Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 17
Turbulência




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Enquanto nadava em direção à Mariana, o falatório aumentou e muitos alunos queriam entrar na piscina também, mas a chegada do professor fez com que eles desistissem da ideia. O homem disse claramente que não queria que ninguém mais entrasse na piscina e, ao se aproximar mais, perguntou se eu precisava de ajuda. Fiz um breve gesto com a mão de que não precisaria e ele ficou me acompanhando na borda enquanto me aproximava ainda mais da loira.

— Mariana, fica tranquila, eu vou te ajudar. — eu disse, tentando fazê-la parar de se debater dentro d’água — Só para de se debater, por favor!

Passei um braço por baixo dos ombros dela e fui nadando até o professor, fazendo com que a loira começasse a se acalmar. Quando nos aproximamos, o mestre retirou Mariana da água com cuidado, já que ela dizia sentir muita dor, e, com a ajuda de um inspetor, a levou diretamente para a enfermaria.

Quando ergui a cabeça para sair da piscina, um flash de tudo que havia feito passou em minha mente, o que me fez sentir um pouco de vergonha por usar aquela ausência de roupas. Vários alunos apareceram para me ajudar e, sem graça, eu apenas disse que não precisava de ajuda, saindo sozinha da piscina. Passei as mãos pelo meu cabelo, percebendo que ele havia se soltado, e procurei o acessório que usei para prendê-lo antes, sem muito sucesso.

— Procurando por isso, princesa? — ouvi uma voz conhecida e me virei na direção de seu dono, Alexandre. Ele brincava com meu prendedor nos longos dedos e seu típico sorriso estava presente em seus lábios.

— Era isso mesmo, obrigada… — eu respondi, aliviada, enquanto estendia meu braço para tirar seu novo brinquedo de suas mãos, mas fui impedida pela mão livre do rapaz.

— Não quer que eu prenda seu cabelo? Tem certeza? — ele abaixou um pouco, aproximando nossos rostos, me fazendo corar levemente. Seu corpo seminu atraía a atenção de muitas garotas e, devo admitir, a minha também. Estava tentada a aceitar.

— Tenho, não precisa se preocupar. — respondi, ainda que um tanto contra a minha vontade — Acho que você deveria dar toda essa atenção pra sua namorada, não? Ela quase se afogou…

— Hã? A Mariana? — ele perguntou, um sorriso zombeteiro no rosto — Ela não é minha namorada, é só uma colega.

— Não é o que parece…

— Nem tudo é o que parece, princesa… — ele segurou minha mão, depositando um suave beijo nela — Eu achava que você era outra pessoa, mas, pensando bem, me enganei feio. Você é perfeita. A outra nem sequer sabia nadar.

Aquelas palavras me cortaram o coração. Ele estava claramente falando de mim.

— Não acho que eu seja perfeita, Alexandre… — eu disse, incomodada, soltando minha mão da dele e pegando o prendedor à força — E, bem, todos podem aprender a nadar.

Antes que as minhas emoções me traíssem, eu me retirei do local, me dirigindo até o banheiro, que estava vazio, para me trocar, já não queria mais fazer a aula, valendo ponto ou não. Tranquei a porta com força e deixei as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto. Por que aquilo doeu tanto? Por que eu não estava preparada para isso?

Fiz o máximo possível para demorar a sair, enquanto ouvia as vozes do lado de fora cada vez mais altas e indignadas. Ouvia reclamações e parabenizações irônicas à Mariana e tinha quase certeza que algumas delas eram das suas amigas.

— Falsas… — murmurei, sentindo, por uns minutos, pena de Mariana. Eu entendia o que ela estava passando, ela não sabia que elas eram assim e, provavelmente, não vai saber nem tão cedo. Eu me lembrava do sorriso de Alexandre, a mão na qual ele depositou um beijo estava quente, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que aquilo era errado. Ele era tão falso como aquelas garotas.

Assim que terminei de me trocar, lavei o rosto para tirar as marcas das lágrimas que escorreram. Não podia me abater. Assim que abri a porta do banheiro e fui em direção à piscina, pude entender o porquê de todo o ruído daquele momento: as aulas na piscina foram suspensas durante o ano todo para a nossa turma.

