Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 23
A máscara cai


Notas iniciais do capítulo

O maior capítulo que já escrevi!
Alta revelação nesse capítulo... espero que gostem! ♥



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Eu nunca achei que me sentiria tão ansiosa por uma festa em que não iria. O resto da tarde passou feito uma lesma, cada minuto parecendo uma eternidade. Quando finalmente o dia seguinte chegou, eu literalmente pulei da cama.

Faltava mais de 12 horas!

Ainda que desanimada, não fiz questão de tentar voltar a dormir. Fiz minha primeira refeição diária calmamente e passei uma boa parte do dia mexendo no celular, imaginando o que aconteceria na festa, o que Matheus iria me contar, o que Alexandre e o Vicente fariam… eu realmente estava curiosa.

Depois do almoço, a minha ansiedade era tanta que eu fiquei totalmente dispersa. Sentei-me no sofá da sala e fiquei lá, fazendo exatamente nada e com a cabeça fervilhando de suposições do que aconteceria.

— Beatriz! — ouvi minha mãe gritar — Você está muito distraída pro meu gosto!

— Hã? Eu? — questionei, totalmente confusa. Eu nem tinha visto ela do meu lado!

— Você! — ela respondeu, cruzando os braços — Estou aqui há meia hora falando do curso, que é pra você escolher alguma coisa logo e você aí, olhando pro nada. O que tá passando nessa sua cabecinha?

— Nada… — eu respondi, mas ela não pareceu nada convencida — É sério.

— Você quer que eu acredite que não é nada contando que, de manhã, você ficava de cinco em cinco minutos checando seu celular e agora você fica olhando pro nada? — ela perguntou e arqueou a sobrancelha direita — Pode falando a verdade, mocinha!

— É que… — eu comecei a contar — a Mariana vai dar uma festa em que eu não fui convidada e nem queria ir, mas o Matheus vai. Ele disse que me contaria se acontecesse algo de importante lá e… — fui interrompida antes de terminar.

— Essa garota? Vai dar festa? — ela disse, com uma cara de quem não estava entendendo nada — Mas a mãe dela estava se lamentando na reunião que a filha era uma “menininha sem amigos” e que passaria o aniversário sozinha porque ela e o marido iam viajar, mas não podiam levá-la por causa de um ensaio fotográfico… — ela disse, afinando a voz de um jeito bem cômico — Sem amigos é a cara dela! Ela estava falando da carreira da filha o tempo todo e vigiando você e o Matheus… ainda comeu a torta que você fez quase toda.

— Mãe, de onde você conhece a mãe da Mariana?

— Conheci ela nas reuniões da mãe do Matheus, mas eu nem sei direito o que ela é. Deve ser só uma puxa-saco, mesmo. — ela disse, com total insatisfação no rosto.

— Ah, sim… — respondi, tentando não aumentar a ira dela.

— Que horas vai ser a tal festa? — ela questionou, enquanto olhava as horas em seu celular.

— Não sei ao certo, mas vai virar a noite.

— Vai ficar acordada de madrugada? — ela perguntou, com um sorriso travesso — Se eu fosse você dormia um pouquinho.

Antes que pudesse dizer algo, ela se dirigiu à cozinha. Pensei um pouco, ela bem que tinha razão.

Acordei com a cabeça um pouco pesada, pois não costumava dormir à tarde, mas o mal estar passou logo assim que vi as horas. Sorri escancaradamente e fui até a cozinha.

— E aí? Dormiu bem? — minha mãe perguntou, enquanto mexia novamente em alguns papéis.

— Claro… — eu disse, animada — Quase na hora!

— Você é a única que fica animada com uma festa em que nem sequer foi convidada… — ela riu — Mas me diga a verdade: se você tivesse sido, você iria?

Fiquei em silêncio. Embora não tivesse refletido sobre isso, eu sabia que…

— … eu não iria. — respondi — Ainda que eu tivesse recebido um convite, eu me sentiria mal de estar lá.

— Interessante… — ela murmurou, mas logo se dirigiu a mim — Vai fazer o que agora?

— Não sei… — fui sincera — Tem algo em mente?

— Um bolo. Faz tempo que não preparamos algo doce.

Concordei com um gesto e começamos a pegar os ingredientes para fazer a receita. Quando colocamos a massa no forno, chegou uma mensagem em meu celular. Era do Matheus:

Quase na hora! Vou me arrumar.”

