O CAMALEÃO SIDERADO escrita por MARCELO BRETTON


Capítulo 11
Capítulo 11




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Diolindo lembrou que teria que comprar bebida para Franco, apenas para mantê-lo sob controle, e comida para si e Desirée, mesmo que ela quase não comesse. Saiu e caminhou a pouca distância entre sua casa e o Boteco do Almeida. Não esperava encontrar Selma que devia estar arrumando suas coisas para a viagem do dia seguinte. Iria sentir a sua falta ainda que se ausentasse por pouco tempo. Entrou no estabelecimento com grande movimento devido ao último dia dos festejos de momo e pediu ao velho, Sr. Almeida que embrulhasse duas garrafas de pinga de jaca enquanto foi pegar mantimentos no mercadinho anexo do mesmo dono. Voltou pra pagar e esbarrou em Fredson, o neto da falecida D. Geruza.

 

— Ô Diolindo, eu estava mesmo querendo falar consigo – Disse o homem em trajes informais, mas sempre com a mesma postura de gente importante, estendendo a mão.

— Fredson, é esse o seu nome?

— Exatamente, que boa memória a sua – Afirmou levando um copo de cerveja aos lábios.

— Desculpe o mau jeito no enterro de sua avó. Nem o cumprimentei.

— Nã têm importância. Aliás é sobre isso que queria lhe fazer umas perguntas.

— Sobre o enterrro?

— Sobre o sumiço de uma garota que ocorreu durante o velório. Ela foi vista pela última vez saindo com você pelo meio das sepulturas. O que foram fazer? Você a conhecia? Ah! Me perdoe, eu me apresentei mas não me apresentei – Disse o homem puxando do bolso uma distintivo de detetive da polícia.

 

Diolindo engoliu em sêco e sua cabeça começou a dar voltas, o que sempre acontecia quando via o seu oponente em posição de xeque mate. Ele teria que falar a verdade, mas só até certo ponto.

— Você conhece o ex-padre Franco? – indagou ao policial e já pedindo uma cerveja ao Sr. Almeida.

— E quem não?

— Pois é. Quando o vi falando no pé do ouvido da menina todo meloso eu achava que precisava fazer alguma coisa. E como a menina estava procurando seu cachorro sumido eu menti dizendo que o tinha visto perto do muro do cemitério. E levei-a até lá.

— E de lá?

— Ela ficou brava comigo porque a informação não terminou com a sua busca e saiu correndo para a saída.

— Gozado que tinha tanta gente lá e ninguém mais a viu.

— Posso perguntar quem disse que me viu com ela?

— Franco.

 

Diolindo encheu o copo do homem e depois completou o seu, dando um longo gole na bebida para molhar a garganta que parecia um deserto cheio de escorpiões.

 

— Por falar em Franco, com essa informação nova que você me deu vou precisar encontrá-lo para mais algumas perguntas. Vou dar um pulo lá no campinho pra ver se o encontro.

O homem levantou do banco, pagou as duas cervejas e saiu.

 

Agora é que as coisas tavam ferrando de vez. Se aquele policial fosse um perdigueiro de verdade o caldo ia engrossar. Franco estava tentando forrnicá-lo por todos os orifícios e estava conseguindo. Sua única vantagem, e agora já nem era tanta assim, era que ele estava sob sua vigilância. Com o desaparecimento do ex-padre as coisas davam voltas e sempre iriam cair no seu colo. As coisas ruins, diga-se. As boas ele ficava tentando pescar com uma linha de costura e sem isca, enquanto via os outros armados de arpões automáticos.

 

Pegou os sacos de compras e voltou pra casa preocupado. Tudo o que ele não queria era a polícia envolvida, mas agora Inês era morta. Aliás, Inês, seus pais, Luli, a garota que não sabia nem o nome, Dona Geruza. Quando falou o nome da velha deu um estalo na sua cabeça. O embrulho! Apressou o passo e chegou em casa. O velho safado estava desperto e sua Desirée no quarto em sono profundo.

 

— Até que enfim meu bom homem. Tenho sêde, e não é de água. Preciso da água benta dos malandros, a que pinto não bebe, a água batizada com os eflúvios mágicos.

Para calar a boca da criatura, ele desamarrou as mãos do velho e lhe deu uma garrafa de pinga. Com uma incrível habilidade, o homem retirou a rolha com os cacos de dente e sorveu quase um terço daquilo. Abriu um sorriso debochado e sentenciou.

— Como alguém consegue viver para sempre no lado claro? O lado escuro da vida é mais confortável Lindinho! Acredite em mim.

— Para de dizer bobagens e beba calado – Vociferou indo pro seu quarto onde tinha guardado o pequeno embrulho enviado por Dona Geruza.

 

Abriu meio atrapalhado a caixinha por conter várias camadas de papéis, como se alguém quisesse dizer silenciosamente que havia algo de valor ali, e quando teve acesso ao conteúdo teve um misto de espanto, supresa e nojo. Sim, era uma dentadura. Igual a da sua mãe. Mas porque a velha lhe enviaria isso se não fizesse sentido algum. Será que foi pelo beijo que dera em sua boca no asilo? Um regalo para que ele não esquecesse do momento. Que estranho. Mas eis que lhe surge o verdadeiro motivo. Se o velho disse que havia um diamante escondido na dentadura de sua mãe e não havia....será que.... ?!