Respirei fundo, vendo a multidão enfim fazer seu caminho para se trocar enquanto eu me dirigia à sala, mas fui impedida pelo professor, que me ordenou ir para a enfermaria checar se tudo estava bem. Ainda que eu afirmasse que não tinha nada errado, ele insistiu, assim que decidi que iria ver a enfermeira. Meus passos eram lentos, não queria correr o risco de encontrar Mariana lá e, para a minha sorte, ela já não estava quando eu cheguei. Pedi licença e entrei vagarosamente, explicando tudo o que aconteceu em seguida.

— Ah, então você é a menina que ajudou a Mariana? —ela deu um sorriso, como se eu fosse uma super-heroína — Foi bem corajoso da sua parte, devo dizer. Vou dar uma olhada para ver se está tudo bem com você.

Depois de algumas perguntas e verificações, só havia um leve arranhão no meu braço esquerdo, no qual ela passou um remédio. Agradeci e, involuntariamente, eu perguntei por Mariana.

— Ela está na secretaria esperando um responsável vir buscá-la. O diretor vai fazer umas observações sobre a dieta dela, pois já está passando dos limites.

— Sério? — comentei, assustada — Eu aqui, pensando que estava gorda… — comentei, rindo baixinho.

— Não, está no peso ideal! — ela disse em seguida — Nem pense em fazer dieta! Sua amiga realmente não está bem, se não fosse por você, eu nem sei o que teria acontecido com ela.

Agradeci as palavras, segurando a vontade de dizer que ela não era minha amiga. Despedi-me da enfermeira e fui em direção à sala. Quando abri a porta, pude sentir o clima desagradável que havia se instalado devido a decisão do professor em relação às aulas na piscina. Respirei fundo e entrei vagarosamente na sala, podendo ouvir um murmúrio intenso. Passei por perto de um grupo de meninos, que faziam comentários um tanto raros sobre mim.

— Vocês não acham que tão falando demais dela? — a voz de Alexandre cortou uma boa parte do ruído que vinha da direção dos meninos.

— Pô, Alex! Vai falar que você não queria ser salvo por ela também? — um deles comentou, parecia um pouco ofendido com o comentário do de cabelos claros.

— E quem não ia querer, cara? — o comentário de Alexandre me fez, involuntariamente, virar em sua direção, um tanto envergonhada, e ele pareceu notar, dando um leve riso em seguida.

Antes que ouvisse mais alguma coisa que me deixasse desconfortável, sentei-me em uma das poucas carteiras próximas à janela. O professor deixou a aula “livre”, pois já não tinha mais o que fazer com a turma. O falatório estava aumentando aos poucos, com assuntos bem diversificados. Para me distrair, tentei me concentrar em uma matéria qualquer que havia anotado em meu caderno, mas simplesmente não conseguia. Com cuidado, peguei meu celular e vi as horas. Faltavam poucos minutos para a saída.

Quando o sinal finalmente bateu, eu fui uma das últimas a sair da sala. Estava totalmente sem disposição para me mexer. Salvar Mariana foi mais cansativo do que eu pensei que seria. Respirei fundo e, quando finalmente saí para o corredor, pude ver Vicente e a garota de cabelos escuros andando de mãos dadas, o que me fez segui-los involuntariamente. Eles foram em direção ao portão por onde as pessoas que não faziam parte do transporte escolar iam embora, assim que tive que caminhar com muita cautela para que nenhum inspetor notasse e me chamasse pelo nome, pois despertaria a atenção dos dois. Com sucesso, consegui vê-los subindo em uma moto – provavelmente a que Vicente havia dito que tinha – e, antes do rapaz com heterocromia fazer qualquer menção de ir embora, ele olhou fixamente nos meus olhos, com uma expressão um tanto confusa, o que me fez recuar, com vergonha, e correr em direção ao portão oposto.

No final das contas, o que estava acontecendo de errado comigo?


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