Egoísta escrita por Mi, Shauna


Capítulo 8
VIII - Vazio


Notas iniciais do capítulo

Vocês costumam ler a fic ouvindo alguma música? Quando estou escrevendo, eu ouço várias. Parece tudo mais emocionante, recomendo! Haha
Esse capítulo eu escrevi ouvindo ''Icon For Hire - Hope of Morning'', porque a tradução é foda. Enfim, aproveitem. E obrigada pela marca de 100 reviews. Isso eu não vou comentar, porque ninguém leria o meu textão. Por enquanto só posso dizer: AMO VOCÊSSSSSSS!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/673514/chapter/8

Mas meu distúrbio não pode ser curado por uma garrafa, lâmina ou dose. Você é a única cura. Você é o único que pode acabar com a minha dor.

VIII

Eu não consegui dormir. Isso não é uma novidade, mas nos últimos dias, minha insônia está piorando. Não consigo dormir nem por quatro horas seguidas. Talvez duas. Ou, eu só fico pensando em coisas aleatórias a noite toda. Quando me perguntam se eu dormi bem, eu respondo ''Sim''. Está tudo bem. Contando que eles acreditem nisso. Porque se minha mãe desconfiar, ela vai querer saber o motivo e vai ser complicado. Eu simplesmente vou responder: ''Então, mãe, é que o Daniel não sai da minha cabeça. É como se a senhora estivesse apaixonada pelo Tom Cruise. Ah não. Ele é ainda mais inalcançável que o Tom Cruise.'' 

— Eu estou aqui! — A Isa apareceu no meu quarto, com uma roupa exageradamente curta. Mas normal, para ela. — Ei, Lucas, por que está tão desanimado? Sentado aí, ainda de pijama, com o cabelo todo bagunçado e umas olheiras horríveis. Hein, hein? 

— E por que está tão animada? Você não vai pro passeio. Não entregou a autorização. — Suspirei. Ela deu um sorrisinho.

— Como se isso fosse me impedir. É só eu ir escondida dos coordenadores. — Disse. — E eu estou cheia de planos para hoje e amanhã. Meu caderno de planos infalíveis está cheio, olha!

Tirou uma espécie da agenda da mochila e me entregou. Nela, alguns desenhos dela mesma... outros dela matando a Elisa... outros sobre mim e o Daniel se pegando. Espera.

— Quer morrer?! — E eu finalmente despertei. — Parece que sim! Porque é isso que vai acontecer! Desenhe sobre isso. Sua morte.

— Estão lindos, não? — Sorriu, ignorando o que eu falei.  — Pode ficar com um deles. 

— Como se eu fosse ficar com isso. — Arranquei uma folha e escondi debaixo do travesseiro. — Por favor... idiotice. 

— Sei, sei. — Seu sorriso malicioso não saiu uma única vez do rosto. — Agora, vai tomar banho. Saiba que eu separei um look maravilhoso para ti. Você vai amar! Não mais que o Daniel, claro... 

Revirei os olhos. Sem tempo para discussões. Ela não mudaria de ideia, de qualquer jeito. Ela quer marcar o que em mim com essas calças apertadas?! Como alguém como eu pode ficar ''sexy''?! Não vou tentar entender. Não tenho tempo para isso.

Levantei, peguei um chocolate na minha prateleira (precaução), e fui direto para o banheiro. Joguei as roupas em cima do tapete e entrei debaixo d'água. Consegui ouvir a Isa cantarolar do outro lado da porta. Tudo bem. Chocolate ameniza dores. Não é? Mas... e quando o chocolate acabar? Como eu vou lidar com tudo isso que o que sinto? Jujubas estão aí para isso. É. Com certeza. Eu vou aguentar qualquer dor, enquanto tiver com os meus doces. Espero...

Saí de lá sorrindo. Vai ficar tudo bem! Eu vou contar, tirar esse peso das minhas costas, nossa amizade não vai ser a mesma de antes, mas ele com certeza vai me perdoar! Certeza! Não... é? 

— Vamos. — Ela também sorria. — Não se preocupe. Tá com a Isa, tá com Deus! 

— Claro. — Dei risada. Peguei minha mochila do lado da cama e nós saímos de lá. Descemos as escadas e minha mãe estava nos esperando, com dois lanches enrolados num pano roxo de bolinhas.

