Esta manhã estava mais calma que a anterior e deduzi que foi porque não tive contato com Rachel depois da humilhação na escola, nem com meu pai que deveria estar fazendo algum plantão no trabalho. Gerald levou Matt e eu para escola e grande parte de mim torcia para que ele fizesse isso todos os dias, ele nos deixou de frente com o portão e enquanto descia do carro avistei Ashley e Alex vindo em nossa direção.

— Olá Matt... E Amber – disse ela e me deu um beijo no rosto.

— Oi – foi a vez de Alex me cumprimentar, este estendeu a mão e eu a apertei firme.

Alex e Matt caminharam seguidos por mim e Ashley, ela me explicou várias coisas sobre a escola que eu deveria saber como tomar muito cuidado ao ir ao banheiro do segundo andar porque estes não havia placas de identificação de sexo.

— Sério? Que bizarro! – disse, ela riu.

— Sim, uma vez entrei no banheiro masculino. Minha sorte é que só havia meu irmão lá – ela acenou com a cabeça para Alex e eu parei no meio do caminho. Achei que eles fossem namorados.

 - Vocês são irmãos? Eu pensei que fossem... - o olhar dela me fez não concluir a fala, eu ri e ela também. – deixa pra lá.

— Obrigado – ela ria de forma desesperada e Alex se virou para trás.

— O que é tão engraçado? – disse ele.

— Amber achou que nós somos namorados. – eu enrubesci.

— Ainda bem que não tenho esse desprazer – disse Alex e voltou sua atenção para Matt que ria abafadamente.

— Na verdade, Amber – disse ela quando finalmente parou de rir – somos meios irmãos, o pai dele é meu pai, mas não somos filhos da mesma mãe.

— Ah, me desculpe – sorri – Puxa que situação constrangedora.

— Um pouco. Ei, quais são suas aulas de hoje?

— Matemática, Inglês, física e história. E as suas?

— Bom. Tenho apenas história hoje – ela deu um sorriso triste

— Nos vemos depois então.

— Tudo bem, até logo. – ela saiu correndo na direção dos garotos que estavam indo no lado oposto ao meu.

....

Na hora do intervalo não achei Ashley então fui para o jardim da escola, o sol fraco batia forte contra minha pele e havia uma brisa morna esta amanhã. Fechei meus olhos por alguns instantes e os abri quando ouvi uma voz familiar chamar meu nome. Era Ashley.

— Esta tudo bem, Amber?

—Sim, estou apenas... hmm... curtindo o sol – respondi.

—Ah, sim – ela parecia inquieta e após alguns minutos, se pronunciou - você não fala muito com o Matt né?

— Não temos o que conversar.

— Mas mora na mesma casa que ele, certo?

— Certo. O que ele disse a você?

— Ele disse que vocês se odeiam por causa do relacionamento dos pais.

— É verdade. – dei de ombros.

— Entendo. Bom, o que vai fazer essa noite?

— Nada

— Quer ir a um lugar comigo hoje?

— Sim, adoraria - me empolguei demais, ela percebeu e sorriu. – Mas para onde?

— Um show. Um show de luta. São as dez da noite. Posso te pegar na sua casa se quiser.

— Não sei se posso sair esta hora. - Ashley entristeceu e eu de alguma forma, também. Por fim, concluí relutante que sair um dia escondido a esta hora da noite não me faria mal - Tudo bem, que horas você irá passar para me buscar?

Ela sorriu e eu fiz o mesmo.

.....

 As horas passaram rápidas, após as aulas voltei caminhando em silêncio com Matt, apenas absorvendo o caminho de casa. Durante a tarde usei grande parte do meu tempo para tingir meu cabelo, trouxe a tinta que Stacy me dera dois dias antes da festa da nossa escola e simplesmente fiz a coloração. Meu cabelo ficou absolutamente lindo, as partes que estavam desbotadas, agora estão preenchidas por um loiro escuro muito atraente. Não tão amarelo e nem tão branco.Apenas ideal.

Depois fiquei pensando em que roupa usaria esta noite, fui até o closet várias vezes e nenhuma ideia me passou pela cabeça. Revirei minha mala extra e ainda sim nada. Mas o que eu estava fazendo? Era só um show. Não havia motivo para merecer tanta euforia. Fui até o closet novamente peguei um par de tênis cor cinza, uma calça jeans rasgada nos joelhos , uma camisa xadrez vinho casual e uma jaqueta de couro preta. Pronto. Super fácil.

Durante o jantar Rachel me perguntou se Matt havia me mostrado a escola e eu disse que sim, capturei uma piscada dele e sorri cabisbaixa. O resto do momento foi preenchido pelas fofocas de Rachel a respeito da segunda secretaria da clínica, meu pai a ouvia com atenção e eu me perguntei se ele estaria realmente apaixonado. Será que ele sabia que o verdadeiro amor não existe? Após as refeições estava me retirando da mesa, mas fui repreendida por Rachel:

— Aonde vai, Amber? Gostaria de passar o resto da noite com você e Matt vendo TV. Como uma família. – meu pai observou tudo e cobriu o rosto com as duas mãos provavelmente esperando uma resposta ofensiva da minha parte.

