Lost in Love escrita por hummingbird


Capítulo 11
Peguem aquele cachorro!




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Chegamos em Dublin perto das dez horas da manhã de quinta feira, o clima estava meio úmido e havia uma brisa fria passando pelo lugar. A casa da irmã da vovó era pequena, porém era delicada e aconchegante. Ficava algumas ruas de distancia do centro da cidade.

Já a viagem de avião foi longa, eu dormi a metade dela e a outra metade ouvi musica e li meu livro, enquanto Matt via revistas de boxe. Ele tentara falar comigo durante o voo, me cutucando e tirando minha atenção do livro:

— O que você está lendo?

— Um livro? – Olá, sarcasmo.

— Jura? É mesmo? Nunca teria adivinhado sem a sua ajuda. – ele sorriu exageradamente, mostrando seus dentes brancos. Notei que sua barba estava nascendo. Os olhos azuis de Matt me examinaram e eu o encarei. Minutos depois ele se pronunciou novamente:

— Conversei com Bethany a respeito de você. Ela me disse que iria te pedir desculpas, mas como vi no refeitório, ela não pediu.

— Na verdade ela pediu. E me disse o que você pensava a respeito de mim. – não queria entrar nesse assunto, mas as palavras saíram como se tivessem sido empurradas.

— Que seria? – notei seu olhar curioso.

— Pergunte a sua namorada.

— Ela não é minha namorada.

— Ora, não importa. – dei de ombros.

— Vamos, Amber... O que ela disse?

— Escute, está bem claro a sua opinião sobre mim. Fiquei mais do que aliviada em saber que não sou o tipo de garota que você leva para a cama.

— Mas o que... – os olhos de Matt estavam arregalados e se destacaram em sua cara de espanto.

— Chega, Mathews. Não quero falar sobre isso.

— Eu não disse isso...

— Eu não quero ouvir. – peguei meu livro e voltei a leitura.

E foi isso. Não me importo com mais nada. Esta manhã coloquei uma calça jeans escura, um casaco de veludo preto e botas vermelhas e desci para encontrar os outros.  Penteei meus cabelos e a cor ainda estava bonita, se destacando no meu casaco preto. Fui tomar café da manhã, notei que Matt estava emburrado e Rachel tentava fazer a mãe comer enquanto a dona da casa, Vera sentou- se a mesa conosco. Ela era a irmã mais nova da vovó Finlay com seus 65 anos disfarçados em suas roupas de cigana. Seus cabelos eram metade negros metade grisalhos, com um corte de príncipe valente. Enquanto dava uma tragada em seu cigarro, ela parecia curiosa a meu respeito.

— Amber não é? Como é Nova York?

— Agradável. Um lugar agitado com festas o tempo todo por todos os cantos.

— Sente saudades de lá?

— O tempo todo.

Mais um momento de silêncio, resolvi pegar um copo e enchê-lo de suco de laranja. Enquanto tomava notei o olhar curioso de Vera pousado em mim.

— Você é virgem, querida?

Não contive o engasgo, tossi desesperadamente enquanto Rachel a repreendia pela pergunta e Matt gargalhava com a situação.

— É claro que ela é virgem – disse ele com desdém e a mãe o silenciou com um tapa na mão.

— Eu... Sou – respondi envergonhada. Minha primeira vez foi com Jackson e não é algo que eu gostaria de lembrar agora. Apesar de ter sido o momento mais feliz da minha vida.

— Está mentindo. Sei reconhecer quando as pessoas escondem a verdade de mim. – abaixei a cabeça. Vera tragou seu cigarro mais uma vez  depois prosseguiu – Querida, tive 12 maridos. Tive mais experiências com homens do que você poderia imaginar. Então, não se vergonhe. Você é namorada do Matt?

Desta vez o engasgo foi de Rachel, ela tossia e negava com as mãos.

— Mas é claro que não. Onde já se viu algo desse tipo? Eles são irmãos.

— Bom, nunca se sabe não é. Não fomos apresentadas devidamente. 

Saí da mesa um tempo depois e fui até o jardim da casa nos fundos.

Meu telefone tocou e quando atendi uma voz estranhamente familiar soou nos meus ouvidos.

— Amber?

— Quem é?

— Sou eu, Adam Brant. Ashley me passou seu número.

— Ah, olá – tentei não parecer muito surpresa com a ligação.

— Então, você disse que sairia comigo algum dia. Que tal amanhã? – sua voz era doce e delicada. Algo se revirou no meu estomago, fazendo meu coração disparar.

— Sim. Não estou em casa, estou passeando... Em Dublin.

— Que incrível. E quando você volta?

—Sábado à noite, talvez.

— Ótimo, podemos sair no domingo? Gostaria de te levar para jantar.

— Claro – eu saltava de alegria e reparei em Matt rindo na janela. Mostrei o dedo do meio para ele até que saísse.

— Tudo bem, então. Até logo.