— Cuidado. — Abraçou ela primeiro, depois, a mim. Falou algo como ''Use camisinha caso encontre alguém lá.'' — E liguem para mim a cada três horas para eu saber se o Lucas não morreu de diabetes! 

— Não se preocupe, tia. Eu cuido dele. — A Isa sorriu, gentilmente. — Confia em mim! 

— Claro. — Juro. Essa foi uma resposta verdadeira da parte da minha mãe. Ela realmente confia na Isa. Coitada... mal sabe. 

Saímos de lá e caminhamos até o colégio. No meio do caminho, encontramos o Daniel e a namorada dele. Ele tomava sorvete, ela não.

— Já estava indo para lá, Luc! — Ele apontou para minha casa, com o mesmo sorriso de sempre. — Ainda bem. 

— Sim. Não gosto de andar. — A Barbie comentou. — Mas qualquer coisa meu príncipe me carrega.

— Claro que carrego. — As palavras dele não foram sinceras e carregavam um leve tom de ironia, mas ela não reparou. Apenas sorriu contando vantagem para cima de mim. Tanto faz.

—  Oi Isabela. Oi melhor amigo do meu namorado. — Disse, sorrindo. Aquele mesmo sorriso falso de segunda, só que pior. — Eu descobri que não posso ser melhor em tudo. Só que meu beijo continua sendo o melhor, não é, Dani? 

Ele não respondeu, apenas sorriu. 

— Eu não provei todos os beijos desse mundo, ainda. — Brincou. Ela não gostou. Ele percebeu. — Mas, até agora, o seu com certeza é o melhor! 

Até porque ela é a segunda pessoa que o Dan beijou. A primeira foi sua tia, quando ele tinha sete anos de idade, ela deu um selinho nele, meio que sem querer. Ele lavou a sua boca algumas vezes. Muitas vezes. Eu dei risada e ele também. As duas garotas se perguntavam onde estava a graça, mas não falaram nada, naquele momento. 

— Hum. — a Elisa segurou em seu braço, com força. — Então, vamos. Quero pegar os melhores lugares no ônibus escolar. 

 Continuamos a caminhada em silêncio até o colégio. Os ônibus já estavam lá a algum tempo. Entramos, cumprimentamos o motorista e fomos até o fundão. Ele se sentou ao lado da namorada dele, claro. A Elisa na janela. No meu caso e da Isa, ela também ficou na janela. Eu queria ficar na janela. Mas... tô devendo muito a ela. Heh... muito mesmo. Desde que a vi pela primeira vez, quando ela me ofereceu um chocolate. Ela é uma bruxa amável. O que seria de mim sem alguém como ela? 

Depois de vários minutos esperando os outros alunos entrarem, o ônibus começou a andar. E os alunos do 2o ano começaram a cantar, como crianças do ensino fundamental um. A quem estou querendo enganar? Tô cantando também. Mas... o Daniel tá com uma animação fora do normal. É uma criança?! Sim. É. E isso é o que ele tem de melhor. Continue sorrindo para sempre, por favor. Obrigado.

 Depois de uma hora de viagem, nós chegamos no lugar. No ano passado já tínhamos vindo aqui. É legal. Tem várias atividades durante o dia e os dormitórios são separados entre meninos e meninas. Não que eu esteja feliz porque a Elisa não vai dormir com ele. Por favor... como se eu estivesse feliz por isso. 

— É aqui o início de tudo! Onde casais se separam, outros são formados, enfim! — A Isa desceu do ônibus já soltando seu vene... suas lindas palavras. E olhou para a Elisa, que revirou os olhos com a indireta. — Vamos nos separar só para guardar as coisas. Nos encontraremos na piscina em trinta minutos. 

E assim, nós dois fomos ao nosso dormitório e as duas ao delas. 

— Eu amo esse acampamento! — Daniel comentou, enquanto arrumava suas roupas ali. — E eu vou ficar com a cama de baixo. 

— Eu prefiro a de cima, mesmo. — Dei a língua. — Todos preferem a de cima. Você é estranho. 

— Olha quem fala. — Fechou o zíper da mochila e me chamou para sair. — Você é pior que eu. Dorme de roupa. 

— Isso é pra ser estranho?! Estranho é você! Indecente! 