Respondi com um “O.k., manda mensagem quando chegar!”, coloquei meu celular sobre a mesa em seguida e fiquei aguardando o bolo assar. Eu e minha mãe lanchamos e conversamos sobre várias coisas. Quando estava me preparando para ir “dormir”, mais uma mensagem:

Eu pensando que cheguei cedo e olha só. Acho que teus amiguinhos estão aqui, bate o confere aí.”

Analisei calmamente cada pessoa que aparecia na foto e tinha quase certeza que Alexandre já estava lá, mas nenhum sinal de Vicente.

Já achei o Alex!”, enviei.

Depois de um tempo, ele mandou mais duas fotos. Em uma delas eu consegui ver o Vicente, trajado com roupas que, embora não fossem tão sofisticadas para uma festa como a da Mariana, até que combinavam com ele. Uma blusa preta, uma calça escura…

Pra ser mais honesta, ele estava bonito, mas parecia triste.

Percebi que o com heterocromia não estava sozinho: a tal Lara estava do lado dele, também de roupas pretas, maquiada, os cabelos negros contrastando com a pele clara…

Nunca pensei que Vicente seria do tipo que combinaria roupas com alguém.

Dei uma última fitada na imagem de Lara e percebi algo que me assustou um pouco: ela olhou diretamente na direção do Matheus quando ele tirou a foto.

Decidi não me prender a esse detalhe e fui analisar a outra imagem que havia recebido. Dessa vez era Alexandre que estava nela, mas, se não fosse por sua altura, eu nem conseguiria vê-lo direito. Havia tantas garotas ao seu redor, todas tão bem-arrumadas, tão elegantes… pude reconhecer Mariana exatamente do lado dele, com um vestido vermelho que a destacava das demais. Nesse momento, uma questão invadiu minha mente:

Eu teria alguma chance contra ela e todas essas garotas?

Encolhi-me na cama, pensando se, no final das contas, ele não sentia vergonha de andar com uma menina como eu. Comparada a elas, eu sou totalmente sem atrativos: meu cabelo é escuro e liso graças a muita prancha, eu sou pequena, sem graça… então por quê?

Ainda que não quisesse admitir, eu estava começando a me sentir mal pelo Alex querer ficar ao meu lado.

— Mas que droga… — murmurei comigo mesma — Nem quando quero dar o troco eu me dou bem…

Respirei fundo e vi que Matheus tinha mandado uma outra mensagem: Eles são bem opostos, né?”

“São, sim. Mudando de assunto, a festa parece estar bonita!”, respondi, tentando não tocar no assunto “Alexandre e Vicente”.

E põe bonita nisso! Alguém deve ter torrado a grana dos pais toda!

Tem até um palco pra minha banda! Tô emocionado.

Mas que demora em responder, hein? Tava babando por causa de qual foto?”

Senti meu rosto ferver um pouco, mas levei na esportiva e respondi com outra pergunta:

“Por qual você acha que seria?”

Após um tempo, eu recebi uma resposta dele:

Ah, sei lá, olha a cara de infelicidade do tal Vicente na foto. Se bem que até eu estaria assim do lado daquela perua de preto. Pior que ela olhou pra mim na hora que eu tirei a foto, tô tremendo até agora.”, ele respondeu, me arrancando uma risada.

Até eu estaria! Mas aproveita a festa, o.k.? Depois você me conta tudo!”, enviei, tentando manter a tranquilidade.

O.k., de qualquer forma daqui a pouco eu teria que te deixareu tenho que reunir a banda, primeiro ‘show’, né? Boas impressões!”, ele enviou, seguido de uma série de emojis rindo.

Sem pensar duas vezes, eu deixei meu celular sobre o criado-mudo e apoiei minha cabeça nos joelhos. Não estava surpresa de Alexandre ir para a festa, mas o Vicente? Isso com certeza tinha algo a ver com a Lara. Talvez a Lara seja amiga da Mariana? Talvez as duas tinham algo a ver com o “palhaço”? No final, qual das duas mandavam aquelas mensagens? Será que era outra pessoa? Tantas perguntas passavam por minha cabeça e nenhuma tinha resposta. Ao menos não ainda.

Como queria que Matheus aproveitasse a festa e não fosse apenas um “espião”, eu decidi fazer minha própria investigação sozinha: peguei meu celular novamente e fui checar o Facebook de quem foi para a comemoração, ou melhor, de quem a montou. Para a minha surpresa, ainda não tinha nenhuma foto postada no perfil da Mariana. Procurei o perfil da Lara, mas não o encontrei. Eu só tinha mais duas pessoas: Alexandre e Vicente.

