Egoísta escrita por Mi, Shauna


Capítulo 6
VI - Guerra é guerra!




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É que você combina mais comigo que a minha camisa favorita.

VI

Daniel, você alcançou o nível máximo de lerdeza, dessa vez. Eu realmente não te entendo. Faz meu coração disparar com seus atos, para, no fim, dizer algo como isso. "Eu tô ligado que você gosta da Isa." Eu odeio todas essas características em você. Então, por que eu te amo, de qualquer jeito? Te odeio. Muito. Espera, tô me contradizendo?!

— Vamos. — Sorri, ainda sem graça com a situação em que nos encontrávamos. Essa cabine é realmente apertada e nossos corpos estão separados por poucos centímetros, mas ainda se chocam, às vezes. Vergonhoso. Extremamente vergonhoso.

Ele se aproximou da porta para abri-la, mas quando forçou a tranca, ela quebrou.

O que?! Como... me explica... como?! Destino? Azar? Sorte? Que?

— Ops. — Fez aquela expressão de uma criança depois de aprontar. — Fiz besteira.

— Só isso que você sabe fazer, não é, idiota? — Provoquei. Ele sorriu.

— Pior que sim. Uma das maiores besteiras da minha vida foi ter feito amizade com você. — Deu a língua, com a intenção de me imitar. Idioooota, só tem graça quando eu faço.

— Nesse caso, eu devia ter te embrulhado e entregado para minha mãe, aquele dia, quando você quebrou o vidro da minha casa. — Dei risada, ele também. — Tudo bem, olha... no três nós chutamos essa porta!

— Tudo bem. — Ele tentou se arrumar lá dentro para dar um chute, mas acabou que quase caiu por cima de mim. Eu consegui sentir todo seu calor, o que me fez esquentar. — Um, dois...

E chutamos. Conseguimos sair, mas nós também conseguimos cair no chão do banheiro. Dois babacas. Sorte que o banheiro estava vazio, porque aquela cena foi realmente estranha. Dois caras saindo de uma das minúsculas cabines...

Ele se levantou e depois estendeu a sua mão, para me ajudar. Olhou novamente para mim, com aqueles olhos azuis que hipnotizam qualquer idiota. Por favor, como se eu fosse um... idiota. Sou.

— Vamos, bebê. — Pegou a minha mão. Não tinha nenhuma necessidade disso, o homem gigante já tinha ido embora. Mas, mesmo assim, ele fez, de novo. Segurou a minha mão, como mais cedo. E aquela sensação, a mesma de quando ele faz carinho no meu cabelo ou de quando me abraça, voltou. Ele quer fazer minha pulsação subir... ou... sumir.

Saímos do banheiro e procuramos as meninas por todo o Shopping. Depois de tanto procurar, estávamos cansados. Não encontramos nenhuma. O celular dele tocou algumas vezes, até que depois de três ligações, ele atendeu. Era a Barbie. Falaram algumas coisas aleatórias e depois desligou.

— Ela foi para casa, a Isabella também. — Disse. — Falou que na escola conversaria comigo... e por fim "Você foi muito corajoso ao enfrentar aquele cara. Eu te amo muito!"

Para quem correu só do homem se virar, deixando duas vidas em risco para trás, é fácil falar isso, não?!

E também, aquela ogra...

— Não foi corajoso, foi idiota. — Apertei o nariz dele. — Não consegue bater nem em uma mosca e quer enfrentar um cara daquele tamanho. Você não pode morrer para outro alguém. Só eu posso te matar!

— Está se declarando, Luquinhas? Tão bonitinho... — Piscou para mim. — Então, eu vou para casa, tô muito cansado. Você também, não? Sua camisa branca tá toda suada! É por isso que quando passamos umas velhas assobiavam. Até segunda?

— Hum-hum. Deve ser. — Rimos e eu assenti. — Até lá, vivo-morto!

— Tchau, tchau. —Acenou e continuou seu caminho.

Está tudo bem. Meu coração se acalmou, um pouco. Vou para casa, passar o resto do dia com o rosto afundado no travesseiro, tentando acreditar no que aconteceu hoje. Sem morrer.

~~

O meu Domingo foi normal. Se resumiu em passar o dia contando para a Isa o que aconteceu no sábado, e incrivelmente ela sorria mais do que eu mesmo. Hã...

Nessa manhã, eu acordei atrasado, de novo. Peguei uma fruta qualquer e corri pra escola, antes que os portões se fechassem. A Isa não foi hoje, pelo simples fato de... ela não querer. Eu vi o Daniel e a Elisa, de longe, me esperando, e andei calmamente até lá.

— Vamos, vamos. Como você pode e atrasar tanto, olhos de jabuticaba?! — Ele deu risada. O que é isso?! Um apelido novo?