— Até.

Desliguei o telefone e sentei-me em um banco sem fôlego. Uma bola de pelos branca e pequena surgiu perto de mim preso em uma corrente. Um cachorrinho chorava e pedia atenção. Soltei-o da corrente e o peguei no colo. Vera apareceu na janela com um sorriso malicioso.

— Querida, não o deixe fugir. É um cachorro muito importante para mim e meu marido. – assenti com a cabeça e comecei a fazer carinho na cabeça do animal. Em questão de minutos, o filhote saltou sobre mim correndo rumo ao pequeno portão que estava aberto. Meu coração acelerou. Não hesitei e saí correndo atrás do cachorro.

Ele passou pelo pequeno portão até estar correndo pela estrada de terra, eu fiz o mesmo. Ele era um animal veloz.  Cada minuto que eu corria pensava na bronca que levaria de Vera se perdesse seu animal importante. A rua era extensa e reta, mais ou menos um quilômetro sem nenhuma rua alternativa. Quando cheguei ao final da rua, estava completamente suada e cansada de correr. O animal continuava a corrida e eu não podia perdê-lo de vista, virei a esquerda e reparei nas colinas em ambos os lados, havia montanhas verdes com várias casas aglomeradas perto. O muro de pedras cinza que me cercava cruzava um rio, o Rio Liffley, imagino. O filhote diminuiu o passo e finalmente parou quando chegamos a uma pequena viela sem saída com apenas um muro quebrado e pichado pela metade. Ele arfava e abanava o rabo branco.

— Tudo bem, cachorrinho. Vem aqui com a tia Amber.

— Além de histérica, ela ainda fala sozinha. – Matt estava atrás de mim vestindo uma jaqueta de couro preta, com um moletom cinza de capuz por baixo. As calças estavam folgadas e os sapatos sujos de lama. Ele mexia em seus cabelos castanhos emaranhados e sorria.

—Ora, cale a boca.

— Não acredito que você o deixou fugir. A tia Vera ainda alertou você antes, como você é burra. – caminhávamos juntos para apanhar o filhote.

— Ei, babaca. Foi um pequeno incidente. Eu não tive culpa. Bom, não toda a culpa.

— Ah sim, claro. – ele ria – eu vi o que aconteceu. E a culpa é toda sua. – Garoto irritante. Chutei seu calcanhar e ele gritou de dor. Bem feito, pensei. Saltei para pegar o cachorro e ele se esquivou, pulando sobre uma lata de lixo e depois passou pelo buraco na parede.

— Não, não, não. – estava desesperada. Subi na lata e coloquei a cabeça dentro do buraco, olhei o cão se misturar com as pessoas na avenida principal. Desci da lata e caminhava para contornar a viela e sair procurando a tal avenida.

— Amber, espere – ele correu para perto de mim, mancando ou pelo menos fingindo.

            - O que foi?

            - Apesar do chute vou te ajudar a procurar o cachorro.

            - Por quê?

            - Porque eu quero. Vai me dizer que não quer ajuda? – ele sorria. Matt era muito bonito, eu notava seu sorriso toda vez que conversávamos.

             - Tudo bem, você consegue correr?

            Ele olhou para o calcanhar e assentiu. Sorri desajeitadamente e fomos procurar o cachorro. A avenida estava muito movimentada, seria quase impossível encontrá-lo, mas mesmo assim não desisti. A rua era feita de rochas exatamente como as do filme Cartas para Julieta. De volta a busca, Matt e eu olhamos em todas as praças próximas, perguntamos a várias pessoas se elas tinham visto algum filhote parecido com a descrição e nada do cão aparecer. Decidimos descansar em um banco de madeira em um dos parques, de frente para o Rio Liffley.

            - Francamente... Esse cachorro está pronto para correr uma maratona. – o cabelo de Matt pingava suor. Eu ri abafadamente. E senti os olhos dele me examinando outra vez.

— O que foi?

— O que foi o que?

— Você está me olhando esquisito.

— Gosto de olhar para as pessoas que chamam minha atenção. Ainda mais aquelas que não conseguem segurar um animal totalmente cercado.

— Muito engraçado, Mathews. – lembrei do que ele havia dito sobre mim. – Já sei tudo o que pensa.

— Amber, ela estava... Porra, ela não é minha namorada – ele suspirou – Desculpe, então... Não dê ouvidos para as baboseiras que ela fala.

— Não me importa. Podemos mudar de assunto?

— Claro. Podemos falar sobre seu ex-namorado? – havia muita curiosidade em seu olhar e sua expressão era desafiadora.

— Não, disso também não quero falar.

— Certo. Que tal caminharmos pela avenida enquanto você me fala da sua vida em Nova York?

—Porquê?

—Porque sempre quis conhecer lá. Queria ter ido no verão passado, mas minha mãe não deixou.

— Hmm.

— Dá pra falar logo?

