Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 22
Apenas coincidências?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo para vocês! ♥ Espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/671754/chapter/22

— Mas me responde… — ele disse, me fazendo virar em sua direção — … ainda não mudou de ideia quanto à festa?

— Bom, acho que não posso ir em um lugar onde não fui convidada. — eu respondi, com um meio sorriso — Até mesmo porque setembro é época de prova, tenho que me concentrar.

— Vai ser depois, princ… — ele parou, como que se corrigindo — quer dizer, Bia.

Menos uma desculpa no meu estoque.

— Mas… — ele continuou — acho que você tem razão na parte do “não ser convidada”.

Permaneci em silêncio. Ficar perto dele me fazia sentir uma paz e uma amargura ao mesmo tempo.

— Alex… — eu murmurei — como era a sua outra escola?

— Interessada no meu passado? — ele perguntou, com aquele sorriso travesso em seu rosto — Sabe, você consegue ser muito fofa de vez em quando.

— E-Eu? Fofa? — gaguejei, com meu rosto começando a esquentar — Nada, nem um pouco.

— Não sei quem diz isso pra você, mas… — ele deu de ombros, tirando uma mecha de cabelos claros da frente dos olhos — … minha outra escola era legal, sim. Estudava um pouco longe de casa, mas era uma boa escola. Eu que não era bom aluno.

— Que lindo, hein? — brinquei.

— Eu assumo! — ele levantou as mãos.

— E como eram seus amigos?

— Tá interessada em saber como eram as minhas amigas? — ele perguntou, com aquele sorriso que me tirava do sério — Sem estresse, te conto: tinham duas meninas que eu considerava minhas melhores amigas, elas eram até primas. Eu até tinha uma pequena queda por elas, mas aí… — o sinal tocou, interrompendo-o.

Total falta de sorte.

— Parece até que é tabu falar sobre isso com você… — ele murmurou para si, mas eu consegui ouvir com dificuldade. Eu bem que concordava.

Caminhamos em silêncio até a sala, onde tivemos o resto de nossas aulas. Eu consegui me concentrar, mas o sinal de saída tocar foi um grande alívio, não via a hora de chegar em casa. Corri para o ônibus e me sentei em qualquer banco, pegando meu celular em seguida para ler a mensagem de Matheus:

Garota, você não acredita! A mãe da Mariana estava fazendo drama na reunião da minha mãe, falando que a filha dela vai passar o aniversário sozinha, que ela não tem amigos… me diz, quem estava planejando festinha, mesmo? Pra você ver que ela não desistiu da ideia…”

Logo após sua mensagem, estava uma imagem da conversa de Matheus com um certo contato denominado “Loira do banheiro”, onde ela, às 3 horas da madrugada, estava o convidando para a festa que estava montando.

Ela estava mentindo para os pais!

— Isso não vai terminar bem… — murmurei comigo mesma — nem um pouco.

Os outros dias da semana passaram tranquilamente: na sala eu sempre me concentrava para entender bem as matérias e, no intervalo, usualmente conversava com Alexandre. O dia de entrega das provas chegou e, ainda melhor, era uma sexta-feira.

Saí para o intervalo totalmente despreocupada, até mesmo porque a aula de Educação física seria substituída pela entrega das avaliações. Encontrei Alexandre, que insistia em tentar comprar algo na cantina, mas, ainda que ele fosse alto e tivesse presença, alguém sempre tomava a sua frente.

E, honestamente, era engraçado.

Fiquei sentada em um banco esperando-o enquanto mexia em meu celular. Surpreendi-me quando o mesmo vibrou e uma mensagem de um número desconhecido apareceu em minha tela.

Ah, de novo…

Respirei fundo, decidida a fazer diferente para descobrir quem era o palhaço que fazia isso. Comecei a ler o texto enorme que recebi:

Olha, eu vou ser bem sincera agora, já que você vai me bloquear depois para fazer pose de santinha, de garotinha delicada: você não passa de uma VADIA, de uma CADELA NO CIO, de uma vagabunda que quer pegar três ao mesmo tempo e acha que pode continuar com a postura de menina perfeita. Garota, se manca! Acha que ninguém nota? Que ninguém acha você ridícula por isso? Você troca as pessoas como objetos e acha bonito. Vou rir muito da sua cara quando esse rapaz contigo na foto descobrir do Alexandre e do Vicente e de como você se comporta na escola, menina fofinha quando precisa, uma duas caras nos bastidores.