— Droga! Eu dormi demais... — Cocei minha bochecha, para disfarçar. — Oi, Elisa.

— Olá, bom dia, Lucas! — Ela sorriu gentilmente. Ahn? O que aconteceu com ela? Ela não deveria estar brava, pelo outro dia? Por que está sendo gentil?! Eu... tô com medo.

— Por que essa expressão, hein? — O Daniel se aproximou de mim, apertando minhas bochechas. — Vamos, vamos. Amanhã é o passeio da escola. Ah! Esqueci! Tenho que entregar a minha autorização! Vou na frente.

Ele correu, tropeçando algumas vezes, até a porta da diretoria. Eu caminhei normalmente com a Elisa.

— Hey, garoto dos olhos e cabelos negros? — Ela colocou a mão no meu cabelo, me parando. — O Daniel considera você o melhor amigo dele. Isso é um problema.

Tirei a mão dela do meu cabelo. Definitivamente, não é a mesma sensação de quando o Daniel me toca.

— Por que seria um problema? — Também parei. Ela me encarou. Retribui seu olhar.

— Porque seria muito ruim se você traísse ele. — Seu "olhar meigo" já não era tão meigo assim. — Me desculpa. Vou ter que pegar pesado, mas é bom um bom motivo... sinto que você é uma grande concorrência!

Melhores amigos não traem. — Sorri. — Por isso, esse posto é melhor do que o de namorada. Namorada falsa, sem graça, fútil... ele nunca vai rir verdadeiramente com você.

O silêncio ficou ali, por alguns segundos, até ela engolir o seco e finalmente falar.

— Ah, é? — Sorriu, assim como eu. Um sorriso irônico. — E se você traísse ele... comigo?

— Acha mesmo que eu faria isso? — Suspirei. Seu sorriso aumentou.

— Eu posso fazer com que aconteça. — Ela voltou a caminhar. — Ah, e mesmo que você fale tudo que eu falei aqui para ele, ele não acreditaria. Desde o primeiro dia em que nos vimos, venho dizendo a ele que você está com ciúmes de mim e que não gosta de mim, não importa o quanto eu me esforce para isso. E que esse ciúmes é anormal demais para apenas um amigo. Ele discorda e sempre te defende. Se você falar sobre isso com ele... hum, digamos que... ele vai começar a acreditar em mim.

— Eu não me importo. — Ela parou de caminhar, novamente. — Não vou deixar que ele fique nem um segundo a mais com você. Vadia. — Sorri.

— Então é assim? Se você quer competir, então eu vou competir! E eu vou ganhar. Tenho peitos. — Seguiu em frente, rindo igual uma bruxa.

Mesmo que ela tenha uma arma tão poderosa como peitos... como se eu fosse me render.

— Ele gosta do meu cabelo, da minha pele e dos meus olhos! — Dei língua. Ela saiu marchando.

Espera... eu enlouqueci?!

— Não, não enlouqueceu. — Por falar em bruxas...

Espera, eu falei isso em voz alta?!

— O que está fazendo aqui, Isa? — Ela ria diabolicamente e entregava a mão no queixo, como se estivesse tramando algo.

— Eu ouvi tudo! Então, finalmente a cobra mostrou as asinhas, certo?

Desde quando cobra tem asa?

— Certo...

— Eu vou te ajudar, Lucas! Você vai vencer essa guerra.

Guerra? Que guerra?

— Você não ouviu o que ela disse? O Daniel deve estar pensando que sou doente. Se eu falar sobre a verdadeira face dela, ele vai parar de falar comigo, não é? — Sorri, fraco.

— O que aconteceu com as palavras corajosas de antes, idiota? — Pegou sua vassoura e saiu voando. Mentira, ela continuou aqui. — No acampamento, amanhã, eu dou um jeito de sumir com a Barbie e você vai contar tudo para ele. Em quem você acha que ele vai acreditar? No seu melhor amigo, de quatro anos, ou de uma garota qualquer, que conheceu a menos de quatro meses?

— Sério? — Essa garota... — Te amo, Isa! Obrigado! Você é a melhor amiga ogra/bruxa e todas, sério!

Ela sorriu.

— E quando eu digo contar tudo, isso inclui a sua declaração.

— Declaração? Que declaração?!

— Não sou trouxa, Lucas. — Revirou os olhos. — Ou se declara. Ou nada feito.

— Te odeio... — Eu disse. Ela sorriu novamente. — Vamos, dá tempo de entrar na segunda aula, se convencermos o diretor.

— Vamos lá.

Será que... seria o certo a fazer? Se "declarar"?! Não que eu o ame. Por favor. Como se eu o amasse.


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