Julgamento de uma Ilusão escrita por Mirai


Capítulo 13
Renascimento


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoal, ainda respiro!
Desculpa pela demora em postar o capítulo, a escola, a internet e a criatividade não estavam colaborando muito.
Bem, sem mais delongas, vamos ao capítulo! ♥



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Cheguei em casa irritada e cansada, pois tive que correr bastante por não ter levado guarda-chuva. Deixei minha mochila em qualquer lugar e, após tomar um rápido banho, peguei meu celular e me joguei no sofá. Finalmente as férias haviam chegado, ficaria dois meses sem ver a cara de ninguém daquela escola, nem do Vicente, nem do Alexandre, nem daquela garota que anda agora com o Vicente, muito menos da Mariana. Algo me dizia que ela estava envolvida em tudo o que aconteceu comigo.

Fui acessando cada uma das contas em que Vicente poderia ter algum tipo de contato comigo e o bloqueei. Ver sua foto já estava começando a me apertar a garganta e a embrulhar meu estômago, até que algo me veio à mente, me fazendo respirar fundo.

Durante todo esse tempo, eu sequer tentei falar com a Karol e isso me angustiava.

— A essa altura, ela já não deve mais nem lembrar de mim… — murmurei, enquanto procurava seu contato para mandar ao menos um “oi” — … isso é, se ela não achou que eu a havia esquecido…

Para falar a verdade, eu senti a falta dela o ano inteiro, mas foram tantas coisas ruins jogadas de uma só vez que não tive tempo de pensar em conversar com alguém.

Com um pouco de dificuldade, achei seu contato. Não sabia se apenas mandava uma mensagem, uma mensagem de voz ou até mesmo fazia uma ligação. Do lado de fora, a chuva ficava cada vez mais forte e já havia começado a trovejar. Respirei fundo e cliquei em “Chamar”.

Após três tentativas, pude ouvir a voz de Karol do outro lado da linha.

— Beatriz? É você mesmo? — ela perguntou, surpresa — Você sumiu por tanto tempo… aconteceu alguma coisa?

Um tímido sorriso brotou em meus lábios, ela ainda se lembrava de mim. Eu tentei recordar de alguma coisa boa que tivesse acontecido para contar, mas sem sucesso. Minha visão embaçou, lágrimas começaram a escorrer por minha face.

— Bia? Bia, o que aconteceu? — ela perguntou, preocupada — Ei, você está chorando?

— Eu… nem acredito… — falei, entre soluços.

— Nem acredita…? — ela disse, em um pedido involuntário para que eu continuasse.

— Que você ainda… queira falar comigo…

Ela respirou fundo.

— O que aconteceu de errado com você, Bia? Por que você sumiu?

Comecei falando da chegada de Alexandre e de quem ele era, da mudança de Vicente, do comportamento da Mariana, entre outras coisas que me chatearam bastante durante o ano letivo. Karol ouvia com atenção e, assim que terminei de falar, ela deu sua opinião.

— Bom… vou ser sincera. — ela disse, como uma espécie de desabafo — Acho que tudo isso está acontecendo porque você se deixa afetar demais com a opinião dos outros. Você poderia simplesmente ignorar o Vicente, poderia passar direto pelo Alexandre e fingir que ele não existe, a Mariana, então, nem preciso falar, mas não. Você se preocupa demais com as pessoas, mas com as pessoas erradas. Que tal rever com quem você esquenta a cabeça? Com esses três, por mim, é perda de tempo.

Ouvi suas palavras com atenção, mas elas cortavam meu coração pelo simples fato de serem verdade. Eu me preocupei tanto com eles e esqueci de prestar atenção nas outras pessoas… como ela. Ir para a França e aprender outro idioma foram dois dos muitos obstáculos que ela passou, os quais, de longe, superavam meus problemas.

Eu fui cegada por minhas fraquezas.

— Eu… sinto muito… — disse, a voz distorcida pelo arrependimento.

Breves segundos de silêncio, que foram quebrados pelo ressoar de um trovão do lado externo da casa.

— Eu estava tão preocupada com o que aconteceu que eu sequer prestei atenção no que estava acontecendo ao redor. — disse, tentando manter a voz firme — Eu me preocupei tanto com meus problemas que eu mesma criei e esqueci que outras pessoas que eu gosto também estavam em situações difíceis, até mais que as minhas. — engoli em seco, as lágrimas voltavam a querer escorrer por meu rosto — Eu sou uma tola!

Eu tentava controlar os soluços, mas era impossível. Do outro lado da linha Karol tentava me confortar, dizendo que estava tudo bem, que eu não era nenhuma tola, mas lá no fundo eu sabia que não era bem assim. Eu, em vez de tentar resolver meus problemas, me isolava e achava que só eu tinha complicações.

— Certo, eu confesso que eu fiquei meio chateada por você não ter feito nenhum esforço para falar comigo durante quase o ano todo… — ela disse — … mas eu imaginei que algo errado tivesse ocorrido, por isso preferi não insistir. Mas fica tranquila, certo? — Karol disse e a pude ver, como em um flashback, sorrindo.

— Certo… — tentei não gaguejar e sorri.

Pude ouvir uma voz feminina chamar Karol do outro lado da linha.