— Eu durmo só de shorts, wah. — Nós caminhamos até a piscina. Nós tínhamos uma hora livre antes de começar as atividades escolares. Normalmente é o contrário, mas os professores sabem que nunca dá certo do outro jeito. — Não é estranho. Você que é. Você é muito, muito estranho, Luc!

Eu vou parar de discutir porque eu gosto de você. Isso é ainda mais estranho. E eu odeio perder discussões.

— Tudo bem, tudo bem. Se você diz. 

— Ah, assim não tem graça. Eu quero brigar. Eu gosto de brigar. — Sorriu.

Finalmente chegamos a piscina. Não podemos entrar ainda, mas é legal ficar aqui porque tem um Café ao ar livre, com visão daquela enoooorme bacia de água azul. E nesse Café, tem chocolate. Que deve curar minha ansiedade, um pouquinho. As meninas já estavam esperando. A Isa sentada em uma ponta, a Elisa na outra. Ambas se encaravam como se quisessem matar uma a outra. E é o que queriam, no fundo.

Quando nos sentamos, a Isa se levantou e me chamou. Fui até ela. 

— Ela conseguiu me envenenar com as suas palavras. Ela falou do meu passado. Não fique sozinho com a Elisa. Eu gostaria te ajudar mais um pouco, mas... se eu ficar mais um minuto no mesmo ambiente que essa garota, eu vou partir para cima dela. E então, vão me descobrir. E vão me mandar de volta para casa, junto a uma enorme advertência. Além da suspensão. E então, eu não poderei ajudar você, mais tarde. E eu quero muito te ajudar. — Disse e depois saiu dali. Eu não perguntei nada. Já tinha uma ideia do que essa garota poderia ter feito ou falado. Meu ódio só aumenta a cada instante... e nesse momento, eu vou contar tudo para ele. Isso é... estou decidido. 

— Hã? Por que a delinquente foi embora? — Escondeu seu sorriso. E talvez, eu deva desmascarar ela agora. 

— Ela não te aguentou. — Sorri. 

— Ás vezes nem eu te aguento! — Daniel falou para ela, mas não em um tom sério. Heh, ele levou na brincadeira. Como pode ser tão... inocente? Inocente seria uma palavra mais bonita, para substituir ''lerdo''. Mas no caso dele, não dá!

— Dan, eu preciso te contar uma coisa. Pode me ouvir, agora? Já que os outros alunos estão espalhados por aí? — Mordi um pedaço do meu chocolate, para tentar controlar meus sentimentos. Eu vou morrer. ''Senhora, do que seu filho morreu?'' ''Ah, de nervosismo.'' Alguém... me ajuda. Tanto faz! Como eu disse antes... eu posso suportar seu ódio, mas quero que saiba de toda a verdade. Se eu não falar, vou me engasgar com todas as palavras que quero que você ouça. E eu só posso me engasgar com chocolate! Por isso... não me odeie, por favor, Dan. Peça para ela ir embora.

— Claro. — Respondeu, com o mesmo sorriso de sempre. Eu vou conseguir ver esse sorriso de novo? Depois que eu contar para ele sobre isso? — Pode ir na frente, Lisa? 

— Antes de vocês conversarem sobre coisas de ''melhores amigos''... — A Elisa nos interrompeu. — Amor, pode buscar um suco para mim, do outro lado do campo? Prometo deixar vocês em paz depois disso. É que quero muito e meus pés doem...

— Você espera, bebê? 

— Espero.  — Ela respondeu. 

— Meu outro bebê. — Riu e apontou para mim. Dessa vez, ela não bufou. Apenas escondeu sua raiva com outro riso falso. 

— Tanto faz... — Respondi. Aí eu posso me torturar um pouco mais em meus pensamentos, enquanto te espero. Que bom. 

 E ele se foi, cantarolando o caminho todo. Parecia feliz, como sempre. Nossas emoções são realmente contrárias. Por que...

Agora estávamos eu e ela na mesa do café. Além de, claro, o dono daquele lugar, mas ele dormia silenciosamente, então, não fazia diferença. Eu não tenho medo dela. Nem do seu veneno. Ela não pode colocá-lo contra mim, agora que resolvi eu mesmo cavar o meu túmulo. E ela sabe disso. E isso a deixa com um ódio profundo. Eu posso ver no fundo de seus olhos, nesse momento.

