele morna, derramando uma sensação agradável. Daquela distância não podia ouvir, mas acompanhava atenciosamente a circulação no pátio do castelo dos Charming. Havia acostumado-se com a vida de nômade e quase total solidão, impedida de instalar-se apenas pela constante presença do seu grupo de “parceiros”. Essa vida de andanças parecia mais devida do que permanecer em Misthaven na companhia de Belle, Luna e “daquilo”, daquela ilusão que não o permitia esquecer do seu pai e amargar o sentimento de perda diariamente. Ele não conseguia compreender como madrasta suportava aquele martírio.

— Ele está esperando.

Baelfire ouviu uma voz masculina anunciar assim que a porta dupla que dava acesso ao salão foi aberta. Inspirou e virou-se, encarando as expressões ansiosas esboçadas por todos que adentraram. Reconheceu cada um deles e isso o fez delinear um sorriso agradável. Caminhou até alcançar uma mesa redonda que encontrava-se no ponto central e postou-se diante dela.

— Como vão? — Limitou-se a cumprimenta-los com um aceno, pois via que se não fossem educados pulariam os cumprimentos inicias e partiriam para a discussão principal. Aparentemente, pedir para que membros do Círculo fossem convocados com palavras suaves e não alarmantes não havia surtido efeito.

— É bom vê-lo outra vez. — Disse a Rainha Aurora Grace retribuindo o sorriso dele. Desde o primeiro encontro deles, anos atrás quando Baelfire surgiu na Floresta Encantada ferido, a figura nutria pelo nômade inestimável afeto. Os anos haviam feito bem a garota, hoje uma mulher. Sua beleza havia sido realçada pela maturidade dos traços e marcas. Não era a mais alta das rainhas, todavia tal fato acrescentava docilidade aos olhos azuis amáveis.

— É realmente bom tê-lo conosco outra vez, Baelfire. Só é uma pena que o motivo da sua presença possa ser desagradável. — Rei Phillip Grace demonstrava ares animados. Assim como sua esposa, o soberano registrava no rosto a passagem do tempo. Os transcorrer das épocas havia arrancado parte do seu aspecto juvenil. A barba não muito farta, do mesmo tom que seus cabelos castanhos, emoldurava seu rosto bronzeado. As linhas de expressão eram proeminentes, assim como os halos arroxeados ao redor dos olhos, embora esses fossem menos visíveis. Era o aspecto de uma pessoa cansada e não era de se duvidar que sua saúde também não estivesse nas melhores condições.

Diferentes dos outros, o casal Grace havia permanecido no reino quando a maldição das Trevas foi lançada, porque a região onde eles se encontravam-se na época, foi protegida por uma bruxa. Com isso, tornaram-se líderes dos sobreviventes, daqueles que foram "abandonados" ali. A posição garantiu respeito e admiração de quase um terço da população de Misthaven. Tais condições permaneceram mesmo após o dia do regresso. Eram uma peça chave dentro d’o Círculo justamente por esse poder, uma vez que quando aplicados em termos bélicos, são os portadores do maior exército do reino. Uma posição a ser respeitada, embora nunca tivesse sido necessário demonstrar seu poder de fogo.

— Desagradável pode não fazer jus a notícia, se as informações que chegaram até mim são verdadeiras. — A voz feminina atravessou as portas e adentrou o salão segundos antes de sua portadora unir-se ao grupo. — Problemas no Exílio?

Era Regina Mills. Ainda que a alcunha de maligna não lhe coubesse mais, seu bom gosto para as vestimentas ainda permanecia intacto. As curvas de seu corpo ficavam evidentes através do tecido negro do vestido com detalhes rubros. Preto continuava sendo sua cor. O tempo a havia feito bem, embora parecesse ter envelhecido menos do que os demais habitantes do reino, como se a magia lutasse para preservar a integridade de sua portadora.