Mas eu bloqueei os dois! Que droga!

Eu estava me sentindo numa situação de vida ou morte: ou eu desbloqueava eles por alguns segundos para bisbilhotar ou eu morreria de curiosidade. Preferi desbloquear Alexandre primeiro e ri baixinho, pensando em como a minha “eu do passado” se queixaria disso.

— Certo, agora chega, Beatriz! — falei sozinha, tentando me obrigar a parar de ler tudo o que Alexandre postou na rede social — Para de fuçar a vida alheia!

Embora eu só tivesse ido ver se o Alex tinha postado alguma foto na festa, acabei revirando todo o perfil dele, desde a época em que a gente se conheceu e, por algum motivo, senti meu coração apertar ao rever as fotos daquele tempo. E se nada daquilo tivesse sido culpa dele?

Sentindo que meu foco ia desviar novamente, eu resolvi que desbloquearia Vicente. Assim que comecei a procurar fotos da festa, achei coisas ainda mais interessantes.

Uma série de postagens de frases como “Superar não é uma opção, mas uma necessidade” e trechos de músicas, como “Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu”, de uma cantora que eu nem sabia que ele gostava. Entre tantas imagens melancólicas sem curtidas ou comentários, vi que uma delas tinha um comentário da Lara: “Isso você coloca ‘público’?”

Sem entender o que aconteceu, limitei-me apenas a procurar algo no perfil da garota e finalmente uma pista! Ela havia postado uma foto com a roupa estranha que foi na festa e ao contrário de seu namoradinho, ela ganhava várias curtidas e comentários.

Eles são mais opostos do que parecem.

Dei um longo bocejo, indicando que, ainda que tenha dormido durante a tarde, eu já estava ficando com sono. Pensei que tiraria um breve cochilo, mas só acordei no dia seguinte, quando já tinha inúmeras mensagens, fotos e inclusive um vídeo de Matheus sem resposta. Ainda sem me acostumar totalmente com a claridade da manhã, comecei a lê-las.

Voltei! Tocamos a música que a gente fez e ficou maravilhosa! Comecei falando que era dedicada a uma amiga que, infelizmente, não pode comparecer à festa, aí todo mundo ficou ‘Oh, quem seria?’, inclusive seus colegas.”

Tinham várias fotos da decoração, o vídeo e mais uma mensagem:

“A gente cantou e, quando descemos do palco, eu comecei a ver que esse tal Vicente começou a se comportar estranho e SUMIU DA FESTA, ACREDITA? Ele deixou a perua de preto pra trás! Tô em choque.”

Mais fotos, dessa vez do Vicente saindo e da Lara sozinha, o que me fez rir baixinho e continuar lendo:

“Depois disso, você não acredita: a menina de preto veio até a mim e começou a falar um monte de coisa relacionada a você, mas, ao mesmo tempo, não era relacionada a você. Tá confuso, eu sei, vou explicar direito: ela chegou e falou ‘Oi, você é namorado da Beatriz? Que pena de você!”, eu fiquei irritado, mas deixei ela continuar… ‘eu pensei que ela era péssima por dar em cima de dois ao mesmo tempo e não ficar com nenhum, mas descobri que era pior! Ela quer dois e tem você, tadinho. Se eu fosse você largava essa garota’ e saiu! Disse esse monte de idiotice e sumiu! Quero conversar contigo sobre isso, moça, essa menina vai aprontar!”

Bom dia! Obrigada pelo serviço de espionagem, assim que você acordar e tiver tempo a gente conversa!”, enviei, um pouco desanimada. Acho que, no final das contas, o fato de eu não ter ido à festa não foi tão legal como eu imaginei que seria.

Mesmo que o tempo parecesse passar mais devagar que antes, a chegada da segunda-feira me deixou um tanto desnorteada. Fiz minha rotina pré-escolar, ainda que contra a vontade, e entrei no ônibus, sem ânimo nem para ouvir música. Na verdade, nem entendi direito o porquê de eu estar tão para baixo. Os insultos da “perua de preto”? Ou o fato de ela ter ficado apresentável na festa? Teria sido Alexandre? O Vicente?

— Eu ando me perguntando coisas demais… — murmurei sem muita preocupação, afinal, o ônibus estava vazio — Eu tenho que parar.

