Ei! É OK... escrita por April Lefroy


Capítulo 1
...Ter Estrias


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Vim aqui hoje falar de um assunto um tanto que pessoal para mim: Estrias. Quero deixar aqui o meu relatório de convivência com a minha irmã Estria e mostrar que depois de muitas tapas e beijos essa história pode ter um final feliz!
Eu sou muuuuuito tímida e acho que compartilhar essa minha experiência já é uma conquista pessoal para mim.
Espero que vocês gostem!



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Ainda me lembro daquele dia. Era um dia ensolarado e eu fui para piscina com minha família. Entrei nela e acho que comecei a pensar. Não sei. Não me lembro direito dessa cena, mas da cena seguinte eu me lembro claramente. Minha irmã chegou de repente naquele ambiente. Minha mãe, que acompanhou seu andar com os olhos exclamou de forma repreendedora:
- X! Você está com estrias! Você está gorda! Vai ter que começar um regime imediatamente!
Não me lembro se foram essas exatas palavras, mas foi algo do tipo. Só sei que fiquei assustada com aquilo. Acho que nunca tinha reparado nas estrias alheias, ou se tinha não achei grande coisa. Mas aquele pensamento mudou rapidamente. Ter estrias tornou-se um crime. Um crime que eu não queria cometer.
Poucos anos se passaram. Em uma das minhas idas para o banheiro nua em busca de analisar cada imperfeição de meu corpo, notei algo diferente. Algo estranho. Era uma linha de cor branca que se localizava na minha nádega. Me desesperei internamente. Meu corpo foi tomado por um frio na barriga instantaneamente. Minhas mãos tremiam enquanto eu analisava aquela novidade em meu corpo.
O próximo passo foi ir para internet e me inteirar do assunto. Joguei ‘estria’ no Google e diversos sites pularam na tela. Cliquei no primeiro. ‘’Elas são o terror para quem cuida do visual corporal. Estrias são o resultado do esticamento da pele além que do ela pode. Com isso, há o rompimento das fibras da pele formando uma linha em alto relevo’’.
O segundo passo foi procurar imediatamente o tratamento, afinal, elas são o terror para quem cuida do visual corporal, não é, site 1?
Não achei tratamento. Mas ainda não perdi a esperança. Continuei procurando por ele silenciosamente enquanto escondia meu corpo como uma ladra. Ainda não tinha achado a cura. Resolvi engolir o medo do esporro que minha mãe me daria e mostrei para ela minhas estrias e pedi para marcar uma consulta na dermatologista. No final, ela não me deu esporro nenhum. Senti muito alívio, pois já estava desesperada o suficiente.
A consulta na dermatologista não deu em nada. Ela disse que eu teria que conviver com aquilo mesmo. O próximo passo gerou mais uma vez uma busca pela internet, só que dessa vez pelo corpo das famosas que eu tanto idolatrava como deusas do Olimpo. Descobri que elas não eram tão perfeitas quanto eu achava que elas eram. Elas tinham a mesma coisa que eu tinha.
Ainda assim, não era o suficiente. Fui de novo na internet, mas dessa vez para procurar a opinião das pessoas sobre estrias e a aprovação dos homens sobre elas. Descobri que era mais normal do que eu pensava ter estrias e os homens pareciam não se importar com isso. Mas ainda não estava satisfeita. Continuava insegura.
Continuei procurando coisas na internet para me reconfortarem até que achei um site. Um não. O site. Esse tal site me mostrou o relato de uma moça que, como eu, também tinha estrias. Mas, ela teve a experiência de seu namorado afirmar que as estrias dela eram tão feias que dava vontade de acabar com a relação. Por fim, ele o fez por esse exato motivo e pediu a ela que por favor não mostrasse nunca para ninguém o seu corpo. Ela ficou traumatizada e cada vez mais insegura até um dia. Ela estava vendo sua amiga provar roupas. Normal até então. Mas, quando a amiga tirou as roupas ela notou que ela também sofria do mesmo ‘problema’ que ela sofria. Perguntou-lhe se não tinha vergonha das estrias. Ela lhe respondeu bem desencanada:
- Vergonha? Vergonha de quê? Meu corpo é um caderno e minhas estrias são as linhas em que eu escrevo minha história.