O sorriso frio bordava sua boca e os olhos atentos varreram todo o salão após sua entrada. Parou ao lado de Aurora, ainda que distante da outra rainha, o peso de seu olhar direcionado ao nômade, esperando uma resposta para sua questão. Snow White veio logo atrás dela e a proximidade entre as duas rainhas permitia a qualquer observador pontuar a grande discrepância que havia entre elas: Snow era a representação da condolência, enquanto Regina da força.

— Sim, sim. A questão envolve o Exílio. — Respondeu Baelfire, remexendo o corpo de modo que deixou visível seu desconforto. — Vamos esperar mais alguém ou...

— Receio que não seja necessário. A maior parte dos moradores do reino está ocupada com os preparativos para o festival e não tenho certeza se um problema com uma tumba maligna que está intacta a mais de um século merece a nossa total atenção... Então, se pudermos não perder tempo.... — Proferiu Mills, gesticulando com a destra no ar para que emissário das boas novas se adiantasse. Aqueles momentos faziam o filho do antigo Senhor das Trevas lembrar-se da alcunha que Regina costumava carregar. Mal sabia ele que a tênue rudez da mulher devia-se uma emoção temerária em relação as boas novas e não a uma necessidade de ser grosseira.

— Convocamos os Depardieu, mas eles não estão no castelo. Thomas levou a esposa, Ella, e os filhos por uma caçada pelo oriente, não receberam a convocação. — Informou David. — Dependendo da gravidade do que você relatar, o restante do Círculo será oficialmente alertado.

— Hã. Tudo bem. — Pigarreou Baelfire. — Minha última vistoria me levou até as terras do sul. Não esperava encontrar nada demais, mas enquanto contornávamos o Exílio para tomar o caminho mais curto para o destino seguinte... — Soltou um suspiro pesado. A medida que relatava a situação, as imagens da escuridão sussurrante retornavam sua mente. — Algo está acontecendo lá. Aquele lugar sempre esteve em total silêncio, nem mesmo um mero farfalhar. Mas dessa vez, eu os ouvi. Era como se um exército de espíritos sussurrasse, todos ao mesmo tempo. Não tenho certeza do que diziam, não consegui entender. Mas, definitivamente, algo está acontecendo lá.

Regina tinha as sobrancelhas arqueadas, como se a notícia a deixasse mais surpresa do que amedrontada. Diferente de Snow e David que franziam os cenhos, enquanto os Grace entreolhavam-se com apreensão.

— Ainda acha que não temos motivos para nos preocupar? — David virou-se para Regina, questionando-a em tom de desafio. A rainha torceu os lábios, reprimindo uma ofensa, enquanto voltava-se para Baelfire, buscando concentrar-se na questão principal.

— Você tem certeza absoluta de tudo isso? — Questionou. O interrogado balançou a cabeça positivamente. — Tudo bem. — Ela fez uma pausa, inspirando, tentava clarear a mente.

— Isso nunca aconteceu antes? Aconteceu? — Dentre todos os presentes, Aurora era aquele que parecia mais afetada pelas notícias. Já havia passado por inúmeras situações desfavoráveis. A maldição de Malévola, a guerra dos ogros e a maldição das trevas. Esses eventos não a tornaram mais forte, pelo contrário, a ensinaram a temer os infortúnios do destino. Ter um grande exército a deixava levemente tranquilizada, mas a possibilidade do envolvimento de magia naquele problema a fazia recear.

 — Não que alguém se lembre. — Pontuou Baelfire.

— Não alguém vivo... — Completou Regina, o rosto iluminado pela sugestão de uma ideia. Encarou Baelfire, aparentava considerar uma hipótese.

— Rumpelstiltskin. — Snow foi a primeira a compreender onde os pensamentos da mulher estavam. As duas se entreolharam, Regina confirmou com a cabeça. — Se as histórias sobre o Exílio estiverem corretas, foi enfeitiçado por uma bruxa já faz mais de um século. O que significa que...

— ... Rumple estava vivo na época. — Completou David. — Deveríamos consulta-lo?

Baelfire amargou aquela opção em silêncio.


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