 

Apenas para se ter certeza que a sua linha de raciocínio estava correta, foi buscar os apetrechos para abrir aqueles molares. Começou pelo molar exato que Franco lhe havia dito para procurar. Com apenas uma pancada viu que o dente era ôco. Apurou melhor a vista, acendeu a luz do quarto que havia ficado escuro com a chegada da noite cerrada, e viu a pedrinha minúscula, mas imponente, brilhando dentro do seu esconderijo. Com a pontinha de uma chave de fenda, trouxe o tesouro a vida e o pousou na palma da mão. Era linda. Como algo daquele tamanho poderia valer tanto dinheiro? De repente ouviu o velho peidando na sala e lembrou que ele também estava atrás do diamante. Já havia entrado na sua casa muitas vezes sorrateiramente para procurá-lo. Sabia que Desirée não iria se importar em guardá-la para ele.

 

Voltou para o quarto de sua mãe onde a sua sereia repousava, abriu-lhe delicadamente as suas pernas para não acordá-la e com a pedra na ponta do dedo indicador introduziu-a na floresta de fios de ouro. Depositou-a bem lá no fundo, onde apenas ele teria autorização para resgatá-la. Deu um beijo delicado na sua face e foi para a cozinha preparar algo pra comer.

 

— Tá com fome padre de araque?

— Assim você me ofende. Tenho fome só disso aqui – Falou embolado balançando a garrafa no ar. – Prefiro cheirar as cinzas dos seus pais defuntos. Ahahah!

Diolindo segurou a raiva com a frigideira ainda vazia segura bem firme em uma das mãos. E devolveu a provocação.

— Sabe quem encontrei no bar há pouco? O Detetive Fredson. Ele está no seu encalço. Me perguntou se eu o havia visto por aí.

Ouviu sons de engasgos vindo da sala.

— Aquele filho da puta se acha mais esperto que os outros. Você disse alguma coisa?

— Não. Mas você foi contar a ele que tinha visto a menina pela última vez comigo. Tava querendo me entregar ou o quê?

— Eu só falei a verdade, você era um álibi confiável para a garota. Eu só a esganei à noite depois que ela voltou choramingando por causa da cachorra dela que você enterrou com a sua mãe. Não queria mais trepar por isso, por aquilo e nhen nhen nhen. A porra parecia que tava na TPM, mas acho que nem menstruava ainda aquela putinha. Queria regular a boceta e me entregar pra polícia porque eu não tinha conseguido um dinheiro que ela pediu. Se for pra fuder pagando eu ia na zona!

— Você têm sorte de tá aqui. Se aquele policial te encontrar vai dar merda pro seu lado. – Proferiu saindo da cozinha com um prato de ovos mexidos com salsicha e pão.

— Merda por merda prefiro essa daqui que fede menos. Aliás, se você me abandonar por aí é só eu abrir o bico e dizer onde a menina tá enterrada – E tomou outro gole da garrafa quase terminada sob os olhares de insânia do homem que comia em silêncio. O padre pensou que se os seus miolos estivessem naquele prato era capaz de o homem estar comendo com mais alegria.

 

Depois de lavar os pratos, Diolindo se certificou que o homem estava desmaiado de bêbado e pôs a outra garrafa de pinga ao seu lado. Deixou as mãos desamarradas e foi pra perto da sua esposa. Teve uma noite de sono leve, entrecortados por pesadelos. Suou em profusão, mas a presença de Desirée o acalmava. Rezou para que o dia amanhecesse logo e providências pudessem ser tomadas.

 

Agradeceu ao sol quando ele iluminou o quarto e pôs-se de pé para tomar o desjejum. Mas logo perdeu a vontade de comer quando entrou na sala e viu uma poça de vômito e outra de urina. Ainda bem que o velho não tinha cagado nos paramentos da igreja. Como era tão forte se não comia? Providenciou arrancar-lhe as vestes sagradas e o deixou de ceroula novamente. Arrastou-o mais uma vez ao quintal para lhe dar mais um banho enquanto lavava e punha a batina e a casula pra secar. Quanto a ceroula ele que guardasse os bagos dele naquele pano sujo. Quando ia tomar banho ouve um carro buzinar em frente a sua casa. Abriu a porta e pediu que ela entrasse.

 

— Nossa, parece que têm algum bicho morto aqui! – Declarou tapando o nariz.

— Têm um animal sim, mas tá vivinho lá no quintal. Não aconselho a ir ver a cena.

Ela estava mais linda do que nunca, vestia uma calça de cordura cor de abacate e uma blusinha estampada com um colarzinho por cima. Ele só não gostava do tamanho dos brincos. Pareciam móbiles de quarto de recém-nascido pendurados nas orelhas.

 

— É mesmo necessário que ele vá? – Perguntou fazendo um muchocho de quem estava com más intenções.

— Infelizmente sim. Ele pode tentar alguma coisa. Queria levar Desirée também. Tudo bem pra você?

A mulata fez uma cara de quem não compreendeu o que tinha ouvido, mas para sua supresa logo se animou com a idéia.

— Vestida de noivinha?

— Vestida de noivinha.

Que pena que o carro de papai têm filmes escuros nos vidros. Eu queria ver a reação das pessoas na rua. Um padre, uma noiva, eu e você!

— Vou me vestir – Dito isso, ele lhe deu um beijo de arrancar o fôlego.

Quando ele começou a esboçar uma ereção e os mamilos dela crisparam, saiu se segurando pra por uma roupa e arrumar Franco, enquanto Selma dava uma ajeitada na noiva para irem ao banco e ao cofre onde sua mãe escondia seus segredos.


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