— Acorde, Lydia! –  algo chacoalhou a garota que dormia profundamente. –  Vamos, você vai se atrasar!

Lydia abriu os olhos lentamente, sentindo a claridade arder seus olhos. Sua mãe estava parada diante dela a encarando com cara feia.

— O que houve com seu despertador? – a mãe, sem esperar uma resposta, deu meia volta e bateu a porta do quarto.

Lydia esfregou os olhos. Estava se sentindo estranha, como se estivesse com gripe. Seu corpo doía e ela tremia de frio, mesmo estando embaixo de dois cobertores grossos. Ela enrolou o máximo que pode debaixo das cobertas, mas alguma hora ela teria que levantar e ir para escola, infelizmente.

A menina jogou as cobertas para o lado, relutante, e caminhou até o banheiro. Despiu-se da parte de cima do pijama e abriu a torneira do chuveiro. Ao tirar a calça, se assustou ao ver uma grande mancha de sangue na parte de sua coxa.

— Caralho! – Lydia arregalou os olhos. Ela pensou consigo; ela já havia menstruado naquele mês, algo não estava certo.

Ela levou a mão à parte de trás da coxa e sentiu uma pontada de dor ao passar a mão em algo quente e úmido: sangue. Sentiu o líquido viscoso escorrer por sua coxa. Ela esticou a pele dolorida e examinou o machucado lentamente.

Era uma ferida grande, em formato de mordida, que ardia como o inferno. As marcas de dente eram visíveis e o ferimento estava com uma aparência horrível.

— Eu vou te matar, Prada! – Lydia bufou, tentando se lembrar de ser mordida pela cachorra em algum momento. Aquilo era novo: Prada nunca a tinha mordido antes.

Ao parar para pensar na cachorra, lembrou-se da noite anterior: Prada havia fugido até o bosque e Lydia fora atrás. Um flash de algo – um grande vulto negro – a derrubando e puxando sua perna, emergiu em sua mente, mas Lydia fechou os olhos com força e se convenceu que era apenas algo de sua cabeça.

Desde pequena ela tinha pequenas alucinações e, por sua mãe ser psiquiatra, já tinha feito todos os tipos de testes possíveis. Já havia se acostumado ao duvidar de tudo que via. Ela, provavelmente, estava distorcendo o que realmente vira: Prada mordendo sua perna.

Dando um longo suspiro, Lydia reprimiu os pensamentos e entrou no banho.

* * *

 Lydia estacionou o carro e encarou Allison Argent, que sentava no banco ao seu lado encarando suas unhas perfeitamente pintadas de um tom escuro de vermelho.

— O que há de errado com você hoje? – Allison franziu o cenho, sem tirar os olhos das unhas. – Está agindo de um modo estranho.

Lydia deu de ombros e desligou o carro.

— Vou perder a festa do Stiles. – Lydia suspirou, fazendo um biquinho. – É hoje à noite.

Allison soltou uma gargalhada alta e exagerada.

— E desde quando você quer, ou ao menos considera, ir a alguma festa? – Allison zombou. – Da última vez que chequei você era a "senhora-sou-toda-contra-festas-elas-são-inúteis-Martin".

Lydia revirou os olhos e saiu do carro, ajeitando seus jeans surrados.

— Pensei que seria legal ir a uma festa pelo menos uma vez antes da formatura. – a ruiva deu de ombros.

— Foi exatamente o que eu te disse quando Liam Dunbar te convidou para a festa dele. – Allison revirou os olhos, fechando a porta do carro com força.

— Ah, isso não conta, Allison. – Lydia riu. – Por favor, era o Liam Dunbar!

As meninas se encararam por um segundo e caíram na gargalhada. Allison se apoiou sobre o capo do carro e riu até perder o fôlego.

— Se le fosse um pouco mais alto e cortasse o cabelo não seria tão horrível. – Lydia trancou o carro e marchou até a entrada de Beacon Hills High.

— Talvez até não fosse uma péssima ideia ir aquela festa... – Allison deu de ombros. – Mas você não ousaria desobedecer sua mãe, não é mesmo, Lydia Martin? – a morena deu-lhe uma piscadela e adentrou o colégio.

* * *

 Lydia passou a aula de Cálculo II inteira pensando na festa de Stiles Stilinski. Ela nunca gostara de festas e bebedeiras, mas desobedecer sua mãe e sair de casa mesmo estando de castigo era suicídio. A Sra. Martin podia ser muito mau quando queria.

— Srta. Martin? – Lydia foi arrancada de seus pensamentos ao ouvir a voz de sua professora ressoando pela sala de aula. – Srta. Martin?

— O quê? – Lydia esfregou os olhos, afastando os pensamentos.

— A resposta da equação. – a senhora cruzou os braços sobre o peito e suspirou.

Lydia revirou os pensamentos procurando por qualquer vestígio da equação, mas não estava prestando atenção na aula enquanto a professora explicava. Não sabia sequer de qual equação a velhota falava.

— Desculpe, mas não sei. – Lydia mordeu o lábio, encarando o chão.

— Não sabe? Como assim não sabe? – a professora apoiou os cotovelos na mesa de madeira escura.

Lydia permaneceu em silêncio, sentindo seu rosto corar.

— Ótimo. – a velhota deu um longo suspiro e prosseguiu com a aula.