Desse modo, esse simples relato mudou minha vida. Mudou a visão que eu tinha das minhas ditas cujas que tinham nome e lugar. Minha bunda.
Parei para pensar que quando era criança não via a hora de crescer. De ser adolescente. De ser adulta. Até que finalmente me tornei uma. Eu cresci. Aprendi. Mudei. E meu corpo acompanhou essa mudança. Apareceram os seios, os quadris etc. Nada mais justo que ele acompanhasse essa mudança comigo. Desse modo, as estrias são como um símbolo de passagem do meu crescimento. Elas são o resultado do nosso pedido quando crianças. São tatuagens. E o nosso corpo é o tatuador. Para alguns a tatuagem não agradou, mas não tem devolução. A tatuagem já está feita.
Você provavelmente deve ter acompanhado o desenvolvimento de alguma criança até sua fase adulta ou adolescente. Vocês brincavam de Barbie ou HotWheels. E de repente pararam de brincar porque ambos cresceram. Mas ainda tem guardada na memória as lembranças dessa fase. As lembranças de brincadeiras épicas que aconteciam apenas com um pouco de imaginação. As lembranças de todos os momentos que ambos compartilharam. As lembranças daquela fase que trazem um sentimento de saudades e felicidade.
Saiba que o mesmo acontece com o seu corpo. Ele esteve lá com você desde seu nascimento. Esteve lá quando você aprendeu a engatinhar e quando aprendeu a andar de biciclete. Esteve lá quando você brincava de Barbie ou HotWheels. Esteve lá. Seu corpo também tem a lembrança dessa época gostosa da vida. Essa lembrança é exposta pelas estrias.
O namorado que causou um trauma na moça do relato anteriormente mencionado não nada mais é do que um produto dessa sociedade em que vivemos. Uma sociedade opressora que prega apenas a existência de um tipo de corpo. Um corpo que é perfeito.
Minha mãe é igualmente um produto do meio. Mas diferente deste namorado, as mães querem sempre o melhor para a gente, mesmo que talvez o melhor não seja aquele tipo ideal de corpo que é constantemente bombardeado pela mídia. Mães, afinal, também são humanas.
Mas quer saber, sociedade opressora? Esse tal corpo sonhado não existe. Porque eu não sou perfeita. Porque você não é perfeita. Porque nem a celebridade é perfeita. E no fim, não há nada errado com isso. Acho que a coisa mais real e bonita é ser perfeitamente imperfeito e se orgulhar disso.
Desde então, eu desenvolvi uma relação com o meu corpo. Não é que ele acabou sendo um grande aliado e amigo? Quer dizer, acabou sendo o melhor amigo que eu já tive. As vezes brigamos por besteiras, mas sendo acabamos nos perdoando. Tenho sorte dele sempre estar lá para mim. Ele não é um inimigo. De jeito algum.
Me lembro de uma vez quando eu passei um dia inteiro numa praia. Foi um dos melhores dias da minha vida. Foi simplesmente épico, inesquecível. Consegui até a grande proeza de ralar meu joelho na areia. Tenho a cicatriz até hoje. Sempre quando bato os olhos nela me lembro daquele dia. O quanto eu me diverti. Ele sempre gera um imenso sorriso no meu rosto. Hoje em dia o mesmo acontece quando eu passo os olhos pelas minhas estrias. Um sorriso grande rasga minha boca das minhas lembranças de infância.
Eu sempre sonhei em ter uma tatuagem. Não é que eu realizei esse sonho indiretamente?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter chegado até aqui, significa muito para mim! Gostaria de falar que eu aceito sugestões sobre temas que eu possa trabalhar aqui, portanto, pode deixar um comentário sobre isso ou até me mandar uma mensagem privada se preferir.
Queria criar o hábito de sempre compartilhar algo que me inspira e que eu acho que lhe fará mais feliz. Hoje, por causa do tema, vou compartilhar o site que mencionei no texto e um vídeo perfeito , que infelizmente é inglês, mas se puder tentar ver, só vai vim a ter acrescentar. Prometo.
PS: Esse canal do vídeo que compartilharei é o melhor de todos, super recomendo!
http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2014/02/guest-post-estrias-sao-marcas-de-guerra.html
http://sindromemm.blogspot.com.br/2014/02/a-explicacao-mais-incrivel-do-mundo.html
https://www.youtube.com/watch?v=KSNmHjk7Ajw