Seus cabelos castanhos estavam grudados na testa e sua barriga estava totalmente exposta revelando seu abdômen muito bem trabalhado, havia uma tatuagem no tórax que era desconhecida. Foi a causa de orgasmos falsos nas garotas da plateia. Seu olhar carrancudo varreu a plateia e encontrou minha expressão de espanto e curiosidade. Vi suas feições mudarem. Seus olhos fincaram em mim e eu mantinha os meus em seu corpo, examinando com avidez, e outrora para os olhos dele. O garoto negro chamou sua atenção, indicando que a luta começaria agora.  Seus olhos se prenderam em mim por um instante até o sino tocar, introduzindo a partida.

O homem grande partiu para cima de Matt ou Hunter derrubando –o com força no chão e por instinto levei minhas mãos a boca até que senti a palma de Ashley as abaixando.

— Calma, Amber- ela ria – tudo faz parte do show.

Fiz que sim com a cabeça e me virei para apreciar a luta. Hunter acertava o homem repetitivamente no rosto e quando este tomou posse da luta, Hunter se esquivava dos socos e chutes com muita precisão. Ele era rápido, tinha que admitir. Em mais um momento da luta , capturei o olhar aéreo de Matt e ao perceber sua distração, o homem socou o rosto de Matt com uma força absurda. Um líquido vermelho voou na plateia. Sangue. Meu rosto ficou cheio de manchas vermelhas  assim como os das pessoas que também estavam muito perto do ring. Ao perceber o ocorrido, Matt o chutou e isto fez Crazy Beer cambalear para trás, ele contornou o corpo do inimigo e usou suas pernas para prendê-lo e derrubá-lo novamente no chão. Após alguns murros no rosto do homem grotesco , o garoto negro apitou encerrando a partida declarando Hunter o vencedor.

Várias garotas gritaram seu nome fictício e o vi novamente olhar para mim, seu rosto estava coberto de sangue e havia suor escorrendo das suas têmporas.  Ele arfava. Me causou arrepios. Virei o olhar para Ashley e disse a ela que estava com fome e gostaria de procurar um lugar para comer. Ela assentiu e me levou até uma barraca de pipocas do lado de fora, comecei a comer e apreciar o gosto salgado.

— Amber, você está bem? Parece assustada...- ela parecia preocupada.Me deu um pequeno lenço de bolso para que eu pudesse limpar o sangue da minha cara. Ela fez o mesmo.

— Estou, é que.. – suspirei - nunca fui a uma luta de verdade, nem presenciei tão de perto. Meu melhor amigo em Nova York é obcecado por isso, mas desconheço totalmente o assunto.

— Ah, sim. Você ainda não me falou sobre sua antiga vida em Nova York. Sobre seus amigos, sua família, suas paqueras – ela riu

—Hmm, Ashley. Por onde começar...

— Do começo ou, por favor, das partes interessantes.

Contei a ela sobre Stacy e Taylor enquanto saíamos da escola deserta e nos misturávamos com os alunos da escola que saiam rapidamente e se aglomeravam do lado de fora.

— Uau, eles parecem ser muito legais. Gostaria de conhecê-los.

— Talvez nas férias eles venham me visitar, daí poderemos ir todos a algum lugar. O que acha?

— Uma ótima ideia – ela parecia muito feliz – E você já namorou alguma vez?

— Sim, namorei dois anos. Porque a pergunta?

— Bom. Preciso de um conselho.Estou interessada em um garoto, o nome dele é Isac só que nunca namorei e o ouvi dizer que ele não queria apenas se envolver com uma menina qualquer. Ele quer compromisso. E eu...

— Entendi. Compromisso é algo sério com uma pessoa. Acho que ter a primeira experiência com isso é algo bom para você. Porque não tenta? Ele sabe que você gosta dele?

Ela enrubesceu.

— Não e não planejo contar tão cedo. Não sei como dizer.

— Oh, Ashley – eu ri e ela também – você vai contar sim, vou te ajudar a achar as palavras certas.

Os olhos de Ashley formaram um brilho ofuscante, ela sorriu e antes que pudesse me agradecer, senti uma mão pesada no meu ombro me virar rapidamente.

—O que raios você está fazendo aqui? – Era Matt. Hunter. Tanto faz. Parecia furioso.

— Eu é quem te pergunto – rebati o olhar carregado de desdém.

— Aqui é perigoso. Ashley não devia ter trazido você aqui. Se minha mãe descobrir... – as palavras pairaram no ar e após alguns instantes eu compreendi perfeitamente do que a situação se tratava.

— Não está com medo por este lugar ser perigoso para mim ou para Ashley. Você está com medo de que eu conte para sua mamãezinha que você é um lutador.

Os olhos dele se arregalaram. Um par de mãos surgiu das costelas de Matt e percebi que era de Bethany agarrando- o.

— Meu amor, está tudo bem? O que está conversando com a novata?- seu olhar começou no meu cabelo e terminou em meus sapatos que agora estavam sujos de lama. Ela se virou para Ashley e a cumprimentou com a maior arrogância possível – Oi, careta.

Ashley revirou os olhos enquanto isso Matt ainda mantinha seus olhos nos meus até que resolveu responder a namorada:

— Nada, nada de importante. Procure Isac para mim e me encontre em 5 minutos. Está bem?

O olhar de Bethany fez com que eu me sentisse uma formiga perto de todos. 

— Tudo bem – ela se inclinou e deu um beijo longo em Matt saindo em seguida. Ele virou sua atenção para mim.

— Vai contar para ela?

— O quê?

— Você vai contar o que viu esta noite para minha mãe?

— Talvez.

Houve um grande silêncio até que Alex surgiu entre nós, animado como sempre. Usava uma camisa azul cintilante escrito Hunter cheio de lantejoulas cinza e ele urrava em vitória do amigo. Ashley revirava sua bolsa procurando o telefone para ligar para o pai e acidentalmente deixou cair o lenço que usei para limpar o sangue. Peguei-o cuidadosamente para jogar fora, porém Matt arrancou o lenço da minha mão sem pestanejar.

— Esse sangue é meu?

— De quem mais seria? – Ashley brincou, mas ao perceber o olhar espantado de Matt, cessou a brincadeira.

— Como vão para casa?- ele quis saber.

Não respondi. Ashley se pronunciou no meu lugar:

— Meu pai vai nos levar, ele está a caminho. Alex, você vai voltar conosco?

— Não, vou à casa de um amigo. Se não estiver muito tarde volto para casa.

— Tudo bem. Papai chegou. Vamos Amber?

Assenti e caminhei ao seu lado até o carro, não me virei de costas.

O pai de Ashley me deixou no portão principal como o combinado, ao olhar o cadeado e a corrente no chão soubequem tinha jogado ali. Fiz o mesmo percurso em silencio até meu quarto troquei de roupa e apenas descansei.