Lydia sentia seu rosto ficar cada vez mais quente. Saber que Stiles Stilinski cursava a mesma aula que ela e estava presente na sala naquele exato momento só piorava a situação. Saber que ele provavelmente nem notara naquilo aliviava um pouco – afinal, Stiles Stilinski nunca prestava atenção nas aulas – mas mesmo assim Lydia sentia seu estômago afundar.

Não demorou muito mais do que dez minutos até que o sinal soou, indicando o final da aula. Lydia enfiou os lápis e a borracha no estojo violeta e fechou o livro de Cálculo, deslizando os dois para dentro da mochila. Assim que se levantou da cadeira, seu cotovelo esbarrou na mochila e a mesma tombou para o lado e caiu da mesa, fazendo com que todos os livros e testes se espalhassem pelo chão da sala.

— Merda. – Lydia xingou baixinho enquanto se abaixava e começava a ajuntar os papéis esparramados pelo chão, odiando-se por ser tão desastrada.

— Deixe eu te ajudar. – Lydia ouviu uma voz macia se aproximando e seu coração parou.

Ela levantou a cabeça e viu ninguém mais ninguém menos que Stiles Stilinski abaixado ao seu lado, juntando suas provas e anotações que se espalhavam pelo piso. Lydia sentiu seu rosto enrubescer e seu coração disparar.

Stiles Stilinski estava falando com ela. Stiles Stilinski! 

A menina sonhara tantas vezes com a primeira vez que se falassem, mzas nunca imaginara uma cena como esta. Stiles nunca nem reparara que ela existia.

O menino terminou de juntar os papéis espalhados, ajeitou em uma pilha organizada e os entregou para a ruiva, que ainda o entregava boquiaberta.

— O-obrigada. — Lydia gaguejou. Ela se odiava por ser tão idiota assim na frente dele. Será que ela não conseguia nem falar direito, sem gaguejar como uma idiota?

Stiles soltou uma risada breve e seca, mostrando seus dentes brancos perfeitamente alinhados.

— Te conheço de algum lugar? – o menino franziu o cenho.

— Acho que não. – ela deu um sorriso tímido, sentindo seu rosto corar ainda mais. – Lydia Martin.

— Stiles Stilinski. – o menino se apresentou.

— Eu sei. – ela mordeu o lábio. – Quero dizer, prazer em conhecê-lo.

O moreno forçou um sorriso e se levantou, virando-se caminhando em direção a porta. Antes de cruzá-la, parou por um segundo, se virando.

— Você devia vir na minha festa hoje.

E, sem dizer mais nada, se virou e sumiu entre os alunos no corredor.

* * *

— Allison Argent, você não vai acreditar no que acabou de acontecer. – Lydia puxou a morena pelo braço. – Eu acho que posso ter um ataque cardíaco a qualquer instante.

— O que aconteceu? – Allison franziu a testa, cruzando os braços sobre o peito.

— Stiles Stilinski falou comigo. E me convidou para sua festa hoje à noite. – Lydia sentia sua respiração irregular e seu peito arfar.

— Como disse? – Allison arregalou os olhos, mudando a perna de apoio.

— Exatamente o que você ouviu. Ele me convidou para a festa dele, Allison! — ela deu um longo suspiro e continuou. – Agora sim que eu não perco essa festa por nada nesse mundo.

— Mas Lydia... – Allison começou, mordendo o lábio.

— Não, Alli, eu não posso perder essa festa. Por que você não consegue aceitar que eu preciso ir?  Não há nada que você possa dizer que me fará mudar de ideia. – a ruiva grunhiu. – Espere um segundo, deixe eu adivinhar: você tem uma queda pelo Stiles também, não tem? Eu sempre soube. Você é uma péssima melhor amiga.

A morena se manteu calada por um segundo, encarando o chão.

— Não, Lydia. Eu só dizer que você precisava de uma roupa perfeita. Pensei que eu pudesse pegar algumas coisas na Macy's e levar para sua casa mais tarde, mas pelo que parece você não precisa de minha ajuda. – Allison fungou e deu meia volta.

Lydia sentiu um buraco abrir em seu peito. Allison só queria a ajudar e tudo que ela fez para retribuir fora dar-lhe uma patada. Normalmente ela correria atrás da amiga e pediria desculpas, mas ela tinha algo muito importante a fazer: precisava achar a roupa ideal para a festa de Stiles.

* * *

Lydia nunca saia no meio das aulas. Nunca havia faltado uma aula sequer. Mas aquela ocasião era mais do que especial.

Lydia arrancou com o carro e dirigiu o mais rápido que pôde até a Macy's. Ela tinha que achar a roupa perfeita e voltar para casa em menos de meia hora. Assim que pisou na loja, correu para os corredores e começou a busca.

* * *

Assim que estacionou o carro na garagem de casa, Lydia soltou um longo suspiro de alívio. Ela tinha conseguido. Achara um vestido preto que ficara maravilhoso em seu corpo e marcava suas curvas, além de acessórios e um sapato maravilhoso que custava quase metade do que havia guardado em seis meses.

A ruiva correu para dentro de casa e pendurou o vestido em seu armário, para que não houvesse nenhuma chance de qualquer amassado. Afinal, ela teria que estar impecável. Aquela ia ser a noite de sua vida, e ela não perderia por nada.