— Seu olhar te entrega, ex melhor amigo do meu namorado. — Ela puxou uma cadeira para perto de mim. Me afastei, mas ela se aproximou, novamente.  — Você é tão bobinho.

— O que está fazendo?! — Empurrei ela. — Se fingir uma traição, agora, sabe que ele não vai te perdoar, também?  

— Não vou fazer isso. — Deu um sorriso malicioso. — Eu sou melhor que isso. Muito melhor. Sabe, o Daniel acha que você está apaixonado. Ele comentou comigo. Mas, quando ele perguntou da Isa, você negou. Então... ele achou que poderia ter outra garota envolvida. Resolvi me aproveitar disso.

— Do que você está falando?! 

— Esquece. É que... me sinto tão insegura. Ninguém me amou antes. Por isso, sou assim... — Abaixou a cabeça. Olhou para os próprios braços. 

 Ouvi passos. Provavelmente, eram dele. Olharia para trás se não fosse a situação em minha frente. Eu não entendi a última fala dela e a ficha foi cair depois de dois segundos. Ela estava apertando seu próprio braço, com força, e gritando, com a dor que sentia. Por que ela faria aquilo? Ela tem algum problema sério, que precisa ser tratado? Me aproximei dela novamente e tentei parar as suas mãos. Eu não conseguia ver qualquer pessoa se torturar, mesmo se fosse ela. Olhei para os olhos da garota e algumas lágrimas caíam, ali. Pareciam tão verdadeiras que por um momento acreditei. 

— Não! Eu não quero te beijar! Talvez você tenha me entendido mal por eu ter sorrido para você algumas vezes, mas... eu só amo o Daniel! Me desculpe! — Ela dizia essas palavras e chorava de verdade. As lágrimas caíam de verdade. Foi quando olhei para trás e vi o Daniel, ali, parado, sem nenhuma expressão em seu rosto. Ele jogou o suco no lixo e veio até nós. 

E eu caí. Caí em sua armadilha. Mesmo sabendo sobre tudo que ela poderia fazer ou inventar, eu caí. Eu... sou um idiota, não sou? 

Ele se aproximou de nós dois e tirou as minhas mãos dela, que tremiam. Ele não tinha raiva, ele não gritou comigo. Ele não expressava tristeza, ele não chorou. Ele... ficou em silêncio, pegou ela pelo pulso e saiu dali, sem dizer uma palavra. 

Isso é pior. Pior que tudo. Pior que todas as outras reações. Porque... por que?! Eu caí... mas... 

— Ela mentiu, Dan! Você sabe, não é? Que ela fingiu essas lágrimas! — Enquanto eles se afastavam, eu gritava. — Eu não tentei nada, ela... só... eu! É mentira. Eu nunca faria isso. Você sabe, certo? Não é? Pode voltar e dizer que foi tudo uma brincadeira?

— Eu que te pergunto. Isso tudo é uma brincadeira, né, Luc? — Ele se virou. Agora consegui ver seus olhos vermelhos. O choro da Elisa foi maior que qualquer palavra minha. — Eu queria... que fosse. Porque, nesse momento, estou te odiando. 

Talvez seja o enorme vazio que eu sempre tive em meu coração, desde pequeno, que quando aquele garotinho apareceu, foi preenchido. Agora, que ele se foi, de novo, tudo voltou ao normal. Por isso, não consegui dizer nada. E não. Não voltou ao normal. Está... pior. Destruído. 

Se eu fosse ele, também não acreditaria. Ela pareceu tão mais ''verdadeira''. E eu, gaguejando, sem derramar qualquer lágrima de arrependimento, sem sair do lugar, quem sou eu, afinal? 

Me desculpe por não chorar. Eu não consigo chorar. Eu gostaria de conseguir. É que ainda estou tentando acreditar em tudo isso. Eu estou seco e sinto que não posso transmitir nada, nesse momento. Eu estou vazio. Eu sou vazio. Eu não sou ninguém. 

E toda essa dor que eu não consigo explicar, não vai desaparecer. Enquanto eu não convencê-lo do contrário. Como se alguém fosse acreditar em mim...

— Ei, garoto, as atividades escolares vão começar em breve. Vamos? A área da piscina é bloqueada nessas horas. — Um homem de aparentemente trinta anos disse, enquanto batia os pés, impaciente.

Eu não respondi. Apenas o segui. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!