— Bom. Estou um pouco cansada, fiquei a tarde toda fazendo lição. Pode ser outro dia? – eu não estava sendo simpática, estava sendo falsa. Exatamente como ela desde que a conheci. Os três pares de olhos me examinaram com espanto.

— Tudo bem – ela parecia feliz. Acreditando que enfim tivemos algum progresso. Meu pai parecia orgulhoso e Matt ainda me olhava com espanto enquanto me retirava da sala de jantar dizendo boa noite a todos. Trouxas, pensei. Tranquei-me no quarto e esperei a hora de ir me arrumar. Quando finalmente faltava precisamente meia hora até a hora combinada, saltei da cama, me vesti rapidamente e me dei mais uma olhada no espelho. Estava bonita. Não, bonita não. Apresentável. Tenho alguns momentos de vaidade que em questão de segundos desaparecem.

Destranquei a porta do quarto silenciosamente e caminhei sob as pontas dos pés até o hall de entrada. Ao destrancá-la ela soltou um pequeno ruído quase inaudível aos quartos no andar de cima. Corri pelas terras que cercavam a mansão e ao passar pelas cercas vivas senti o solo úmido sob meus pés. Logo pensei na loucura que estava fazendo e não me arrependi nem um pouco. Avistei o carro do pai de Ashley e ela estava me esperando do lado de fora. Por sorte o portão principal estava destrancado. Isso me pareceu estranho. Entrei no carro e em instantes assistiria a uma partida de luta.

.....

Ashley parecia muito feliz quando descemos do carro, o pai dela nos buscaria quando ela ligasse. Caminhamos em direção a uma escola abandonada, ela explicou que a luta seria lá porque era algo ilegal e metade da escola estaria ali para assistir. Passamos pela grama úmida e pulamos algumas cercas pequenas, mais a frente havia uma janela quebrada.

—Amber, vamos ter pular aqui. Vai você primeiro e tome cuidado .

— Tudo bem- me posicionei, colocando as pernas dentro da vidraçaria quebrada e depois joguei meu corpo para frente, caí em uma escuridão profunda aterrissando em pé. – Ashley? Pode descer.

Ela desceu e emitiu um grito agudo.

— Rapaz, isso é muito legal.

Fomos rindo caminhando junto a escuridão. Procurei algo para me equilibrar e achei uma superfície lisa - uma parede deduzi- e a usei como guia até chegarmos a um cruzamento iluminado. Pude ver que o corredor que estávamos antes se encontravam vários armários totalmente deteriorados com o tempo. Ouvimos muitos gritos de euforia do lado oeste e foi para lá que seguimos. Ao entrar em uma espécie de pátio vi vários alunos da nossa escola presentes e nos encontramos com Alex que pareceu surpreso ao me ver.

— Amber, não esperava te ver aqui – ele disse e seus dedos foram até meus cabelos – Meu Deus, seu cabelo está divino. Maravilhoso.

— É verdade, não pude ver antes porque estava escuro. Amber, você está linda. Ainda mais linda, na verdade.

— Obrigada. Vocês estão exagerando.-me senti enrubescer.

— Ai que meiga, ela esta com vergonha- brincou Alex e eu sorri – Bom, vamos lá para frente, a luta já vai começar.

Fomos até a parte da frente do ring , notei a grande quantidade de pessoas eufóricas ali gritando um nome desconhecido: Hunter! Hunter! Hunter! Ashley e Alex se juntaram aos gritos. Puxei- a pelo braço e sussurrei em seu ouvido.

— O que ou quem é Hunter?

— Você verá. – ela sorriu e voltou a berrar.

O Som iniciando o show me prendeu a atenção, um menino que aparentava ter 18 anos subiu ao palco, ele era negro e vestia roupas de um rapper americano.

— Boa noite, pessoal!- a galera foi a loucura, aumentando os gritos – Vocês vieram até aqui para presenciar uma luta. Mas esta noite não será apenas uma luta qualquer, será uma luta extraordinária...

Houve mais palmas das pessoas.

— ... Bom. Recebemos a visita do melhor lutador do estado do Texas. Palmas para o grandalhão Crazy Beer — disse o apresentador e após pronunciar este nome um homem grande e desprovido de cabelo entrou no ring com uma careta assustadora. Ele urrava feito um ogro e exibia seus grandes músculos tatuados. Este permaneceu do lado direito do ring. – Tudo bem, tudo bem. Agora vamos receber nosso lutador da cidade de Anchorage, o poderoso Hunter.

Os gritos se intensificaram ainda mais ao pronunciar o nome que ainda antes havia sido tão bem clamado, um garoto extremamente musculoso entrou no ring. Meu coração acelerou por um instante e contive um engasgo.

Era Matt.