— Tudo bem... – assenti.

Caminhamos pela avenida que ficava do lado esquerdo do Rio Liffley. A avenida era preenchida com floreiras coloridas por toda parte: nos postes, nas janelas das casas, no meio da rua e nos restaurantes. Provavelmente eram restos da primavera que ainda estava na memória deles, ou apenas era capricho com a cidade.

Ele me perguntou como reagi quando tive a notícia de que viria morar no Alasca e a resposta foi exatamente a verdade. Expliquei que sentia raiva da mãe dele apenas pelo motivo de ter descoberto da pior forma possível que ela seria a nova esposa do meu pai. Ele assentiu e me informou que nossos sentimentos eram iguais a respeito disso. Contei a Matt sobre meus amigos e de nossas aventuras por lá, também contei que Taylor havia se declarado para Stacy recentemente. Matt ria a cada história que eu contava sobre eles e  uma sobre mim que era a minha favorita.

— Meu Deus, Amber. Você é uma garota incrível.

— Ué, eu não podia simplesmente deixar barato. Uma vez que um homem fere o orgulho de uma mulher é para sempre. – eu também ria enquanto caminhávamos.

— Jackson?

—O que tem ele?– nossas expressões ficaram sérias. Sem nenhum traço de humor.

— Ele já feriu seu orgulho? – paramos de frente um para o outro e seus olhos me examinavam com avidez, ele tirou uma mecha do meu cabelo e a colocou atrás da minha orelha.

Um barulho de algo caindo no chão em uma loja próxima fez Mathews levar um susto até ele se tropeçar na calçada e cair no chão. Não aguentei e soltei muitas risadas, ria sem parar.  Ele, sem graça, levantou e me empurrou de leve.

— Pare de rir, idiota. 

— Não consigo. Você tinha que ver sua cara quando caiu, foi muito... – algo me chamou atenção, fazendo com que as risadas cessassem e vi o cachorro de Vera, Matt seguiu meu olhar até ver que ele entrara em um barzinho.

Caminhamos até o local que se chamava Temple bar. Este tinha um corredor escuro cheios de quadros de artistas e fãs. Uma melodia tocava e a reconheci imediatamente, estava tendo um show cover da minha banda favorita no interior do bar.

Havia casais agarrados dançando perto do palco, outros comiam em outras mesas e homens solitários bebiam no bar. O bar era iluminado com piscas pisca em todos os pilares, velas nas mesas e luminárias por toda parte.  A cantora interrompeu a musica para se pronunciar ao publico.

— Boa tarde a todos, esta quase anoitecendo e gostaria de desejar esta ultima musica a todos os casais presentes. O amor é algo poderoso. Quando aprendemos a lidar com o poder que é oferecido, temos que tomar todo o cuidado possível para mantê-lo nas nossas vidas. Você já se apaixonou? Você já sofreu alguma desilusão amorosa? Tudo faz parte da vida – ela suspirou e meus olhos encheram de água. Senti as lágrimas caírem sobre a minha bochecha, as queimando como brasa. – Se apaixone. Ame. Erre. Aprenda com seus erros e... Viva.

Houve uma explosão de palmas dos casais, todos gritavam até a banda voltar a tocar e por coincidência do destino, a minha musica favorita. A mesma melodia que ouvi na praia e me fez mergulhar em tranquilidade. As palavras que foram ditas me fizeram lembrar de Jackson e percebi que dois anos de puro amor não podiam ser esquecidos com facilidade. Limpei as lagrimas com o dorso da mão e Matt me olhava preocupado.

— Você... Está bem? 

— Estou. Vamos procurar o cachorro.

O achamos perto do balcão, tentando subir na cadeira. Peguei-o no colo e um homem alto, de barba falha se aproximou da gente com rosto acolhedor.

— Em que posso ajudá-lo, Mathews?

— Viemos buscar o cachorro. Amber – ele se virou para mim com uma expressão suave – Este é Patrick, marido da tia Vera.

— Muito prazer, sou Amber. – estendi a mão desajeitada e sorri.

Ele assentiu a apertou.

— Como não pensei nisso antes? Amber, o Senhor Patrick é o dono do Temple Bar. O cachorro... – Matt parecia indignado.

— Ele vive me visitando. Vera estava botando um pouco de aventura na tarde de vocês. Não é, rapaz? – o homem sorria enquanto acariciava a face do animal. Matt sorriu para mim e eu retribui – Se esperarem 10 minutos eu dou uma carona para vocês.

— Claro – assenti.

— Por mim tudo bem – disse Matt.

Ficamos apreciando o momento restante do show. Ao chegar à casa de Vera, prendi o cachorro e entrei em casa. Rachel estava na cozinha, preparando o jantar e Vera tinha um sorriso malicioso no rosto:

—Por onde andaram a tarde toda?

Olhei para Matt e ele por fim respondeu por mim sorrindo:

— Por aí.

                                               ......


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