Egoísta escrita por Mi, Shauna


Capítulo 5
V - Planos Infalíveis




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Todo o controle e o equilibro se foram, a partir do momento que você me tocou.

V

Desde que ele saiu por aquela porta, eu estou aqui, sentado no sofá, assistindo um filme qualquer e tomando um sorvete qualquer. Engraçado. Estou parecendo aquelas garotas com um amor não correspondido, que afogam suas mágoas assistindo sozinhas filmes de romance clichê, com um enorme pote de sorvete em mãos e dois gatos a acompanhando. A única diferença é que não tenho gatos, não estou sozinho — a Isa fez questão de ficar aqui —, e o que estou assistindo está longe de ser um filme romântico. Tem zumbis soltando tripas por todos os lados, enquanto os habitantes da cidade correm para lá e para cá, só tardando a sua morte, que no fim, aconteceria de um jeito ou de outro. 

— Para de sorrir. Você não está feliz. — Ela disse o óbvio. 

— Não tá na hora de você ir para casa, não, ogra? — Reclamei. 

— Não. Vou ficar aqui, vendo você sofrer. Eu gosto de ver as pessoas sofrerem. — Ironizou. — Eu sou sua amiga, desgraça. Pode chorar no meu ombro, eu não ligo se vai sujar o meu moletom novo de lágrimas! Eu sei que você está triste. Por causa dessa guriazinha irritante e desse lerdo do Daniel. Eu entendo. Estou aqui. Pode desabar. 

 — Você acha que entende meus sentimentos melhor que eu?! — Parei o filme e olhei para ela. — Porque é verdade. Eu não sei o que fazer, Is. Me ajuda. 

— Eu só estava esperando seu pedido. Vamos ao cinema amanhã, também! E eu que vou te vestir. — Sua expressão calma mudou. Agora, seus olhos pegavam fogo e seu sorriso era mais malicioso que nunca. — Vamos nos vingar, querido Lucas. 

 

— O que quer dizer? Que vamos seguir eles? — Um enorme ponto de interrogação surgiu em minha cabeça.

— Tecnicamente, só vamos ao cinema porque queremos nos divertir. Se encontrarmos ele lá, será coincidência, certo? — Esfregou as duas mãos. — Eu vou para casa, já é bem tarde. Só preciso que descubra o filme que eles vão assistir e o horário em que vão assistir. Eu vou te arrumar e ele vai ficar caidinho por você! 

Eu queria negar. Eu ia negar! Mas já era tarde demais. Ela correu em direção a porta e saiu, sem esperar qualquer resposta. 

Essa garota...

Será que ele ainda está com ela, nesse horário?  Fui para o computador e chamei ele no chat. Ele me enviou uma chamada de webcam, eu aceitei. Ele estava sorrindo, como sempre. E eu não consigo me enjoar disso. 

Injusto. Você resolveu tomar sorvete depois que eu fui embora? Que espécie de amigo é esse?! — Fez careta. — Não te amo mais. E ao redor da sua boca está cheio de resto de sorvete. Como você consegue se sujar tanto? 

— Ah. — Passei a língua nessa região. — Droga, quase desperdicei tudo isso...

— Heh... — Ele virou o rosto, deu risada e depois voltou seus olhos para mim. Quer dizer, para a câmera. 

— Você vai no cinema amanhã, não é? — Mudei de assunto drasticamente. Eu deveria de enrolado mais. Tanto faz. — Assistir o que?

A merda foi plantada. Não estranhe a pergunta, não estranhe... 

— ''Amor a terceira vista.'' Eca. Mas... fazer o que. — Revirou os olhos. — Queria assistir Devoradores de Zumbis. Com você. 

— Ah... — Tentei esconder meu rosto. — A Isa também quer assistir esse... de romance... amanhã... as 15h. 

— Legal. — Disse, meio sem expressão. Ele percebeu?! — Então, é verdade que vocês começaram a namorar? 

Esqueci que ele é lerdo. Não preciso me preocupar.

— Não! Nunca. Vamos sair como amigos. — Dei a língua. 

Sei. — Deu uma risada meio sem graça.  Até amanhã, então! Talvez nós nos encontraremos lá? 

— Hum-hum. — Assenti. 

— Até lá. 

— Boa noite. — Tentei não gaguejar, mas eu estava mais envergonhado que o normal e ele com certeza percebeu isso! 

— Noite. 

Ah! Essa garota me induz a fazer essas coisas e eu quase morro. Senhor, essa amiga. Por que?! Depois de fazer tudo que eu precisava no banheiro, pulei na minha cama e me enrolei no cobertor macio. Se em noites normais eu não consigo dormir, agora, então... 

Pense em chocolates. Pense em qualquer doce. Não, quando eu digo qualquer doce, o sorriso dele não está incluso, apesar de ser. 

Parei. 

No dia seguinte

Todo o silêncio do quarto foi interrompido pelo grito da Isa. Eu disse que não ia conseguir dormir, mas consegui acordar 13h da tarde. O que eu sou? Ela chutou a porta do meu quarto e pulou na minha cama. 

— Eu voltei! — Abriu um grande sorriso. — Vamos, preguiçoso, vai tomar banho. Vamos, vamos! 

Que droga de empolgação é essa? Ainda nem acordei direito. Só sei que ela me empurrou para o banheiro. Já que estava ali, fiz o que ela pediu. Que legal, o shampoo acabou. Vou ter que usar o da minha mãe. De morango...