Honestamente, tomara que você leve umas porradas nessa sua cara pra aprender.”

— Uau… — eu murmurei, um pouco trêmula — dessa vez passou dos limites, né?

Analisei a mensagem melhor: a pessoa, com certeza, era do sexo feminino e não parecia conhecer o Matheus, ou ao menos fingiu não saber quem era. Engoli em seco e mandei uma resposta:

Posso ser tudo que você diz que eu sou, mas e você? Deixa eu adivinhar… uma invejosa? Uma pessoa que não consegue nem um e está incomodada porque eu ‘consigo 3’? Você vai longe assim!”

Assim que recebi a confirmação de envio, procurei Mariana e Lara com o olhar. Elas eram as principais suspeitas. As duas estavam próximas e com o celular em mãos.

— Legal… — resmunguei — só teria como descobrir pela foto agora.

Analisando a foto com calma, percebi que ela era diferente da que foi usada antes, na primeira mensagem. Consegui perceber uma mão feminina segurando os cabelos enquanto usava uma máscara de palhaço.

Mas, infelizmente, não tinha nenhuma pista.

Olhei novamente para Lara e Mariana, que estavam digitando, e para a palavra “digitando” logo abaixo do número desconhecido. Em seguida, recebi uma mensagem.

Inveja? Haha, nossa, que engraçada. E sim, eu vou longe sendo uma pessoa descente, não uma rodada que nem você. Vou te deixar em paz agora, seu macho do intervalo tá voltando.”

Oh, obrigada por avisar!”, enviei, de deboche, e logo vi Alexandre chegar, com seu sonhado hambúrguer e se sentar ao meu lado.

— Finalmente, hein? — brinquei, colocando o celular no bolso, tentando disfarçar a tremedeira.

— Nem fala! — ele disse — Um monte de gente se jogou na minha frente pra ser atendido antes, que saco!

— E você devia estar cheio de fome… — comentei.

— Estou! — ele disse, logo notando que eu não estava com nada em mãos — Você comeu?

— Sem fome. — eu respondi.

— Corta essa, sua viagem no ônibus é longa, não? — ele perguntou, mas não esperou minha resposta e partiu seu lanche quase ao meio — Come, por favor.

— Não precisa… — eu disse, dispensando-o da maneira mais educada que eu sabia.

— Eu insisto. — ele disse, com um tom preocupado — Não quero te ver mal.

Sem dizer mais nada, eu peguei o hambúrguer de suas mãos e o mordi. Era estranho dividir o lanche com alguém, ainda mais com ele, como no passado.

Um pouco depois, o sinal tocou, nos obrigando a voltar para a sala para receber as nossas avaliações. Alexandre parecia tenso, assim como mais da metade da turma. Eu só queria que as previsões da professora Helena estivessem certas e que as coisas ficassem mais calmas.

— Bia! — Alex exclamou — E aí?

— Fui bem. — dei uma resposta vaga e um sorriso — E você? Como foi?

— Fui o de sempre. — ele me entregou seu boletim — Tirar 7 é milagre.

Fiquei em silêncio, enquanto analisava suas notas. Realmente deveria ser um milagre para ele tirar notas altas. Desde o 8º ano já era “um milagre”.

— Vai se recuperar depois, né? — perguntei, preocupada — Você sabe, se continuar tirando de 5 pra baixo em tantas matérias você não vai passar.

— Eu sei… — ele disse, fingindo estar chateado — Acho que agora não vai dar mesmo para eu me concentrar.

— Hã? Como assim? — perguntei, surpresa — Está acontecendo alguma coisa na sua casa, Alex?

— É, quase isso. — ele disse, cabisbaixo, e eu fiz um gesto para que ele continuasse contando — Meus pais estão para se divorciar e eu não sei o que vai acontecer comigo. Eles me perguntam com quem eu quero morar mas… eu não quero ter que escolher entre um dos dois.

Podia ver que ele estava triste, mas, ainda assim, tentava passar tranquilidade na voz.

De vez em quando ele parece uma criança.

— Alex… — eu coloquei minhas mãos sobre os ombros dele — Dê tempo ao tempo. Talvez eles se reconciliem, mas se não acontecer… — eu respirei fundo antes de continuar — É melhor eles separados e felizes que os dois juntos e brigando, você não acha?

Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele quebrou o silêncio.

— Valeu, princesa… — ele disse, com um sorriso genuíno nos lábios — Isso me faz lembrar algo: seus pais são divorciados, não são?

— São… — eu respondi, um pouco nervosa — eu contei pra você?

— Claro, faz tempo, até.

Aquela resposta me fez estremecer um pouco.

Então ele lembrava.

— Bem… quase hora de ir embora, né? — eu disse, tentando expressar normalidade — Q-Que horas são?

— Realmente já é hora de ir embora… uma pena. — ele disse, com uma expressão chateada — Quer que eu te leve até o portão do ônibus?

Olhei pela janela e vi Vicente passando lentamente em frente a minha sala.

— Adoraria! — respondi.

Guardamos nossas provas e fomos caminhando até o portão, conversando coisas tão banais como o clima.

— Cuidado no caminho, Alex. — eu falei, antes de entrar no ônibus — Deve chover.

— Tudo bem, eu tenho guarda-chuva. — ele disse, dando um leve sorriso — Até segunda!

— Até! — eu disse e entrei no veículo em seguida.

Procurei um banco vazio e me sentei, colocando os fones de ouvido e escutando uma música qualquer. Não notei se Vicente ou a suspeita de ser a “garota palhaço” estava no ônibus, nem estava me incomodando com eles.

Cheguei em casa um pouco aliviada em ver que minhas notas estavam boas, ao contrário da maioria da turma, e que tudo estava tranquilo. Ao menos pra mim.

— Temos que conversar. — minha mãe disse — De agora em diante, vamos dar uma trégua no nosso negócio.

— Como assim? — eu perguntei — Vamos parar de fazer salgadinhos? Mas e as contas?

— Estão bem. Consegui deixar as contas em dia e, de acordo com o que conseguimos, está tudo sobre controle. — ela deu um sorriso — Seu pai também conseguiu um emprego melhor e disse que vai ajudar mais na pensão, afinal, você “já é uma moça”. — ela disse, fazendo aspas com os dedos — Eu concordo com ele.

— Isso quer dizer que…? — questionei, em dúvida de onde ela queria chegar com aquele discurso.

— Que você vai fazer um curso pra te ajudar no futuro! — ela disse, dando um sorriso de canto — Pode começar a pensar em qual você vai fazer, mas não se preocupa, não precisa dar a resposta hoje.

— O.k., vou pensar com calma e depois digo! — eu disse, correndo para o quarto para descansar.

O resto dos meses foram tranquilos. A previsão da professora estava certa: a maioria das notas foram baixas e os comentários sobre a festa da loira foram cessando. Quando me dei conta, já era 28 de setembro, véspera da festa de Mariana.

Estava em casa descansando, até que meu celular vibrou. Era uma mensagem do Matheus.

Vou na festa da loira do banheiro, não tenho nada melhor pra fazer. Se tiver algum acontecimento especial, tipo ela caindo de cara no chão, eu conto tudo (e, se der, tiro foto).”

Antes que pudesse respondê-lo, eu recebi outra mensagem dele:

Consegui negociar com a minha banda pra gente tocar na festa dela. Vai ser aquela música que você ajeitou pra mim. Pode deixar que eu falo que ‘uma amiga’ nos ajudou na letra, pra evitar alguma complicação.”

O.k.! Vou cobrar o relatório completo da festa dela amanhã, então!”, digitei e enviei.

“Já ia esquecendo: descreve aqueles seus dois coleguinhas que devem ser supersimpáticos pra mim? Quero ver se eles estarão lá.”, ele enviou, em seguida.

Deduzindo que ele estava falando sobre Alexandre e Vicente, eu comecei a descrevê-los fisicamente. Quando finalmente terminei de escrever todos os detalhes sobre eles, incluindo o nome caso ele quisesse procurar fotos em redes sociais, ele mandou mais uma mensagem:

O.k., talvez a gente se fale amanhã de manhã. Afinal, não sei se eu disse antes, mas a festa vai virar o dia. Que ousada, ela!”

“Bem ousada… enfim, até amanhã!”, respondi. Amanhã vai valer a pena passar a noite acordada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Julgamento de uma Ilusão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.