— Vou ter que ir… minha mãe está me chamando. — ela disse, chateada — Mas foi ótimo poder falar com você hoje. Admito que eu estava com saudade! — ela soltou uma leve risada — E acho que foi bom pra você também, espero que você não esconda mais o que está acontecendo de errado. Bem, até… — ela deu uma pausa, parecia pensar — amanhã, talvez?

— É… até amanhã, Karol! — respondi.

Com um sorriso, esperei ela encerrar a chamada enquanto lembrava de nossas longas despedidas do período em que estudávamos juntas. Perdida entre minhas lembranças, pude ouvir minha barriga roncar. Já havia passado bastante tempo e eu sequer havia almoçado.

— Ao menos foi por um bom motivo… — pensei, enquanto me dirigia à cozinha.

Pelo resto do dia, eu fiquei pensando nas palavras de Karol, ainda que tentasse desviar o foco de nossa conversa fazendo outra coisa. Quando minha mãe chegou em casa, ela me encontrou sentada no sofá procurando algo interessante na TV para assistir, sem muito sucesso.

— Finalmente as férias chegaram, né? — ela disse, parecendo esperar uma reação positiva minha.

— É… — respondi, após abaixar levemente a cabeça.

— Oras, mal saiu de férias e já está com saudade de seus amigos?

— Saudade? — eu levantei a cabeça e olhei fixamente para ela, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha — De amigos? — controlei um riso irônico — Que amigos?

Sua expressão, antes descontraída, se transformou em uma totalmente preocupada.

— Beatriz, você não tinha amigos na escola? O que aconteceu nesse tempo todo que você dizia “Tá tudo bem na escola, mãe”?

Desviei o olhar, procurando uma maneira de ordenar tudo o que aconteceu em minha mente.

— É uma longa história… — eu disse, respirando fundo.

— Isso quer dizer que, igual ao ano passado, você mentiu pra mim… — ela respirou fundo, me imitando com um pouco de raiva — … mas eu tenho bastante tempo para ouvir. — ela se sentou no outro sofá — Pode começar a contar tudo, desde o começo, sem esconder nada.

Contei novamente todos os acontecimentos desde a chegada de Alexandre, a mudança de Vicente e o comportamento de Mariana com o máximo de detalhes possível. A cada palavra que eu dizia, seu rosto expressava um misto de surpresa, decepção e ira.

— Mas que brincadeiras estúpidas são essas!? — ela se levantou e gritou assim que terminei de narrar tudo o que aconteceu — “Pensar no seu caso”, o que esse moleque pensa que é!? E essa garota? Por que você não reclamou dela com algum professor, com algum inspetor… com algum responsável!? E esse — ela se aproximou de mim — delinquente do Alexandre está na sua turma?! — ela exclamou — Por que você não me falou antes? Onde você está com a cabeça!? E se esse Alexandre tentasse fazer alguma coisa de novo? Está decidido: você vai mudar de escola de novo!

— Não, mãe! — gritei, com toda a coragem — Eu não quero fugir de novo! Eu vou enfrentar tudo isso!

— “Enfrentar tudo isso”? — ela repetiu, cruzando os braços em seguida — Como? Se você não conseguiu se defender até agora? As coisas só vão piorar daqui em diante! Ano passado você chegou chorando em casa. Eu te ajudei a mudar de aparência, paguei uma escola de natação que você quase não frequentou esse ano, fiz o que eu podia para você não passar por problemas, mas de que adiantava tudo isso se você não fez o mais importante: mudar por dentro!

— É, mãe… — eu disse, com vergonha. As palavras dela eram mais duras que as de Karol — … eu não sou mais uma criança, eu vou conseguir me defender e… — fui interrompida.

— Não é mais uma criança? Eu vou lembrar disso, senhorita Beatriz, eu vou lembrar disso! — ela riu, com ira — Já que você não é mais uma criança, eu vou respeitar sua decisão, mas saiba que você vai ter que me ajudar a pagar a mensalidade. Resumindo: você vai ter que me ajudar, entendeu? — ela disse, me surpreendendo — Oras, o que foi? Você nem notou que durante várias noites eu ficava acordada de madrugada fazendo salgadinhos para vender? Em que mundo você vive, hein? A mensalidade não é barata, a escola de natação também não, as contas fixas, o seu material… — eu abaixei a cabeça, gotas quentes escorriam por minha face — Você não é mais criança mesmo, não precisa mais dos meus conselhos, da minha ajuda… vai precisar apenas do meu dinheiro? Ou você acha que o que seu pai dá é suficiente?

— Mas e o que a senhora ganha na escola? — retruquei, entre lágrimas.

— Houve redução de turmas, Beatriz. Vai dizer que nem nisso você prestou atenção? Se há redução de turmas, há redução de salário também, não acha?

Em que mundo eu estava vivendo?

Durante todo esse tempo, eu não prestei atenção em absolutamente nada ao meu redor. As palavras de Karol e as de minha mãe cravavam em minha carne e criavam uma ferida enorme dentro de mim. Eu estava infinitamente envergonhada e arrependida.

Em um gesto involuntário, me levantei do sofá e abracei minha mãe, que, ainda que relutante, retribuiu o gesto.

— Por favor… me perdoa… — disse, entre soluços — … eu vou mudar, eu juro…

— Tudo bem, eu vou te ajudar de novo, mas eu espero que você não se arrependa disso.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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