Observando a paisagem pela janela, a única coisa que pude concluir era que eu conseguia ser mais confusa do que imaginava.

Ao entrar na sala, sentei-me em uma carteira próxima à janela e limitei-me a copiar a matéria e responder os exercícios. Não queria prestar atenção na conversa das pessoas ao redor, relacionada à festa da Mariana, só queria que o dia acabasse logo.

Depois da longa aula, o sinal do intervalo tocou, fazendo com que muitos alunos saíssem correndo para a quadra. Eu esperei todo mundo sair da sala, mas faltava uma pessoa.

Alexandre.

— Vamos? — ele perguntou, estendendo sua mão para mim — Tenho umas coisas para te mostrar.

— Claro… — respondi, segurando sua mão, ainda que um pouco surpresa.

Fomos até as escadas juntos e em silêncio. Achei que não estava visivelmente incomodada até ele quebrar o silêncio.

— Alguma coisa errada, Bia? Você parece triste. — Alex se curvou um pouco para ver meu rosto e pude ver sua feição preocupada.

— Não… — eu respondi, esboçando um sorriso — Só um pouco cansada, por mais incrível que pareça. Não consegui dormir no final de semana.

— Sério? Você tem que desacelerar um pouco para conseguir descansar! — ele falou como se fosse meu irmão mais velho e soubesse o que realmente estava acontecendo.

Sem acrescentar nenhuma palavra, Alexandre apertou minha mão dentro da sua e desceu as escadas comigo, até alcançarmos a quadra, onde ele tirou uma boa quantia de dinheiro do bolso e perguntou o que eu ia querer de lanche.

— Ah, não sei… — eu respondi, sem graça. Ele não estava querendo comprar meu lanche, estava? — E você?

— Acho que vou pegar um hambúrguer, já que você não sabe o que quer, eu compro um para você também! — ele deu um sorriso que fez meu coração dar uma leve acelerada.

— Q-Quer que eu vá com você? — eu disse, tentando passar normalidade na voz.

— Não precisa… — ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha — Juro que vou voltar o mais rápido possível pra você.

Antes que pudesse dar alguma resposta, ele foi em direção à cantina, o que me fez sentar e esperar. Por algum motivo, falar com Alexandre estava sendo diferente, mas não sabia se era para um lado bom ou não. A cantina parecia estar quase vazia, assim que ele voltaria logo. E eu estava certa: quase em seguida ele voltou, entregou o lanche para mim e se sentou ao meu lado.

— Tirei umas fotos da festa da Mariana pra te mostrar. — ele disse, passando o celular dele para mim.

— Sério? — fingi estar surpresa — Não precisava…

— Eu acho que sim. Você já não foi convidada, nem te contar como foi seria total exclusão.

— Acho que você tem razão… — dei um meio sorriso e comecei a analisar as fotos que ele tirou.

Ao contrário das de Matheus, as fotos que Alex me mostrou realmente focavam mais na decoração luxuosa da festa. Eu poderia ter devolvido seu celular quase em seguida se não fosse por um detalhe que me chamou muito a atenção:

Em todas as fotos Vicente e Lara estavam presentes e juntos.

Se não fosse pela foto e descrição de Matheus, eu poderia pensar que aqueles dois eram um “casalzinho feliz” e que a garota de cabelos negros nunca diria tantas coisas estranhas sobre mim para ele. No final das contas, o que está acontecendo?

— A festa realmente estava linda! — eu disse, com um falso sorriso — Aconteceu algo de legal lá?

— Bastante coisa! — ele disse, com um sorriso genuíno, ao contrário do meu — Acredita que teve até uma banda? Eles cantavam muito bem…

— Nossa! Perdi bastante coisa, né? — eu disse, desviando o olhar. Eu não mentia bem.

— Não pensa assim, tá? — ele disse, passando a mão levemente por meus cabelos. Em seguida, meu celular vibrou, o que o fez se afastar — Ah, acho que chegou uma mensagem no seu celular.

Tirei meu aparelho do bolso e chequei as notificações: era realmente uma mensagem, mas de um remetente que, honestamente, queria bem longe de mim.

A Palhaça.

— Mas que por… — Alexandre disse, enquanto tirava o celular da minha mão — Quer dizer, o que é isso, Bia? Quem é essa pessoa?

— E-Eu não sei ao certo… — tentei responder, mas ele me interrompeu.

— Isso já tem… — ele abriu a conversa — … já tem tempo que isso acontece?! Por que você não me contou nada?