Saí do banheiro e a doida estava me esperando do outro lado da porta, com os olhos fechados e com a mão estendida, me entregando uma roupa. 

Vista isso. — Ela me entregou e depois saiu do meu quarto. — Tem cinco minutos! 

 Joguei aquele conjunto de roupas na cama e olhei para aquilo. 

Que. Merda. De. Calça. Apertada. É. Essa?! 

Foi isso que eu pensei. Isso é sério?! Ah, droga. Não tenho escolha. Coloquei aquilo, e a camiseta de gola V branca também. Parecia simples, mas quando me olhei no espelho, aquilo era... diferente. Diferentemente legal. Mas ainda aperta! 

Ela apareceu no quarto depois dos minutos prometidos e eu me assustei. 

— Senta aqui, nessa cadeira. — Ela pediu, quer dizer, ordenou. Eu tenho medo de sua expressão, então, me sentei. Ela pegou um negócio estranho da sua mochila que mais parecia uma arma destrutiva, mas ela dizia ser apenas um secador de cabelo. 

Depois quase uma hora de tortura, ela me deixou ir.  Ela passou a mão no meu cabelo, bagunçando tudo. 

— Ainda mais macio que antes! — Sorriu. — Eu sou uma mestra. E ainda tem cheirinho de morango! Dan vai amar. 

Hã?! Ignorei isso. Nós descemos as escadas correndo. Me despedi da minha mãe, que estava cansada. Ao contrário das outras sextas, essa ela foi festejar com as amigas. Não parou de sorrir um minuto depois que chegou em casa. 

— Juízo! — Falou. 

— Eu cuido dele, dona Ana. — Piscou para ela. 

— Sim, você é a única responsável. — Sorriu para Isa. 

Põe responsável nisso. Responsabilidade é o seu nome do meio. A senhora responsável. 

 

Para ir no shopping, dessa vez, precisamos pegar um ônibus. Em dez minutos chegamos lá, aí a ''gorda'' aproveitou pra pegar um lanche e eu comprei os ingressos. Não vi nenhum dos dois, por enquanto. A fila aumentou. 

— Ali. — Isa apontou para o final da fila. A Elisa segurava o braço dele e ele parecia procurar por algo ou alguém, porque não parava de olhar ao seu redor. 

Fomos para lá. 

— Oi Barbie, oi Romeu. — Isa cumprimentou. — Que coincidência. 

— E aí, cara. — Ele sorriu para mim. 

— E aí. — Também sorri. 

— Por que vocês não assistem esse filme de romance que tanto querem, e deixam nós dois assistirmos DDZ? — Ele sugeriu, brincando.

— Acho ótimo! — É como se ela dissesse ''Faço um esforço.'' Mas parece que a Elisa não gostou da brincadeira. 

— Não. — Respondeu. — E já que estão em um encontro, fiquem longe de nós. 

— Se eu quiser eu não fico. — A morena respondeu, ainda com seu sorriso ''gentil'' no rosto. 

— Vocês tramaram para nos encontrar aqui! — Gritou, todo o cinema ouviu, ou pelo menos as pessoas que estavam na fila.

— Por que eu iria querer te ver, projeto de patrícia? — Isa começou a perder a linha. 

— Você não quer me ver, quer ver meu namorado! — Deu um leve empurro na Isa, que fez o mesmo, só que dez vezes mais forte, acertando um homem gigante que estava em sua frente.

Ele se virou, quase como a mulher do Exorcista. Lançou aquele olhar ameaçador e simplesmente disse... 

— Saíam daqui. — Afinal, o que um homem desse tamanho faz numa fila de filme de menininha?! Eu pensei, mas não falei. Já o Daniel... 

— Se intromete não, mermão. Você tá na fila pra assistir um filme de romance. Não é ameaça pra mim, não! — Sorriu. 

O que esse sem noção tem na cabeça?! 

O homem de dois metros ameaçou um soco, só sei que as duas garotas estavam longe dali a algum tempo e só nos dois estávamos moscando. Ele deu um ultimo sorriso, pegou em meu pulso e me puxou dali. Nós corremos, corremos, corremos, e... ele correu atrás de nós. 

Se não fosse esse monstro correndo atrás de nós, eu até sentiria vergonha por ele estar segurando a minha mão. Mas eu ainda quero viver. 

— Por aqui! — Nós chegamos, não sei como, no banheiro masculino. Me puxou para um dos banheiros privados, que por sinal, era bem apertado. 

— Shi... 

Alguns minutos depois, o grandão entrou. Olhou ao redor, mas não procurou onde nós estávamos. Saiu. O doente começou a dar risada e... eu também.

— Você é muito otário. — Ri. 

— Você corre bem. — Respondeu, sorrindo. 

— E você ainda corre muito mal! Ah, desculpa por estragar seu encontro... 

— Não. — Olhou nos meus olhos e depois me abraçou. — Você me salvou. Eu não queria assistir aquele filme de jeito nenhum! 

Não estou mais vermelho, e sim, pálido. Eu vou morrer. Sério, eu vou morrer. Ele é tão quente... 

— H-hum... 

— Cheiro de morango. — Se afastou. — Vamos, encontrar as garotas. Eu tô ligado que você gosta da Isa. 

Ah, claro. Da Isa. 

 

 


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