— Eu… — fui interrompida novamente. Como eu vou responder alguma coisa se ele vive me interrompendo?

— Já volto. Eu vou…. Vou ir… beber água! — ele disse, saindo rapidamente.

O que acabou de acontecer aqui?

Sem muita disposição de segui-lo, apenas fui conferir as horas no meu…

ele levou meu celular e eu estou com o dele!

Tentei manter a calma, mas era complicado. E se ele lesse minhas conversas com a Karol? E se ele sumir de vez com o meu celular? Olhei para o aparelho dele no meu colo e percebi que conseguiria desbloqueá-lo facilmente. Ainda que fosse feio, faria isso: dar uma olhada mais profunda na galeria dele, mas achei uma coisa bem mais interessante: o grupo da festa.

Embora uma boa parte da conversa fosse indecifrável para mim, o pouco que entendi foi suficiente para desistir de ler o resto:

Cara, nunca pensei que o Alex ia pegar a Mariana.”

O Alex pega geral.”

Menos a mina de cabelo curto.”

Quem é essa? Nunca vi.”

A que ele passa o intervalo junto, ô imbecil.”

“Ele num pega ela… porque ela pega ele e já pegou o Vicente.”

“Vicente é mais rodado que catraca de ônibus, ele nem conta.”

“Será? #Revelações”

— Desisto de ler isso. Acho que estavam bêbados… — murmurei, saindo do aplicativo e indo atrás de Alexandre, que estava demorando muito pra estar apenas “bebendo água.”

Enquanto caminhava até o bebedouro, comecei a ouvir uma discussão acalorada. Temendo que Alexandre tivesse se metido em problemas, eu acelerei o passo e me escondi atrás de uma pilastra para ouvir.

— Se você continuar incomodando ela… — pude ouvir a voz de Alexandre em um tom irritado, talvez até demais — Você não vai gostar do que eu posso fazer.

— E se ela continuar sendo piranha eu posso esquecer da sua ameaça e partir pra cima dela! — uma voz feminina respondeu.

— Ela? Piranha? — Alex respondeu — Já pediu pro seu cachorrinho parar de olhar para ela? Ou ele não te obedece?

— Você defende ela até a morte… acho isso tão engraçado! — pude ouvir a voz com mais calma e… eu já tinha a ouvido antes — Só trabalho com verdades, mas fazer o quê, com tantos “cavaleiros em armaduras brancas” — ela disse de forma debochada — eu tenho que esconder a cara pra falar…

— Tem que esconder essa sua cara feia pra falar e deixar esses rabiscos de menininha gótica feitos com canetinha à mostra nos seus dedos? Você é medrosa, Lara, isso sim! Medrosa e ridícula. — Alex quase gritou e, por um instante, não sabia se me surpreendia com a atitude dele ou com ter descoberto quem era a “palhaça” — Sabe, eu vou voltar que eu ganho mais, mas já deixo o aviso: você ser garota não me impede de te dar uma lição.

Caramba, parece que a escola toda tá falando mal de mim! Mas que raios está acontecendo?

Para evitar que ele me visse, eu dei uma recuada para fingir que ainda estava indo até o bebedouro. Lara passou por mim e murmurou alguma coisa que não entendi, mas não é como fizesse questão de saber o que era. Alexandre veio em seguida.

— Bia! Sentiu minha falta? — ele disse, retirando uma mecha de cabelo minha da frente dos olhos, gesto que agradeci mentalmente.

— Sua e do meu celular! — disse — O que aconteceu?

— Ah… só… encontrei uma pessoa. Nada de mais. — ele riu.

— Ah, sim… — eu respondi baixinho — vou ir beber água também.

— Certo! Vou te esperar aqui.

De verdade, eu estava morrendo de sede. Quando estava bebendo água, ouvi uma voz conhecida.

— A gente precisa conversar, Bia.

— Vicente? — eu disse, engolindo uma grande quantidade de água de uma vez só e quase engasgando — E-Eu… te desbloqueei nas redes sociais… você pode conversar comigo por lá e…

— Não. Tem que ser pessoalmente. — ele respondeu com um pouco mais de firmeza do que eu estava acostumada.

Por sorte, o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo.

— Amanhã, pode ser?

— Eu espero. Vai lá destrocar os celulares. — ele disse, com um sorriso indecifrável enquanto se afastava.

Eu esqueci! Mas… como ele sabia?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! E comentem, por favor! ^^



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